e morreu a 23set2013
***
blogue oficial:
http://antonioramosrosa.blogspot.pt/
***
27jan2020...fiz esta postagem em 27jan2014:
23.23'...bELO miNUto...para RR Ramos Rosa "Há uma nudez que ilumina"
https://www.facebook.com/sonhararealidade2013/photos/a.349115855209208.1073741828.349094905211303/496901530430639/?type=3&theater
Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
A árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses
Fotografia de Barbara Florczyk
***
12feVER2018
Via Susana Duarte
Teu corpo principia
Dou-te um nome de água
para que cresças no silêncio.
para que cresças no silêncio.
Invento a alegria
da terra que habito
porque nela moro.
da terra que habito
porque nela moro.
Invento do meu nada
esta pergunta.
(Nesta hora, aqui.)
esta pergunta.
(Nesta hora, aqui.)
Descubro esse contrário
que em si mesmo se abre:
ou alegria ou morte.
que em si mesmo se abre:
ou alegria ou morte.
Silêncio e sol - verdade,
respiração apenas.
respiração apenas.
Amor, eu sei que vives
num breve país.
num breve país.
Os olhos imagino
e o beijo na cintura,
ó tão delgada.
e o beijo na cintura,
ó tão delgada.
Se é milagre existires,
teus pés nas minhas palmas.
teus pés nas minhas palmas.
O maravilha, existo
no mundo dos teus olhos.
no mundo dos teus olhos.
O vida perfumada
cantando devagar.
cantando devagar.
Enleio-me na clara
dança do teu andar.
dança do teu andar.
Por uma água tão pura
vale a pena viver.
vale a pena viver.
Um teu joelho diz-me
a indizível paz.
a indizível paz.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10214513444337390&set=a.2784518179639.2143835.1458792324&type=3&theater
3jan2017
via Graça Silva:
No silêncio da terra. Onde ser é estar. A sombra se inclina. Habito dentro da grande pedra de água e sol. Respiro sem o saber, respiro a terra. Um intervalo de suavidade ardente e longa. Sem adormecer no sono verde. Afundo-me, sereno, flor ou folha sobre folha abrindo-se, respirando-me, flectindo-me no interior aberto. Não sei se principio. Um rosto se desfaz, um sabor ao fundo da água ou da terra, o fogo único consumindo em ar. Eis o lugar em que o centro se abre ou a lisa permanência clara, abandono igual ao puro ombro em que nada se diz e no silêncio se une a boca ao espaço. Pedra harmoniosa do abrigo simples, lúcido, unido, silencioso umbigo do ar. Aí o teu corpo renasce à flor da terra. Tudo principia.
***
2006
venceu prémio de poesia...com o livro GÉNESE SEGUIDO DE CONSTELAÇÕES... http://www.relampago.pt/premiolmn/aramosrosapoesia-6.htm
***
2014...face traz-me memórias deste dia:
23.23'...bELO miNUto...para RR Ramos Rosa "Há uma nudez que ilumina"
https://www.facebook.com/sonhararealidade2013/photos/a.349115855209208.1073741828.349094905211303/496901530430639/?type=3&theater
Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
A árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses
Fotografia de Barbara Florczyk
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postei do dia do enterro: 24seTEMbro2016
"O amor cerra os olhos
O amor cerra os olhos, não para ver mas para absorver:
a obscura transparência, a espessura das sombras ligeiras, a ondulação ardente:
a alegria.
Um cavalo corre na lenta velocidade das artérias.
O amor conhece-se sobre a terra coroada:
animal das águas, animal do fogo, animal do ar:
a matéria é só uma,
terrestre e divina. "
de Três Lições Materiais (1989)
António Ramos Rosa
https://www.facebook.com/motherearth.ir/photos/a.259068904126340.67989.258933437473220/654245714608655/?type=3&theaterAntónio Ramos Rosa
***
28noVEMbro2011 partilhei:
Ramos Rosa:
in O LIVRO DA IGNORÂNCIA (Signo Ed. 1988)
APRENDER COM AS PALAVRAS A SUBSTÂNCIA MAIS NOCTURNA
Aprender com as palavras a substância mais nocturna
é o mesmo que povoar o deserto
com a própria substância do deserto
Há que voltar atrás e viver a sombra
enquanto a palavra não existe
ou enquanto ela é um poço ou um coágulo do tempo
ou um cântaro voltado para a própria sede
talvez então no opaco encontremos a vértebra inicial
para que possamos coincidir com um gesto do universo
e ser a culminação da densidade
Só assim as palavras serão o fruto da sombra
e já não do espelho ou de torres de fumo
e como antenas de fogo nas gretas do olvido
serão inicialmente matéria fiel à matéria
*Fotografia: Blue Talk, de Vicki Ferrari
*(CC)
https://www.facebook.com/112890882080018/photos/a.114014221967684.7650.112890882080018/280566281979143/?type=3&theater
***
27noVEMbro2011 postei:
continuo neste domingão com outro RR: Ramos Rosa e o espaço belo de imagens e selecção de textos
"A FESTA DO SILÊNCIO
Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.
Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.
Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta."
https://www.facebook.com/quem.le.sophia.de.mello.breyner.andresen/photos/a.114014221967684/280333422002429/?type=3&theater
***
26noVEMbro2011 postei:
hj x AQUI:...Ramos Rosa
in VIAGEM ATRAVÉS DUMA NEBULOSA (1960) e ANTOLOGIA POÉTICA (Publ. D. Quixote, 2001)
NÃO POSSO ADIAR O AMOR PARA OUTRO SÉCULONão posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.
*Imagem s/ autor e título identificados
https://www.facebook.com/112890882080018/photos/a.114014221967684.7650.112890882080018/279563868746051/?type=3&theater
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https://www.facebook.com/112890882080018/photos/a.114014221967684.7650.112890882080018/1123353374367092/?type=3&theater
in MATÉRIA DE AMOR, com prefácio de Arnaldo Saraiva (Ed. Presença, 1985)
VERTENTES
As palavras esperam o sono
e a música do sangue sobre as pedras corre
a primeira treva surge
o primeiro não a primeira quebra
.
A terra em teus braços é grande
o teu centro desenvolve-se como um ouvido
a noite cresce uma estrela vive
uma respiração na sombra o calor das árvores
.
Há um olhar que entra pelas paredes da terra
sem lâmpadas cresce esta luz de sombra
começo a entender o silêncio sem tempo
a torre extática que se alarga
.
A plenitude animal é o interior de uma boca
um grande orvalho puro como um olhar
.
Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio
sou o teu lábio e a coxa da tua coxa
sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo
sou a sombra que conhece a luz que a submerge
.
A luz que sobe entre
as gargantas agrestes
deste cair na treva
abre as vertentes onde
a água cai sem tempo
Óleo s/ linho: Il corpo della donna, por ©Omar Ortiz
*(LT)
***
https://www.facebook.com/112890882080018/photos/a.114014221967684.7650.112890882080018/771088516260248/?type=3&theater
in VOLANTE VERDE (Moraes Ed., 1986)
A MULHER FELIZ
Está de pé sobre as brancas dunas. As ondas conduziram-na
e os ventos empurraram-na, está ali, na perfeição redonda
da oferenda. E como que adormece no esplendor sereno.
Diz luz porque diz agora e és tu e sou eu, num círculo
Só. Está embriagada de ar como uma forte lâmpada
É uma área de equilíbrio, de movimentos flexíveis,
um repouso incendiado, a vitória de uma pedra.
Abrem-se fundas águas e um novo fogo aparece.
Que lentas são as folhas largas e as areias!
Que denso é este corpo, esta lua de argila!
Nua como uma pedra ardente, mais do que uma promessa
fulgurante, a amorosa presença de uma mulher feliz.
Nela dormem os pássaros, dormem os nomes puros.
Agora crepita a noite, as línguas que circulam.
Crescem, crescem os músculos da mais intima distância.
*
Tela de ©Eduard Zentsik
*
(LT)
***
https://www.facebook.com/559343457434706/photos/a.559507790751606.1073741828.559343457434706/905768016125580/?type=1&theater
Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
A árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses
© Igor Zenin - Imagem
***
Via Susana Duarte
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206947393310843&set=a.10206914146639697.1073742001.1458792324&type=1&theater
"Escolhi a terra para dormir
húmida vermelha dura
nunca formei uma palavra
nunca encontrei a saída"
#plantas #naturelovers #naturezalinda #poesia#poesiadasimagens #ramosrosa
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10205048588472613&set=a.1580128621357.76395.1179915335&type=1&theater
É POR TI QUE VIVO...
Amo o teu túmido candor de astro
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva.
Por ti eu sou a leve segurança
de um peito que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata.
Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar.
Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto.
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10205048590432662&set=a.1580128621357.76395.1179915335&type=1&theater
É POR TI QUE ESCREVO...
É por ti que escrevo que não és herói nem deus
mas o homem do meu horizonte
na imperfeição e na incoincidência do dia-a-dia.
mas o homem do meu horizonte
na imperfeição e na incoincidência do dia-a-dia.
Por ti desejo o sossego oval
em que possas identificar-te na limpidez de um centro
em que a felicidade se revele como um jardim branco
onde reconheças a dália da tua identidade azul.
em que possas identificar-te na limpidez de um centro
em que a felicidade se revele como um jardim branco
onde reconheças a dália da tua identidade azul.
