12/04/2014

7.822.(12abril2014.18.56') Antero de Quental

Nasceu a 18abril1842
e morreu a 11set1891
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2noVEMbro2019
Via JERO
"O 'ideal' significa desprezo das vaidades, amor desinteressado da verdade, desdém do fútil, do convencional, boa-fé, grandeza de alma, simplicidade, nobreza, soberano bom gosto e soberaníssimo bom senso".
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11seTEMbro2019
Via Maria Sobral Velez:
 A 11 de setembro de 1891, em Ponta Delgada,neste banco, Antero de Quental decidiu deixar de viver.
"Antero (...) descobriu-nos a verdade de que o ser imbecil não é indispensável a um poeta." FP
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 "Com os mortos"
Os que amei, onde estão?
Idos, dispersos, arrastados
no giro dos tufões, Levados,
como em sonho, entre visões,

Na fuga, no ruir dos universos...
E eu mesmo, com os pés também imersos
Na corrente e à mercê dos turbilhões,
Só vejo espuma lívida, em cachões,

E entre ela, aqui e ali, vultos submersos...
Mas se paro um momento, se consigo
Fechar os olhos, sinto-os a meu lado

De novo, esses que amei vivem comigo,
 Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,
Juntos no antigo amor, no amor sagrado,
Na comunhão ideal do eterno Bem.
  https://www.youtube.com/watch?v=XBu-a28pFqQ
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1fev2018
Via JERO
"Só pela moral o Mundo será libertado e salvo".
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Via Maria Sobral Velez
 No dia 11 de setembro de 1891, neste banco, Antero de Quental decidiu deixar de viver. Sobre ele disse Fernando Pessoa:
"Com Antero de Quental se fundou entre nós a poesia metafísica, até ali não só ausente, mas organicamente ausente, da nossa literatura. (...) ensinou a pensar em ritmo; descobriu-nos a verdade de que o ser imbecil não é indispensável a um poeta."

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As fadas... eu acredito nelas!
Umas são moças e belas,
Outras velhas de pasmar..
Umas vivem nos rochedos
Outras pelos arvoredos,
Outras, à beira do mar...

Umas têm mando nos ares;
Outras, na terra, nos mares;
E todas trazem na mão
Aquela vara formosa,
A vara maravilhosa,
A varinha de condão.

Quantas vezes, já deitado,
Mas sem sono, inda acordado,
Me ponho a considerar.
Que condão eu pediria,
Se uma fada, um belo dia,
Me quisesse a mim fadar...


Arte - Michael Cheval, Russia

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" A literatura, porque se dirige ao coração, à inteligência, à imaginação e até aos sentidos, toma o homem por todos os lados; toca por isso em todos os interesses, todas as ideias, todos os sentimentos; influi no indivíduo como na sociedade, na família como na praça pública; dispõe os espíritos; determina certas correntes de opinião; combate ou abre caminho a certas tendências; e não é muito dizer que é ela quem prepara o berço aonde se há-de receber esse misterioso filho do tempo- o futuro."
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"Indiferença em Política
Um dos piores sintomas de desorganização social, que num povo livre se pode manifestar, é a indiferença da parte dos governados para o que diz respeito aos homens e às cousas do governo, porque, num povo livre, esses homens e essas cousas são os símbolos da actividade, das energias, da vida social, são os depositários da vontade e da soberania nacional. 
Que um povo de escravos folgue indiferente ou durma o sono solto enquanto em cima se forjam as algemas servis, enquanto sobre o seu mesmo peito, como em bigorna insensível se bate a espada que lho há-de trespassar, é triste, mas compreende-se porque esse sono é o da abjecção e da ignomínia.
Mas quando é livre esse povo, quando a paz lhe é ainda convalescença para as feridas ganhadas em defesa dessa liberdade, quando começa a ter consciência de si e da sua soberania... que então, como tomado de vertigem, desvie os olhos do norte que tanto lhe custara a avistar e deixe correr indiferente a sabor do vento e da onda o navio que tanto risco lhe dera a lançar do porto; para esse povo é como de morte este sintoma, porque é o olvido da ideia que há pouco ainda lhe custara tanto suor tinto com tanto sangue, porque é renegar da bandeira da sua fé, porque é uma nação apóstata da religião das nações - a liberdade! "
 in 'Prosas da Época de Coimbra'
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"Cada fez sinto mais o falso da minha posição nesta terra lusitana. Não me entendo com homens e coisas: apenas com os céus e os montes: mas isto não é suficiente".
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Li (escrevi a verde) em 10fev1977 21.15' (na Biblioteca de Coimbra)
SONETOS
TORMENTO DO IDEAL 
Conheci a Beleza que não morre
E fiquei triste. Como quem da serra
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,

Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre;
Assim eu vi o mundo e o que ele encerra
Perder a cor, bem como a nuvem que erra
Ao pôr-do-sol e sobre o mar discorre.

