08/10/2014

8.857.(8out2014.7.37') Amélia Vieira

nasceu a 8out1960
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Viveu na Cela e estudou em Alcobaça
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«Não há nada mais poético do que a lembrança, o pressentimento, bem como a representação do futuro»
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https://www.facebook.com/photo.php?fbid=468045116736403&set=a.271616623045921.1073742131.100005927551960&type=3&theater
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VIA
http://porosidade-eterea.blogspot.pt/2011/09/novo-livro-de-amelia-vieira.html

Novo livro de Amélia Vieira


GABRIEL

Amélia Vieira
Cavalo de Ferro, 2011







«Para que servem poetas em tempo de indigência? Talvez evitem o despenhar nas costas, os naufrágios abruptos, talvez desviem as rotas das tormentas – Faroleiros Vigilantes – e, se evitarem um que seja, a sua participação já é válida.» 
Amélia Vieira (da Introdução)


Depois de "Fim" (2004) a Cavalo de Ferro volta a editar poesia de Amélia Vieira com "Gabriel", um conjunto de poemas escritos entre 2009 e 2010, em que a autora pressente no século XXI uma passagem conturbada e em colapso, mas para a qual antevê um futuro redentor.

(...)
“...............Olha então Babel, a dinastia, o pranto, olha o engano, olha a vontade. Olha. Como foi tanto!

Quero uma casa à beira dos abismos onde possa tanger a minha lira. 
E um efebo em cio, na tarde quente, todo por dentro, sabendo a mirto. 

Uma força sem hábito. Um nu. Um nada que chegue e que cumpra a natureza. 
Tal qual deus a fez, e seja, o cumpridor cego da presa. 
O ser que vou comendo 
Durante o tempo, sempre por dentro. E, 

Indefesa.
***
Livro GABRIEL
Da sua editora CAVALO DE FERRO
http://www.cavalodeferro.com/index.php?action=product_info&products_id=225
Faça Clique para ampliar
«Para que servem poetas em tempo de indigência? Talvez evitem o despenhar nas costas, os naufrágios abruptos, talvez desviem as rotas das tormentas – Faroleiros Vigilantes – e, se evitarem um que seja, a sua participação já é válida.»

Da Introdução de Amélia Vieira


O sólido e coeso legado poético de Amélia Vieira – com 9 livros publicados – permitiu-lhe conquistar um lugar na galeria de nomes essenciais da poesia contemporânea portuguesa. Em 2004, a Cavalo de Ferro reuniu na antologia poética «Fim» a revisitação de vinte anos do seu trabalho literário.

Todavia, porque o poeta «é ainda aquele que vela, que está atento, que ausculta o coração das coisas em redor e se disponibiliza para interpretá-las», a poetisa pressente no século XXI uma passagem conturbada e em colapso, mas para a qual antevê um futuro redentor.
Em «Gabriel» reúne-se, assim, um conjunto de poemas redigidos entre 2009 e 2010, sobre os quais desce o espectro da verdade e da anunciação, mensageiro de um caminho directo, disfémico, e revelador, como se retomasse a função do coro na tragédia grega.

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Via sua página no facebook
"As pessoas ainda não entenderam que há uma força de liquidação no "ar" e que isso foi feito com o mesmo propósito dos genocídios históricos. Acabar com os excedentes humanos que em moldes económicos não dão rentabilidade. A técnica obedece à velha frase romana " os Deuses enlouquecem antes os que querem perder". O Diabo é muito frio e nada tem de louco. As pessoas seguem-no cegamente. Numa primeira fase é bem divertido. Mas tem um preço. E não é porque devamos algo a alguém, isso é o pretexto, mas, sim, porque deixámos de ser úteis. Ah! Os princípios humanos, o amor, a solidariedade, a fé na luz que vença as Trevas... Não fomos nós os primeiros a abandonar tudo isto na grande batalha do Ego, da individualidade, da usura, da facilidade? Ora recordem-se?! Também não acreditamos em Deus. Pois bem, ele governa de forma gloriosa. E o propósito é liquidar um terço de nós todos. O que está a acontecer. Sem armas. Acho que se enoja com o cheiro do nosso sangue. Afinal é um Príncipe!! ( é como o Titanic o que estamos assistir, há uns que resolveram tocar os últimos acórdãos sentados, outros que se agarram pensando que se vão salvar, outros ainda que escorregam pela orla da embarcação, outros que se aglomeram para que haja ao longe um sinal... mas as forças da física são inabaláveis. Só uma quantidade ínfima desta humanidade tem alma, são os que se vão nos botes). Outra virá. A nossa salvo raras excepções não prestou para nada."
***
VIA
http://josecarlospereira.blogspot.pt/2013/04/europa-novo-livro-de-poesia-de-amelia.html

