04/03/2016

3.259.(4mar2016.8.8') Fialho de Almeida

Nasceu a 7maio1857
e morreu a 4mar1911
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Inês Rodrigues:
https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/17579/1/Tese%20Ines%20Rodrigues_Fialho.pdf
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"Os Gatos", ele terá mesmo demonstrado, no seu prefácio, a sua forma de estar na vida e literatura: "miando pouco, arranhando sempre e não temendo nunca".

http://omensageirodavidigueira.blogspot.pt/2013/07/fialho-de-almeida-um-erudito-de-vila-de.html
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http://bdalentejo.net/BDAObra/BDADigital/Obra.aspx?ID=294
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https://lusografias.wordpress.com/2008/08/31/fialho-de-almeida-o-critico-e-o-gato/
excerto:
” MEUS SENHORES,
AQUI ESTÃO OS GATOS!
Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, e fez o crítico à semelhança do gato.
Ao crítico deu ele, como ao gato, a graça ondulosa e o assopro, o ronrom e a garra, a língua espinhosa e a câlinerie. Fê-lo nervoso e ágil, reflectido e preguiçoso; artista até ao requinte, sarcasta até à tortura, e para os amigos bom rapaz, desconfiado para os indiferentes, e terrível com agressores e adversários. Um pouco lambeiro talvez perante as coisas belas, e um quase nada céptico perante as coisas consagradas; achando a quase todos os deuses pés de barro, ventre de jibóia a quase todos os homens, e a quase todos os tribunais, portas travessas. Amigo de fazer jongleries com a primeirra bola de papel que alguém lhe atire, ou seja um poema, ou seja um tratado, ou seja um código. Paciente em aguardar, manso e pagado, com um ar de mistério, horas e horas, a surtida de um rato pelos interstícios de um tapume, e pelando-se, uma vez caçada a presa, por fazer da agonia dela uma distracção; ora enrolando-a como um cigarro, entre as patinhas de veludo; ora fingindo que lhe concede a liberdade, atirando-a ao ar, recebendo-a entre os dentes, roçando-se por ela e moendo-a, até a deixar num picado ou num frangalho.
Desde que o nosso tempo englobou os homens em três categorias de brutos, o burro, o cão e o gato – isto é, o animal de trabalho, o animal de ataque, e o animal de humor e fantasia – porque não escolheremos nós o travesti do último? É o que se quadra mais no nosso tipo, e aquele que melhor nos livrará da escravidão do asno, e das dentadas famintas do cachorro.
Razão porque nos acharás aqui, leitor, miando pouco, arranhando sempre, e não temendo nunca.”
Prefácio de Os Gatos
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Via Citador

José Valentim Fialho de Almeida

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/jose-valentim-fialho-de-almeida
Instruir, salubrizar, enriquecer... Nenhuma obra de governo forte pode assentar sobre aquisições que não sejam as derivadas próximas destes postulados máximos e extremos.
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A liberdade só é dom precioso quando estejam os povos feitos para ela. Dar a um semibárbaro instintivo as regalias de um ser culto e consciente, é pôr a civilização na contingência de um regresso brutal à barbárie.
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Um cínico disse: só os imbecis se portam bem. E eis aí uma verdade universal.
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Em países cultos e com uma noção definida de liberdade, república e monarquia constitucionais são tabuletas anunciando uma só mercadoria.
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Civilizado ou embrutecido, todo o homem é presa de duas forças rivais que constantemente se investem e disputam primazias. Uma, que o reporta ao passado e lhe transmite por hereditariedade as ideias, hábitos e modos de ser e de ver dos antecessores. Outra, evolutiva, que adapta o indivíduo aos meios novos, e não cuida senão de o renovar e transformar rapidamente. A vida humana não é mais que o duelo entre duas forças antagónicas.
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100 anos depois
https://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/4904/3/livro_FAlmeida%5B2%5D.pdf
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http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=185
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Fialho de Almeida, um Escritor de Transição
http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=1&doc=7226&mid=2
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fialho_almeida
http://www.bnportugal.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=687:mostra-a-biblioteca-de-um-escritor-finissecular-fialho-de-almeida-1857-1911-16-jan-2012&catid=162:2012&Itemid=723

A biblioteca de um escritor finissecular: Fialho de Almeida (1857-1911)

MOSTRA | 16 Janeiro – 29 Março 2012 | Sala de Referência | Entrada livre

José Valentim Fialho de Almeida, nascido no seio de uma modesta família de Vila de Frades, de onde cedo partiu para a boémia lisboeta repartida com uma extensa actividade jornalística, retornou abastado ao Alentejo natal para morrer na vila de Cuba.

De permeio, o jovem José Valentim estudou num colégio da capital, passando depois «sete anos de emplastros e de pílulas» numa botica farmacêutica, enquanto não concluía, com mediocridade, os «cursos científicos» em Medicina que nunca veio a exercer. Na vida adulta, Fialho de Almeida penetrou o mundo das letras e da sociedade culta na capital de um Reino que fustigou, como de uma República que veio a rejeitar, usando «uma pena donde continuamente espirravam revoltas».

Personalidade complexa, se não contraditória, o escritor deixou uma obra desigual ou fragmentária, mas de importância literária incontornável no século XIX português, mercê de uma prosa finalmente reconhecida pelos seus pares no século XX. Escreveu, conforme autobiografou, com «a necessidade que há de escrever como se pensa e como se fala, límpido, claro, brutal, simples e certo, veemente ou plácido segundo o veio d’água do assunto, precipitado ou espraiado, consoante o temperamento emotivo de quem escreve, e sincero sempre, arrancado d’alma».

Mundano, com um olhar sociológico abundante nos textos de crítica e crónica que dispersou em jornais, numa época de viragem na história portuguesa, foi um exemplar típico do intelectual finissecular, cuja biblioteca particular, objecto de doação à Biblioteca Nacional, é uma fonte de estudo desafiante na ocasião do centenário da morte.

fialho_b-3840-vNa sequência do legado da livraria particular do escritor à Biblioteca Nacional, cujo Catálogo Geral a instituição concluiu e publicou em 1914, foi criada uma Sala Fialho de Almeida com as estantes do escritor, conforme política então seguida por Júlio Dantas, na qualidade de Inspetor das Bibliotecas Eruditas e dos Arquivos.

O estudo desse acervo bibliográfico pode constituir uma análise de caso, não apenas no sentido de aferir as múltiplas influências literárias sobre a sua obra numa época em que, aos romantismos tardios ou requentados, se sobrepusera um naturalismo rapidamente em crise, os decadentismos de fim-de-século ou ainda prenúncios de vanguarda no mesmo pé que os primeiros sintomas da literatura massificada, mas também avaliar a diversidade como a particularidade de interesses de um escritor como o autor d’Os Gatos, e ainda dar fé do pensamento intelectual português e europeu na transição do século XIX para o século XX, incluindo os domínios da ciência e das técnicas, da organização social e económica, das correntes políticas como artísticas.

A presente mostra bibliográfica procura potenciar esse objeto de análise, sugerindo modos de leitura do bibliófilo e relevando algumas das parcelas dessa biblioteca como instrumento do seu utilizador, exemplo de uma cultura de elite.