17/02/2016

3.829.(17fev2016.7.7') Alípio de Freitas

Nasceu a 17fev1929
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Al%C3%ADpio_de_Freitas
Alípio Cristiano de Freitas ou Padre Alípio de Freitas (Bragança... é um jornalista e professor universitário português.
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https://www.facebook.com/FascismoNuncaMais/photos/a.559109110865139.1073741828.558291707613546/717195881723127/?type=3&theater
cresceu em Vinhais (Bragança, Trás-os-Montes). Foi padre e revolucionário. Exemplar pela sua coragem, humanidade e coerência. No Brasil esteve muitos anos preso e foi torturado até ao limite do imaginável.
Herói lendário do movimento camponês no Brasil, uma das inspirações da adolescência de muitos jovens em Portugal nos anos 70. A sua vida, aqui e no Brasil, é a de um cidadão do mundo que luta por ideais de justiça social e liberdade. Actualmente vive em Portugal e é promotor e dirigente de diversos movimentos sociais e associações cívicas.
1. Ordenado padre em 1952, cedo se apercebeu das injustiças sociais que lhe iriam determinar, durante toda a vida, uma corajosa e incansável luta. Logo a seguir à ordenação foi viver para junto dos pobres, na Serra de Montesinho e, cinco anos depois, aceitou um convite do arcebispo de Maranhão para viver no Brasil.
Chega a São Luís do Maranhão para trabalhar na Ação Católica. Homem culto, lecciona na faculdade, mas dá assistência a operários, desempregados e trabalhadores rurais. Choca-se com a miséria e a fome do povo maranhense. Decide viver como os mais pobres, comer como eles e, até, passar pela experiência da fome. «Eu já conhecia a pobreza, em Portugal, mas a miséria eu conheci no Maranhão».
Num subúrbio miserável de São Luís do Maranhão, fundou uma paróquia, uma escola, um posto médico. De início não celebrava missa, nem tão-pouco ia à missa, e depois quando o fez (em atenção ao arcebispo), era em português, no que se antecipava ao Concílio Vaticano II. Professor na Faculdade de Filosofia de S. Luís, mantinha actividade jornalística no «Jornal do Povo» e no «Jornal do Maranhão» e um programa diário na Rádio Timbira.
2. Em 1962 foi a Moscovo, ao Congresso Mundial da Paz, onde privou com Pablo Neruda, a Pasionaria e Kruchtchev. Quando regressou ao Brasil rompeu com a hierarquia da Igreja, abandonando o sacerdócio. Apoiou a candidatura de Miguel Arraes ao governo de Pernambuco, o que lhe valeu ser raptado pelo exército e detido durante 40 dias. À saída naturalizou-se brasileiro, foi para o Rio de Janeiro, viveu nas favelas, e ajudou a fundar as Ligas Camponesas, um movimento radical que, entre outras iniciativas, organizava ocupações de terras. Entretanto, assumiu o seu lugar nas Ligas Camponesas e foi eleito para a Secretaria Executiva da Frente de Mobilização Popular. O golpe militar de Março de 1964 apanhou-o no Rio. Participa das lutas armadas contra o regime militar; é preso e torturado.
Na sequência do golpe pediu asilo político no México, depois recebeu treino político-militar em Cuba e regressou clandestinamente ao Brasil em 1966. A partir daí percorreu o país de ponta a ponta, promovendo o movimento camponês.
3.Em Maio de 1970 era dirigente do Partido Revolucionário dos Trabalhadores quando foi preso. Logo depois, escreveu o livro Resistir é preciso. Sujeito à tortura do sono durante 30 dias, também ele resistiu. Foi na cadeia que ouviu pela rádio a notícia da Revolução de 25 de Abril em Portugal. Surpreendido, emocionou-se. Ali isolado, desconhecia a canção que José Afonso lhe dedicara. Só muito mais tarde pôde ouvir o álbum de José Afonso Com as Minhas Tamanquinhas que inclui a canção-homenagem com o nome Alípio de Freitas. (Ver em comentários a esta biografia)
Saiu da prisão em 1979, como apátrida. Em 1981 foi viver para Moçambique, num projecto com camponeses que foi visitado e elogiado por Samora Machel.
No livro O assalto ao poder e a sombra da guerra civil no Brasil, o autor, Carlos Amorim, aborda a resistência à ditadura militar e inclui a participação de Alípio de Freitas. Cita-o: "Trabalhadores, ontem vos ensinei a rezar e hoje aqui estou para ensiná-los a pegar em armas e lutar" e comenta: «Sem dúvida que era um homem corajoso e valente expressando-se desassombradamente, numa época em que todos tinham medo».
4. Ainda nos anos 80 regressou a Portugal. Entrou para a RTP, onde ficou até 1994, realizando com Mário Zambujal, Carlos Pinto Coelho e José Nuno Martins o programa Fim de Semana. Embora tenha continuado a passar por Moçambique e Brasil, vive em Portugal onde deu aulas livres de Economia Política, foi jornalista, estando ligado a diversos movimentos sociais e associações cívicas.
