02/04/2015

9.824.(2abri2015.23h) Leandro Vale

Nasceu A 18ag1940
e morreu a 2ab2015
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Escreveu sobre o CITAC
no avante de 2006
CITAC - 50 anos de teatro
A história que terá de ser feita
Não poderá passar despercebido o nome do CITAC (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra) no âmbito do panorama cénico nacional.
Na dinâmica de novas formas teatrais existente no país houve, sempre, através deste organismo autónomo da A.A.C., um passo em frente dentro do cadenciar de velhos métodos que lhe valeu todos os revezes acontecidos ao logo da sua atribulada existência.
Se bem que o movimento teatral académico português - permitam-me aqui destacar três dos conjuntos mais notórios, TEUC (Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra ( o decano de todas estas formações), TUP (Teatro Universitário do Porto), CÈNICO DE DIREITO, de Lisboa - entre outros vários nomes mais recentes que foram marcando épocas e continuam a dar o seu contributo para uma mais valia do panorama cénico nacional, inclusivamente na formação de gentes que ingressaram no profissionalismo, O CITAC aparece-nos como a mais gritante referência histórica dentro desta área.
Isto porque o seu historial é um manancial de factos que levaram a uma árdua resistência à negra noite fascista, continuando, com a sua irreverência, a ser o mais completo campo laboratorial português universitário, e não só, por onde passaram alguns dos mais notórios nomes do teatro internacional.
Nascido com um nome diferente, CAITE (Centro Académico de Iniciação Teatral), passado um ano e pouco da sua existência com gentes do Liceu D. João III, viu uma transformação em 1955, na senda dos que sabiam o que queriam e que pretendiam, através do teatro, estabelecer uma ponte de contacto com uma resistência que se ia alargando.

Mas a vontade indómita dos que tinham gerado a ideia não desfaleceu e passados meses ressurgia como CITAC, sendo-lhe cedidas umas instalações, por debaixo dos Estudos Gerais, onde os ratos iam coabitando com a necessidade de prosseguir o sonho.
A entrada era feita por uma janela, onde uns degraus exteriores e interiores, davam um tímido acesso para os não iniciados.
Alguns afoitavam-se a levar uma espingarda de chumbos para exterminar os «residentes» com quem tínhamos de coabitar.
Quando cheguei o número de resistentes não era numeroso. Lembro-me de ser o sócio número 52, e o mais novo de todos os «velhos». Tinha por essa altura quinze anos e lembro-me da discussão acesa por causa de ser o único «bicho» a integrar as fileiras.
Lembro-me da grande alegria havida quando o «mestre» António Pedro me seleccionou para fazer a «super montagem», Dulcineia ou a Última Aventura de D. Quixote, de Carlos Selvagem, que haveria de ser uma das grandes estrelas entre as estrelas que passaram no seu II Ciclo de Teatro (ciclos que haveria de manter durante ainda mais alguns anos).

Um espectáculo com uma montagem de Mário Alberto, que, naquela altura foi dos grandes estoiros do teatro português.
Lembro-me de ter visto ali, entre outros, Marcel Marceau, o American Modern Festival Ballet, os «Doze Homens em fúria», dirigido pelo Ribeirinho, «Os Velhos não devem Namorar»…