sábado, Abril 20, 2013


"Europa", novo livro de poesia de Amélia Vieira, em Maio


 Amélia Vieira

A poeta e nossa colaboradora Amélia Vieira, figura conceituada da poesia portuguesa, vai publicar, no próximo mês de Maio, na segunda quinzena, o seu novo livro de poesia, intitulado «Europa» com a chancela da editora Cavalo de FerroEsse poema, O Corvo, é uma bela interpretação que a poeta faz de um outro homónimo de Egar Allan Poe.
Com a devida autorização da autora, reproduzimos aqui o poema/interpretação, que o julgamos muito e muito actual face à realidade europeia dos nossos dias.
À nossa colaboradora e amiga, os sinceros parabéns.


O CORVO

                           (inspirado no poema de Edgar Allan Poe)

                 
Este sublime poema de Poe tem múltiplas leituras, não se esgotando, por isso, em nenhuma delas. Como estrutura é uma obra acabada, como significando ela desliza pelo tempo agarrada a nós como uma sombra libertadora.



                                                                         Capa do livro 


A MINHA INTERPRETAÇÃO DO MESMO:


Urdido nestes umbrais o Corvo negro é meu gato
Que me parece um morcego como  esta noite que trago.
Um demónio que sonha, perdido e emparedado
De dia geme, à noite cala, enquanto abro a janela
E entra um fero pecado.
                        
Um manto de eternidade, grave, como esta minha idade, esculpida
Num espelho, cego, onde sangra só saudade......

Dizes-me agora ó visitante, quem és e porque ficaste:
És nunca: mas já que te tenho, hei de abrir esta janela para
Que desapareças no grau da minha eternidade.

Estás de pé, sentado, a andar, eis o segredo da Esfinge
Que espalhas nesta caserna onde as sombras são já insignes?

Talvez esteja no Éden,  Eleanoro porque Minh ‘Alma chora
Ou no topo do teu chapéu
Que na cabeça de um pássaro
Tem um efeito de céu.

Possível não seres ninguém e nunca mais aqui estares
Secreta é a forma que tenho de te orientar e tu em mim me inventares.

Corvo, ave de um só fôlego
Umbrais de casas de gelo
Estás parado e dás sinais como se dissesses, já chego!

Curvo nas patas traseiras, só tens asas
Não andas nestas umbreiras......
Há aquele pé de cereja, ou de laranja lima
Que trepa da macieira de um chão de curva infinda

O tempo não te atempou na suave maravilha, de saberes que o que ficou
Libertar-se-á
Um dia.

Nunca mais, Corvo dos céus ,dos infernos, dos beirais
A água molhará as penas
Azeviches, multicores, numa ilusão de condor
Roçará estes umbrais.

Ave , Tempo, Instante, Deus .....
Lúcifer dos temporais......
Tardes quentes onde Eleanoro despejou alguns sinais.

Traz mais sombras que grandes ondas ,onde numa
Cintilação de espanto levanta os telhados de antanho
E onde se nasce entre o lenho dos canteiros ancestrais.

A brisa suave engenho está entre as tuas insígnias
Como o meu canto amacia as feras das suas feridas.

Ninguém! Ó pássaro deitado.
E um longo sono na bruma arranca a sua penumbra
Num reflexo dourado.

Corvo, corvo eu te amacio as penas para lá do cio,
Num templo de Pomba e Estio

Atena, estátua de bronze, as Eras de minério são.
Foram, doce a expressão, mas o tempo é outro umbral
Mineral como a razão. 

Um mais leve debruçar nestas trevas infernais
Perto ou longe dorme então
O sabor da geração que passa sem se buscar.

