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Se não te imaginares a ficar velhinha ao lado de um velhinho que é a pessoa que amas e se isso não for uma imagem que te arrepia de felicidade da ponta dos pés à ponta dos cabelos, desiste de amar, porque, ficas a saber, quando não se percebe que envelhecer é fixe porque te oferece a possibilidade de poderes amar até ao fim dos teus dias a pessoa que amas, então se calhar não se ama nada.
Se ao leres estas palavras todas que te escrevi não te apetecer vir ter comigo atrás do pavilhão de ciências e dar-me o abraço mais apertado que algum dia apertaste, desisto de amar, porque, ficas a saber, decidi há muito, quando te vi entrar na aula de Psicologia pela primeira vez, que eras tu o amor, e se não houver tu, mais vale haver apenas eu. Afinal de contas, antes passar a minha vida a apenas sonhar que sou teu que passar a minha vida a apenas fingir que sou de outra.
Com amor infinito,
Pedro, do 10.º J (aquele que fica ao teu lado nas aulas de Português)
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in "Prometo falhar", a mais recente obra de Pedro Chagas Freitas.
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Não escondas,
esconder é o princípio do fim,
não feches, não cerres,
abre, abre tudo, abre o que é nosso, o que, por ser teu, é de nós,
não queiras deixar por dizer.
Todos os divórcios começam em palavras por dizer.
in "In Sexus Veritas"
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Desistir pode ser um dos maiores actos de coragem que a vida nos coloca à frente.
in "In Sexus Veritas"
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O grande segredo para não sentir um mal na plenitude é não sentir um bem na plenitude: ficar pelo meio.
Mas ficar pelo meio, mesmo não sendo mau, é péssimo.
O mais ou menos é, mais do que o segundo classificado, o primeiro dos últimos. Viver o mais ou menos é pior, muito pior, do que viver o menos menos. Ou até o menos menos menos.
O mais ou menos, mesmo não sendo uma bosta, é uma merda.
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"In Sexus Veritas"
(imagem: Anka Zhuravleva)
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É ela que me mantém vivo e no entanto tenho a certeza de que se não fizer nada é ela que me vai matar.
Qualquer movimento dói quando não é um movimento dentro do que ela é dentro de mim. Estou ocupado. Estou invadido. Sou ela em mim. E só depois eu. Mexo-me na direcção dela. Se me mexo é na direcção dela. E todas as direcções são a direcção dela.
in "In Sexus Veritas"
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«Moro num país em que a pobreza está legalizada»,
e Guilherme (nome fictício para algo que deveria ser ficção) passa a mão direita pelo olho do mesmo lado, esfrega uma e outra vez a pele molhada, as rugas a mostrarem que não é só por dentro que o tempo passa. Tem setenta e um anos, toda uma vida de trabalho para trás, e agora o que lhe resta é a casa a cair de sempre no bairro acabado de sempre.
«Moro num país em que a pobreza não é crime»,
a mão sempre nas lágrimas, as pessoas à volta a olharem com medo.
«Um pobre assusta as pessoas, sabe»,
pergunta-me, os olhos grandes e azuis como que a pedirem desculpa pelo cheiro de quem não sabe o que é água quente há anos, as mãos que se mexem como se procurassem o motivo para a vida.
«Às vezes, por uma questão de respeito, desisto de estender a mão e de pedir, sei que as pessoas têm os seus problemas e não querem saber de mim. Nesses dias opto pelos caixotes do lixo e até nem me tenho dado mal»,
conta, e consegue sorrir o sorriso mais corajoso que existe, e desta vez já são as minhas lágrimas que querem sair; aguento e prossigo, pergunto-lhe o que fazia, o que levou ali, àquele pedaço de nada numa vida tão grande que se foi.
«Trabalhei nas obras, tive uma mercearia, depois até abri um restaurante, veja lá. Mas depois veio esta coisa da crise e tive de voltar aos trabalhos forçados. Mas ninguém me queria. Já era velho demais para trabalhar e ainda era novo demais para deixar de trabalhar»,
pára um segundo, talvez dois, e continua, as lágrimas pararam mas a cabeça não.
«Era velho demais para viver e novo demais para morrer»,
as vidas de todos os velhos deste país, e de tantos velhos neste mundo, definidas numa frase, apetece-me abraçá-lo, dizer-lhe que venha comigo para casa, que farei o que puder e o que não puder para que nada lhe falte, mas nada lhe digo: sei que se há algo que não lhe falta é o orgulho que resta a quem já nada tem.
«Já houve quem me quisesse ajudar, dar-me uma vida longe daqui, onde houvesse água da boa para beber e comida da boa para comer. Mas eu não quero. Trabalhei demais para aceitar morrer de esmolas»,
a expressão fica na minha cabeça, ele explica-a, talvez haja outra lágrima quase a sair.
«Viver de esmolas não existe, sabe? Viver de esmolas não existe. Quem anda aqui por esmolas está a morrer de esmolas, e eu trabalhei tanto, tanto, sabe? Não quero o que não mereço, nunca quis o que não merecia. Só quero o que me disseram que ia ter, mas aqui neste país, não sei se já lhe disse, a pobreza não é crime, parece que os políticos que lá estão a legalizaram»,
revela, e mostra um jornal tão gasto como a pele dos braços, a notícia de um qualquer orçamento de Estado aprovado a cobrir a primeira página toda.