Lembro-me da passagem do Vasco de Lima Couto, do João Guedes, que dirigiam os ensaios quando o «mestre» não podia estar presente.
Lembro-me das longas noites de vigília na Estação Velha, esperando o ronceiro «correio» em que eles teriam de regressar ao Porto, altas horas da manhã.
Lembro-me, nessa altura, dos nomes do Heitor Teixeira - que soberbo D. Quixote - da Abelhinha, do Pires de Lima, do Maldonado, do Taborda, e tantos outros que seria fastidioso aqui enumerar.
Depois veio a crise. A PIDE sempre vigilante fechou de novo as suas portas que só voltariam a ser reabertas após a manhã luminosa de Abril.
Arquivos, material técnico, toda a documentação que serviria para História, até o órgão de luz feito de madeira, tudo desapareceu.
Mas não desapareceu a força nem a certeza de que as coisas consistentes nunca desaparecem.
Mais tarde, já depois de Abril, lembro-me de ter sido convidado para o ensaio geral de «Guilherme Tell tem os Olhos Tristes», de Sastre, com um final eu não concordei dando discussão até altas horas da manhã…
Mas tudo aconteceu dentro do melhor porque a família«citaquiana», mesmo dentro das contradições existentes, soube sempre levar o barco a bom porto.
Cinquenta anos são passados e aí estamos para comemorar anos de luta e de teatro.
Novos e velhos com a mesma determinação. E mesmo aqueles que já se foram, «que ficaram pelo caminho mas marcharão, sempre, ao nosso lado» estão conformes, contentes, por saberem que a mensagem passou, que chegou aos nossos dias e há-de ter continuidade no futuro. 
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http://www.portugalfantastico.com/products/leandro-vale-actor-encenador-radialista-escritor-e-jornalista/
by Ana Carrilho (ana.carrilho@portugalfantastico.com)
Estivemos à conversa com Leandro Vale no acolhedor restaurante "Apeadeiro do Rego" - Casa tradicional portuguesa 
Leandro Vale nascido em Travanca de Lagos/ Oliveira do Hospital a 18 de Agosto de 1940.
Actor, encenador, radialista, escritor e jornalista, um espírito visivelmente humilde e humanista com numerosos papéis feitos em cinema e televisão. Na RTP Açores mantêm um programa semanal, durante 6 meses, pó do teatro, onde leva vários convidados do Continente. Foi um dos Fundadores do CITAC (Circulo  de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra) em 1955. Trabalhou durante vários anos no Teatro Experimental do Porto, tendo criado, nesta cidade as companhias Teatro Popular do Porto e Teatro Infantil do Porto.
Depois do 25 de Abril Leandro esteve nas origens do Centro Cultural de Évora.
Após saída de Évora em 1980, cria a primeira companhia profissional de teatro no norte, Teatro de Ensaio Transmontano, em Vila Real.
Leandro trabalhou com Leonel Vieira o realizador, na longa-metragem Sombra dos Abutres.
PF: O Leandro começou muito cedo a fazer peças de teatro em televisão, era militante do partido PCP, isso trouxe-lhe conflitos entre os seus colegas?
Leandro: Nunca tive problemas pois soube sempre separar as águas.
PF: Tem escritos 179 peças teatrais , dos quais 102 representadas. Tem dedicado a sua vida á divulgação de actividade teatral. E esteve pelos Açores também…
LeandroPassei por lá grande parte da minha vida, vivendo em quase todas as ilhas do arquipélago, principalmente em S. Jorge, (3 anos) onde a convite do Município das Velas desenvolvi um projecto  que finalizou com a criação de 8 grupos de teatro num concelho de 3.000 habitantes.
PF: Recentemente foi “coroado” com o prémio de melhor actor na curta-metragem de Rui Pilão, Aqui Jaz a minha casa, pelo Blog Cineuphoria. Gostou de interpretar este personagem?


