26/03/2015

5.696.(26mar2015.8.11') António Dias Lourenço

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Dias lourenço
Nasceu a 25mar1915---Vila Franca de Xira
e morreu a 7aGOSTO2010...

www.pcp.pt/sites/default/files/documentos/201503_centenario_dias_lourenco.pdf
A. DIAS LOURENÇO 1915-2015 CENTENÁRIO DO NASCIMENTO. ALGUNS DADOS BIOGRÁFICOS Nasceu em 25 de Março de 1915 em Vila Franca de Xira. Começou a trabalhar aos 13 anos. Durante 14 anos trabalhou como torneiro-frezador nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (Alverca), e na Soda Póvoa (Póvoa de Santa Iria)...**
7aGOSTO2019...reCORdo a ida, em excursão com ele,  ao local onde foi morto Humberto Delgado...
“A gente conhecia Portugal com a geografia das botas”
 “Eu já sabia que eles gostavam de ver a cara dos presos sob a tortura. E resolvi construir para a minha cara um ligeiro sorriso constante. (…) A mim não me hão-de ver a cara torturada”.  
“Uma vez eu, o Redol e Torga passámos o Tejo para o lado de lá. Tinha acabado a Guerra Civil de Espanha. Estávamos a falar os três sobre o assunto. O Torga, o Redol e eu a certa altura começámos a cantar ‘A Internacional’. A certa altura diz o Torga: ‘Caramba, nunca pensei que alguma vez se pudesse cantar a Internacional alto neste nosso Portugal!”
 “O Redol a certa altura começa a escrever. E um dia em Vila Franca chama-me. Tinha seis folhas de papéis almaço escritas à mão. ‘Olha, quero que tu leias e que me digas se sou capaz de escrever um romance’. Então eu pus-me em sentido, em jeito de brincadeira: ‘Decreto número um, artigo primeiro: Declaro que tu és capaz de fazer um romance’ (Risos). Claro que era capaz de escrever romances, como sabe, fez vários... mas esse era o primeiro. Chamava-se “Glória – uma aldeia do Ribatejo”.
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 1.abril2005



“A gente conhecia Portugal com a geografia das botas”. Foi assim que António Dias Lourenço explicou ao “Avante!” como se fazia trabalho político do PCP no tempo da clandestinidade,  a pé e de bicicleta, por montes e vales em tempos de estradas más. Nesse tempo era o “camarada João”, nome de guerra.
 
Esta semana o PCP comemorou o centenário de um dos seus mais míticos dirigentes. António Dias Lourenço teria feito 100 anos, mas não chegou cá: morreu aos 95 anos, a 7 de Agosto de 2010.
 
Ao evocar Dias Lourenço, Jerónimo de Sousa lembrou a mais espectacular fuga de prisão de que o histórico dirigente do PCP foi protagonista. Estávamos em Dezembro de 1954 e Dias Lourenço estava preso no forte de Peniche, no “segredo”, a pior das celas. Conseguiu que lhe passassem um faca de sapateiro com a qual, lentamente, foi cortando os cobertores para fazer uma corda. E atirou-se ao gelado mar de Peniche em pleno Dezembro. Correram várias coisas ao contrário do que tinha previsto: a corda era excessivamente curta e teve que saltar de uma altura muito maior do que tinha pensado. A maré arrastou-o no sentido contrário da praia. Só hora e meia depois chegou a terra, com hipotermia e exaustão. Foi salvo por pescadores – a quem disse quem era e o que ali fazia – que foram decisivos para que a fuga tivesse sido um sucesso.
 
Quando chegou o 25 de Abril, António Dias Lourenço estava preso no hospital-prisão de Caxias. E antes da revolução estava a planear outra fuga. Uma vez disse: “O 25 de Abril lixou-me a fuga”. Dessa vez a ideia era vestir-se de mulher e sair pela porta principal no final do horário das visitas, misturando-se com elas. O actor Rogério Paulo já lhe tinha entregue duas perucas, uma loira e outra morena, para compor o disfarce. Mas da segunda vez não foi preciso. Ao todo, António Dias Lourenço esteve preso 17 anos. Cinco em Peniche, de onde saiu atirando-se para o mar, e 12 em Caxias até ser libertado pelo 25 de Abril. Quando Álvaro Cunhal chegou a Lisboa vindo do exílio, António Dias Lourenço já conseguiu ir esperá-lo ao aeroporto.
 