É porque amo a cálida formosura do teu torso
a latitude pura da tua fronte
o teu olhar de água iluminada
o teu sorriso solar
é porque sem ti não conheceria o girassol do horizonte
nem a túmida integridade do trigo
que eu procuro as palavras fragrantes de um oásis
para a oferenda do meu sangue inquieto
onde pressinto a vermelha trajectória de um sol
que quer resplandecer em largas planícies
sulcado por um tranquilo rio sumptuoso.
a latitude pura da tua fronte
o teu olhar de água iluminada
o teu sorriso solar
é porque sem ti não conheceria o girassol do horizonte
nem a túmida integridade do trigo
que eu procuro as palavras fragrantes de um oásis
para a oferenda do meu sangue inquieto
onde pressinto a vermelha trajectória de um sol
que quer resplandecer em largas planícies
sulcado por um tranquilo rio sumptuoso.
https://www.facebook.com/559343457434706/photos/a.559507790751606.1073741828.559343457434706/783944911641225/?type=1&theater
Para receberem a alegria de um raio puro
os homens seguiam a direcção do vento
e nas mãos obscuras erguiam as silenciosas colunas
que edificavam a terra
Era o azul no centro e povoado de astros
e na arca da noite os cavalos e as serpentes
atravessavam os espelhos e bebiam o esplendor
como um fruto inteiro de argila e fogo
Repousavam no horizonte entre um ribeiro e um bosque
e nas suas sombras aguardavam os tesouros das constelações
O seu ritmo natural era o ritmo do universo
e eram seres recém-nascidos navegando nas veias
de um corpo paradisíaco
© Jean-Paul Avisse - Pintura
***
https://www.facebook.com/349094905211303/photos/a.349115855209208.1073741828.349094905211303/541869505933841/?type=1&theater
Sou o pó
E vou no vento
Através de rios
E montes
Vou no vento
E talvez eu pouse
Talvez encontre
O mel as areias
Do teu corpo
Trazidas pelo vento
Arte - Jaremčiukas Aleksandra
***
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É por Ti que Vivo
Amo o teu túmido candor de astro
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva
Por ti eu sou a leve segurança
de um peito que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata
Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar
Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=544842668965150&set=a.490626794386738.1073741880.373770402739045&type=1&theater
A Mulher
Se é clara a luz desta vermelha margem
é porque dela se ergue uma figura nua
e o silêncio é recente e todavia antigo
enquanto se penteia na sombra da folhagem.
Que longe é ver tão perto o centro da frescura
e as linhas calmas e as brisas sossegadas!
O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço
que no umbigo principia e fulge em transparência.
Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo
que em espiral circula ao ritmo da origem.
Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola
do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa.
O seu sorriso é a distância fluida, a subtileza do ar.
Quase dorme no suave clamor e se dissipa
e nasce do esquecimento como um sopro indivisível.
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=793044000708683&set=a.462529847093435.111436.462489187097501&type=1&theater
Se o poema não serve para dar o nome às coisas
outro nome e ao silêncio outro silêncio,
se não serve para abrir o dia
em duas metades como dois dias resplandecentes
e para dizer o que cada um quer e precisa
ou o que a si mesmo nunca disse.
Se o poema não serve para que o amigo ou a amiga
entrem nele como numa ampla esplanada
e se sentem a conversar longamente com um copo de vinho na mão
sobre as raízes do tempo ou o sabor da coragem
ou como tarda a chegar o tempo frio.
Se o poema não serve para tirar o sono a um canalha
ou ajudar a dormir o inocente
se é inútil para o desejo e o assombro,
para a memória e para o esquecimento.
Se o poema não serve para tornar quem o lê
num fanático
que o poeta então se cale.
***
O FUNCIONÁRIO CANSADO
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a tua é estreita
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a tua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma mão acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lícito na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
um funcionário triste
a minha alma mão acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lícito na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo uma noite só comprida
num quarto só
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo uma noite só comprida
num quarto só
https://www.facebook.com/
Árvores
O que tentam dizer as árvores
No seu silêncio lento e nos seus vagos rumores,
o sentido que têm no lugar onde estão,
a reverência, a ressonância, a transparência,
e os acentos claros e sombrios de uma frase aérea.
E as sombras e as folhas são a inocência de uma ideia
que entre a água e o espaço se tornou uma leve
integridade.
Sob o mágico sopro da luz são barcos transparentes.
Não sei se é o ar se é o sangue que brota dos seus
ramos.
Ouço a espuma finíssima das suas gargantas verdes.
Não estou, nunca estarei longe desta água pura
e destas lâmpadas antigas de obscuras ilhas.