Pedindo à forma, em vão, a ideia pura,
Tropeço, em sombras, na matéria dura,
E encontro a imperfeição de quanto existe.

Recebi o batismo dos poetas,
E assentado entre as formas incompletas
Para sempre fiquei pálido e triste.

*
meus dias vão correndo vagarosos
*
mas, se a beleza aqui nos aparece,
logo outra lembras de mais puros gozos.
*
nasce do orgulhos aquele estéril gozo
e a glória dele é coisa fraudulenta,
Como quem na vaidade tem a palma:

Tem na paixão seu brilho mais formoso
E das paixões também some-o a tormenta...
Mas a glória do amor...esse vem d'alma!
*
Só.!- Não o é quem na dor, quem nos cansaços
tem um laço que o prenda a este fadário
Uma crença, um desejo,,,e inda um cuidado...

Mas cruzar, com desdém, inertes braços.
Mas passar, entre turbas, solitário,
Isto é ser só, é ser abandonado!
*
Assim a vida passa vagarosa:
o presente, a aspirar a ser futuro:
o futuro uma sombra mentirosa.
*
Que sempre o mal pior é ter nascido!
*
Mas coroa-me tu; na ponte inglória
Cinge-me tu o louro soberano...
Verás, verás então se amo essa glória!
21.40'
Ad AmicosEm vão lutamos. Como névoa baça, 
A incerteza das coisas nos envolve. 
Nossa alma, em quanto cria, em quanto volve, 
Nas suas próprias redes se embaraça. 

O pensamento, que mil planos traça, 
É vapor que se esvae e se dissolve; 
E a vontade ambiciosa, que resolve, 
Como onda entre rochedos se espedaça. 

Filhos do Amor, nossa alma é como um hino 
À luz, à liberdade, ao bem fecundo, 
Prece e clamor d'um presentir divino; 

Mas n'um deserto só, árido e fundo, 
Ecoam nossas vozes, que o Destino 
Paira mudo e impassível sobre o mundo.

























**
Depois vi descer, baixar no céu da vida
Cada estrela e fiquei nas trevas laborando:
Depois sobre o peito os braços apertando
Acheio o vácuo só, e tive a luz sumida
Sem ver onde olhar, em todo vi perdida
A flor de um jardim, que eu mais andei regando:
**
Não temas mais - Oh vem! o céu é puro, e calma
E silenciosa a terra, e doce o mar, e a alma...
A alma! Não a vês tu? mulher, mulher! Oh vem!
**
Quem ama até em sonhos adivinha...
**
Dali o nosso olhar v tão estranhas 
Coisas, por esse Céu! e tão ardentes
Visões, lá nesse mar^de ondas tremendas
E as estrelas, dali, vê-as tamanhas!
**
Amo  a grandeza tenebrosa e vasta...
A grande ideia, como a flor e o viço
Da árvore colossal que nos domina...
**
Sabe amar e sorrir...é pouco isso?
**
IdílioQuando nós vamos ambos, de mãos dadas, 
Colher nos vales lírios e boninas, 
E galgamos dum fôlego as colinas 
Dos rocios da noite inda orvalhadas; 

Ou, vendo o mar das ermas cumeadas 
Contemplamos as nuvens vespertinas, 
Que parecem fantásticas ruínas 
Ao longo, no horizonte, amontoadas: 

Quantas vezes, de súbito, emudeces! 
Não sei que luz no teu olhar flutua; 
Sinto tremer-te a mão e empalideces ...

O vento e o mar murmuram orações, 

E a poesia das coisas se insinua 
(dez horas da noite na Torre da Universidade de Coimbra)Lenta e amorosa em nossos corações.































NocturnoEspírito que passas, quando o vento 
Adormece no mar e surge a Lua, 
Filho esquivo da noite que flutua, 
Tu só entendes bem o meu tormento... 