Dias Lourenço nasceu em Vila Franca de Xira em 25 de Março de 1915, filho de uma costureira e de um ferreiro. Foi amigo de infância de Alves Redol. “Muitas vezes quando a maré já estava vazia íamos de barco até uma rocha que ficava um bocadinho fora do Tejo no momento da vazão da maré. Descíamos e íamos apanhar o marisco. Éramos íntimos amigos”, disse Dias Lourenço em 2007 numa entrevista ao jornal “O Mirante”. Com Redol, Dias Lourenço é co-responsável pela popularização do neo-realismo. “O Alves Redol era o principal, mas eu e vários jovens com tendências intelectuais e políticas demos grande impulso a todo esse movimento literário que é conhecido naquela zona”, contou na mesma entrevista. 
Aos 13 anos Dias Lourenço começou a trabalhar, como torneiro mecânico. Aos 17 aderiu ao PCP. “Éramos jovens profundamente ligados à intelectualidade e ao jornalismo. Organizávamos aulas no velho sindicato que funcionava como escola. Chegamos a juntar 50 ou 60 trabalhadores com mulheres. Costureiras e fiadeiras e operários. Aprendi a falar Esperanto para poder dar aulas à malta. Tínhamos muita actividade literária e com forte participação nesses jornais da época. Não só de Vila Franca e do Ribatejo, mas também de Lisboa”.
“Ligeiro sorriso constante” Na entrevista que deu ao “Avante!” em 2005 – jornal oficial do PCP de que foi responsável na clandestinidade e director entre 1974 e 1991 – António Dias Lourenço conta como inventou “um sorriso constante” para que os pides não lhe vissem na cara o sofrimento provocado pela tortura. “Eu já sabia que eles gostavam de ver a cara dos presos sob a tortura. E resolvi construir para a minha cara um ligeiro sorriso constante. (…) A mim não me hão-de ver a cara torturada”. E Dias Lourenço sofreu todas as ignomínias da polícia política, dos espancamentos à tortura do sono. Quando o filho António morreu, ainda criança – o maior desgosto da vida de Dias Lourenço – não o deixaram ir ao funeral.
 
“O facto de estar preso e de não lhe permitirem comparecer no funeral foi uma forma particularmente vil de [a PIDE] procurar quebrar a sua firmeza. Uma vez mais, falharam. A prisão da sua filha Ivone foi igualmente causa de sofrimento. Mas também de orgulho, pela mulher e pela comunista que se tornara”, escreve esta semana o “Avante!” a recordar a memória de Dias Lourenço.
 
Com Alves Redol, Dias Lourenço inventou os “passeios no Tejo”. “O Redol e eu fazíamos o trajecto entre Vila Franca e o Carregado. Saíamos do barco e íamos petiscar para o campo. Uma gaita! Íamos comer, mas íamos era conversar sobre política. No Tejo não havia ninguém para nos ouvir. Ali ficávamos e ali fazíamos grandes reuniões. Já nas propriedades do Palha Blanco”, contou Dias Lourenço a “O Mirante”.
 
Assistiu ao nascimento de Alves Redol escritor: “O Redol a certa altura começa a escrever. E um dia em Vila Franca chama-me. Tinha seis folhas de papéis almaço escritas à mão. ‘Olha, quero que tu leias e que me digas se sou capaz de escrever um romance’. Então eu pus-me em sentido, em jeito de brincadeira: ‘Decreto número um, artigo primeiro: Declaro que tu és capaz de fazer um romance’ (Risos). Claro que era capaz de escrever romances, como sabe, fez vários... mas esse era o primeiro. Chamava-se “Glória – uma aldeia do Ribatejo”.
 
