01/10/2014

8.825.(1out2014.17h30') Charles Baudelaire

Nasceu a 9abril1821
e morreu a 31ag1867
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Dia de recordar Charles-Pierre Baudelaire (9 de abril de 1821-31 de agosto de 1867). Poeta boémio (ou dandy ou flâneur) e teórico da arte francesa, é considerado um dos precursores do simbolismo e reconhecido internacionalmente como o fundador da tradição moderna em poesia, juntamente com Walt Whitman - embora tenha se relacionado com diversas escolas artísticas. A sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX.
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Biografia
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Via Wikipédia e JERO
Charles-Pierre Baudelaire (Paris, 9 de abril de 1821 — Paris, 31 de agosto de 1867) foi um poeta boémio ou dandi ou flâneur1 e teórico da arte francesa. É considerado um dos precursores do simbolismo e reconhecido internacionalmente como o fundador da tradição moderna em poesia,2 juntamente com Walt Whitman, embora tenha se relacionado com diversas escolas artísticas. Sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX.
Nasceu em Paris a 9 de abril de 1821. Estudou no Colégio Real de Lyon e Lycée Louis-le-Grand (de onde foi expulso por não querer mostrar um bilhete que lhe foi passado por um colega).
Em 1840 foi enviado pelo padrasto, preocupado com sua vida desregrada, à Índia, mas nunca chegou ao destino. Pára na ilha da Reunião e retorna a Paris. Atingindo a maioridade, ganha posse da herança do pai. Por dois anos vive entre drogas e álcool na companhia de Jeanne Duval. Em 1844 sua mãe entra na justiça, acusando-o de pródigo, e então sua fortuna torna-se controlada por um notário.
Em 1857 é lançado As flores do mal contendo 100 poemas. O autor do livro é acusado, no mesmo ano, pela justiça, de ultrajar a moral pública. Os exemplares são apreendidos, pagando de multa o escritor 300 francos e a editora 100 francos.
Essa censura se deveu a apenas seis poemas do livro. Baudelaire aceita a sentença e escreve seis novos poemas, "mais belos que os suprimidos", segundo ele.
Mesmo depois disso, Baudelaire tenta ingressar na Academia Francesa. Há divergência, entre os estudiosos, sobre a principal razão pela qual Baudelaire tentou isso. Uns dizem que foi para se reabilitar aos olhos da mãe (que dessa forma lhe daria mais dinheiro), e outros dizem que ele queria se reabilitar com o público em geral, que via suas obras com maus olhos em função das duras críticas que ele recebia da burguesia.
Morreu prematuramente sem sequer conhecer a fama, em 1867, em Paris, e seu corpo está sepultado no Cemitério do Montparnasse, em Paris.

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As promessas, as fragâncias, os infinitos beijos
de novo nascerão...
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"Homem livre, tu sempre gostarás do mar"
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A música p'ra mim tem seduções de oceano!
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Via Elsa Pinto:
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Existem manhãs em que abrimos a janela e temos a impressão de que o dia está nos esperando.
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4noVEMbro2018

Carta de suicídio escrita por Baudelaire na juventude leiloada por 234 mil euros


O escritor viveria ainda mais 22 anos. A carta fará parte de uma colecção privada francesa.

“O cansaço de adormecer e de acordar são-me insuportáveis”, escrevia em 30 de Junho de 1845 o poeta Charles Baudelaire, numa carta de despedida à sua amante Jeanne Duval. Acabaria por morrer mais de duas décadas mais tarde. Esta nota de suicídio, escrita à flor da pele dos seus 24 anos, acaba de ser leiloada por 234 mil euros — três vezes o preço estimado.
A casa de leilões Osenat, situada em Fontainebleau (perto de Paris), anunciou que a carta fará agora parte de uma coleção privada francesa. O documento, que tinha um valor estimado entre os 60 mil e os 80 mil euros e era o destaque do leilão, estava incluída num conjunto de itens de correspondência do poeta.

