Manuel Pina comentou:
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Uma telenovela edificante
O guião da telenovela Lusoponte, em cena há mais de uma década, foi pioneiro no uso do emocionante "plot" que são as Parcerias Público-Privadas, negócio em que, para efeitos de maquilhagem orçamental, o público corre os riscos e, por sua parte (por isso são "parcerias"), o privado fica com os lucros. A concessão foi assinada em 1994 pelo ministro das Obras Públicas Ferreira do Amaral (PSD), hoje... administrador da Lusoponte, e revista em 2000 pelo ministro das Obras Públicas Jorge Coelho (PS), hoje CEO da Mota-Engil, um dos maiores accionistas da... Lusoponte.
No último (?) episódio, o actual Governo (PSD/CDS) paga à Lusoponte 4,4 milhões como "compensação" pela não cobrança, em Agosto de 2011, de portagens na Ponte 25 de Abril que a Lusoponte... cobrou. Na AR, três semanas antes do Dia das Mentiras, o primeiro-ministro garante que não sabe de nada.
Passados uns minutos, porém, já sabe, fazendo questão de "deixar claro" que tal duplo pagamento não existiu. Menos de 24 horas depois, não só o secretário de Estado dos Transportes o desmente, revelando que, afinal, houve duplo pagamento, como a própria Lusoponte o confirma, adiantando que não tenciona devolver nem um cêntimo.
Aguarda-se o final, embora previsível e, como de costume, edificante: o rapaz casará com a rapariga e todos, PSD, PS, CDS, Lusoponte e Mota-Engil, serão felizes para sempre. E o vilão contribuinte pagará de novo pelos seus crimes.
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Fio de Prumo (in "CM" de 8-2-2012)
Ambrósio
Mesmo com provas evidentes, os tribunais não conseguem, mais uma vez, apanhar os poderosos.
Por:Paulo Morais, Professor Universitário (JÁ FOI DIRIGENTE DA UIPSS E VEREADOR DE RUI RIO)
O sistema de Justiça absolveu Valentim Loureiro no caso da quinta do Ambrósio. Mesmo com provas evidentes, os tribunais não conseguem, mais uma vez, apanhar os poderosos.
Na Câmara de Gondomar, com a participação ou patrocínio de Valentim Loureiro, um terreno agrícola é adquirido por um milhão de euros. A classificação do solo é alterada e em seis dias o terreno é vendido pelos protegidos de Valentim por cerca de quatro milhões. Esta operação de tráfico de terrenos, caucionada pela câmara, gerou uma margem de lucro de 300 por cento.
Mas as vigarices não ficam por aqui. O terreno é adquirido a um preço exorbitante por uma empresa pública, a STCP, cujo presidente de então dependia organicamente de... Valentim Loureiro. Na posse do terreno, a STCP deixou-o ao abandono. Até hoje.
Chegado o caso a tribunal e ao fim de um longo processo com mais de dez anos (!), Valentim é absolvido.
Na leitura da sentença, o juiz veio declarar que a Câmara de Gondomar funciona como uma agência de intermediação imobiliária.
Mas não tira daí qualquer consequência. As razões da absolvição não se percebem. Mas serão uma de três: ou o crime julgado não foi bem identificado ou definido, o que será inadmissível; ou a acusação foi mal conduzida e estamos perante uma enorme incompetência do Ministério Público; ou o julgamento foi condicionado pela política.
Em suma: os amigos de Valentim compraram um terreno que Valentim, na câmara, valorizou; os amigos venderam a uma empresa pública gerida por outros amigos de Valentim e a um preço influenciado por este. Os amigalhaços ficaram milionários. "Foi sorte", diz ele. Sorte deles e azar nosso, dos contribuintes que pagamos esta fraude com o dinheiro dos nossos impostos.
Este caso tornou-se emblemático. Incorpora todos os ingredientes: autarcas, familiares destes, advogados ardilosos, fuga ao Fisco, empresas públicas mal geridas, urbanismo nada sério, tribunais incompetentes.
Perante esta política nauseabunda, Ambrósio, apetecia-me algo. Tomei a liberdade de pensar nisso. Talvez uma MATANÇA DE PORCOS.