Um dia, em plena ditadura, canta “A Internacional” ao lado de Miguel Torga. “Uma vez eu, o Redol e ele passámos o Tejo para o lado de lá. Tinha acabado a Guerra Civil de Espanha. Estávamos a falar os três sobre o assunto. O Torga, o Redol e eu a certa altura começámos a cantar ‘A Internacional’. A certa altura diz o Torga: ‘Caramba, nunca pensei que alguma vez se pudesse cantar a Internacional alto neste nosso Portugal!”. É claro. Ninguém mais podia ouvir. Senão nós três. Estávamos sozinhos”. Até ao fim, mesmo com a saúde já débil, Dias Lourenço continuou a ir quase todos os dias à sede do PCP.
https://ionline.sapo.pt/artigo/131473/dias-lourenco-o-camarada-joao-inventou-um-sorriso-para-que-a-pide-nao-lhe-visse-a-tortura-na-cara
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[...]
E quase, quase que apostava que não conheces os bonecos de hoje do paizinho. Ora, quem havia de ser!... O nosso ursinho «Papusso», o coelhinho «Rabino», o Ti João Gadelha e mais os irmãos mais pequeninos do Rabino.
Mas que paparoca estarão eles a comer?
Pois é, os marotos andavam todos a comer as cenouras da horta do Ti João Gadelha e nem se lembravam que ele tinha de vendê-las no mercado para comprar sapatos e vestidos e calções para os seus meninos. (...)
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3jan2017
Via Vitor Dias

Aqui em http://otempodascerejas2.blogspot.pt/2017/01/ha-56-anos.html
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Via Ângelo Alves

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1451351258238422&set=a.156414114398816.28858.100000906859415&type=3&theater
Ângelo Alves
1 h
3 de Janeiro de 1960 - Evadiam-se da cadeia de alta segurança de Peniche dez presos políticos, destacados dirigentes e militantes do PCP, entre os quais Álvaro Cunhal.
“Ao alcançarmos a liberdade e ao retomarmos o posto de combate, saudamos antes de mais o nosso Partido e o Povo Português, afirmando a nossa determinação de os servir como até hoje na luta pela instauração em Portugal de um regime de liberdade de legalidade.” (…) “Sem o decisivo auxílio do Partido Comunista Português e da sua Direcção – à qual manifestamos toda a nossa confiança -, sem a coragem, o espírito de sacrifício e o apoio de numerosos comunistas e portugueses sem partido que nos ajudaram, não teria sido possível levar a cabo com êxito a nossa libertação” (…) “Muitos dedicados filhos do povo português continuam nas prisões fascistas, sofrendo torturas e longos anos de prisão. A acção dos patriotas portugueses apoiada pelos trabalhadores e democratas do mundo conseguirá libertá-los também”
Estas são partes da mensagem que os nossos heróis da luta antifascista enviaram ao povo português logo após a fuga. A luta não parava, dentro e fora da prisão. A confiança, a determinação e o sentido de organização que emanam destas palavras é parte do "segredo" da vitória do povo português sobre o regime fascista que durante quase meio século oprimiu o povo português.
É por esta história, e por muitas como esta menos conhecidas, que a fortaleza de Peniche, e o seu conjunto edificado, incluindo os edifícios da prisão política, têm de ser preservados, recuperados e requalificados. Ali, naquelas paredes, naqueles edifícios, naqueles espaços, reside um património histórico insubstituível e indivisível. Ali conviveram paredes meias a opressão fascista e a resistência e luta anti-fascista.
É um dever de todos os democratas e patriotas perservar, divulgar e transmitir a memória histórica da luta que nos conduziu à liberdade.
Para que nunca mais aconteça!
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3jan2015
Fuga de Álvaro Cunhal

A Fuga de Peniche (Documentário)

https://www.youtube.com/watch?v=penRhReuVEI&feature=youtu.be
A chamada Fuga de Peniche foi um episódio da história de Portugal - no contexto da oposição ao regime Salazarista - ocorrido na prisão de alta-segurança de Peniche a 3 de Janeiro de 1960.
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1915/2015
centenário comemorado pelo PCP
nomeadamente na FAvante
 http://www.pcp.pt/sites/default/files/documentos/201503_centenario_dias_lourenco.pdf
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17dez2014
evocação da fuga de Dias Lourenço
ver na postagem nove mil duzentos e setenta 
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testemunho de Dias Lourenço
 https://www.youtube.com/watch?v=r-qReAFzqMg
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17dez1954
consegue fugir do SEGREDO
Fortaleza -prisão de Peniche

 https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1271126249597515&set=pcb.1270928399617300&type=3&theater


 https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1271126106264196&set=pcb.1270928399617300&type=3&theater

 https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1271125822930891&set=pcb.1270928399617300&type=3&theater

 https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1271125692930904&set=pcb.1270928399617300&type=3&theater
FOTOS DA GRAÇA SILVA
8dez2016
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Entre nós RTP2 ..Dias Lourenço conta como foi...
 https://www.youtube.com/watch?v=_ywB9qwGQ5A
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contada pelo Domingos Abrantes
 https://www.youtube.com/watch?v=JefOHS3e7ik
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do site da câmara




