23/12/2011

5.332.(22dez2011.8.8') Sobre o não dar o 26...Contra o espírito de Natal... Contra o convívio famíliar

Sérgio silva:De acordo com as notícias, Portugal é praticamente o único país da Europa onde se comemora o Natal a 25 de dezembro que não tem feriado ou tolerância de ponte no dia 26. O mesmo é válido se incluirmos a América do Norte (EUA e Canadá).
Não parece que alguém se queixe de problemas de produtividade nesses países.
Até as bolsas mundiais vão estar fechadas.
E depois é família praqui, família prali!...
Portanto, o que acontece realmente é que o Governo quer punir o povo português. Só isso, mais nada.
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Mais três dias

Em Portugal, em trabalhos de natureza administrativa, há uma cultura de empresa muito comum e que eu me permito apelidar de “presentismo” em oposição ao “laboralismo”.

O “presentismo” é uma forma de camuflar o baixo trabalho, a baixa rendibilidade, com uma falsa produtividade que se mede somente pela quantidade de tempo que o funcionário está no posto de trabalho. Na verdade, há uma grande diferença entre o “laborismo”, ou seja, uma alta produtividade independente do tempo de presença no local de trabalho, e o “presentismo”. Este serve para escravizar, amesquinhar, mediocrizar o trabalhador administrativo; aquele serve para o libertar, valorizar e incentivar.
Está provado que, nas empresas de serviços e de carácter administrativo, o empregado que tem maior liberdade de horário, mais flexibilidade de presença no local de trabalho desempenha com maior rigor e mais eficiência a sua tarefa; com ele nada está atrasado, porque sabe que cumprida a sua obrigação não tem peias ou constrições que lhe limitem a saída. O trabalho deixa de ser um fardo para passar a ser uma tarefa que se cumpre com agrado para poder usufruir do repouso necessário.

Em Portugal são raros os empresários capazes de levar à prática uma política de trabalho que tenha como meta o “laborismo” e, em oposição, preferem o “presentismo” espartilhado por um horário inflexível com faltas descontadas e relógio de ponto em local bem visível para controlo da simples presença. O trabalhador deixa quase de ser pessoa para ser tomado como peça de uma qualquer máquina que produz trabalho administrativo. Face ao “presentismo” e para o justificar, é comum os responsáveis burocráticos pelas cadeias hierárquicas inventarem tarefas absolutamente inúteis que, para além de ofenderem a inteligência do trabalhador (porque percebe que está a trabalhar “para o boneco”), geram entropia no sistema, aumentando circuitos de informação desnecessária e que, em última análise, encarece o labor empresarial. Os responsáveis burocráticos inventam afazeres para os seus subordinados de modo a justificarem a sua própria presença no local de trabalho e garantirem o seu posto na empresa. Geram-se monstros administrativos que acabam por não ter tempo para fazer aquilo que deveriam efectuar. Um caso bastante evidente desta situação é o da contratação de empresas privadas para executarem estudos especializados do e no aparelho do Estado. Fazem-se cobrar, normalmente, muito bem, por uma tarefa que, se não existisse a cultura laboral do “presentismo”, funcionários públicos, devidamente estimulados e credenciados, seriam capazes de levar a cabo; não o podem fazer, porque estão empenhados em fazer “nada”. Nada que seja realmente produtivo.

O Governo, chefiado por um “trabalhador” amador, pois nunca foi profissional de nada a não ser da política, e composto por uma série de outros iguais a ele e alguns académicos provavelmente com experiência no mundo laboral a partir de posições de topo, muito distanciadas das realidades da prática comezinha, determinou, ou vai determinar, mais uma “bacorada” no plano do mundo do trabalho: a perda de três dias suplementares de férias de que usufruíam os trabalhadores mais diligentes. O Governo carrega na tecla do “presentismo” julgando que está a tocar na do “laborismo”. Um disparate monumental, pelo menos, no que toca aos trabalhadores do sector burocrático/administrativo, ou seja, aqueles que não estão empregados em fábricas. E, até para estes, o Governo demonstra que desconhece, em absoluto, as técnicas de obtenção de aumento de produtividade em ambiente fabril. Mais uma vez, estas são medidas que, para além de ofensivas dos trabalhadores, se destinam a “inglês ver”, pois os grandes especialistas de Organização de Recursos Humanos desse mundo fora, se tomarem conhecimento da decisão do Governo português, estão a rir-se a bandeiras despregadas do terceiro mundismo da medida.
Para além de ser triste, esta decisão do Governo, mostra toda a sua incapacidade de gestão e amadorismo. Os únicos papalvos que batem palmas são os atrasados mentais dos empresários portugueses — atrasados mentais, porque não há maneira de aprenderem como se deve gerir uma empresa para obter satisfação dos empregados e, ao mesmo tempo, altos níveis de rendimento laboral — pois julgam que vão explorar os seus empregados quando, bem feitas as contas, os explorados vão ser eles.

Dá vontade de dizer: — Senhor licenciado Passos Coelho, vá, primeiro trabalhar, estudar as técnicas mais modernas de motivação laboral e, depois, candidate-se a líder partidário, porque para ser Primeiro-ministro está ainda muito cru.
Deus proteja Portugal e os Portugueses, pois nada há de pior do que o atrevimento da ignorância e da juventude transviada!


Luís Alves de Fraga às 11:51