Nunca mais! É a expressão! Ó verdes velas vedadas
Na mera transformação na busca insana e herdada.

Dísticos, que a vida é dupla, para quem nos riscos
Acena e se prostra nesta margem.....
Véus, efeitos de lua chegada.

Falas, que falo é  Corvo, sem se abeirar deste Ovo,
Quebrando a asa que vai mais para dentro ao encontro....
Da forma encontrada.

E na macia superfície das ondas flutuantes, rasas,
Há um Albatroz que vem.
Bom Júpiter, fecundador....

É negro, e de ninguém!
Semeia cego, nascente, a Vida por onde
Passa, fere, abrasa, vai e vem.

Esta é a vontade, não o Amor
Debulhada em fortes desejos
Também aí a janela abre
Sexos e séculos

Mais Além! Porém, só vemos os Anjos.

Nevermore, a noite é fria e sei que insiste
A palavra!
Ai! esta ave nua e infinda
Que sei que não és devolvida
Por esta coisa invadida
Que repete
Em ti sentida.

O teu nome nesta vida.
     
Nunca Mais!

O Corvo cai de cansado a estátua jazente está.
Repito o sonho que fora uma janela meio aberta
Voltada para a lacuna, de acordada ficar entre esta
Coisa nenhuma.

São fantasmas estes segredos e o mais que a alma abraça
Um toldo nos tolda o medo enquanto quem vai não passa.

Não é ilusão nem real, não é vento não é gente
É nada com certeza! Nem é a Nau Catrineta. 
Nada a dizer portanto nesta emergência.

É um insone desejo de ver o meu realejo a dar acordos finais.
Num prospecto muito antigo onde abrigo a sinfonia numa                                 
dimensão que cria estes seres elementares.

Porquê um Corvo e não outros animais?
Como tu que lês e vais a caminho de seres, em ser, igual aos demais.                                                                                                                        

Uma frase canivete que te veste e te despe em rasgados ais.
Uma serpentina que é dor e desejo, num arrepio que antevejo
Ser afinal os umbrais.

Torna, sabe, ri, soletra, quando meu delírio clama
Um maior vitupério que não o dá mais ninguém
Reclamando a nascente que não se sabe nem sente

Perguntando; está alguém?

Ouvindo sei que respondes.

Sim! Sou eu.
E mais ninguém.

Meu Corvo de elos mais negros  imagem de meu breu
Eu vi-te e eras serpente agora vens como um deus

Parada, estanque , já firme, uma estátua de espanto
Faz dela teu paradeiro
E podes pôr-lhe em cima
Uma coroa de enganos.

Sou eu ainda desdobrada em carne já soletrada
Que me deste engenho.

O paradeiro deste céu fica perto.
Voa agora sem veleiro.....
Estradas fixam só chão
E meu destino é umbreira.

Cá dentro a mortalha fica como os servos sem perdão.
Para que seve servir sem apelo à condição?

O Eu matei-o em ti, disparei tão certo o lenho
Que não és nem foste esperado
No ciclo das transformações que tenho.

Cabra-cega, Catrineta, viagem do mar dos cedros
 Cerra a paisagem que é serra
E faz voltar à caverna o Filho destes silvedos.

Parricida e mordaz, em que é que o Pai te satisfaz
Se não saíste das sais de tua Mãe Alcatraz?

Lacuna entre as estepes, no voo  ofereces razões para não voares
Umbral, meu parapeito,
Pária, o destino ingrato de seu jeito.

Corvo das Naus, vejo âncoras, dobro o mar ....
Pois nesta navegação
Os pássaros não choram é só ar.

Vai meu Corvo! Curvo! Côncavo! Coloidal.
Tive um presságio de morte e na beira das
Gaivotas um sono de Sol e Sal
Fizeste-te estátua de Mal.

Onde te espera o Norte.

Onde a Górgone é o Corvo que preside à tua sorte.

Mas eu vi-os.
Estavam cegos!

Perseu apareceu.

Tinha uma espada que esculpiu uma pedra por onde saiam .

Olhos. Eram deles! Eram seus.

Que grandes coisas redondas caíram agora a meus pés
Eram bolas como grifos antes das grandes marés.....