60º Aniversário da Fuga de António Dias Lourenço da Cadeia do Forte de Peniche – 1954-2014






60º Aniversário da Fuga de António Dias Lourenço da Cadeia do Forte de Peniche – 1954-2014
António Dias Lourenço (1915-2010)
Assinala-se a 17 de dezembro o 60º aniversário da Fuga de António Dias Lourenço (1915-2010) da "Cadeia do Forte de Peniche" (1954-2014).
Preso político, militante do Partido Comunista Português, António Dias Lourenço evade-se numa noite fria de dezembro do "Segredo", cela de isolamento instalada no Baluarte Redondo da Fortaleza de Peniche, protagonizando uma fuga particularmente arriscada em direção à Liberdade, que pela heroicidade deve ser relembrada enquanto exemplo de resistência efetuada por milhares de portugueses contra o regime fascista do Estado Novo.  
Sozinho, preparou a fuga: estudou os movimentos dos guardas e procedeu de modo a ser "castigado", o que equivalia a ser fechado no "Segredo". Aí, com a ajuda de uma meia faca que conseguira obter, começa a tarefa de remoção de um pedaço de madeira da porta. Após longos dias de trabalho, consegue sair da cela e munido de uma corda feita de cobertor desfiado e pouca roupa, lança-se ao mar. Alcançada terra firme e depois de mais de uma hora de correria pela então Vila de Peniche, Dias Lourenço salta para uma camioneta de transporte de peixe e concretiza a sua evasão.
Após esta fuga o Baluarte Redondo deixaria de ser utilizado enquanto local de isolamento de presos.

António Dias Lourenço nasceu em Vila Franca de Xira em 25 de março de 1915. Torneiro mecânico de profissão cedo aderiu ao Partido Comunista Português, o que lhe valeu ser preso por diversas vezes, tendo passado um total de 17 anos nas cadeias do regime do Estado Novo enquanto preso político. Foi jornalista do jornal O Diabo e responsável pelo jornal "Avante!", entre 1957 e 1962, e seu diretor entre 1974 e 1991. Exerceu ainda as funções de deputado à Assembleia da República entre 1975 e 1987. Faleceu em Lisboa em 7 de agosto de 2010.
Pese embora a sua idade avançada, era usual ver Dias Lourenço visitar a Fortaleza de Peniche com diversos grupos, particularmente escolares, aos quais descrevia com pormenor as dificuldades da vida na prisão e da sua fuga do “Segredo”. Aqui fica o depoimento dado pelo próprio em 2005 à jornalista Raquel Santos para o programa "Entre Nós" da RTP2.
- See more at: http://www.cm-peniche.pt/News/NewsDetail.aspx?news=7faf4151-4628-4920-9ed0-691a6913d9ba#sthash.Uy60Dl2K.dpuf
 http://www.cm-peniche.pt/News/NewsDetail.aspx?news=7faf4151-4628-4920-9ed0-691a6913d9ba
Assinala-se a 17 de dezembro o 60º aniversário da Fuga de António Dias Lourenço (1915-2010) da "Cadeia do Forte de Peniche" (1954-2014).
Preso político, militante do Partido Comunista Português, António Dias Lourenço evade-se numa noite fria de dezembro do "Segredo", cela de isolamento instalada no Baluarte Redondo da Fortaleza de Peniche, protagonizando uma fuga particularmente arriscada em direção à Liberdade, que pela heroicidade deve ser relembrada enquanto exemplo de resistência efetuada por milhares de portugueses contra o regime fascista do Estado Novo.  
Sozinho, preparou a fuga: estudou os movimentos dos guardas e procedeu de modo a ser "castigado", o que equivalia a ser fechado no "Segredo". Aí, com a ajuda de uma meia faca que conseguira obter, começa a tarefa de remoção de um pedaço de madeira da porta. Após longos dias de trabalho, consegue sair da cela e munido de uma corda feita de cobertor desfiado e pouca roupa, lança-se ao mar. Alcançada terra firme e depois de mais de uma hora de correria pela então Vila de Peniche, Dias Lourenço salta para uma camioneta de transporte de peixe e concretiza a sua evasão.
Após esta fuga o Baluarte Redondo deixaria de ser utilizado enquanto local de isolamento de presos.