https://www.publico.pt/2018/11/04/culturaipsilon/noticia/carta-suicidio-escrita-baudelaire-juventude-leiloada-234-mil-euros-1849882?fbclid=IwAR0XG7Gjun-3p_vbLHCh8DDPrB9EK9N_aqSYRjmqh5U22xWDcJdn4ffqRB8
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 EU A PENSAR QUE ERA MUITO ORIGINAL 
A GATAFUNHAR OS LIVROS QUE VOU LENDO
E  AFINAL...Baudelaire...Ver a última foto:

31 de Agosto de 1867: Morre o poeta francês Charles Baudelaire

Charles Pierre Baudelaire, poeta e escritor francês, nasceu em Paris a 9 de Abril de 1821 e morreu a 31 de Agosto 1867, nessa mesma cidade. Herdeiro do Romantismo , conseguiu exprimir a tragédia do destino humano e dar uma visão mística do universo. Durante os seus estudos no liceu tornou-se viciado em ópio e haxixe, contraindo ainda doenças venéreas que viriam, mais tarde, a ser a causa da sua morte. O pai era um homem de cultura e um amante de pintura, e levava-o, com apenas quatro ou cinco anos de idade, a apreciar a beleza das formas e das linhas. Pouco tempo depois, em 1827, perdeu o pai. Mas o que mais lhe atormentou a infância foi o facto de a mãe ter casado com o general Aupick, que o enviaria para uma viagem por mar até à Índia, promovida para o fazer esquecer a carreira das Letras. Pelo contrário, regressou cheio de imaginação e determinado a ser poeta. Desenvolveu também uma tendência para um estado de espírito de intensa melancolia e de natureza solitária. Com o capital herdado do pai, viveu como um típico dândi. Em 1844 juntou-se a Jeanne Duval, relação que lhe trouxe muita infelicidade, ao ponto de se sentir tentado a suicidar-se. Mesmo assim, Jeanne foi motivo de inspiração dos poemas eróticos de Charles Baudelaire. Baudelaire torna-se conhecido como crítico de artes plásticas em revistas onde formula a sua conceção daquilo que deve ser a arte moderna. Em 1847 escreve o seu único romance, autobiográfico, La Fanfarlo . Em 1852 descobre a escrita de Edgar Poe e decide traduzi-la. Ocupa-se deste escritor até 1865. Em Poe descobre pela primeira vez alguém com quem se identifica espiritualmente. As traduções e as críticas de arte aumentaram a sua reputação e levaram-no a publicar os primeiros poemas numa revista que era considerada o bastião conservador do Romantismo, o que motivou acusações de obscenidade. Na Primavera de 1857, saíram nove poemas em "La Revue Française" e três em"L'Artiste", e em Junho publica o seu primeiro livro, Les Fleurs du Mal , alvo de um escândalo na época, devido ao erotismo de algumas poesias. Esta obra valeu-lhe um processo judicial por ultraje à moral pública e às boas maneiras. Para pagar as despesas do tribunal colaborou em diversas revistas. Ainda em 1857 escreve Petits Poèmes en Prose . Em 1861 publicou a segunda edição alargada e engrandecida de Les Fleurs du Mal mas omitindo os poemas banidos, publicados na Bélgica. Uma terceira edição viria a ser publicada em 1966. Em 1862 Baudelaire tinha declarado falência e as dificuldades económicas levaram-no ao desespero. Para escapar aos credores fez uma viagem à Bélgica em 1864. Em Fevereiro de 1866, ainda na Bélgica, encontrava-se gravemente doente. Regressou a Paris e viria a falecer nos braços da mãe, em Agosto do ano seguinte. A existência literária de Baudelaire é marcada por dois sonetos: Correspondances e L'Albatros . No primeiro prenuncia o simbolismo e todas as sinestesias do imaginário moderno, descobrindo "misteriosas correspondências". L'Albatros representa a condição terrena do poeta, que não sabe viver nem acomodar-se na sua existência. Em 1868 é publicada a sua obra crítica, Art Romantique . Estes trabalhos de Baudelaire são a fonte da poesia moderna. Os seus escritos representam uma combinação perfeita entre ritmo e música. Foi perseguido por obscenidade e blasfémia e mesmo depois da sua morte continuou a ser identificado pela opinião pública como símbolo de depravação e vício. Rejeitou a posição dos românticos e voltou-se para o seu interior numa poesia introspectiva em busca de Deus, sem uma crença religiosa, procurando em qualquer manifestação da vida, como a cor de uma flor ou o olhar cerrado de uma prostituta, a sua verdade significante. Com Deus e com as pessoas, tem um movimento de atração e rebeldia, uma espécie de ressentimento contra o criador. Baudelaire é um crítico da condição humana do mundo moderno. E moderna, foi a sua recusa em admitir restrições à escolha dos temas para poesia. Escreveu em prosa as obras: Les Paradis Artificiels , Opium e Haschisch ; Petits Poèmes en Prose ; Curiosités Esthétiques ; Art Romantique ; Le Spleen de Paris , entre outras. Dos seus desencontros nasce o tédio infinito, o tema dominante em Le Spleen de Paris , que se torna desejo atormentador de viajar em busca de coisas novas. Chamada pelo amor iludido, surge insistente a imagem da morte, também ela odiada e galanteada como a personificação maior da pequena morte do amor. Teme a morte e deseja-a como a única libertação e o reencontro consigo mesmo. Depois do desaparecimento físico de Charles Baudelaire, as opiniões começaram a mudar e muitos poetas tornaram-se seguidores do movimento simbolista. No século XX tornou-se reconhecido como um grande poeta francês do século XIX, tendo contribuído para revolucionar a sensibilidade e a maneira de pensar da Europa Ocidental.