«O que eles querem é que a malta tenha medo de ficar como eu. Nada assusta mais do que a pobreza, não sei se já lhe tinha dito. A pobreza não é o fim mas é um final movente, vai-nos acabando por dentro, vai-nos levando aos poucos; começa pelo orgulho, depois leva a autoconfiança, até que, se não estamos atentos, ficamos sem nada, resta-nos pedir e ficar nas mãos de quem nos pôs assim. Mas a mim esta gente não leva. A mim esta gente não leva»,
as palavras abanadas como uma bandeira, branca de paz e nunca de rendição, cada vez mais pessoas à nossa volta, a noite a cair e, ao longe, no céu, a promessa da chuva quase a chegar.
«O que eles querem é que a gente se refugie da chuva, entende? Querem que a gente tenha medo de se molhar e se refugie da chuva, e que por isso, para isso, faça o que eles querem. O que eles querem é que nós todos sejamos cordeirinhos, e eles dizem vai e nós vamos, e eles mandam fica e nós ficamos. Estamos todos como estamos agora, mesmo agora, a chuva quase a cair e cada um de nós a ter de escolher se se abriga ou se se deixa ficar»,
até que a chuva começa mesmo, as pessoas a correr, os cafés a encher em redor, os toldos das lojas ocupados, eu e Guilherme sozinhos no meio da rua.
«Está ver como todos fogem? É isto que eles fazem»,
outra vez o jornal abanado, as folhas molhadas a caírem aos pedaços.
«Ameaçam que vem chuva, fazem chover mesmo, e as pessoas fogem dela, é mais fácil fazer de conta que se aguenta assim; as pessoas preferem estar recatadas, escondidas do que molha. Mas olhe: a minha avó, Deus a guarde num lugar especial, sempre me disse que quem anda à chuva molha-se, e eu prefiro estar todo encharcado do que só levemente molhado, sabe? Se é para molhar que sirva para lavar, dizia-me ela»,
a rua deserta, eu e ele ensopados, e por momentos até as rugas parecem desaparecer por debaixo da água.
«Todas as águas servem para sarar. Já não vai ser no meu tempo mas tenho a certeza de que um dia as pessoas vão perceber que todas as águas servem para sarar, e aí a revolução chega. Aí a revolução chega. Vou morrer, fique o senhor a saber, com a esperança da revolução, e até não é uma maneira feia de se morrer, pois não?»,
sorri, a vida perdida nos dentes perdidos, passa-me a mão pelo ombro, dá-me uma palmada amigável nas costas, e segue o seu caminho, a chuva e a silhueta dele, a noite a fechar-se, e uma recusa final quando lhe pergunto se quer que o acompanhe ou que o leve a algum lado:
«Deixe estar. Eu fico aqui onde chove.»
E fica. E fica.
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in "Prometo Falhar", a mais recente obra
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A vida vale pelos momentos em que foges dela. Pelos momentos em que consegues, durante alguns segundos ou alguns minutos ou algumas horas, evadir-te dela – para um limbo onde não estás morto mas onde não deixas de estar morto. Morto de prazer, morto de adrenalina, morto de medo, morto de ansiedade.
Morto de vida.
O melhor da vida são as mortes que ela te oferece.
Se não morreste nenhuma vez: então estás morto.
in "In Sexus Veritas"
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Daqui a pouco chega a hora de ir. Eu vou para a minha casa, tu vais para a tua. Foi a maneira que encontrámos de nos tornarmos raros, preciosidades humanas quepassamos o dia a querer viver. Não fazemos promessas, não exigimos todo o tempo, não encontramos uma palavra ou várias que nos possam definir, não acreditamos na capacidade de haver julgamento justo para o que nenhuma lei conseguiria encerrar. Queremo-nos quando um de nós o decide, amamo-nos quando um de nós precisa amar. Sabemos que é pouco para quem tanto se quer. Mas é apenas o que sabe a pouco que nos mantém vivos.
O que morre primeiro: não amar ou amar demais?
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in "Prometo Falhar", a mais recente obra
Encomenda de exemplares autografados exclusivamente através do e-mail
pedrochagasfreitas1@gmail.com
O que morre primeiro: não amar ou amar demais?
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in "Prometo Falhar", a mais recente obra
Encomenda de exemplares autografados exclusivamente através do e-mail
pedrochagasfreitas1@gmail.com
(imagem: Banksy)
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“És a melhor maneira de viver. Podia dizer-te que te quero por tudo o que és. Mas estaria a mentir. Quero-te por tudo o que sou contigo. Quero-te pelo que sou. Porque me sinto, em ti, a pessoa que quero ser. És a minha melhor maneira de viver. Quero-te por egoísmo. É isso. Quero-te por egoísmo. Espero que me queiras pelo mesmo motivo.”
in "Prometo falhar"
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“Há decisões que não decidimos; há decisões que nos são decididas. Decisões que, por mais voltas que dermos, por mais sins e nãos que quisermos, e conseguirmos, dar, nunca passarão de ser exactamente aquilo que estavam destinadas a ser.