Como um canto longínquo - triste e lento- 
Que voga e subtilmente se insinua, 
Sobre o meu coração que tumultua, 
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento... 

A ti confio o sonho em que me leva 
Um instinto de luz, rompendo a treva, 
Buscando, entre visões, o eterno Bem. 

E tu entendes o meu mal sem nome, 
A febre de Ideal, que me consome, 
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém! 



























**
Sonhei - nem sempre o sonho é coisa vã -
**
Mas eu baixava os olhos, receoso
Que traíssem as grandes mágoas minhas,
E passava furtivo e silencioso,
22.30'
O que será velhice e desalento,
Se isto se chama aurora e juventude?
**
Abnegação
Fitávamo-nos mudos
*
Que o home suba e vá da noite ao dia,
*
Mas já desmaio, exausto e vacilante

*
Não tem as formas lânguidas; divinas
da antiga Vénus de cintura estreita...
*
É como uma miragem, que entrevejo,
Ideal, que nasceu na solidão,
Nvem, sonho impalpável do Desejo...
*
Respirariam meus pulmões contentes
*
Na fulva luz dos gládios reluzentes!
*
Viver mais que de sonhos e ansiedade!
*
E roçar c'os vestidos vaporosos
A minha fronte pálida e cansada!
*Ardentes filhos do prazer, dizei-me!
Vossos sonhos quais são, depois da orgia?
*
Tinhas de ser assim...Teus olhos fitos
...................................e onde eu leio
Uns mistérios tão tristes e infinitos
*
Tua voz rara e esse ar vago e esquecido,
Tudo me diz a mim, e assim o creio,
Que para isto só tinhas nascido!
*
Ali, onde o mar quebra, num cachão
*
Resignada, és só ledo informe e medo:
Revoltosa, és só fogo e hórrida lava...
*
E a tarde runurosa e repousada
*
Ergue-te, pois, soldado do Futuro

**

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Disse ao meu coração: Olha por quantos 
Caminhos vãos andámos! Considera 
Agora, desta altura, fria e austera, 
Os ermos que regaram nossos prantos... 

Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
E a noite, onde foi luz a Primavera!
Olha a teus pés o mundo e desespera,
Semeador de sombras e quebrantos!

Porém o coração, feito valente
Na escola da tortura repetida,
E no uso do pensar tornado crente,

Respondeu: Desta altura vejo o Amor!
Viver não foi em vão, se isto é vida,
Nem foi demais o desengano e a dor.

 em "Sonetos"

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"Indiferença em Política 

Um dos piores sintomas de desorganização social, que num povo livre se pode manifestar, é a indiferença da parte dos governados para o que diz respeito aos homens e às cousas do governo, porque, num povo livre, esses homens e essas cousas são os símbolos da actividade, das energias, da vida social, são os depositários da vontade e da soberania nacional. 
Que um povo de escravos folgue indiferente ou durma o sono solto enquanto em cima se forjam as algemas servis, enquanto sobre o seu mesmo peito, como em bigorna insensível se bate a espada que lho há-de trespassar, é triste, mas compreende-se porque esse sono é o da abjecção e da ignomínia.
Mas quando é livre esse povo, quando a paz lhe é ainda convalescença para as feridas ganhadas em defesa dessa liberdade, quando começa a ter consciência de si e da sua soberania... que então, como tomado de vertigem, desvie os olhos do norte que tanto lhe custara a avistar e deixe correr indiferente a sabor do vento e da onda o navio que tanto risco lhe dera a lançar do porto; para esse povo é como de morte este sintoma, porque é o olvido da ideia que há pouco ainda lhe custara tanto suor tinto com tanto sangue, porque é renegar da bandeira da sua fé, porque é uma nação apóstata da religião das nações - a liberdade! "