Uma enxurrada de espuma, informe, contorcionista, embargava
A minha voz que me parecia nenhuma...

Mas não eram lábios meus, saíam do cegamento
Que entre lava se abria para não ver  a penumbra.

Deve ser o Corvo a levantar as umbreiras deste estalar de janelas
Pálpebras fechadas para quem arde nessas eiras.

Com milho, solar repasto de aves canoras, mas que tem na ponta o
Combustível que entorna o fogo das despedidas e abre numa sucção de                                                                                                                      
Contorcionista, feras partidas.

Um nunca Mais de matéria e aluvião,
Um carbonizar de carnes sem suas penas
Porque não ardem , não se comem, nem se dão. 

Um pássaro, outra vez? É um grifo
Virá visitar-me. Para quê?

Antes fosses um Corvo. Quando já te conhecia.
Virás transfigurado para completares o diálogo
Deste dia!

Mas eu não sei falar não conheço a linguagem
São-me emprestadas as siglas com que me hás-de
Nomear.

E nem saberás sequer que um Corvo se fez Grifo
Nem que a Terra era pesada nem do dar e do não dar.

És o Pássaro à janela, porém sou eu a entrada.
Saber-me-ás recordar?

Sem essa lanterna acesa de velho ermita, a ele presa
Nem bem nem mal que isso são formas de estar.....

Só quero teu cérebro onde depus um segredo
Que contorno como um acervo
E me faz continuar.

E que retenhas na alma que longe vai e alta dança
A mágoa desta herança de te saber Só no estar.

Para mim és tudo o que tenho, tu maçã, Eva, Hécate,
O meu tamanho. Uma beleza que invento para que não se acabe
O repasto destas sombras. Para que nada te falte e tu me comas.

Também te vou explicar que o pássaro
É passionário, passional e temerário
E te veste com as plumas que não são
Vestes de luas nem rebanhos de lãs puras.

Não és de cá. Aqui não há ninguém.
Quando disse nunca Mais!

Quis dizer que não virás.

Ao terreiro ledo e triste onde por sinal nunca estás.

Hoje encontrei-te.

Que coisas têm para fazer?

Oh! Estás. Pareces um ser inteiro
Pensava eu que choravas nesse terreiro.

Porque és capaz eu já não sei, Enigma esfinge do Homem!
Talvez seja eu agora quem te peça ajuda porque não há ave que me guie                                                                                                              

Nesta coisa nenhuma.

Rebenta meu cérebro louco.
Sou eterna. Nunca oiço!
Nunca morro!

Mas gostava de ver esse beiral

Talvez me dês a conhecer a sua entrada.
E não me tragas o fantasma que quer bater à janela
Quando já esquecida estiver...

Que ele é nada e eu sou ninguém
Não pode em mim viver.

E pensar que é buscando que se tem o que não quer!

Leva-o como a um menino
Pela mão bem ao seu ritmo.

Pois que o sinto chegar
Num leve bater de asas

Quando um Corvo
Se mascarar

De Grifo.
  
E a janela der para um vasto labirinto.

Aí direi! Que vieste aqui fazer?
E não ouvirei mais.

Nunca Mais!

Minto este mito?

Nada sei.

Apenas o pressinto.

E digo:

Aqui não há ninguém!

E no instante infindo, és Tu Ó ave agoirenta.

Que me trazes de beber

Numa atracção infinita

Que não despedes depois da vida

E te prendes a um outeiro, onde nem água nem sono

Te saciam e adormecem por inteiro.



Amélia Vieira, 2012.
***
Via Wook
http://www.wook.pt/authors/detail/id/2348561

***
16dez2015

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=418906128316969&set=a.271616623045921.1073742131.100005927551960&type=3&theater
Vamos ardendo .............somos de cera e seda.... tão frágeis ....tão resistentes.....Queimam-nos as paixões e as fúrias, queimam-nos nas coisas onde a água se vai e a secura cresce....Queimam-nos os dias e os olhos flamejantes das noites..... Queimam-nos! E mesmo assim a nossa luz é grande.
***
Via
http://amadeubaptista.blogspot.pt/2012/07/amelia-vieira.html