Há sins que por mais vezes que sejam ditos nunca evitarão os nãos que no final serão ditos. E, claro, há nãos que por mais vezes que sejam ditos nunca evitarão os sins que no final serão ditos.
No final, restas tu e o que acontece – tu e o que te acontece.
E no final és sempre tu que te aconteces.”
(imagem: Benoit Courti)
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“Quando tens a certeza de que sabes o que é o amor: então de certeza que não fazes a mínima ideia do que é o amor.
O amor não se sabe. O amor não se pensa. O amor não aprisiona nem liberta. O amor está. O amor faz. O amor é todos os verbos do mundo mesmo nunca deixando de ser um nome. Amor.
Se não és capaz de transformar amor num verbo: então não és capaz de amar.”
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"In Sexus Veritas",
(imagem: Anka Zhuravleva)
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"A felicidade é o excesso na medida certa."
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Era um bom homem, mas odiava a pele. Sentia repulsa pelo toque, nojo do calor. Amava à distância, em segurança. Ou, como insistia em explicar, «como se ama uma paisagem».
Era uma boa mulher, mas era viciada na pele. Sentia uma necessidade obsessiva de toque, uma precisão incontrolável de calor. Amava em contacto, em músculo. Ou, como insistia em explicar, «como se ama um alimento».
Um dia encontraram-se, numa qualquer festa de um qualquer amigo. Ela disse o seu nome e quis aproximar-se para um beijo de circunstância, ele disse o seu nome e chegou-se dois metros para trás. Ainda assim, por um qualquer impulso a que ambos, mais tarde, dariam o estranho nome de amor, mantiveram-se a conversar. Ela falou-lhe da sua família, dos seus sonhos, dos seus medos, enquanto avançava, aos poucos, na direcção dele; ele falou-lhe da sua profissão, dos seus projectos, das suas paixões, enquanto recuava, aos poucos, na direcção da parede. Percorreram pelo menos duas vezes a sala toda, uns bem razoáveis cinquenta ou sessenta metros quadrados, assim: ele a recuar diante do avanço dela.
Até que resolveram falar nas diferenças.
Ele explicou-lhe a sua teoria, segundo a qual as pessoas são seres de alma e não de toque, e que por isso o grande prazer é o de sentir o imaterial, saborear o intangível. Ou, como repetiu vezes sem conta, «tocar com os olhos».
Ela explicou-lhe a sua teoria, segundo a qual as pessoas são seres de veias e não de espíritos, e que por isso o grande prazer é o de alimentar o palpável, devorar o corpóreo. Ou, como repetiu vezes sem conta, «olhar com a pele».
Saíram da festa juntos, embora separados por uns bons dois ou três metros, e entraram no mesmo táxi embora fosse cada um no seu. Depois ele deixou-a tocá-lo por um segundo, talvez dois, e ela deixou-o apenas olhá-la por um segundo, talvez dois. De seguida deitaram-se juntos, como se deitariam juntos a partir daí, cada um na sua cama de uma mesma casa. Viveram – e, dizem todos os que os conheceram, felizes – assim. Um amigo mais próximo viria a contar, certo dia, que se amavam por fases: ora ele se deixava anestesiar para ela poder tocá-lo durante algum tempo, ora ela se deixava parar para ele poder só olhá-la durante algum tempo. Nunca houve provas de que isso tivesse acontecido. Mas o que é certo é que todos os que estavam junto de ambos no momento em que ele faleceu lhe ouviram as derradeiras palavras que ele lhe dirigiu: «quero o teu abraço», disse-lhe, para espanto geral. E fechou os olhos. «Agora que já não pode amar à maneira dele quer amar à minha», terá dito ela, segundos antes de lhe seguir as pisadas. E passaram, felizes para sempre, a amar-se de uma só forma.
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in Prometo falhar
Encomenda de exemplares autografados exclusivamente através do e-mail pedrochagasfreitas1@gmail.
(imagem: Encontrado em opusdesiderium.tumblr.com)
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- O que te falta para seres feliz?
- A pessoa. A que tudo muda. A que tudo eleva. A que faz lábios felizes serem um sorriso.
- E braços apertados serem um abraço.
- Também o sentes? Também precisas?
- Desesperadamente. Como se a fome se fizesse de pele.