Em Lisboa foi fundador (1993-94) da Casa do Brasil de Lisboa. Fundador, em 2004, da Casa Grande do Brasil, no Seixal, associação que atende às necessidades e interesses das comunidades brasileiras na margem esquerda do Tejo (Almada e Seixal).. A partir de 1999 foi professor convidado na Universidade Lusófona de Lisboa. Membro do Tribunal Mundial do Iraque. Divulgador e promotor do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra em Portugal. Registou a associação Lisboa – Ponto de Cultura, com o objectivo de promover as relações interculturais na cidade de Lisboa.
Foi o primeiro presidente da Associação José Afonso.
Em 2005, o cineasta Caco Souza fez a premiada curta metragem “Resistir”, com o depoimento de Alípio de Freitas e de dois outros presos que conviveram com ele nas prisóes brasileiras.
É pai da cantora brasileira Luanda Cozetti.
HP
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http://www.unicap.br/webjornalismo/estilhacosdaverdade/site/?p=24
Como foi a vida do senhor após o dia 25 de julho de 1966?
Não posso precisar, mas não tenho memória de se ter passado nada de especial. Seguramente que continuei a fazer o que sempre fiz depois do meu retorno clandestino ao Brasil​, ou seja, organizar politicamente os camponeses, como vinha fazendo desde há vários anos.
Gostaria de dizer algo para as pessoas que o consideram mandante do Atentado?
​Não. Já disse que não tive nada a ver com o Atentado. ​ Você acha que se enquanto estive preso sujeito às piores torturas, se os militares sonhassem que eu tive a ver com o Atentado não se esforçariam por saber? Questionaram-me apenas uma vez, não sob tortura, e a minha resposta foi que sabia  aquilo que a Imprensa já tinha dito e o que eles mesmos sabiam. Nunca mais me questionaram. Quem tiver outra versão que a demonstre, mas não tente envolver-me, pois não estará a fazer um bom serviço para a escrita da História desses anos de chumbo.
Se fosse para escolher um sentimento que traduz o que o senhor sentiu na época qual seria?
​O que lhe posso dizer é que estando numa guerra contra a Ditadura, lamentei que a ação não tivesse atingido os seus objetivos. Claro que lamentei e ainda lamento as vítimas inocentes, mas são os acidentes das guerras. ​
E qual seria o sentimento hoje em dia?
​No contexto da guerra que estávamos travando​, profundamente injusta, com uma Ditadura cruel que perseguia, matava, torturava, fazia desaparecer quem não lhe obedecesse, todas as armas que pudessem ser utilizadas contra o estado em que se vivia eram legitimas. Neste momento, o que me interessa é que finalmente estamos começando a fazer justiça, embora muito devagar e sem atingir verdadeiramente os responsáveis, sem os desmascarar e punir como aconteceu e ainda acontece na Argentina. Não desejo vingança, apenas que se faça justiça.
 O senhor se arrepende de algo?
​Não, não me arrependo. Eu entrei nessa luta voluntária e conscientemente e entraria de novo se fosse necessário. Essa luta fez e faz parte da minha vida, da minha história, da minha ideologia e do sentimento de utopia que eu tenho para a humanidade. A minha motivação foi lutar pela dignidade do povo brasileiro, por uma sociedade livre, democrática, com justiça social, que só agora começa a vislumbrar-se. Felizmente já começa a vislumbrar-se e ainda bem que estou vivo para ver esse caminho a começar se fazendo. Por isso, acho que a minha luta e a  dos meus companheiros não foi uma guerra perdida, não foi em vão, apesar de todos os sacrificados.​ Está a ser ganha passo a passo.
Como o senhor analisa o papel da imprensa na época do Atentado?
​Como não existia liberdade de imprensa, esta referiu-se sumariamente ao caso, até porque não podendo investigar, só poderia supor, o que não é uma boa forma de fazer informação. ​É do que me lembro.
E dos órgãos governamentais, como o senhor os analisa?
Procederam de acordo com a sua ideologia e seus propósitos. Foram coerentes consigo mesmos. Nem outra coisa seria de esperar. ​
Deseja dizer algo que ainda não disse nesses anos?
​Não, porque não há nada a acrescentar. ​
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Livro digitalizado:
resistir é preciso
http://www.dhnet.org.br/verdade/resistencia/livro_alipio_de_freitas_resistir_e_preciso.pdf
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http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/2015/12/alipio-de-freitas-rtp2-hoje-pelas-2130.html
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Documentário sobre Alípio de Freitas