Charles Baudelaire. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.

wikipedia (Imagens)
File:Gustave Courbet 033.jpg
Retrato de Charles Baudelaire - Gustave Coubert
File:Étienne Carjat, Portrait of Charles Baudelaire, circa 1862.jpg
Charles Baudelaire em 1863

 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/08/31-de-agosto-de-1867-morre-o-poeta.html
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25 de Junho de 1857: Sai a primeira edição de "As Flores do Mal", de Charles Baudelaire

É colocada à venda em 25 de Junho de 1857, a colectânea de poesia  As Flores do Mal (Les Fleurs du mal) do genial poeta Charles Baudelaire. As Flores... foram julgadas indecentes e valeram um processo ao seu autor por “ofensa à moral pública, à moral religiosa e aos bons costumes”.  Baudelaire foi condenado em Agosto de 1857 a retirar da obra seis dos seus poemas e a pagar, 300 francos e a editora, 100, de multa. O mal foi irreparável. Concebida não como uma sequência aleatória e sim como um todo, a obra ficou desnaturada pela decisão da justiça. Baudelaire, com a morte na alma, suprime as passagens incriminadas, reposiciona o restante e reescreve os poemas a fim de recompor os liames ao conjunto. A organização original  perdeu-se para sempre.  


A obra As Flores do Mal, considerada o marco da poesia moderna, foi criada por Baudelaire com versos rigorosamente metrificados e rimados, que prefiguraram o Parnasianismo. Baudelaire tratou de temas e assuntos que vão do sublime ao escabroso, investindo liricamente contra as convenções morais que permeavam a sociedade francesa dos meados do século XIX. As Flores do Mal reúnem de modo exemplar uma série de motivos: a expulsão do paraíso; o amor; a morte; o tempo; o exílio e o tédio. Os poemas desta obra retratam como ninguém as mazelas do espírito humano. 

Nem mesmo as suas dilacerantes contradições e dramas íntimos, alternando orações a Deus e ao diabo, transformando a sua vida numa prodigiosa confusão entre amor sublime e degradação, dissipação e trabalho intelectual, tudo isso agravado pela doença que o corroía, não o impediram de ser consistente. A propósito comentava outro grande poeta, Paul Valéry: “As Flores do Mal não contêm poemas nem lendas nem nada que tenha a ver com uma forma narrativa. Não há nelas nenhum discurso filosófico. A política está ausente por completo. As descrições, escassas, são sempre densas de significado. Mas no livro tudo é fascinação, música, sensualidade abstracta e poderosa.” 