 in 'Prosas da Época de Coimbra'
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A Importância da Mulher no Progresso da Civilização
Se na história não procurarmos só uma data ou um facto descarnado, mas tentarmos nela descobrir alguma coisa mais, um princípio harmónico e as leis que governam esses factos, ainda nas suas menores evoluções, veremos que a história da civilização da mulher, do seu desenvolvimento e da sua moralidade, anda sempre ligada aos factos do desenvolvimento da civilização e da moralidade dos povos: veremos que aonde a sua condição se amesquinha, onde desce em dignidade, onde a mulher em vez do triplo e sagrado carácter de amante, esposa e mãe passa a ser escrava sem liberdade nem vontade, só destinada a saciar as paixões brutais dum senhor devasso, aí também veremos descer o nível da civilização e moralidade: à doçura dos costumes suceder a fereza e a brutalidade; e em vez do amor, essa flor do sentimento pura e recatada, só apareceram a paixão instintiva e brutal, necessidade puramente física do animal que obedece à lei da reprodução, à devassidão e à poligamia!
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https://www.facebook.com/palavrasandarilhas/photos/a.248442341930908.50908.235655916542884/283756355066173/?type=1&theater

Porque a fortuna da gente
Está às vezes somente
numa palavra que diz.
Por uma palavra, engraça
Uma fada com quem passa
E torna-o logo feliz.

il. Marie Cardouat

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a  questão coimbrã
http://www.progressao.com/arquivos/gilmar44.pdf
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http://www.infopedia.pt/apoio/artigos/12078800?termo=entendem
Bom Senso e Bom Gosto


Constitui um dos documentos mais importantes da polémica literária que ficou conhecida como a Questão Coimbrã ou mesmo a Questão do Bom Senso e Bom Gosto, tendo surgido como resposta à carta-posfácio de António Feliciano de Castilho inserta no Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas, de outubro de 1865, na qual o autor de Cartas de Eco a Narciso aludia ironicamente às teorias filosóficas e poéticas expostas nos prefácios a Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras (ambas de 1864), de Teófilo Braga, e na nota posfacial das Odes Modernas, de Antero de Quental (de julho de 1865). Sentindo-se visado, Antero de Quental responde em novembro com o panfletoBom Senso e Bom GostoCarta ao Exmo. Sr. António Feliciano de Castilho, onde qualifica o juízo de Castilho como uma crítica "à independência irreverente de escritores que entendem fazer por si o seu caminho, sem pedirem licença aos mestres, mas consultando só o seu trabalho e a sua consciência", que cometem "essa falta de querer caminhar por si, de dizer e não de repetir, de inventar e não de copiar". Antero define "a bela, a imensa missão do escritor" como "um sacerdócio, um ofício público e religioso de guarda incorruptível das ideias, dos sentimentos, dos costumes, das obras e das palavras", que exige, por um lado, uma alta posição ética, por outro lado, uma total independência de pensamento e de carácter. Como consequência, e numa clara alusão a Castilho, Antero repudia a poesia que cultiva a "palavra" em vez da "ideia"; a poesia decorativa dos "enfeitadores das ninharias luzidias"; a poesia conservadora dos que "preferem imitar a inventar; e a imitar preferem ainda traduzir"; em suma, a poesia que "soa bem, mas não ensina nem eleva". O autor das Odes Modernas preconiza ainda que a literatura portuguesa acompanhe "o pensamento moderno", "as tendências das ciências", "os resultados de trinta anos de crítica", "a nova escola histórica", "a renovação filosófica".
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Via Amélia Vieira
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11 de Setembro de 1891. Antero de Quental não aguentou a angústia ,a dúvida gnóstica, a natureza das coisas, tão diferentes da alma grande de um grande poeta.....Um suícidio doloroso, uma agonia longa. A bala ficou alojada e este foi o seu longo estertor. O «Santo Antero» como ternamente apelidavam os do seu grupo: Os Vencidos da Vida. Não foram! Eles foram, este, e os outros, maiores. Vencidos somos nós, todos que não foram contemplados com a Luz do espírito. Obrigada Antero! Tu serás sempre um guia, um mestre, um caminho doloroso e belo a seguir
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Via JERO.Lusa

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 "O 'ideal' significa desprezo das vaidades, amor desinteressado da verdade, desdém do fútil, do convencional, boa-fé, grandeza de alma, simplicidade, nobreza, soberano bom gosto e soberaníssimo bom senso". 
Antero de Quental (1842-91), poeta português.
Na mão de Deus, na sua mão direita, 
Descansou afinal meu coração. 
Do palácio encantado da Ilusão 

Desci a passo e passo a escada estreita. 

Como as flores mortais, com que se enfeita 
A ignorância infantil, despojo vão, 
Depois do Ideal e da Paixão 
A forma transitória e imperfeita. 