Para lá da personagem que lutou, o filme é um espaço de encontro e diálogo com a pessoa de Alípio que continua ainda hoje a combater, porventura usando ferramentas diferentes, mas movido pela mesma perseverança.Em Portugal era padre, no Brasil foi revolucionário. Alípio de Freitas mudou-se de Bragança para São Luís do Maranhão em 1957. Deixou a pobreza para viver no meio da miséria. O golpe militar de 1964, que depôs João Goulart, afastou o padre português da igreja e aproximou-o dos comunistas. Zeca Afonso dedicou-lhe uma canção, depois de ele ter sido preso e torturado em 1970. O realizador Tiago Afonso ouviu as suas memórias e os seus ideais. Alípio continua a combater, mas agora usa outras armas.

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17fev2014
postei:
Hj é dia de Alípio de Freitas...85 anos...
Zeca enalteceu a sua firmeza!!!
https://www.youtube.com/watch?v=IXNLoTKo4Hw
Baía de Guanabara
Santa Cruz na fortaleza
Está preso Alípio de Freitas
Homem de grande firmeza
Em Maio de mil setenta
Numa casa clandestina
Com campanheira e a filha
Caiu nas garras da CIA
Diz Alípio à nossa gente:
"Quero que saibam aí
Que no Brasil já morreram
Na tortura mais de mil
Ao lado dos explorados
No combate à opressao
Nao me importa que me matem
Outros amigos virao"
Lá no sertao nordestino
Terra de tanta pobreza
Com Francisco Juliao
Forma as ligas camponesas
Na prisao de Tiradentes
Depois da greve da fome
Em mais de cinco masmorras
Nao há tortura que o dome
Fascistas da mesma igualha
(Ao tempo Carlos Lacerda)
Sabei que o povo nao falha
Seja aqui ou outra terra
Em Santa Cruz há um monstro
(Só nao vê quem nao tem vista
Deu sete voltas à terra
Chamaram-lhe imperialista
Baía da Guanabara
Santa Cruz na fortaleza
Está preso Alípio de Freitas
Homem de grande firmeza
Via face de José Fanha

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10152184527470053&set=a.141354725052.111668.599345052&type=3&theater
Esteve 10 anos preso no Brasil, 5 anos a ser torturado.
É um irmão grande, um homem bom, um pai que eu gostava de ter tido.
Quem se lembra do Zeca a cantar o nome do Alípio?
"Baía da Guanabara
Santa Cruz da Fortaleza
está preso Alípio de Freitas
homem de grande firmeza."