in "In Sexus Veritas"
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Chegou atrasado ao momento mais importante da sua vida. Eis o que pode transformar uma vida. Um minuto antes, tudo estaria diferente. Ela ainda lá estaria, impaciente, olhos no relógio, no cabelo, no céu – à procura de um motivo, só um chegaria, para esperar mais um pouco, para racionalmente poder dizer-se que valia a pena esperar. O sol estaria a brilhar, bem alto, a dar a entender, falso, que não sairia dali. E depois ele chegaria (desculpa o atraso mas o trânsito), ela começaria por se fazer de aborrecida (estava mesmo quase a sair, vê se lá se não me voltas a fazer uma destas), mas depois, aos poucos, com as palavras sempre leves e bem-dispostas dele (estar chateado dá muito trabalho, o verdadeiro preguiçoso está sempre a rir-se porque assim só estará a eliminar meter-se em coisas que custam muito a resolver), acabaria por ficar bem como nunca, na verdade, deixara de estar (és tão bonito, sacana, és tão bonito que só me apetece dizer-te que te amo como uma louca, que só queria agarrar-te nesse pescoço e puxar-te todo para mim, beijar-te todas as peles, e parece que tens tantas para me dar, até não haver mais lábios disponíveis para beijar. Até os lábios me arderem de te beijar; és tão bonito que não te consigo não perdoar de tudo o que me faças), iriam ao café de sempre, à pastelaria na rua velha de sempre, ele mortinho por lhe dizer que a amava como nunca e desde sempre, ela mortinha por lhe dizer que só ainda acredita na vida porque só ainda acredita que ele existe, nenhum diria uma palavra que fosse sobre o que lhes ia por dentro, continuariam na conversa da treta (e este governo isto, e este clube aquilo, e este filme aqueloutro) até que um deles, não interessa qual porque no fundo seriam os dois, ao exacto mesmo tempo e com a exacta mesma intensidade, a fazê-lo, iria agarrar no outro com toda a coragem do mundo, iria abraçá-lo como se encolhesse a dor, e iriam deliciosamente asfixiar-se naquela pastelaria na rua velha que mais uma vez os estava a ver a amar-se como sempre se amaram mas desta vez com o corpo a fazer o que há muito as almas já haviam feito. Chegaria de seguida a hora dos lençóis, talvez na cama dela (anda, que todos os dias desde que te conheci preparo os lençóis para nós, todos os dias acordo a pensar que será hoje o dia e escolho os lençóis preferidos, aqueles que eu não sei se gostas mas que tenho a certeza de que vais gostar, os lençóis que cheiram a nós, mesmo que nunca cá tenhas estado), o momento das cabeças perdidas, dos gemidos roubados, de tudo aquilo a que quem se ama tem direito. Acabariam a noite na manhã seguinte, cansados e prontos para mais noites assim, no pequeno-almoço mais delicioso que a vida tem para oferecer. Alguns meses depois chegaria o momento de juntarem as casas, desta vez na dele (quando escolhi esta casa pensei em ti, pensei que seria grande demais para mim mas perfeita para nós, e escolhi a possibilidade remota de um nós à certeza dolorosa de um eu), e ali começariam a sua história. Haveria filhos, um rapaz que se chamaria Pedro como o pai, uma menina que se chamaria Bárbara como a mãe, e por ali ficariam, na casa onde aprenderam a felicidade e onde todos os dias a ensinavam aos filhos, até que a morte de um (primeiro ela, porque até nisso ele era um cavalheiro) os afastasse durante um, dois meses – o tempo em que o outro (ele, que para ela, para variar, estava atrasado até na hora de morrer) fosse também. Os filhos, esses, chorariam a perda como todas as perdas tão grandes se choram, mas capazes e com todas as ferramentas para caminhar para a vida. Um deles, certo dia, iria apaixonar-se pela mulher mais bonita que algum dia tivera a oportunidade de ver. Iriam tornar-se amigos e ele iria prometer, antes de se deitar, que no dia seguinte lhe diria o quanto a amava. Assim seria, não fosse o trânsito. Chegou atrasado ao momento mais importante da sua vida.
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in "Prometo Falhar",
(imagem: Mario Testino)
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Via: http://www.pedrochagasfreitas.com/a-biografia-de-chagas/
PEDRO CHAGAS FREITAS é um palerma. Foi com palermice que escreveu mais de 150 obras de todos os géneros – 21 das quais já publicadas. Foi com palermice que venceu prémios literários desde o início da sua carreira. Foi com palermice que inventou o ilusionismo linguístico – através do qual tem conduzido, por entre jogos e legos e copos partidos, milhares de pessoas pelos caminhos da escrita. Foi com palermice que foi, ou talvez ainda seja, redactor publicitário, jornalista, cronista, guionista, criador de jogos, humorista, editor, chefe de redacção – e também operário fabril, nadador-salvador, barman e porteiro de bar. Acredita que a única coisa que deve ser levada a sério é a brincadeira. E cumpre-o diariamente. Até nesta autobiografia que acabou de escrever.
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(...) Não é no verbo que está o princípio. É, ao invés, no princípio que está o verbo. O verbo infinitar. O verbo nuncamaisparar. O verbo semprealcançar, sempreolhar, semprecrer e semprequerer. É no princípio que está o verbo. É no começo que estão todos os verbos. E também os advérbios e os adjectivos e todas as classes gramaticais que te erijam à classe de conseguidor. Sê um conseguidor – e nunca um tentador: sê aquele que consegue e nunca apenas aquele que tenta. É no céu, no infinito e na infinitude, que está o começo de todas as coisas. De ti enquanto coisa – e tu, convence-te disso, és, para ti, a coisa mais linda e mais importante do mundo. É no céu que está o começo: que estão todos os começos. E se entendeste, agora, isso, é porque estás a começar a ser gente. Parabéns.(...)"
in O QUE RAIOS VÊS TU NO CÉU?
