08/10/2011

5.042.(8out2011.11h11') Prémio Nobel Literatura 2011. poeta sueco Tomas Tranströmer



















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Nasceu a 15ab1931, em Estocolmo
e morreu a 26mar2015
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"Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa: 'será verdade ou só um sonho meu?'" Morreu Tomas Tranströmer

 
 http://expresso.sapo.pt/cultura/seis-anos-mais-tarde-perguntei-a-uma-senhora-de-lisboa-sera-verdade-ou-so-um-sonho-meu-morreu-tomas-transtromer=f917405

"Mas aqui!", disse o condutor e riu à socapa como se cortado ao meio,

"aqui estão políticos". Vi a fachada, a fachada, a fachada

e lá no cimo um homem à janela,

tinha um óculo e olhava para o mar. 

Roupa branca no azul. Os muros quentes.

As moscas liam cartas microscópicas.

Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa:

"será verdade ou só um sonho meu?"



(Tomas Tranströmer, in "21 poetas secretos", 1987, Vega.

tradução de Vasco Graça Moura
)
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 http://www.tvi24.iol.pt/internacional/premio-nobel-da-literatura/morreu-tomas-transtroemer
 O poeta sueco escreveu sobre Lisboa e Funchal. O poeta Casimiro de Brito afirmou à Lusa que ele era «o maior ou um dos maiores poetas do mundo».
https://vimeo.com/36754203
Editados em português pode encontrar obras como «50 poemas», da Relógio d'Água, ou 
«As Minhas Lembranças Observam-me», pela Sextante. Esta obra é recomendada pelo Plano Nacional de Leitura, e está ainda incluído na seleta «21 poetas suecos» (1981), organizada por Vasco Graça Moura e Ana Harthely, com a chancela editorial da Vega.

Nesta obra surge o poema «Lisboa», em que o poeta destaca elementos típicos das zonas históricas da capital.

«No bairro de Alfama os elétricos amarelos cantavam nas calçadas íngremes/Havia lá duas cadeias. Uma era para ladrões/Acenavam através das grades/Gritavam que lhes tirassem o retrato», escreveu.

«Roupa branca no azul. Os muros quentes/As moscas liam cartas microscópicas/Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa/ 'Será verdade ou só um sonho meu?’», finaliza o poeta sobre a cidade junto ao Tejo.

Psicólogo de formação, Transtroemer sugere que a análise poética da natureza permite mergulhar nas profundezas da identidade humana e da sua dimensão espiritual.

«A existência de um ser humano não acaba onde os seus dedos terminam», declarou um crítico sueco sobre alguns poemas de Transtroemer, que classificou como «orações laicas».

O prestígio de Transtroemer no universo anglófono deve-se sobretudo à sua amizade com o poeta norte-americano Robert Bly, que traduziu para inglês uma boa parte da sua obra – que está traduzida em 60 línguas.

O seu estilo foi descrito pela revista Publishers Weekly como “místico, versátil e triste”, destoando da vida do poeta ativamente empenhado numa luta por um mundo melhor, e não apenas através de poemas.

Nascido a 15 de abril de 1931 em Estocolmo, Tomas Transtromer foi educado pela mãe, após a morte precoce do pai. Depois de se licenciar em Psicologia, em 1956, foi contratado pelo Instituto Psicotécnico da Universidade de Estocolmo e, a partir de 1960, passou a ocupar-se de jovens delinquentes num instituto especializado, trabalhando com deficientes, presos e toxicodependentes, enquanto edificava a sua obra poética.

Em 1954, aos 23 anos, ainda estudante de Psicologia, publicou o seu primeiro livro, «17 Poemas», na maior editora sueca, Bonniers, à qual continuou ligado ao longo da sua carreira e cujo editor considera a poesia de Transtroemer «uma análise permanente do enigma da identidade individual perante a diversidade labiríntica do mundo».

Em 1966, recebeu o prestigiado Prémio Bellman, ao qual se seguiram muitas outras distinções, entre as quais o Prémio Petrarca (Alemanha, 1981) e o Neustadt International Prize (Estados Unidos, 1990).

Em 1997, a cidade operária de Vaesteraas, onde viveu durante 30 anos (até aos anos 1990, quando regressou a Estocolmo), criou o Prémio Transtroemer.

Em 2004 publicou «O Grande Enigma» e, segundo a sua mulher, a música passou a ocupar grande parte da sua vida - tocava todos os dias ao piano (com a mão esquerda, porque a direita ficara paralisada em consequência do AVC) e passava as manhãs a ouvir música clássica.

Tomas Transtromer sofreu, em 1990, um acidente vascular, que afetou a sua capacidade de falar e escrever, recorda a Lusa.