António Dias Lourenço nasceu em Vila Franca de Xira em 25 de março de 1915. Torneiro mecânico de profissão cedo aderiu ao Partido Comunista Português, o que lhe valeu ser preso por diversas vezes, tendo passado um total de 17 anos nas cadeias do regime do Estado Novo enquanto preso político. Foi jornalista do jornal O Diabo e responsável pelo jornal "Avante!", entre 1957 e 1962, e seu diretor entre 1974 e 1991. Exerceu ainda as funções de deputado à Assembleia da República entre 1975 e 1987. Faleceu em Lisboa em 7 de agosto de 2010.
Pese embora a sua idade avançada, era usual ver Dias Lourenço visitar a Fortaleza de Peniche com diversos grupos, particularmente escolares, aos quais descrevia com pormenor as dificuldades da vida na prisão e da sua fuga do “Segredo”. Aqui fica o depoimento dado pelo próprio em 2005 à jornalista Raquel Santos para o programa
- See more at: http://www.cm-peniche.pt/News/NewsDetail.aspx?news=7faf4151-4628-4920-9ed0-691a6913d9ba#sthash.Uy60Dl2K.dpuf




60º Aniversário da Fuga de António Dias Lourenço da Cadeia do Forte de Peniche – 1954-2014






60º Aniversário da Fuga de António Dias Lourenço da Cadeia do Forte de Peniche – 1954-2014
António Dias Lourenço (1915-2010)
Assinala-se a 17 de dezembro o 60º aniversário da Fuga de António Dias Lourenço (1915-2010) da "Cadeia do Forte de Peniche" (1954-2014).
Preso político, militante do Partido Comunista Português, António Dias Lourenço evade-se numa noite fria de dezembro do "Segredo", cela de isolamento instalada no Baluarte Redondo da Fortaleza de Peniche, protagonizando uma fuga particularmente arriscada em direção à Liberdade, que pela heroicidade deve ser relembrada enquanto exemplo de resistência efetuada por milhares de portugueses contra o regime fascista do Estado Novo.  
Sozinho, preparou a fuga: estudou os movimentos dos guardas e procedeu de modo a ser "castigado", o que equivalia a ser fechado no "Segredo". Aí, com a ajuda de uma meia faca que conseguira obter, começa a tarefa de remoção de um pedaço de madeira da porta. Após longos dias de trabalho, consegue sair da cela e munido de uma corda feita de cobertor desfiado e pouca roupa, lança-se ao mar. Alcançada terra firme e depois de mais de uma hora de correria pela então Vila de Peniche, Dias Lourenço salta para uma camioneta de transporte de peixe e concretiza a sua evasão.
Após esta fuga o Baluarte Redondo deixaria de ser utilizado enquanto local de isolamento de presos.

António Dias Lourenço nasceu em Vila Franca de Xira em 25 de março de 1915. Torneiro mecânico de profissão cedo aderiu ao Partido Comunista Português, o que lhe valeu ser preso por diversas vezes, tendo passado um total de 17 anos nas cadeias do regime do Estado Novo enquanto preso político. Foi jornalista do jornal O Diabo e responsável pelo jornal "Avante!", entre 1957 e 1962, e seu diretor entre 1974 e 1991. Exerceu ainda as funções de deputado à Assembleia da República entre 1975 e 1987. Faleceu em Lisboa em 7 de agosto de 2010.
Pese embora a sua idade avançada, era usual ver Dias Lourenço visitar a Fortaleza de Peniche com diversos grupos, particularmente escolares, aos quais descrevia com pormenor as dificuldades da vida na prisão e da sua fuga do “Segredo”. Aqui fica o depoimento dado pelo próprio em 2005 à jornalista Raquel Santos para o programa "Entre Nós" da RTP2.
- See more at: http://www.cm-peniche.pt/News/NewsDetail.aspx?news=7faf4151-4628-4920-9ed0-691a6913d9ba#sthash.Uy60Dl2K.dpuf
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Via Cláudia Cláudio
"A minha vida pertence ao Partido"
https://www.youtube.com/watch?v=r-qReAFzqMg
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Via avante 26mar2015
Gustavo Carneiro escreveu:
http://www.avante.pt/pt/2156/emfoco/134769/
António Dias Lourenço nasceu há 100 anos
Um homem feliz na luta

Nascido a 25 de Março de 1915, em Vila Franca de Xira, António Dias Lourenço foi um destacado militante e dirigente comunista durante quase 80 anos, nos quais deu provas de uma inquebrantável dedicação aos trabalhadores, ao povo e à luta do seu Partido. A opção, que ainda jovem tomou, de se tornar funcionário do Partido Comunista Português pagou-a com brutais torturas e 17 longos anos de prisão. Tal não o impediu, na última entrevista concedida ao Avante!, de se confessar um homem feliz, sobretudo por ver tanta gente nova a prosseguir o combate a que dedicou a sua vida.
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Operário, jornalista, dirigente político, prisioneiro, escritor, deputado. António Dias Lourenço foi tudo isto e muito mais ao longo da sua intensa vida (e longa de 95 anos), que desde muito cedo se confunde com a luta dos trabalhadores e do povo contra o fascismo e a exploração, pela liberdade, a democracia e o socialismo. Uma luta a que dedicaria o melhor das suas capacidades e a sua imensa energia.
Praticamente até ao último dia da sua vida (faleceu em Agosto de 2010) foi presença quase diária na sede nacional do Partido e na redacção do Avante!, onde conservava uma mesa de trabalho com um aparelho que lhe permitia ler, apesar das graves limitações de visão que o acompanharam nos últimos anos. Eram raras as iniciativas do Partido ou as acções de luta unitárias, em Lisboa, nas quais não comparecia, pese embora as visíveis dificuldades em andar que se agravavam com o passar do tempo. Esta energia, esta força imensa com que teimava em contrariar as adversidades da vida e as vicissitudes da idade eram precisamente das características mais salientes da fascinante personalidade de António Dias Lourenço.
Como muitos vilafranquenses da sua geração – os «homens que nunca foram meninos» de que falava Soeiro Pereira Gomes –, Dias Lourenço começou a trabalhar com apenas 13 anos, pouco mais era do que uma criança: durante quase uma década e meia foi torneiro-frezador nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico e na Soda Póvoa. O ambiente das fábricas e das colectividades, onde desenvolveu uma intensa actividade cultural, levam-no à luta dos trabalhadores e ao Partido Comunista Português, do qual se torna militante em 1931. Três anos depois, participa activamente na jornada de 18 de Janeiro de 1934 contra a fascização dos sindicatos.
Na sua primeira década de militância comunista, e ao mesmo tempo que colaborava em jornais como O Diabo, oSol Nascente, o Mensageiro do Ribatejo e o República, assumiu um papel destacado no desenvolvimento da organização partidária. Integrou o Comité Local de Vila Franca de Xira e o Comité Regional do Ribatejo, do qual chegou a ser responsável. O nome de António Dias Lourenço fica também ligado aos célebres «passeios no Tejo» que, no início da década de 40, envolveram destacadas figuras das artes e das letras e impulsionaram o movimento neo-realista.
Revolucionário profissional
Envolvendo-se intensamente no processo de reorganização do Partido, iniciado no final de 1940 por destacados militantes comunistas e no qual Álvaro Cunhal desempenharia um papel de primordial importância, António Dias Lourenço passou à clandestinidade como funcionário do PCP em 1942. A ligação às tipografias clandestinas e ao aparelho central de distribuição da imprensa foi uma das suas primeiras responsabilidades. Retomada a publicação regular do Avante! em Agosto de 1941, havia que consolidar e melhorar o aparelho técnico do Partido e todo o trabalho conspirativo que isso envolvia.
Numa entrevista ao Avante!, concedida em 2001, Dias Lourenço adiantou os traços gerais desta tarefa tão exigente quanto vital: «Tínhamos de criar um aparelho de difusão do Avante!, cada vez mais seguro. Enquanto a orgânica do Partido assentava em organismos colectivos (clandestinos, com elementos que às vezes nem sabiam o nome uns dos outros), a orgânica para a distribuição da imprensa clandestina tinha de ser rigorosamente individual. Tu levas o embrulho para a organização tal, entregas a responsáveis directos que distribuíam a outras pessoas para levar para outros sítios.»
Nestes primeiros anos de vida clandestina, assumiu tarefas no Ribatejo, em Lisboa, na Margem Sul, no Alentejo, no Algarve e em zonas da Beira Interior, onde se travavam lutas em diversos sectores profissionais e das populações contra o racionamento e a carência de géneros. Em tempos em que a bicicleta era o meio de transporte «oficial» dos funcionários do Partido, esta era uma actividade intensa e desgastante: «A gente conhecia Portugal com a geografia das botas», confessou ao Avante! na mesma entrevista.
Depois de, em 1943, no III Congresso do Partido, ter sido eleito para o Comité Central, onde permaneceu durante 53 anos, António Dias Lourenço integra o Comité Dirigente das greves de 8 e 9 de Maio, que se reunia na casa clandestina em que vivia, em Barcarena. Estas lutas, como as travadas nos anos anteriores e as manifestações da vitória, em Maio de 1945, potenciaram o alargamento da unidade antifascista pela qual o PCP há muito se batia: surge o Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF), que agrega todos os partidos e tendências da oposição. Dias Lourenço foi representante do PCP no Conselho Nacional deste movimento.
Na sequência do assassinato pela PVDE/PIDE de Alfredo Dinis (Alex), em 1945, António Dias Lourenço – João, na clandestinidade – passou a assumir a responsabilidade pela região de Lisboa, que mantém até 1948. No ano anterior, teve uma participação activa na grandes greves dos operários da construção naval. A tarefa seguinte foi o Alentejo, onde acompanhou e dirigiu as lutas dos operários agrícolas contra o desemprego e a miséria e pela construção da sua unidade nas praças de jorna. Era aqui que intevinha quando foi preso pela primeira vez, em 1949, ano em que dirigiu o jornal O Camponês.
Voltar à luta, sempre
Retomada a liberdade em 1954, após uma audaciosa fuga da fortaleza de Peniche (ver caixa), António Dias Lourenço retomou imediatamente a sua actividade revolucionária clandestina. Dois anos depois, num momento particularmente difícil para o Partido privado - do seu mais destacado dirigente Álvaro Cunhal (preso desde 1949), e fustigado por sucessivos golpes policiais - foi chamado à Comissão Política. No ano seguinte, na sequência do V Congresso do Partido, passou a integrar também o Secretariado, onde ficou até ser novamente preso, em 1962.
Neste período, em que assumiu entre 1957 e a sua segunda prisão a responsabilidade pelo Avante!, a sua actividade revolucionária está ligada ao ascenso da luta de massas que se faz sentir nos anos 1957/58 e, novamente (após um período de refluxo provocado pela repressão e pelo desvio de direita no Partido), em 1961/62. A sua participação na organização, a partir do exterior, da Fuga de Peniche de Janeiro de 1960 (que devolveu à luta Álvaro Cunhal e outros nove destacados quadros do Partido) e no apoio à saída clandestina do País de Agostinho Neto, para que pudesse dirigir a luta anticolonialista do povo de Angola, foram algumas das importantes tarefas que envolveram António Dias Lourenço.
A sua segunda prisão, realizada pouco depois do grande 1.º de Maio de 1962 e da conquista da jornada de oito horas nos campos, durou até ao 25 de Abril de 1974, quando os portões das masmorras se abriram do lado de fora.

Revolução e contra-revolução
A energia e tenacidade que caracterizaram a acção revolucionária de António Dias Lourenço durante o longo e duro combate contra o fascismo marcaram igualmente a sua vida militante durante e após a Revolução de Abril.
Libertado do Hospital-Prisão de Caxias, na manhã de 26 de Abril de 1974, passou de imediato a integrar o trabalho de direcção do Partido, como membro do Comité Central. Quatro dias depois, estava no aeroporto de Lisboa a receber o Secretário-geral do Partido, Álvaro Cunhal, ao mesmo tempo que participava activamente na Comissão Unitária que preparou o grandioso 1.º de Maio que encheu as ruas do País e confirmou a real influência do PCP e do movimento sindical e popular.
O primeiro Avante! legal, que saiu a 17 de Maio de 1974 e atingiu uma tiragem de meio milhão de exemplares, teve a sua direcção. Durante os 17 anos em que foi director do órgão central do Partido, Dias Lourenço foi um destacado obreiro do Avante! legal (para o qual escreveu centenas de artigos e editoriais), instrumento essencial para a luta dos comunistas pelo aprofundamento da Revolução e em defesa das suas mais avançadas conquistas. Nesta qualidade, manteve numerosos contactos com outros jornais comunistas, aos quais concedeu entrevistas e depoimentos sobre a Revolução portuguesa, a sua natureza e objectivos. Logo em Outubro de 1974, representou o Avante! na Conferência da Imprensa Comunista, promovida em Praga pela Revista Internacional.
A sua intervenção no 11 de Março de 1975, junto ao Ralis sob fogo, é bem demonstrativa do carácter e da coragem de António Dias Lourenço.
Após o VIII Congresso do PCP, realizado em 1976, passou a integrar a Comissão Política do Comité Central, na qual permaneceu até 1988. Em sucessivos actos eleitorais realizados entre 1976 e 1985 (Assembleia Constituinte e Assembleia da República) seria eleito deputado pelos círculos de Coimbra e Santarém, marcando, com muitos outros camaradas, uma intervenção institucional profundamente ligada aos problemas e às lutas dos trabalhadores e das populações, que passaria a caracterizar a acção dos deputados do PCP. Até hoje.
Até ao fim dos seus dias, manteve uma participação regular na actividade do Partido e uma presença próxima junto dos militantes comunistas, particularmente dos mais jovens. Em 2005, por ocasião dos seus 90 anos, deu uma entrevista ao Avante! na qual se considerava feliz, sobretudo por ver «toda essa gente nova que vem ao Partido, para pegar na bandeira e andar para a frente».