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“Quando se ama os corpos não correm, os corpos não querem chegar a algum lado, porque já estão, estejam onde estiverem, no sítio exacto onde querem estar,
quando se ama não há contentamento, não há satisfação, há a certeza de que por mais coisas que estejam a faltar está ali tudo o que é preciso ter,
amar é sentir que está ali tudo por mais coisas que faltem.”
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"Escrupulosamente cumpriam um ritual que não conseguiam ver que existia, uma rotina que só quem ama como se amavam não conseguia ver. Não tinham horas marcadas nem dias definidos. Era isso que os deixava descansados, no último reduto de segurança. Mesmo que, sem nunca o perceberem, se encontrassem religiosamente de dois em dois dias, quase sempre no mesmo sítio, à mesma hora. E eram, sem nunca o saberem, o mais entediante de todos os casais. «Só o tédio nos pode matar», alertava ela.
E chamava-o para o tédio do seu regaço.
Até o que acalma excita quando se ama tão excessivo assim. "
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"A vida passa enquanto pensamos que a vida é curta, perdemo-nos a estudar o tempo, a tentar entender o melhor uso que fazemos dele,
e esquecemo-nos de o usar bem,
perceber como podem os teus lábios conter o terceiro segredo de fátima, por exemplo,
que só pode ser que deus existe e está no meio de nós,
eu e tu, claro,
quem mais?"
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"Não sou mulher de meio copo. Se não está cheio: não o quero. Se não está cheio: nem sequer é um copo. Antes não beber do que beber apenas o possível. O possível que se dane. O possível é demasiado fácil para me arrebatar. "
My all PQ
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Ama.
Lavar os dentes ao lado de quem amas.
Apalpar-lhe descaradamente o rabo.
Comer chocolates até te fartares.
Passar a noite a dizer asneiras.
Beijar sempre de língua.
Passar o dia a dizer asneiras.
Mandar o chefe bugiar.
Passar a vida a dizer asneiras.
Deixar declarações de amor escondidas pela casa.
Fazer o teu pai feliz.
Preguiçar regularmente.
Fazer a tua mãe feliz.
Atirar o despertador à parede periodicamente.
Fazer quem tu puderes feliz.
Dormir quinze ou vinte horas seguidas.
Pôr a mão de fora do vidro do carro.
Pintar o cabelo de azul ou de amarelo.
Pôr a cabeça de fora do vidro do carro.
Cantar no banho para todo o prédio ouvir.
Lamber a tampa dos iogurtes.
Correr que nem um louco na praia.
Falhar que nem um burro só porque tentas.
Praticar sexo oral com frequência.
Tentar que nem um burro só porque queres.
Mudar a decoração de casa num dia só.
Dançar quando estás feliz.
Passar horas só a cuidar de ti.
Dançar quando estás triste.
Dizer bem de quem amas.
Enfiar o dedo no nariz às escondidas.
Dizer bem de quem não amas.
Dançar enquanto estás vivo.
Guardar segredos inconfessáveis.
Experimentar posições sexuais improváveis.
Contar segredos inconfessáveis.
Masturbares-te sem qualquer culpa.
Ter segredos inconfessáveis.
Ver quanto dá o teu carro.
Dizer o que não se pode dizer.
Cagar assiduamente nas convenções sociais.
Sonhar com o que não pode acontecer.
O orgasmo sempre que puderes.
Coçar e ser coçado nas costas.
O gemido sempre que souberes.
Passar muitas horas a contar anedotas.
Adormecer todo torto no sofá.
Passar muitas horas a ouvir anedotas.
Rir que nem um desalmado.
Fazer um penteado estrambólico só porque te apetece mudar.
Rir por tudo e por nada.
Chorar a torto e a direito.
Rebolar na areia quando estás todo molhado.
Chorar porque também é um direito.
Abraçar o teu gato ou o teu cão.
Mandar a austeridade tomar no cu.
Beijar incansavelmente.
Não te levares minimamente a sério.
Dispensar quem te chateia.
Tocar um instrumento qualquer.
Perdoar quem é humano.
Desistir do que não te serve.
Lutar pelo direito à parvoíce.
Escrever um livro.
Dar prioridade ao prazer.
Ler um livro.
Nunca desistir de quem amas.
Aprender desvairadamente.
Fazer cadeirinha com quem amas.
Ensinar desvairadamente.
Perder a respiração pelo menos uma vez por dia.
Nascer pelo menos mais uma vez do que as vezes em que morreres.
Viver desvairadamente.
Te.
in "Prometo Falhar", a mais recente obra de Pedro Chagas Freitas.
Encomenda de exemplares autografados: fabricaescrita@gmail.com
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https://www.facebook.com/pedrochagasfreitas/photos/a.166066533475159.40301.166059116809234/646279005453907/?type=1&theater
“Tic-tac.
Todas as portas sabem dizer tic-tac. Há sempre um tic-tac atrás de cada porta. Nunca se sabe o que esconde uma porta. Mesmo que seja a porta de sempre na casa de sempre aberta pela mesma pessoa de sempre: nunca se sabe o que esconde uma porta.
Um dos maiores fascínios da vida é nunca se saber o que esconde uma porta.
Tic-Tac.”
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"In Sexus Veritas",
(imagem: Benoit Courti)
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Encontravam-se todos os dias, à mesma hora, no banco de jardim. O terceiro à esquerda de quem entra pelo lado sul do parque. Nunca se falaram mas sabiam tudo um do outro. Ele sabia que ela se chamava Isabel, que tinha 45 anos e que era divorciada há cerca de um ano, quando ela, ao telefone no banco de jardim, deu ordem, com as lágrimas nos olhos, ao seu advogado para avançar com o processo custasse o que custasse. Ela sabia que ele se chamava André, que tinha 47 anos e que estava casado com a mulher que não ama há mais de 20 anos, como quase diariamente escrevia no diário que ela, sem querer mas não deixando de querer, conseguia ler pelo canto do olho enquanto ele, naquele banco, o escrevia com uma frequência quase religiosa. Hoje, estranhamente, ela ainda não chegou. Ele olha para o relógio e confirma que há um atraso de mais de meia hora. A noite ameaça cair e nada. Ela não chega. Ele procura, vezes sem conta, os ponteiros do relógio. Nada. Depois olha em redor, como se procurasse a cura para a morte. Nada. Perdido, desesperado, resolve ir à procura dela. Sabe-lhe o nome completo, sabe qual é o bairro onde mora. Não será difícil encontrá-la, pensa, ao caminhar velozmente pelas ruas da cidade. O suor escorre-lhe abundantemente pelo rosto, fotografia perfeita do estado de nervos que lhe move os passos. Os minutos parecem dias naquele caminho que nunca mais acaba. Mas eis que chega. É uma rua pacata num bairro pacato. O lugar ideal para uma pessoa pacata, diz ele para si mesmo, ao mesmo tempo em que olha à volta, à procura do rosto dela, das pernas dela, do corpo dela, do sorriso dela. Como é lindo o sorriso dela, recorda-se, e sem dar por isso já não é suor o que lhe cai pelo rosto. Não a vê. Mas não desiste. Vai, casa a casa, tentando perceber qual é a casa que a merece. Nunca havia precisado de qualquer tipo de pergunta, de qualquer tipo de palavra, para saber tudo sobre ela. Não seria agora que isso seria necessário. Percorre uma, duas, três, quatro, cinco, seis pequenas mas simpáticas moradias. E chega à sétima. As flores, o jardim, a árvore, o cão a ladrar à entrada, o baloiço onde a imagina à procura do céu possível, nem que por segundos. Ela só podia estar ali. Sem hesitar, ele avança, já depois de enxugar tudo o que teimava em escorrer pela pele. Está a menos de um metro da porta, castanha e de madeira, e espera estar a menos de um metro de a encontrar. Dá um último retoque na camisa, recolocando-a centrada nos ombros, e faz o que tem de fazer. Um segundo. Dois segundos. Três segundos. Passos do lado de lá. Ele sorri, reconhece os tacões dela no andar dela, e sabe que está no sítio certo. Ela abre a porta e o sorriso. De seguida abraça-o, beija-o, leva-o para o quarto e ama-o enquanto ele a ama com a exacta mesma intensidade. Nem mais nem menos. Amam-se da exacta mesma maneira, e talvez seja essa a única forma de comprovar a existência de um amor, foi o que ele percebeu, mais tarde, quando, sem uma única palavra como sempre foi sem uma única palavra, se despediram. Até ao dia seguinte, em que, à hora marcada, se encontrariam no banco de jardim. O terceiro à esquerda de quem entra pelo lado sul do parque. Nessa altura tudo estará como sempre esteve, apesar de ele já ter dado ordem ao seu advogado para iniciar, o mais rapidamente possível, o processo de divórcio.
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Comecei a amar-te no dia em que te abandonei.
Foram as palavras dele quando, dez anos depois, a encontrou por mero acaso no café. Ela sorriu, disse-lhe “olá, amo-te” mas os lábios só disseram “olá, está tudo bem?”. Ficaram horas a conversar, até que ele, nestas coisas era sempre ele a perder a vergonha por mais vergonha que tivesse naquilo que tinha feito (como é que fui deixar-te? como fui tão imbecil ao ponto de não perceber que estava em ti tudo o que queria?), lhe disse com toda a naturalidade do mundo que queria levá-la para a cama. Ela primeiro pensou em esbofeteá-lo e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, de seguida pensou em fugir dali e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, e finalmente resolveu não dizer nada e, lentamente, a esconder as lágrimas por dentro dos olhos, abandonou-o da mesma maneira que ele a abandonara uma década antes. Não era uma vingança nem sequer um castigo – apenas percebeu que estava tão perdida dentro do que sentia que tinha de ir para longe dali para ir para dentro de si. Pensou que provavelmente foi isso o que lhe aconteceu naquele dia longínquo em que a deixara, sozinha e esparramada de dor, no chão, para nunca mais voltar.
De tudo o que amo és tu o que mais me apaixona.
