05/01/2015

9.348.(5jan2015.13.55') Ilse Losa

Nasceu a 20março1913
e morreu a 6jan2006
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Ilsa Liblich Losa
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image
http://ilselosa.wordpress.com/
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entrevista
http://issuu.com/bloguedamilu/docs/entrevista_beatriz
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palavras_soltas
«Aconselho toda a gente a ler O Mundo em que vivi, pois foi escrito não só para adolescentes, mas também para adultos.»
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biografia

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ilse_Losa
Nascida numa pequena localidade perto de Hanôver na Alemanha a 20 de março de 1913,1 filha de Arthur Lieblich frequentou o liceu em Osnabrück e Hildesheim e mais tarde um instituto comercial em Hanôver.1
Ameaçada pela Gestapo de ser enviada para um campo de concentração devido à sua origem judaica, abandonou o seu país natal em 1930 com a mãe e seus irmãos Ernst (nascido em Junho de 1914) e Fritz. Deslocou-se primeiro para Inglaterra onde teve os primeiros contactos com escolas infantis e com os problemas das crianças. Chegou a Portugal em 1934, tendo-se fixado na cidade do Porto, onde casou em 1935 com o arquitecto Arménio Taveira Losa, tendo adquirido a nacionalidade portuguesa. O seu irmão Fritz também casou com uma Portuguesa, Florisa Estelita Gonçalves, de quem teve duas filhas, Sílvia Gonçalves Lieblich e Ângela Gonçalves Lieblich.
Em 1943, ano em que nasceu a sua primeira filha, Margarida Lieblich Losa (falecida em Janeiro de 1999), publicou o seu primeiro livro "O mundo em que vivi" e desde essa altura, dedicou a sua vida à tradução e à literatura infanto-juvenil, tendo sido galardoada em 1984 com o Grande Prémio Gulbenkian para o conjunto da sua obra dirigida às crianças.1 Teve outra filha, Alexandra Lieblich Losa. Em 1998 recebeu o Grande Prémio de Crónica, da Associação Portuguesa de Escritores devido à sua obra À Flor do Tempo. Colaborou em diversos jornais e revistas, alemães e portugueses, está representada em várias antologias de autores portugueses e colaborou na organização e traduziu antologias de obras portuguesas publicadas na Alemanha. Traduziu do alemão para português alguns dos mais consagrados autores.1
Segundo Óscar Lopes "os seus livros são uma só odisseia interior de uma demanda infindável da pátria, do lar, dos céus a que uma experiência vivida só responde com uma multiplicidade de mundos que tanto atraem como repelem e que todos entre si se repelem".
A 9 de Junho de 1995 foi feita Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique.2
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Via Maria Elisa Ribeiro:

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Um excerto do romance “O Mundo em que Vivi”:

“O primeiro dia da escola. A saca às costas, caminhei ao lado da minha mãe, cheia de curiosidade e de receios.
O Sr. Brand, o professor, distribuía sorrisos animadores aos meninos, que o fitavam com desconfiança. A barba grisalha e o colarinho engomado davam lhe um ar de austeridade, mas os olhos alegres protestavam contra tal impressão.
Começou por nos falar, e doseava serenidade com humor para afugentar os nossos medos.
De todas as escolas por que passei, a de que verdadeiramente gostei foi a escola primária.
Quando o Sr. Brand tomou nota do meu nome ninguém se virou para mim com sorrisinhos por soar a judaico, ninguém achou estranho eu responder “israelita” à pergunta do Sr. Brand à minha religião.
Fora a mãe que me recomendara: “Quando o Sr. Brand te perguntar pela religião, diz-lhe que és israelita. Soa melhor do que judia”. Eu não concordava, porque achava “israelita” uma palavra estranha que não parecia pertencer à minha língua e, por isso, corei de embaraço ao pronunciá-la.
E quando o Sr. Brand quis saber a profissão do meu pai respondi “negociante de cavalos”. Coisa natural. Muitos alunos eram filhos de lavradores e conheciam o meu pai.
Não me sentia envergonhada daquilo que eu e o meu pai éramos, como aconteceria mais tarde, no liceu, quando a minha mãe me recomendou que às perguntas respondesse, além de “sou israelita”, que o meu pai era “comerciante”.
Nota: o mundo terrível da vivência e do massacre dos Judeus, sob o satanismo hitleriano. Recomendo a leitura desta obra, em nome dos valores da vida!
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CÂNTICO DA MULHER GRÀVIDA
«Mexes-te no meu ventre. Estarás satisfeito ou impaciente, meu filho? Quem me dera saber!
Serás belo, belo como o teu pai. Terás o corpo esbelto como os pinheiros nos montes e os olhos meigos como as corças da floresta.
A tua bondade será cristalina como a água das fontes e a tua inteligência vigorosa como a brisa que vem do mar.
Mas ai! se não fores perfeito?...Ai! se te faltarem as mãos, um braço, ou a luz dos olhos?...Ai! se te olharem com desprezo ou com fingida piedade...
Chorarei então, meu filho, mas amar-te-ei ainda mais. O meu coração só velará por ti e encontrará sempre palavras para te confortar.
Plantei no meu jardim macieiras, pessegueiros, graminha verde, flores garridas.
Procurei enfeites de cor e de alegria, agasalhos macios, tecidos leves e transparentes.
Meu filho, como eu te amo já! Como quero a tua felicidade! Hei-de ensinar-te lindos versos; inventar histórias maravilhosas e embalar-te com as mais doces canções.
Doem-me os seios! Dor abençoada! É o leite que tu beberás!
Brilha sol! Abri-vos rosas! Macieiras, pessegueiros, árvores todas do meu jardim, flori!
Pássaros, cantai! Rasgai a terra, águas das fontes! Alma, coração, rejubilai!
O meu filho vai nascer!»
[N. Buer (Alemanha), 1913 – M. Porto, 2006]
Foto Google