Além de precursor de todos os grandes poetas simbolistas, Baudelaire é considerado pela maior parte dos críticos como o mais provável fundador da poesia moderna. Isto deve-se ao facto de que valendo-se da percepção do real, chegava sempre a um objectivo para o sentimento que desejava expressar. 

Desta forma, a sua poesia tendeu para a expressão de imagens quotidianas, a visão do autor, tendo o poeta sido quem melhor intuiu a mudança radical provocada pelas metrópoles sobre a sensibilidade. Era, como os modernistas que lhe sucederam, um realista que detestava a simples reprodução do mundo em poemas e pinturas. Respondendo à pergunta, por ele mesmo formulada, sobre o que seria uma arte pura, concluiu: “É criar uma magia sugestiva, contendo a um só tempo o objecto e o sujeito, o mundo exterior ao artista e o próprio artista.” É por meio dos sentidos que Baudelaire apreende a realidade concreta. A mesma maneira de encarar a arte que o torna um precursor dos poetas do fim do século XIX e o faz ser considerado o pai da poesia moderna. 
Morreu de sífilis em Paris em 31 de Agosto de 1867, aos 46 anos. Está sepultado no cemitério de Montparnasse. 
Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)
Primeira edição de Les fleurs du mal com anotações do autor

Baudelaire em 1844 - Emile Deroy
 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/06/25-de-junho-de-1857-sai-primeira-edicao.html?spref=fb&fbclid=IwAR0Cy_TAPnxRP06X6FgliKU6p69b70-CDESg4NJL4gr8IXnY0Y1fVNHNLSc
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Via Citador
A MúsicaA música p'ra mim tem seduções de oceano! 
Quantas vezes procuro navegar, 
Sobre um dorso brumoso, a vela a todo o pano, 
Minha pálida estrela a demandar! 

O peito saliente, os pulmões distendidos 
Como o rijo velame d'um navio, 
Intento desvendar os reinos escondidos 
Sob o manto da noite escuro e frio; 

Sinto vibrar em mim todas as comoções 
D'um navio que sulca o vasto mar; 
Chuvas temporais, ciclones, convulsões 

Conseguem a minh'alma acalentar. 
— Mas quando reina a paz, quando a bonança impera, 
Que desespero horrivel me exaspera! 

 in "As Flores do Mal" 

Charles Baudelaire
http://www.citador.pt/textos/criar-banalidades-ate-chegar-ao-genio-charles-baudelaire
Criar Banalidades, até Chegar ao GénioUm pouco de trabalho, repetido trezentas e sessenta e cinco vezes, dá trezentas e sessenta e cinco vezes um pouco de dinheiro, isto é, uma soma enorme. Ao mesmo tempo, a glória está feita
Do mesmo modo, uma porção de pequenos gozos compõem a felicidade. Criar uma banalidade, é o génio. Devo criar uma banalidade. 

 in "Diário Íntimo"

O Prazer e o TrabalhoEm cada minuto somos esmagados pela ideia e a sensação do tempo. E apenas existem dois meios para escapar a tal pesadelo, para esquecê-lo: o prazer e o trabalho. O prazer gasta-nos. O trabalho fortifica-nos. Escolhamos. 
Quanto mais nos servimos de um destes meios, mais o outro nos inspira repugnância. 

 in "Diário Íntimo"

O Papel da Ilusão na Nossa Vida«As ilusões», dizia-me o meu amigo, «talvez sejam em tão grande número quanto as relações dos homens entre si ou entre os homens e as coisas. E, quando a ilusão desaparece, ou seja, quando vemos o ser ou o facto tal como existe fora de nós, experimentamos um sentimento bizarro, metade dele complicada pela lástima da fantasia desaparecida, metade pela surpresa agradável diante da novidade, diante do facto real». in 'Pequenos Poemas em Prosa'

É Necessário Estar Sempre EmbriagadoÉ necessário estar sempre embriagado. Tudo está aí: é a única questão. Para não se sentir o horrível fardo do Tempo que quebranta os vossos ombros e vos curva em direcção à terra, deveis vos embriagar sem trégua. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiserdes. Mas embriagai-vos. 