Que pura serenidade da memória, que horizontes
em torno do poço silencioso! É um canto num sono
e o vento e a luz são o hálito de uma criança
que sobre um ramo de árvore abraça o mundo.
Fotografia criativa de Igor Morski
O que tentam dizer as árvores
No seu silêncio lento e nos seus vagos rumores,
o sentido que têm no lugar onde estão,
a reverência, a ressonância, a transparência,
e os acentos claros e sombrios de uma frase aérea.
E as sombras e as folhas são a inocência de uma ideia
que entre a água e o espaço se tornou uma leve
integridade.
Sob o mágico sopro da luz são barcos transparentes.
Não sei se é o ar se é o sangue que brota dos seus
ramos.
Ouço a espuma finíssima das suas gargantas verdes.
Não estou, nunca estarei longe desta água pura
e destas lâmpadas antigas de obscuras ilhas.
Que pura serenidade da memória, que horizontes
em torno do poço silencioso! É um canto num sono
e o vento e a luz são o hálito de uma criança
que sobre um ramo de árvore abraça o mundo.
Fotografia criativa de Igor Morski
***
Não há segredo mais supremo nem mais simples do que esta relação vital entre o corpo e o espaço, entre o alento e a paisagem, entre o olhar e o ser.
in "O Aprendiz Secreto"
***
in "O Aprendiz Secreto"
***
Respiro e danço com todo o corpo e campo.
Lanço-me com todo o corpo em pleno campo
e danço tranquilamente a absoluta rosa única
que formo pétala a pétala, rodando no seu centro.
O campo que desdobro e rodopio é um corpoque do meu corpo nasce, que do meu campo solto.
no livro "Campo e Corpo"
***
O que tentam dizer as árvores
No seu silêncio lento e nos seus vagos rumores,
o sentido que têm no lugar onde estão, a reverência, a ressonância, a transparência,
e os acentos claros e sombrios de uma frase aérea.
E as sombras e as folhas são a inocência de uma ideia
que entre a água e o espaço se tornou uma leve
integridade.
Sob o mágico sopro da luz são barcos transparentes.
Não sei se é o ar se é o sangue que brota dos seus
ramos.
Ouço a espuma finíssima das suas gargantas verdes.
Não estou, nunca estarei longe desta água pura
e destas lâmpadas antigas de obscuras ilhas.
Que pura serenidade da memória, que horizontes
em torno do poço silencioso! É um canto num sono
e o vento e a luz são o hálito de uma criança
que sobre um ramo de árvore abraça o mundo.
in “Cada árvore é um ser para ser em nós”
© Gustav Klimt “The Tree of Life” - Fotografia
***
Um corpo que se ama
Para quem o deseja e quem o ama
um corpo é sempre belo no seu esplendor
e tudo nele é belo porque é sagrado
e, mesmo na mais plena posse, inviolável.
Um corpo que se ama é uma nascente viva
que de cada poro irrompe irreprimível
e toda a sua violência é a energia ardente
que gerou o universo e a fantasia dos deuses.
Tudo num corpo que se ama é adorável
na integridade viva de um mistério
na evidência assombrosa da beleza
que se nos oferece inteiramente nua.
Não há visão mais lucida do que a do desejo
e só para ela a nudez é sagrada
como uma torrente vertiginosa ou uma oferenda solar.
Esse olhar vê-o inteiro na perfeição terrestre.
em "A rosa intacta"
e, mesmo na mais plena posse, inviolável.
Um corpo que se ama é uma nascente viva
que de cada poro irrompe irreprimível
e toda a sua violência é a energia ardente
que gerou o universo e a fantasia dos deuses.
Tudo num corpo que se ama é adorável
na integridade viva de um mistério
na evidência assombrosa da beleza
que se nos oferece inteiramente nua.
Não há visão mais lucida do que a do desejo
e só para ela a nudez é sagrada
como uma torrente vertiginosa ou uma oferenda solar.
Esse olhar vê-o inteiro na perfeição terrestre.
em "A rosa intacta"
***
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só
(imagem: davisayer on Flickr)
***
https://www.facebook.com/imagensfaladas/photos/a.219921738189870.1073741828.219896998192344/294748294040547/?type=1&theater
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o rneu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só
(imagem: davisayer on Flickr)
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Da inocência à confiança
da claridade à fidelidade
do sonho à consciência
da beleza à bondade
da poesia ao amor
do amor à verdade
da solidão à harmonia
da angústia à liberdade
todas as cores uniste
num arco-íris fraternal
da claridade à fidelidade
do sonho à consciência
da beleza à bondade
da poesia ao amor
do amor à verdade
da solidão à harmonia
da angústia à liberdade
todas as cores uniste
num arco-íris fraternal
in Não posso adiar o coração, p. 82, (1974)
via Cláudia C
***
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o rneu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração