ANA HATHERLY | Escritoras e Poetisas | Scoop.it
viver sem amor
É como não ter para onde ir
Em nenhum lugar
Encontrar casa ou mundo.
É contemplar o não-acontecer
O lugar onde tudo já não é
Onde tudo se trnsforma
No recinto
De onde tudo se mudou.
Sem amor andamos errantes
De nós mesmos desconhecidos
Descobrimos que nunca se tem ninguém
Além de nós próprios
e nem isso se tem.
***
https://www.facebook.com/112890882080018/photos/a.114014221967684.7650.112890882080018/882099498492482/?type=1&theater
"Não é verdade que só o autor se apaixona pela obra. Também a obra se apaixona pelo seu autor. Na verdade é mesmo por isso que o autor se apaixona por ela."

Mural pintado com grafite e com os dedos, de ©Judith Ann Braun (EUA)
*(LT)

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 in A CIDADE DAS PALAVRAS (Quetzal Editores, 1988)

Era uma vez duas serpentes que não gostavam uma da outra. Um dia encontraram-se num caminho muito estreito e como não gostavam uma da outra devoraram-se mutuamente. Quando cada uma devorou a outra não ficou nada. Esta história tradicional demonstra que se deve amar o próximo ou então ter muito cuidado com o que se come (sic).

Imagem encontrada em: https://www.facebook.com/althum?fref=photo
*(LT e CC)
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Via Cláudia Cláudio:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10207951861340765&set=np.1438780971220485.1576428905&type=1&theater&notif_t=close_friend_activity
o mar que se quebra (1998). © Ana Hatherly | Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian.
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Via Graça Silva:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=948306658546144&set=a.211013438942140.52240.100001004569506&type=1&theater
"Tudo o que não é paixão, amor ou descoberta, não é senão sofrimento."
*
SEM AMOR
Por Ana Hatherly

Viver sem amor

É como não ter para onde ir

Em nenhum lugar

Encontrar casa ou mundo

É contemplar o não-acontecer

O lugar onde tudo já não é

Onde tudo se transforma

No recinto

De onde tudo se mudou

Sem amor andamos errantes

De nós mesmos desconhecidos

Descobrimos que nunca se tem ninguém

Além de nós próprios

E nem isso se tem.

Tirado daqui: http://viciodapoesia.com/tag/ana-hatherly/

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Via Fátima Mota:
https://www.facebook.com/escritacriativaonline/photos/a.119977031350072.22276.118673958147046/1187246607956437/?type=1&theater
"Esta noite morrerás.
Quando a lua vier tocar-me o rosto
terás partido do meu leito
e aquele que procurar a marca dos teus passos
encontra urtigas crescendo
por sobre o teu nome.
Esta noite morrerás.
Quando a lua vier tocar-me o rosto
terás partido do meu leito
e uma gota de sangue ressequido
é a marca dos teus passos.
No coração do tempo pulsa um maquinismo ínscio
e na casa do tempo a hora é adorno.
Quando a lua vier tocar-me o rosto a tua sombra extinta marca
o fim de um eclipse horário de uma partida iminente e o tempo
apaga a marca dos teus passos sobre o meu nome.
Constante.
O mar é isso.
A lua vir tocar-me o rosto e encontrar urtigas crescendo
por sobre o teu nome.
O mar é tu morreste.
O mar é ser noite e vir a lua tocar-me o rosto quando tu par-
tiste e no meu leito crescem folhas sangue.
A febre é uma pira incompreensível como a aparição da lua
e a opacidade do mar.
No meu leito a lua vai tocar-me o rosto e a tua ausência é um
prisma, um girassol em panóplia.
Agora a lua chega devagar e o mar é o leito de tu teres
partido, uma infrutescência de eu procurar a marca dos teus
passos por sobre o meu rosto.
A noite é eu procurar a marca dos teus passos.
Esta noite a lua terá um halo de concêntricas florações
de gotas do teu sangue e a irisada sombra do meu leito
é o teu rosto iminente.
A lua é uma seta.
Tu partiste é o silêncio em forma de lança.
Esta noite vou erguer-me do meu leito e quando a lua vier
tocar-me o rosto vou uivar como um lobo.
Vou clamar pelo teu sangue extinto.
Vou desejar a tua carne viva, os teus membros esparsos,
a tua língua solta.
O teu ventre, lua.
Vou gritar e enterrar as unhas nos teus olhos até que
o mar se abra e a lua possa vir tocar-me o rosto.
Esta noite vou arrancar um cabelo e com a tua ausência faço
um pêndulo para interrogar a lua por tu teres partido e a marca
dos teus passos ser a razão mágica de a lua poder surgir de
noite e urtigas crescerem no meu leito.
E se encontrar a marca dos teus passos vou crivar-lhe
o coração de alfinetes para que tu partiste seja a razão
mágica de tu poderes morrer-te.
Quando a lua vier em forma de lança vai trespassar um pássaro
para lhe ler nas entranhas a direcção tu partiste e a marca dos
teus passos consiste nos olhos abertos de um pássaro esventrado.
Ah, mas o luar é uma pluma do meu leito e a lua é o colo de
tu morreste para poderes enfim tocar-me o rosto."
Esta Noite Morrerás, “Poesia 1958-1978", 1980
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https://www.facebook.com/559343457434706/photos/a.559507790751606.1073741828.559343457434706/888787534490295/?type=1&theater
in “As aparências”
*
O círculo é a forma eleita:
É ovo, é zero,
É ciclo, é ciência.
E toda a sapiência.

É o que está feito,
Perfeito e determinado,
É o que principia
No que está acabado.

A viagem que o meu ser empreende
Começa em mim,
E fora de mim,
Ainda a mim se prende.

A senda mais perigosa
Em nós se consumando,
Passamos a existência
Mil círculos concêntricos
Desenhando.
*
© Gaylord Ho - Imagem

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https://www.facebook.com/559343457434706/photos/a.559507790751606.1073741828.559343457434706/886949494674099/?type=1&theater
“Não medir a altura do Sonho. 
Não medir a distância de um Sorriso. 
Quando a espuma das Ondas chega à Areia qualquer coisa de irreversível Acontece…”

Imagem - © Клевцов Александр
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Via público 5.8.2015
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/morreu-ana-hatherly-a-pintora-da-palavra-1704158
A escrita, o acto de escrever e as possibilidades visuais 
da palavra e da caligrafia estiveram ao centro da sua obra plástica
Tinha "uma criança muito viva no lugar do coração e punha-se traquinas", 
escreveu um dia Valter Hugo Mãe. A artista plástica, poeta, romancista, 
ensaísta e tradutora Ana Hatherly morreu esta manhã em Lisboa. Tinha 85 anos.
Com uma formação ecléctica, teve um percurso igualmente multifacetado. Licenciada em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, fez estudos cinematográficos na London Film School e doutorou-se em Literaturas Hispânicas na Universidade de Berkeley.Foi professora na escola de artes visuais Ar.Co, na Escola Superior de 
Cinema e no departamento de Literatura Portuguesa da Faculdade de
 Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Mas foi 
como artista plástica que se destacou.
Em 1958, com Um Ritmo Perdido iniciou a sua carreira literária,
 começando no ano seguinte as suas pesquisas no âmbito da poesia 
concreta e experimental. Em 1969 fez na Galeria Quadrante a exposição 
que marcou o início do seu percurso nas artes plásticas. Desde então, 
a escrita, o acto de escrever e as possibilidades visuais da palavra
 e da caligrafia estiveram ao centro da sua obra.
Nascida no Porto em 1929 e participante da edição de 1976 da Bienal 
de Veneza, a mais importante bienal de arte do mundo, Ana Hatherly
 está representada nas mais relevantes colecções de arte portuguesas,
 entre as quais a da Fundação Calouste Gulbenkian, do Museu de Serralves 
e da Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento.
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Via Inês Subtil:
O Pavão Negro
"A imaginação
ergue-se do arrepio da sombra
guerrilha entre parênteses
ergue-se da constante chacina
procurando outra coisa
outra causa
o outro lado do ver."
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https://www.facebook.com/FabricaEscrita/photos/pcb.1087455371267543/1087454907934256/?type=1&theater
Um poeta barroco disse:
As palavras são
As línguas dos olhos
Mas o que é um poema
Senão
Um telescópio do desejo
Fixado pela língua?
O voo sinuoso das aves
As altas ondas do mar
A calmaria do vento:
Tudo
Tudo cabe dentro das palavras
E o poeta que vê
Chora lágrimas de tinta.
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Via Eulália Valentim
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1053226524704728&set=a.282097105151011.82379.100000521703651&type=1&theater
O património do silêncio. Os livros acumulam-se pela casa. Cobrem as paredes, enchem as prateleiras dos armários. Aguardam-nos calados com suas páginas apertadas onde o pó e a humidade se infiltram. Disciplinados, exibem apenas o seu dorso curvo coberto de pele, ou então magro, estreito, de papel. A memória é um silêncio que espera, uma provação da paciência.
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