Foram as palavras dela, poucos minutos depois, quando ele, teimoso, a seguiu até ao fundo da rua em hora de ponta. Estavam frente a frente, toda a gente a passar sem perceber que ali se decidia o futuro do mundo. Ele disse: “casei-me com outra para te poder amar em paz”. Ela disse: “casei-me com outro para que houvesse um ruído que te calasse em mim”. Na verdade nem um nem outro disseram nada disso porque nem um nem outro eram poetas. Mas o que as palavras de um (“amo-te como um louco”) e as palavras de outro (“amo-te como uma louca”) disseram foi isso mesmo. A rua parou, então, diante do abraço deles. Não há memória de alguém, algum dia, ter considerado que aquele abraço foi um abraço de traição entre duas pessoas casadas. Toda a gente percebeu, logo ali, que a única traição seria não abraçar aquele abraço, por mais que houvesse documentos que comprovassem o contrário. Nunca casaram nem nunca se divorciaram. Não queriam perder tempo com papéis desnecessários. Os únicos papeis que assinaram, todos os dias, foram os dos poemas que, religiosamente, deixavam nos mais recônditos e secretos lugares da casa um para o outro. Não eram grandes obras e terminavam, sem qualquer variação possível, sempre da mesma forma: “amo-te”. Nunca receberam qualquer elogio da crítica literária, o que os deixava particularmente irritados. Souberam, anos mais tarde, que toda a sociedade os havia renegado. Chamavam-lhes, mesmo, os fugitivos. Eles, nesse ponto, concordaram em absoluto. Ambos sabiam que haviam fugido durante dez anos. E tinha sido tempo demasiado.
Sim, quero.
Foram as palavras dele quando ela, no registo civil como tinha de ser, lhe perguntou se queria nunca casar com ele.
(imagem: Benoit Courti)
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Não se sabe mais do que aquilo que se sente,
tantos anos para perceber isto, para ver isto, em toda a extensão, em toda a profundidade.
Não é em duração que se mede o amor; é em profundidade.
Não se sabe mais do que aquilo que se sente,
e a maior ignorância é a de quem não sabe sentir, a de quem não consegue sentir.
O maior génio é o que sabe amar.
em "Sexus Veritas"
Arte - Otar Imerlishvili
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E se algum dia te escrever o que te sinto não vou escrever que te amo,
não,
vou inventar verbos como inventamos o que nos une,
vou escrever que te vida, que te luz,
vou escrever que te céu, que te asas,
que te tudo,
tudo ligado, tudo unido,
sem espaços, sem pontes,
sem separações.
Quando se ama, até uma ponte é espaço demais.
in "In Sexus Veritas"
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- Hoje sonhei que percorríamos o mundo todo debaixo dos nossos lençóis.
Quando se ama, é debaixo dos lençóis que se percorre o mundo.
- Abraça-me para te levar comigo.
Se não te leva contigo: então não é um abraço.
in "In Sexus Veritas"
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Ama.
Lavar os dentes ao lado de quem amas.
Apalpar-lhe descaradamente o rabo.
Comer chocolates até te fartares.
Passar a noite a dizer asneiras.
Beijar sempre de língua.
(...)
Paradise!!!! PQ
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“Apeteces-me como se me apetecesse a vida”, dizes, a tua língua a percorrer-me o sexo como se em busca do tempo.
“Amar é cada segundo ser em busca do minuto perfeito”, respondo, e penso que se há vida é para que haja isto: a tua língua e a minha em busca de um espaço de eternidade, em busca do que nenhum tempo consegue apagar.
“Quero que nestes segundos me ames para sempre”, pedes, as tuas lágrimas no meu suor, as minhas lágrimas nas tuas, tudo o que somos em água a unir-se por sobre as peles.
“Quero que nestes segundos acredites que se estamos aqui é porque é para sempre”, insistes, e eu não sei se me apetece amar-te para sempre ou morrer agora mesmo, para que algo assim seja o que levo desta vida (amar é o que se leva desta vida).
“Aperta-me como se me estivesses a espremer a dor de dentro”, suplico, as mãos unidas na extremidade do abraço, os sexos casados na extremidade do orgasmo
(nada é mais extremo do que amar assim; amar é um desporto radical).
“Dóis-me na parte de dentro das lágrimas”, explicas-me, a cabeça pousada no meu ombro aberto, o cabelo estendido sobre a barriga arrepiada, o cheiro a prazer pelo ar.
“Se te apetecer experimentar outros braços avisa-me para eu poder cortar os meus”, dramatizo, e sinto que nem sequer estou a dramatizar, que se tivesse de ser cortava mesmo, que se tivesse de ser cortava os braços só para te poder abraçar.
“Não me apetece”, respondes, e de repente todos os sexos se levantam, todas as águas nascem de novo, e os dias, todos eles, dizem-nos que se existem é para que algo assim exista.
“Não me apetece”, repetes.
E apetecemo-nos para sempre.
(encomenda de obras autografadas pelo autor: fabricaescrita@gmail.com)
imagem: artizan3.tumblr.com
“Apeteces-me como se me apetecesse a vida”, dizes, a tua língua a percorrer-me o sexo como se em busca do tempo.
“Amar é cada segundo ser em busca do minuto perfeito”, respondo, e penso que se há vida é para que haja isto: a tua língua e a minha em busca de um espaço de eternidade, em busca do que nenhum tempo consegue apagar.
