07/10/2011

5.041.(7out2011.14h39') A Casa do Monge Lagareiro

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22maio2016
by Graça Silva

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via blogue:
http://ataijadecima.blogspot.com/

 

A Casa do Monje Lagareiro

Um Imóvel de Interesse Público na Ataíja de Cima

A classificação como Imóvel de Interesse Público, a que se procedeu pelo Decreto-Lei n.º 67/97, de 31 de Dezembro, publicado no Diário da República, I Série, n.º 301, de 32-12-1997, da chamada Casa do Monge Lagareiro, não teve qualquer repercussão no local.
Ao nível científico, apesar do enorme fascínio que o Mosteiro de Alcobaça e a sua história exercem sobre tantos intelectuais, com os historiadores à cabeça, também não parece que tal classificação tenha despertado grande interesse pelo monumento já que, depois disso, apenas foi publicado o estudo intitulado “Breve Noticia sobre o Antiguo Lagar dos Frades em Ataíja de Cima (Alcobaça)”, de Maria do Céu Simões Tereno(a), publicado na “Cistercium", Revista Monástica, Julio – Septiembre, 2001, n.º 224(b), estudo esse que constitui o “estado da arte”, no que ao conhecimento científico deste monumento diz respeito.
Nele, centrando-se na arquitectura e no estado actual (1999-2000?) do edifício, a autora descreve o que viu e hoje, passada cerca de uma dúzia de anos, se encontra um pouco mais arruinado.
O texto recenseia o essencial da bibliografia relevante e é acompanhado por seis desenhos (c), um dos quais é uma tentativa de reconstituição da planta dos edifícios, feita a partir da descrição de J. Vieira Natividade e dezassete fotografias, cuja leitura é muito prejudicada pela má qualidade da reprodução e ausência de datação.
Uma dessas fotografias, “Figura 23 Antigo Lagar dos Frades. Fotografia do conjunto do lagar, mostrando ainda a Lagoa Ruiva”, é a mesma que já tinha sido publicada por J. Vieira Natividade em ilustração ao seu artigo “As Granjas do Mosteiro de Alcobaça”, in Boletim da Junta da província da Estremadura, – 2ª Série, n.º 5, Lisboa, 1944(d)  (como, aliás, M. C. S. Tereno refere em Nota) e, com a legenda “Lagoa Ruiva e ruínas do LAGAR DOS FRADES (Ataíja)” está reproduzida na estampa XIII (1), inserta entre páginas 52 e 53 do livro “M. Vieira Natividade - Mosteiro e Coutos de Alcobaça - Alguns Capítulos Extraídos dos Manuscritos Inéditos do Autor e Publicados no Centenário do seu Nascimento, MCMLX” (e) .

Esta fotografia(f) é particularmente interessante, mostrando, em primeiro plano, a Lagoa Ruiva onde uma mulher lava roupa, uma criança brinca e um homem, com o seu carro de burro, enche uma barrica de água. Em segundo plano, vê-se a “Quinta”(g) , com o seu muro ainda quase intacto e a entrada, com as suas colunas e, em terceiro plano, as instalações do lagar, já bastante arruinadas e da Casa do Monge Lagareiro, esta com o telhado denunciando obras recentes (h).
Tudo somado, o que sabemos sobre o Lagar dos Frades da Ataíja de Cima e a Casa do Monge Lagareiro é, ainda, muito pouco e pode resumir-se ao que foi escrito por:
- Frei Manuel de Figueiredo, que dá notícia da sua construção;
- J. Vieira Natividade, que descreve o estado em que o encontrou no início do Séc. XX;
- Maria do Céu Simões Tereno, que descreve o estado em que o encontrou em 1999/2000.
No mais, a grande maioria dos diversos textos que se referem à Casa do Monge Lagareiro e ao Lagar dos Frades da Ataíja de Cima, não trás qualquer conhecimento novo.
Mas o tempo, esse grande escultor veio, recentemente, ensinar-nos mais alguma coisa:
A degradação do imóvel permite-nos ver, agora,  que o famoso janelão cego que domina a fachada armoriada da Casa do Monge Lagareiro, servindo de suporte ao imponente Brasão de Cister é, afinal, falso e não, ao contrário do que parecia, uma janela entaipada:



NOTAS:
(a) Arquitecta, professora na Universidade de Évora, Doutora em Conservação do Património Arquitectónico, com uma tese intitulada “Contributo da Perspectiva para a Salvaguarda de Monumentos Históricos”.
(b) A revista "Cistercium" é patrocinada pela Conferencia Regional Española de Monasterios Cistercienses de la Estricta Observancia.
(c) Além de plantas de localização às escalas 1/25000 e 1/4000.
(d) Republicado (sem ilustrações) em “J. Vieira Natividade, Obras Várias, II”, Edição da Comissão Promotora das Cerimónias comemorativas do I Aniversário da Morte do Prof. J. Vieira Natividade, Alcobaça, s/data (o Prof. J. Vieira Natividade nasceu em 22-11-1899 e faleceu em 19-11-1968, esta edição será, portanto, de cerca de 1970).
(e) O livro reúne um conjunto de inéditos de Manuel Vieira Natividade, escritos entre 1878 e 1918, coligidos pelo filho do autor, o Eng.º Agrónomo Prof. Joaquim Vieira Natividade. As fotografias não são datadas e não têm indicação de autor. No entanto, as insertas no referido Boletim, são aí mencionadas como sendo da autoria de J. Vieira Natividade.
(f) Provavelmente tirada nos primeiros anos da década de 1940.
(g) “Quinta”, é o nome porque, na Ataíja de Cima, sempre ouvi designar o terreno murado onde se situa a Casa do Monge Lagareiro.
(h) O espaço era, ainda na segunda metade do Séc. XX, utilizado como palheiro pelo proprietário, José Horta Henriques que foi conhecido por José Bernardo.
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via ALCOA