LeandroHá sempre personagens que nos tocam mais do que outras...embora todas, quando aceitamos um papel, tenham de ter tratamento de amizade por parte de quem as interpreta. No entanto algumas há, como disse, que ficam um pouco mais agarradas a nós para sempre. Foi o caso do Januário Garcia do Mau Tempo no Canal, foi o caso dos Malefícios do Tabaco e de mais uma meia dúzia. No entanto esta personagem da Aqui Jaz toca-me particularmente por vários motivos mas, mais particularmente por lidar, diariamente, quando estou lá por cima, com personagens idênticos àquele a quem emprestei o meu nome.
PF: Leandro é o autor de “Escritos de Palco” o que nos dá a conhecer nesta obra?
LeandroEscritos do Palco... Selecção de 7 obras teatrais, editadas no mesmo volume pela Searta das Letras apoiada pela Sociedade Portuguesa de Autores.
PF: Tem visitado Cuba com frequência, a razão está no seu espírito comunista partidário, que defende com muita paixão e dedicação?
Leandro:  Cuba é a minha segunda pátria, Ou, talvez...a primeira. Os meus primeiros contactos com Cuba datam de 1961, no primeiro ano da Revolução Cubana, tema que estou a preparar para uma próxima obra. Desde então tenho ido frequentemente a este país, onde me sinto tão à vontade como em Portugal. Tenho desenvolvido alguma actividade cultural, tendo estado presente no Festival Internacional de Teatro de Havana, dirigindo uma companhia de Holguin, a segunda cidade de Cuba, o Trevol Teatro, num texto de minha autoria, La Obscuridad Transparente, com base no julgamento dos 5 de Miami, sendo, a pedido do Ministério Cultural Cubano, o responsável por uma missão portuguesa que, pela primeira vez, representou o nosso país em Romarias de Mayo, o mais importante certame cultural da América Latina, que se realiza em Holguin.
PF: Hoje em dia valorizam mais os nomes que os talentos?
Leandro: INFELIZMENTE...É VERDADE...há muita cama à mistura…
PF: Qual é a sensação de conquistar as reacções e as emoções de uma plateia?
LeandroEmoções...Temos de encarar a situação vista por 2 ângulos: pelo lado profissional que nos dá muito gozo quando vemos o público estar connosco e nós passarmos para o lado do público. Por outro lado temos que dominar as emoções para que o vedetismo não suba à cabeça...
PF:  E no fim qual é o sentido da vida?
LeandroVIDA... A vida não é tão difícil como por vezes nos parece ser. Não terá grandes complicações se nós pensarmos que é uma passagem bem curta para podermos sonhar. Portanto o melhor será termos os pés bem assentes na Terra e sonharmos através dessa segurança, estando sempre preparados para mudar de caminho em qualquer esquina sem mentirmos a nós próprios.
Leandro  conta com um baú de memórias onde vamos encontrar mais de mil homenagens, prémios de encenação,, rádio, outras actividades e presenças em vários eventos, especialmente festivais de teatro, a níveis nacional e internacional     (Espanha, França, Suiça, Bélgica e Cuba) . Como últimas produções nestes últimos anos vamos encontrar 8 Dias nos 80 de Fidel, crónicas de viagem aquando da sua participação, como convidado especial nos oitenta anos de Fidel de Castro, Escritos do Palco, colectânea de sete textos teatrais editados pela Seara das Letras com o apoio da Sociedade Portuguesa de Autores, História do Pouca Terra e da Formiga Rabiga, texto apresentado no final de uma formação que o ano passado decorreu em Aviz, apresentado pela Poejo Editora e Cuba Meu Amor, um livro de poemas edição do autor, publicado em Dezembro, com o apoio da Embaixada de Cuba em Lisboa.
Com duas paixões, a rádio e o fado. Ficamos a saber depois da nossa "tertúlia" mais do que uma entrevista, que o actor Leandro Vale também canta fado. Talvez numa próxima tertúlia possamos ouvi-lo. 


Ler mais: http://www.portugalfantastico.com/products/leandro-vale-actor-encenador-radialista-escritor-e-jornalista/

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http://5l-henrique.blogspot.pt/2014/04/leandro-vale-vai-ser-homenageado-no.html

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14.06.2006

Leandro Vale faz 50 anos de carreira

Via JN
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=555358
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2ab2015
Via Sandra Coelho:

http://www.noticiasdonordeste.pt/2015/04/morreu-leandro-vale-actor-e-encenador.html#.VR2tdq6oaio.facebook
Morreu hoje Leandro Vale, um resistente que colocava em tudo o que fazia a sua marca de militante de esquerda. Ligado ao Partido Comunista, Leandro vale distinguiu-se como actor, escritor, dramaturgo e encenador. Foi um dos grandes impulsionadores da artes cénicas na região de Trás-o-Montes, tendo escolhido primeiro Bragança e depois Torre de Moncorvo, onde viveu até aos seus últimos dias. 
Leandro Vale nasceu em Travanca de Lagos, concelho de Oliveira do Hospital a 18 de Agosto de 1940. Formado pelo Conservatório de Lisboa, dedicou toda a sua carreira à promoção da actividade teatral fora dos grandes centros urbanos. Foi um dos Fundadores do CITAC (Circulo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra) em 1955 e trabalhou durante vários anos no Teatro Experimental do Porto. 
Para a televisão manteve ao longo de meio ano um programa semanal na RTP Açores. Além do teatro trabalhou também como jornalista e radialista e no cinema participou na longa-metragem “Sombra dos Abutres” do realizador Leonel Vieira. 

Escreveu quase 180 peças de teatro, das quais 102 chegaram a ser representadas. 

Ultimamente estabelecia uma relação artística com Cuba que considerava como a sua segunda pátria. Nesse âmbito desenvolveu alguma actividade cultural neste país , tendo estado presente no Festival Internacional de Teatro de Havana, dirigindo uma companhia de Holguin, a segunda cidade de Cuba, o Trevol Teatro, num texto de sua autoria intitulado “La Obscuridad Transparente”, baseado no julgamento dos 5 de Miami, um trabalho encomendado pelo Ministério Cultural Cubano. 


Leandro Vale foi ainda o responsável por uma missão portuguesa no mais importante certame cultural da América Latina. 

O actor e encenador que dedicou parte da sua carreira à dinamização e ao fomento da atividade teatral no Nordeste Transmontano deixou-nos hoje, dia  2 de Abril de 2015