Como criança, em lôbrega jornada, 
Que a mãe leva ao colo agasalhada 
E atravessa, sorrindo vagamente, 

Selvas, mares, areias do deserto... 
Dorme o teu sono, coração liberto, 
Dorme na mão de Deus eternamente!

 in "Sonetos"
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22 de Maio de 1871: Abrem as Conferências Democráticas, no Casino Lisbonense, com a discussão de "O Espírito das Conferências", de Antero de Quental.

Série de conferências - também conhecidas simplesmente por Conferências do Casino - levadas a público em 1871, em Lisboa, por iniciativa do chamado grupo do Cenáculo, de que faziam parte Antero de Quental, Eça de Queirós, Jaime Batalha Reis, Salomão Sáragga, Manuel Arriaga e Guerra Junqueiro. Este é o ponto mais alto da Geração de 70. Visavam abrir um debate sobre o que de mais moderno, a nível de pensamento, se vinha fazendo lá fora. Aproximar Portugal da Europa era o objetivo máximo, anunciado, aliás, no respetivo programa.


O programa das Conferências, que surgiam como uma espécie de consequência natural das discussões ideológicas travadas no Cenáculo, anunciava "ligar Portugal com o movimento moderno", "agitar na opinião pública as grandes questões da Filosofia e da Ciência Moderna" e "estudar as condições da transformação política, económica e religiosa da sociedade portuguesa".


A conferência inaugural, intitulada "O espírito das conferências", foi proferida por Antero de Quental, que afirmou a necessidade de regenerar Portugal "pela educação da inteligência e pelo fortalecimento da consciência dos indivíduos". Na segunda conferência, o mesmo Antero analisou as "Causas da decadência dos povos peninsulares", que, na sua opinião, correspondiam ao catolicismo pós-tridentino, que impôs o obscurantismo à centralização política das monarquias absolutas, que determinou o aniquilamento das liberdades locais e individuais, e à política expansionista ultramarina, que impediu o desenvolvimento da pequena burguesia. A terceira conferência, intitulada "A literatura portuguesa", foi pronunciada por Augusto Soromenho, que denunciou a decadência da literatura portuguesa e defendeu a necessidade de "dar por base à educação a moral, o dever, do que aproveitará a literatura". A quarta conferência, "A Nova Literatura (O Realismo como nova expressão da Arte)", foi proferida por Eça de Queirós, que aí lançou os fundamentos da sua conceção de Realismo, influenciada por Flaubert, Proudhon e Taine. A quinta conferência coube a Adolfo Coelho, que avançou algumas propostas revolucionárias para a reorganização do ensino em Portugal, a mais importante das quais consistia na "separação completa do estado e da igreja".


As conferências foram interrompidas antes da sexta, que seria dita por Salomão Sáragga e que versaria sobre os críticos históricos de Jesus, por portaria ministerial do Marquês de Ávila e Bolama, onde se alegava que nas conferências se tinham sustentado "doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições políticas do estado". Os conferencistas reagiram contra a proibição com um protesto público, com o qual se solidarizaram vários intelectuais, como Alexandre Herculano, que acudiram em defesa da liberdade de expressão.


De qualquer modo, entre os intelectuais portugueses, ficou o gérmen da modernidade do pensamento político, social, pedagógico e científico que na França, na Alemanha e na Inglaterra se fazia sentir. Este espírito revolucionário e positivista dominava a maioria da jovem classe pensante.

Fontes: Conferências Democráticas do Casino Lisbonense. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. 






 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/05/22-de-maio-de-1871-abrem-as.html?spref=fb&fbclid=IwAR2dwX86eC5rEiW2U8JZQhMprAy9vR61vqNZTynAWig1GCGJIaxYPJqsmew
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11 de Setembro de 1891: Suicídio do poeta Antero de Quental