quinta-feira, 12 de Julho de 2012


Amélia Vieira


Amélia Vieira, poeta convidada


3 poemas inéditos




Quero misturar-me com todos os xistos, com todas as terras, com puros basaltos.
As coisas que respiram, a fornalha, os insectos, a mortalha….
A viva cor azul das águas, dos batráquios, das nortadas…
Ser o vento, a espuma, o ar.
A névoa e o iodo o fogo e o mar.
Todos os elementos concentrados no sossego, na fúria, na certeza de meu ser elementar.
Um turbilhão de lava quente, macia, incandescente, esguia…
O pranto das mães chamando, uivando nas montanhas
A chegada dos filhos em alcateia.
A caça luarenta de uma noite plena e quente de quente Lua-cheia.
Trazendo no ventre
Toda a natureza.
Depois cantar ao grande sol da manhã, chegando como um nardo
E morrer cantando um som sem sílabas
Percorrido pelo manto da imensidão já tida
E de todos os instantes que fui só por ser vida.


(inédito)







Todas as coisas que fizemos por amor, por amor nos foram sendo transmitidas.
Em amor nos foram reduzindo num sopro finito
Que ele eu não grito.
Amor não padece nas ondas buscadas
E sempre seguindo, amor nos transforma, nos busca cantando.
As fontes do mito.
De sombras lembramos o andar entre lágrimas e a sós, tão nós, no assombro das naus
Veleiros que foram bastiões que velam
Um silêncio absorto
De um fero desgosto
De  marés vazantes …..
No corpo.
Amor em terreiro de Horto, guiado, plasmado…
Renascido, cinzento, cinzelado…mais claro nos bosques, mais verde nas eras,
Mais feroz nas feras, porque fere as fomes, das caças sadias
Dos nomes.
Cada um ao nomear chama-lhe amor, de quem nomeia o dom e deixa a flor.
Todos da estação das rosas, amor, são os iodos das rochas….
Que abrem as sereias em roda, no círculo das coisas começadas.
Um cortejo de fadas e de luzes, precipitam o amor para um altar…
Entre nevoeiros e águas, amor se vai, depreendendo-se de nós….
 Como um ilustre romeiro…caminhando na distância de um beijo
Depois adormece e amor que dorme gera sonhos. Os sonhos vão buscar o chão pisado
E crivado de astros.
O amor morre.
Sem nunca busca-lo em seu navio o doce mastro.

(inédito)








Porque era uma árvore e não choveu. O dia longo do Paraíso não tinha noite.
Num mês qualquer, que o Paraíso não tem solo, mas era verde, talvez Maio, talvez Agosto, talvez um tempo deposto…era naquele momento em que havia mais planetas, todos ao torno da Floresta verde.
Transversais aos oceanos ficaram pequenos continentes, verdes, antes de serem tão certos como o labirinto coberto de abetos.
Era uma árvore e não choveu, era sempre tarde…o Sol não nos venceu, tornámo-nos assim, queimados, quentes, em ebulição, e nada se fez sem a tórrida presença…os anjos cobriram-se de pelo, a minha pele ardeu, o meu ser de outro oxigénio carbonizou num local onde antes era céu.
Temos um corpo para queimar, uma forma que não há, um sangue que ferve, tem febre, inflama …somos fogo, somos chama.
Mas, eu era a Árvore e não choveu. Do bem… do mal….era só  Deus, nem bem nem mal ali tivéramos, nem nenhuma divindade aqui nos colheu.
Só este calor e a frescura da Árvore que não era deste céu.
E Deus que não era este Deus.
Nem tu que sendo tu nunca exististes.
Nem eu que sendo eu ninguém me viu.
Pois que na Árvore onde não choveu deixámos os segredos
Os segredos que são memórias…
A terra que me tapa não tarda destapa
Frondosos frutos da Árvore ….
Que nos mata na entrada de
Um tempo que já não era o Meu.


(inédito)




Fotos (ilustração dos poemas): © de Amadeu Baptista


Poemas: © Amélia Vieira

Amélia Vieira. Nasceu em Lisboa, a 8 de Outubro de 1960. Dez livros editados, sendo o último título publicado Gabriel, de 2011. Estudos de Arte e Literatura Comparada. Inúmera colaboração em revistas nacionais e estrangeiras.