As prisões, as torturas, a morte do filho
«A mim não me hão-de ver a cara torturada»
A prisão e a tortura eram uma possibilidade real na vida dos funcionários clandestinos do Partido, todos o sabiam. O confronto com a polícia, desigual, era uma «prova de fogo» dos revolucionários. António Dias Lourenço, como muitos outros, passou-a com distinção: espancamentos prolongados, tortura do sono, pressão psicológica com os filhos, tudo lhe fizeram. Mas nada o fez ceder! Não falou. Nunca traiu. Em tribunal, acusou o fascismo e defendeu o projecto do Partido, a sua luta e os seus objectivos.
A morte do seu filho António, ainda criança, foi a maior das mágoas da sua vida. O facto de estar preso e de não lhe permitirem comparecer no funeral foi uma forma particularmente vil de procurar quebrar a sua firmeza. Uma vez mais, falharam. A prisão da sua filha Ivone foi igualmente causa de sofrimento. Mas também de orgulho, pela mulher e pela comunista que se tornara.
A forma como encarou as violências, as arbitrariedades e a dor, física e psicológica, resumiu-a na entrevista que deu ao Avante! em 2005: «Eu já sabia que eles gostavam de ver a cara dos presos sob a tortura. E resolvi construir para a minha cara um ligeiro sorriso constante. (…) A mim não me hão-de ver a cara torturada.»
Fuga audaciosa
Ao longo dos 17 anos em que esteve preso (em dois períodos), António Dias Lourenço pensou sempre em evadir-se, para continuar em liberdade a urgente luta contra o fascismo. Em Dezembro de 1954, quando se encontrava encarcerado há já cinco anos, protagonizou uma das mais audaciosas fugas da história da resistência antifascista portuguesa, ao lançar-se para o mar de Peniche após escapar do «Segredo».
Para esta fuga, Dias Lourenço mobilizou toda a sua coragem e criatividade: conseguiu introduzir no «Segredo» uma faca de sapateiro, contornando a constante vigilância; rasgou, pouco a pouco, o postigo na porta da cela; cortou cobertores às tiras para fazer uma corda; e atirou-se ao mar. Os imprevistos que surgiram, que podiam ter sido fatais, foram superados: a corda era curta demais, pelo que teve de se lançar ao mar de uma altura muito maior do que a que tinha imaginado; a maré, ao contrário do que julgava, estava a vazar, arrastando-o no sentido oposto à praia. Quando chegou a terra, hora e meia depois, estava exausto e próximo da hipotermia. Os trabalhadores de uma carrinha de peixe a quem pediu auxílio, arriscando dizer quem era, garantiram o êxito da fuga.
Na segunda prisão, de 12 anos, António Dias Lourenço arquitectou diversos planos de fuga. Aliás, disse uma vez, com humor, o 25 de Abril «lixou-me a fuga»: para escapar do Hospital-Prisão de Caxias pretendia disfarçar-se de mulher e sair pela porta da frente no final do horário das visitas. Já tinha em seu poder, aliás, duas perucas (uma loira e uma morena), que o actor Rogério Paulo conseguira fazer entrar na cadeia.
Era assim António Dias Lourenço…