Antero de Quental é entre nós o grande criador de uma poesia filosófica romântica, influenciada pelos modelos alemães. Nasce em Ponta Delgada a 18 de abril de 1842, no seio de uma família nobre e com tradições literárias da ilha de S. Miguel. Em 1852, vai para Lisboa estudar no Colégio do Pórtico, fundado por António Feliciano de Castilho, com quem já aprendera francês e latim em Ponta Delgada, entre 1847 e 1850. Um ano depois regressa a S. Miguel, de onde partirá em 1855 para Coimbra, a fim de fazer os estudos preparatórios para o ingresso na Universidade. Aos dezasseis anos, inicia o curso de Direito. Durante a sua permanência em Coimbra, assume-se como uma figura influente no meio estudantil coimbrão, tomando parte em várias manifestações académicas. É por esta altura que contacta com os novos autores e correntes europeias - o socialismo utópico de Proudhon, o positivismo de Comte, o hegelianismo, o darwinismo, as doutrinas de Taine, Michelet, Renan, o romantismo social de Hugo - e, segundo confessará mais tarde, perde a fé. Em 1861, publica em edição limitada os Sonetos de Antero, obra dedicada ao poeta João de Deus, e, dois anos depois, os poemas Beatrice e Fiat Lux. Em 1865, publica as Odes Modernas, poesias de romantismo social, acompanhadas de uma "Nota sobre a Missão Revolucionária da Poesia". Em resposta à reação crítica de Castilho na carta-posfácio ao Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas, publica os opúsculos Bom Senso e Bom Gosto e A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais, que desencadearam a Questão Coimbrã. Ainda no contexto da Questão Coimbrã, bate-se em duelo com Ramalho Ortigão, de quem viria a tornar-se amigo. Decide aprender o ofício de tipógrafo, primeiro em Lisboa e depois em Paris, onde conhece Michelet e lhe oferece um exemplar das Odes Modernas. Regressado a Lisboa em 1868, e depois de uma curta viagem à América do Norte, reúne-se com os seus antigos condiscípulos de Coimbra no "Cenáculo", grupo onde se discutem as doutrinas recentes e se descobrem os novos poetas (Baudelaire, Gautier, Nerval, Leconte de Lisle e o redescoberto Heine); fruto destes encontros, criação coletiva da Geração de 70, nasce o poeta satânico e dândi Carlos Fradique Mendes. Em 1871, organiza as Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, proferindo as duas primeiras, O Espírito das Conferências e Causas da Decadência dos Povos Peninsulares. No rescaldo da interrupção e da proibição das Conferências, consideradas subversivas pelo Governo, Antero vive a sua fase política mais intensa, fundando, com José Fontana, a I Internacional Operária em Portugal e também o jornal O Pensamento Social. Por esta altura, publica as primaveras Românticas e as Considerações sobre a Filosofia da História Literária Portuguesa. A partir de 1873, manifestam-se-lhe os primeiros sintomas de uma grave doença nervosa, que as mortes próximas da mãe e do pai acentuam, que o leva a consultar em Paris o famoso neurologista Charcot e a submeter-se, entre 1877 e 1878, a tratamentos de hidroterapia. Em 1875, publica uma segunda edição das Odes Modernas, atenuando-lhes o cunho revolucionário. Em 1880, adota duas órfãs, filhas do amigo e antigo colega de Coimbra Germano Meireles. Nessa altura, devido à doença, isola-se em Vila do Conde, continuando a escrever sonetos e ensaios filosóficos. Em 1886, publica os Sonetos Completos e o ensaio A Filosofia da Natureza dos Naturalistas. Em 1887, redige a célebre carta autobiográfica a Wilhelm Storck, seu tradutor alemão. Em 1890, publica o estudo filosófico Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX. No mesmo ano, em virtude do Ultimato inglês, regressa temporariamente à atividade pública, aceitando a presidência da efémera "Liga Patriótica do Norte". No dia 11 de setembro de 1891, suicida-se em Ponta Delgada.
Fontes:Antero de Quental. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. 
wikipedia (Imagens)


Ficheiro:Antero de Quental (ca. 1887).jpg
Antero de Quental c.de 1887

Contemplação
Sonho de olhos abertos, caminhando
Não entre as formas já e as aparências,
Mas vendo a face imóvel das essências,
Entre idéias e espíritos pairando...

Que é o mundo ante mim? fumo ondeando,
Visões sem ser, fragmentos de existências...
Uma névoa de enganos e impotências
Sobre vácuo insondável rastejando...

E d'entre a névoa e a sombra universais
Só me chega um murmúrio, feito de ais...
É a queixa, o profundíssimo gemido

Das coisas, que procuram cegamente
Na sua noite e dolorosamente
Outra luz, outro fim só presentido...


Antero de Quental, in "Sonetos"
 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/09/11-de-setembro-de-1891-suicidio-do.html
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