Casa do Monge Lagareiro

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Edificada nos finais do século XVIII, a Casa do Monge Lagareiro, situada em Ataíja de Baixo, à saída da Estrada Nacional 1, integrava-se numa quinta de produção de azeite pertencente aos monges de Alcobaça, onde foi edificado um grande lagar.
O edifício, também conhecido como Lagar dos Frades, é considerado um imóvel de interesse público desde 1997, mas esta designação nunca fez com que fosse preservado ou intervencionado de qualquer forma.
A casa e a sua quinta eram propriedade dos monges de Alcobaça sendo, no entanto, incerta a sua inclusão nos coutos do mosteiro já que a povoação de Ataíja de Cima ficava no perímetro exterior dos mesmos.
(Saiba mais na edição em papel de 10 de outubro de 2013)
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respiguei do blogue
OS LAGARES DE AZEITE DO MOSTEIRO DE ALFOBAÇA

Património Cisterciense.

Para desfazer a azeitona das propriedades monásticas, do direito do quinto e da dízima, assim como todos os frutos das comunidades camponesa, os cistercienses mandaram assentar uma cadeia de lagares, mais ou menos reforçada consoante a densidade do povoamento desta fruteira. Ao contrário do que sucedia com os sistemas de moagem, os lagares de azeite eram explorados directamente pelo instituto monástico. O mundo camponês era o principal atingido pela manutenção do regime de monopólio. José de Abreu Chichorro na sua “Memória Económica e Política da Província da Estremadura” imputava os males do azeite a este exclusivo dos donatários.
A lagaragem tinha início no mês de Dezembro. Nos anos de produção mesquinha a lavra do azeite durava entre mês e meio a dois meses, contra três a quatro meses e meio em épocas de abastança.
Estrategicamente, as “fábricas de azeite” instalavam-se à beira dos cursos de água, acoplando-se aos engenhos de farinação, pisões e outras indústrias. Por regra, os moleiros viam ser reduzido o quantitativo da renda, dado os moinhos de azeite sonegarem água às pedras de fazer pão. Mas a inconstância dos cursos de água que atravessavam o território dos coutos obrigava a que a maior parte das unidades de motor hidráulico estivesse, igualmente, apetrechada de moinhos tocados a sangue (caso do lagar das Antas, da Laje, da Granja de Chiqueda). Parte dos lagares que estavam adstritos ao olival do pé da Serra dos Candeeiros apenas podiam contar com o gado de canga para derreter a azeitona (tal era o caso do lagar da Cerca, da Quinta da Granja, de Val Ventos, da Lagoa Ereira). As maiores instalações estavam apetrechadas com 8 prensas de vara e 2 moinhos, estão entre elas o lagar da Cerca (Ataíja de Cima), o lagar da Lagoa Ereira (Casal da Lagoa, Turquel), e o lagar da Fervença (complexo de transformação que englobava, para além do lagar, dois moinhos de rodízio e uma azenha).
O espírito de modernidade tecnológica que movia os cistercienses verifica-se nas instalações de lagar e casa do monge lagareiro da Ataíja de Cima (que laborava as safras do olival do Santíssimo Sacramento das Ataíjas). Neste imóvel estabelecia-se a separação entre a área dedicada aos moinhos e às prensas. Este lagar possuía ainda palheiros e estábulos para os animais que serviam nos engenhos e carreavam a azeitona. Mas estas condições ideais para a época eram, de facto, uma excepção. A regra que prevaleceu ao longo do século XIX, na região e no país, juntava no mesmo espaço prensas e moinhos, com os inconvenientes da promiscuidade do gado junto às tulhas da azeitona e às pias e talhas de arrecadar o azeite.
Para a laboração das instalações de maior capacidade contava-se em permanência com cinco a seis lagareiros. Ao mestre cumpria a orientação e coordenação dos afazeres da moenda e prensagem. Ele próprio se encarregava das funções reputadas de maior exigência e responsabilidade, como o assentamento, sangria e estrangulamento das tarefas, de arrancar o azeite e fazer as maquias (a dízima do azeite laborado), de precisar a moedura de partes (azeitona do rabisco e dos pequenos proprietários), de vigiar o enceiramento, caldas e prensagem… Já os moedores, como o seu nome indica, serviam o moinho, montavam o enceiradoiro, assistiam o fogo da caldeira, entre tantas outras actividades.
Com a extinção das ordens religiosas masculinas, estes meios de transformação da colecta dos olivais (à semelhança do que já vimos com os sistemas de moagem) são, estrategicamente, adquiridos por alguns influentes locais. O notável Bernardo Pereira de Sousa concentra nas suas mãos o lagar da Quinta de Chiqueda, o lagar da Fervença (Maiorga) e o lagar das Antas (Évora de Alcobaça). As três unidades dispunham de motor hidráulico e contavam, no seu total, com 22 prensas de vara, cerca de 30% da capacidade extractiva dos lagares do Mosteiro.
António Valério Maduro


Legenda da fotografia: Janela da Casa do Monge Lagareiro (Ataíja de Cima)