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 https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/morreu-o-poeta-premio-nobel-tomas-transtromer-1690565
 O nobel Tomas Tranströmer, mestre da metáfora e da contenção, morreu aos 83 anos, depois de 25 em silêncio.
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4 poemas
Tomas Tranströmer
[Tradução de José Carlos Marques, Anna Olsson e Sérgio Lopes]

Tempestade
Subitamente encontra o caminhante, gigantesco
e velho carvalho como alce de extensa armação,
petrificado, diante da fortaleza verde-escura
do mar de Setembro.
Tempestade nórdica. Tempo de amadurecem
os cachos de sorvas. Ouvem-se, despertas na escuridão,
as constelações batendo os pés nos seus estábulos
bem alto sobre a árvore.
*
Após o ataque

O rapaz doente.
Prisioneiro de uma visão
língua rígida como um chifre.
Está sentado de costas para o quadro com a seara de trigo,
de ligadura a apertar-lhe os maxilares, embalsamando-o.
Os óculos dele são espessos como os de um mergulhador. E tudo é
desprovido de resposta
e brusco como quando o telefone retine no escuro.
Mas o quadro por trás. É uma paisagem que dá paz
mesmo se a seara é uma tempestade de ouro.
Céu azul e fogo como essa flor de nome viperina, e nuvens à deriva.
Lá em baixo na amarela ondulação
navegam algumas camisas brancas: ceifeiros – não projectam sombras.
Há um homem muito ao longe na seara e parece olhar nesta direcção.
Um largo chapéu esconde-lhe o rosto.
Parece reparar nesta forma escura do quarto, talvez uma ajuda.
Imperceptivelmente, o quadro começa a alargar-se e a abrir-se por trás
do doente,
na doença absorto. Há relâmpagos e estrondos. As espigas estão acesas
como que para acordá-lo!
O outro – na seara – faz um aceno.
Aproximou-se.
Ninguém repara.

*
Através do bosque
Um lugar chamado pântano de Jacob
é a cave fresca de um dia de Verão
luz que coalhando azeda uma bebida
com gosto de velhice e de pobreza.
Os frágeis gigantes estão entrelaçados
tão densamente que nada pode tombar.
A bétula partida apodrece ali mesmo
em posição vertical como um dogma.
Do fundo do bosque vou subindo.
Brilha luz cada vez mais por entre os troncos.
Chove sobre os altos telhados que me abrigam.
Sou um longo escoadouro de impressões.
Na orla do bosque o ar é doce. –
Grande, escuro pinheiro voltado para o longe,
de focinho escondido na terra
bebe a sombra da chuva.

*
Dó Maior
Quando ele desceu à rua depois do encontro de amor
neve redemoinhava no ar.
O Inverno chegara
enquanto estavam nos braços um do outro.
A noite brilhava, branca.
Ele correu de alegria.
Toda a cidade se inclinava.
Sorrisos passavam –
todos sorriam por trás dos colarinhos esticados.
Tudo era livre!
Todos os pontos de interrogação começaram a cantar a existência de
Deus.
Assim pensou ele.
Uma música soltou-se
e seguiu na neve em turbilhão
em longas passadas.
Tudo errando sobre a nota dó.
Uma bússola balançante, dirigida para dó.
Uma hora mais alto que os tormentos.
Tudo era fácil!
Todos sorriam por trás dos colarinhos esticados.

Tomas Tranströmer nasceu em Estocolmo, Suécia, em 1931. Em 1956 licenciou-se em psicologia pela Universidade de Estocolmo, tendo exercido a profissão primeiro na Universidade, depois em instituições para jovens delinquentes, mais tarde num instituto sindical. Poeta, tradutor, memorialista, a sua obra inicia-se em 1954 com 17 poemas (17 dikter). Seguem-se Segredos de Parede (Hemligheter på väggen, 1958), O Céu Inacabado (Den halvfärdiga himlen, 1962), Sons e Rastos (Klanger och spår , 1966), Quarteto (Kvartett , 1967), Visões na Escuridão (Mörkerseende, 1970), Veredas (Stigar, 1973), Mares Bálticos (Östersjöar, 1974), Barreiras da Verdade (Sanningsbarriären, 1978), A Praça Selvagem (Det vilda torget, 1983), Para os Vivos e os Mortos (För levande och döda, 1989), As Recordações Afloram (Minnena ser mig, 1993), Gôndolas da Dor (Sorgegondolen, 1996), Poesias Reunidas (Samlade dikter, 1954-1996 - 2000), Prisão (Fängelse, 2001), O Grande Enigma (Den stora gåtan, 2004). Traduzido no estrangeiro em mais de 50 línguas, Tranströmer tornou-se o poeta vivo mais destacado da Suécia, onde o seu nome é regularmente falado para o Prémio Nobel. Distinguido com diversos prémios, incluindo o Prémio Internacional Neustadt para a Literatura. Em 1990 sofreu um primeiro ataque cardíaco, a que se seguiram vários outros. Limitado na expressão escrita e oral, escreve com a ajuda da mulher, inclusive através de sinais que se resumem a um sim e um não, o que não o impediu de escrever nessas condições algumas das suas obras mais importantes. Os poemas aqui traduzidos pertencem à fase inicial da sua obra, todos anteriores a 1970.


José Carlos Marques: ver página xis.


Anna Olsson nasceu em Ystad, na Suécia, em 1970. Licenciou-se em produção animal e, em 2001, doutorou-se em etologia, em Upsala. Desde 2001 vive no Porto, onde trabalha como investigadora em etologia e bioética. Colaborou já na tradução de poemas de Karin Boye publicados em DiVersos n.º 10 e na revista O Escritor, da Associação Portuguesa de Escritores, em 2006.


Sérgio Lopes nasceu no Porto, em 1943. Professor aposentado da Uniiversidade do Porto, desde jovem se interessou pela cultura e sociedade escandinavas, tendo aprendido sueco e viajado várias vezes nos países nórdicos. Colaborou já na tradução de poemas de Karin Boye publicados em DiVersos n.º 10 e na revista O Escritor, da Associação Portuguesa de Escritores, em 2006.
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agradecido a Amélia Pais
http://barcosflores.blogspot.com/

http://cristalina.multiply.com