“Quero que nestes segundos me ames para sempre”, pedes, as tuas lágrimas no meu suor, as minhas lágrimas nas tuas, tudo o que somos em água a unir-se por sobre as peles.
“Quero que nestes segundos acredites que se estamos aqui é porque é para sempre”, insistes, e eu não sei se me apetece amar-te para sempre ou morrer agora mesmo, para que algo assim seja o que levo desta vida (amar é o que se leva desta vida).
“Aperta-me como se me estivesses a espremer a dor de dentro”, suplico, as mãos unidas na extremidade do abraço, os sexos casados na extremidade do orgasmo
(nada é mais extremo do que amar assim; amar é um desporto radical).
“Dóis-me na parte de dentro das lágrimas”, explicas-me, a cabeça pousada no meu ombro aberto, o cabelo estendido sobre a barriga arrepiada, o cheiro a prazer pelo ar.
“Se te apetecer experimentar outros braços avisa-me para eu poder cortar os meus”, dramatizo, e sinto que nem sequer estou a dramatizar, que se tivesse de ser cortava mesmo, que se tivesse de ser cortava os braços só para te poder abraçar.
“Não me apetece”, respondes, e de repente todos os sexos se levantam, todas as águas nascem de novo, e os dias, todos eles, dizem-nos que se existem é para que algo assim exista.
“Não me apetece”, repetes.
E apetecemo-nos para sempre.
(encomenda de obras autografadas pelo autor: fabricaescrita@gmail.com)
imagem: artizan3.tumblr.com
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Sou um fanático do excesso. Um doente pelo tudo. Ou então pelo nada. Gosto de sentir o topo e odeio sentir o fundo. Mas se me dessem a escolher entre o fundo e a média altitude eu preferia o fundo. Sem hesitar. Sem pensar duas vezes. Sem sequer pensar.
(imagem: beach-bliss.tumblr.com)
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Comecei a amar-te no dia em que te abandonei.
Foram as palavras dele quando, dez anos depois, a encontrou por mero acaso no café. Ela sorriu, disse-lhe “olá, amo-te” mas os lábios só disseram “olá, está tudo bem?”. Ficaram horas a conversar, até que ele, nestas coisas era sempre ele a perder a vergonha por mais vergonha que tivesse naquilo que tinha feito (como é que fui deixar-te? como fui tão imbecil ao ponto de não perceber que estava em ti tudo o que queria?), lhe disse com toda a naturalidade do mundo que queria levá-la para a cama. Ela primeiro pensou em esbofeteá-lo e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, de seguida pensou em fugir dali e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, e finalmente resolveu não dizer nada e, lentamente, a esconder as lágrimas por dentro dos olhos, abandonou-o da mesma maneira que ele a abandonara uma década antes. Não era uma vingança nem sequer um castigo – apenas percebeu que estava tão perdida dentro do que sentia que tinha de ir para longe dali para ir para dentro de si. Pensou que provavelmente foi isso o que lhe aconteceu naquele dia longínquo em que a deixara, sozinha e esparramada de dor, no chão, para nunca mais voltar.
De tudo o que amo és tu o que mais me apaixona.
Foram as palavras dela, poucos minutos depois, quando ele, teimoso, a seguiu até ao fundo da rua em hora de ponta. Estavam frente a frente, toda a gente a passar sem perceber que ali se decidia o futuro do mundo. Ele disse: “casei-me com outra para te poder amar em paz”. Ela disse: “casei-me com outro para que houvesse um ruído que te calasse em mim”. Na verdade nem um nem outro disseram nada disso porque nem um nem outro eram poetas. Mas o que as palavras de um (“amo-te como um louco”) e as palavras de outro (“amo-te como uma louca”) disseram foi isso mesmo. A rua parou, então, diante do abraço deles.
in "Prometo Falhar"
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Queria dizer-te. Queria.
Queria olhar-te. Olhar-te com força – como se olha com força? E dizer-te.
Dizer-te que sim. Sempre sim. Desde o primeiro não que sim.
Dizer-te que quero. Olhar-te com força. Dizer-te. Queria.
Dizer-te. Negar o não. Negar o não que desde sempre – onde começou o sempre? – foi sim.
Dizer-te menti. Dizer-te fugi. Dizer-te parti.
Queria. Dizer-te aqui. Dizer-te agora. Dizer-te já.
Queria. Sempre queria.
Queria, amor. Amor.
O imperfeito. Queria. O imperfeito.
Amor.
Via Susana C
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Tens a obrigação de sonhar, de projectar, de acreditar. Até lá, tens a obrigação de tentar. Pelo menos isso: tentar. E nunca é tarde para tentar. Se tens oitenta anos e queres ainda sentir o orgasmo melhor da tua vida: vai; tenta. Se tens noventa anos e queres ainda escrever o livro da tua vida: vai; tenta. Se tens cem anos e queres ainda encontrar a mulher que vais amar: vai; tenta. O mais provável até pode ser não o conseguires. Mas só o improvável vale a pena. Até a felicidade, se for previsível, é uma tristeza.
Acreditar no improvável é, provavelmente, a melhor decisão que podes tomar na vida.
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in "Prometo Falhar",
(imagem: Banksy)
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