in 'Pequenos Poemas em Prosa'























































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"Manejar sabiamente uma língua é praticar uma espécie de feitiçaria evocatória."
"Quanto mais se quer, melhor se quer."
"Só nos esquecemos do tempo quando o utilizamos."
"Todos os grandes poetas se tornam naturalmente, fatalmente, críticos."
"O homem que só bebe água tem algum segredo que pretende ocultar dos seus semelhantes."
"Quem não souber povoar a sua solidão, também não conseguirá isolar-se entre a gente."
"Deus é o único ser que, para reinar, nem precisa existir."
"O poeta é como o príncipe das nuvens. As suas asas de gigante não o deixam caminhar."
"Não podendo suportar o amor, a Igreja quis ao menos desinfectá-lo, e então fez o casamento."
(falta 2 , 3 e 4)
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Poemas via CITADOR
O Homem e o MarHomem livre, o oceano é um espelho fulgente 
Que tu sempre hás-de amar. No seu dorso agitado, 
Como em puro cristal, contemplas, retratado, 
Teu íntimo sentir, teu coração ardente. 

Gostas de te banhar na tua própria imagem. 
Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidos 
Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos, 
As queixas que ele diz em mística linguagem. 

Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos; 
Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos, 
Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos; 
Os segredos guardais, avaros, receosos! 

E há séculos mil, séc'ulos inumeráveis, 
Que os dois vos combateis n'uma luta selvagem, 
De tal modo gostais n'uma luta selvagem, 
Eternos lutador's ó irmãos implacáveis! 
TédioTenho as recordações d'um velho milenário! 

Um grande contador, um prodigioso armário, 
Cheiinho, a abarrotar, de cartas memoriais, 
Bilhetinhos de amor, recibos, madrigais, 
Mais segredos não tem do que eu na mente abrigo. 
Meu cer'bro faz lembrar descomunal jazigo; 
Nem a vala comum encerra tanto morto! 

— Eu sou um cemitério estranho, sem conforto, 
Onde vermes aos mil — remorsos doloridos, 
Atacam de pref'rência os meus mortos queridos. 
Eu sou um toucador, com rosas desbotadas, 
Onde jazem no chão as modas despresadas, 
E onde, sós, tristemente, os quadros de Boucher 
Fuem o doce olor d'um frasco de Gellé. 

Nada pode igualar os dias tormentosos 
Em que, sob a pressão de invernos rigorosos, 
O Tédio, fruto inf'liz da incuriosidade, 
Alcança as proporções da Imortalidade. 

— Desde hoje, não és mais, ó matéria vivente, 
Do que granito envolto em terror inconsciente. 
A emergir d'um Saarah movediço, brumoso! 
Velha esfinge que dorme um sono misterioso, 
Esquecida, ignorada, e cuja face fria 
Só brilha quando o Sol dá a boa-noite ao dia! 


SpleenQuando o cinzento céu, como pesada tampa, 
Carrega sobre nós, e nossa alma atormenta, 
E a sua fria cor sobre a terra se estampa, 
O dia transformado em noite pardacenta; 

Quando se muda a terra em húmida enxovia 
D'onde a Esperança, qual morcego espavorido, 
Foge, roçando ao muro a sua asa sombria, 
Com a cabeça a dar no tecto apodrecido; 

Quando a chuva, caindo a cântaros, parece 
D'uma prisão enorme os sinistros varões, 
E em nossa mente em frebre a aranha fia e tece, 
Com paciente labor, fantásticas visões, 

- Ouve-se o bimbalhar dos sinos retumbantes, 
Lançando para os céus um brado furibundo, 
Como os doridos ais de espíritos errantes 
Que a chorrar e a carpir se arrastam pelo mundo; 

Soturnos funerais deslizam tristemente 
Em minh'alma sombria. A sucumbida Esp'rança, 
Lamenta-se, chorando; e a Angústia, cruelmente, 
Seu negro pavilhão sobre os meus ombros lança! 

 in "As Flores do Mal" 
Tradução de Delfim Guimarães