14/04/2016

8.250. (14ab2016.18.3') M.S. Lourenço

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Manuel António dos Santos Lourenço

Nasceu a 13maio1936
e morreu a 1ag2009
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Bibliografia

https://www.wook.pt/autor/ms-lourenco/999927
Wook.pt - O Caminho dos Pisões
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http://www.publico.pt/portugal/jornal/morreu-ms-lourenco-o-filosofo-e-poeta-notavel--que-portugal-nao-chegou-a-conhecer-17458333
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http://www.infopedia.pt/$m.s.-lourenco
Professor universitário, de nome completo Manuel António dos Santos Lourenço, nascido a 13 de maio de 1936, em Sintra, doutorou-se na Faculdade de Letras de Lisboa com uma tese sobre Wittgenstein - autor cujas obras também traduziu - e dirigiu Disputatio: revista semestral de filosofia analítica (1996). Tendo pertencido a um grupo de intelectuais católicos que visaram, entre os anos 50 e 60, uma renovação da Igreja portuguesa, e a cuja iniciativa se deveu, entre outros projetos, a edição da revista O Tempo e o Modo, os primeiros volumes de poesia de M. S. Lourenço conjugam a intertextualidade bíblica com o "influxo do surrealismo", visível na "mistura do elevado e do trivial, a aproximação de planos aparentemente inconciliáveis, o "humor", a "irreverência" e o anticonvencionalismo" (cf. MARTINHO, Fernando J. B. - Tendências Dominantes da Poesia Portuguesa da Década de 50, Lisboa, Colibri, 1996, p. 420). A conjugação desconcertante de um sentido profundamente religioso do universo e de um vanguardismo, próximo de tendências experimentalistas reveladas nos anos 60 e reforçado por um ludismo que se insinua no gosto pelos contrastes, pela sintaxe elíptica, pelo insólito, pelo antilirismo, e, a nível formal, pela combinação de géneros e de fontes, confirma este autor como uma das vozes mais originais e densas da poesia portuguesa contemporânea.
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Ant%C3%B3nio_dos_Santos_Louren%C3%A7o
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http://leitordeprofissao.blogspot.pt/2009/08/ms-lourenco-os-degraus-do-parnaso.html

SEGUNDA-FEIRA, 3 DE AGOSTO DE 2009


M.S. LOURENÇO: OS DEGRAUS DO PARNASO


Abro o jornal do dia e, numa discretíssima página onze - como tão discreta foi a sua vida pública ou o público reconhecimento do seu trabalho filosófico ou poético -, leio e tomo consciência de que morreu M. S. Lourenço, que teria sido, segundo o título feliz, «o filósofo e poeta "notável" que Portugal não chegou a conhecer».

M. S. Lourenço foi meu bizarro professor, na Universidade de Lisboa, da cadeira de Lógica, uma disciplina com a qual nunca me dei muito bem academicamente. «Nem na vida», costuma acrescentar um amigo que não valoriza especialmente a lógica dos actos ou decisões que tomo.

Enquanto professor de filosofia, M. S. Lourenço tinha dificuldade em criar empatia com aquela numerosa assembleia de alunos reunidos num anfiteatro: usava um tom inaudível, colocava-se muitas vezes de costas para nós, murmurando mais do que falando, escrevendo continuamente, no quadro, já me não lembro que vertiginosas demonstrações segundo as leis de Leibniz. Mais do que a lógica que vinha explicar-nos, fixava-lhe a indumentária entre o discreto e o exuberante, se é que isto faz algum sentido: fato negro, de corte simples, mas sobre camisas de punhos e golas com folhos, por exemplo, que o próprio Rei Sol não desdenharia.

Descobri-o com gosto e interesse mais tarde, muito mais tarde. O culpado da redescoberta foi um objecto único, incomparável, quase secreto, resguardado da profanação de mãos ávidas, esperando por uns quantos eleitos que o respeitassem devidamente. Ou seja, aquilo a que, com propriedade, poderíamos chamar um «objecto de culto». Esse objecto de culto é um livro. O seu nome é Os Degraus do Parnaso.

Reunindo, em 1991, a sua colaboração para oColóquio/letras e, principalmente, para o jornalIndependente, este livro, que trato como um invulgar objecto de Arte, síntese perfeita de erudição e elegância de estilo, misto de ensaio, crítica e crónica, tem o dom de (e)levar o leitor numa viagem ou numa sucessão de viagens em que o saber e a reflexão não pesam, em que nunca são excessivas nem inoportunas as visitas aos mais diversos autores e obras da humanidade, da filosofia, da poesia ou do romance à pintura e à música; convivendo com Kant, Eça, Baudelaire, Verlaine, Cesário, Proust, Rilke, Nietzsche, Pessanha, Pound, Pessoa, Coleridge, Wilde, Wittgenstein, Mann, Duras, Hals, Moreau, Beardsley, Klimt, Beethoven, Wagner, Berlioz, Paganini, Brahms, Schönberg, Stockhausen, entre muitos; ou visitando as personagens daqueles que, entre estes, eram escritores e as criaram, personagens a que M. S. Lourenço se refere como se fossem de carne e osso (consciente de que de algum modo o são): Salomé e Flávia, Harold, Fradique, a viúva de Pacheco, Swann, a duquesa de Guermantes, Bergotte, Adrian Leverkühn, a sra. Von Tümmler; ou, por fim, evocando pessoas efectivamente de carne e osso que se lhe foram cruzando na vida, intrigantes e nem sempre congruentes: as prostitutas do Cacém (porque as via de caminho, não porque as frequentasse...), o escultor Paulo Espada, o major Capelo, o capitão Jorge Pais...

Foi-me grato descobrir este insuspeitado (na altura, para mim) interesse pela estética por parte de um professor de lógica, aparentemente fechado e desprovido de emoções. O seu exaustivo conhecimento da música leva a um convite, a ela ligado e que perpassa por todas as páginas: um retorno à grandeza e ao poder do ouvido e da escuta como formas privilegiadas de compreensão do universo. Porque o ouvido teria vindo a ser praticamente recalcado por esta civilização, que lhe preferiu desde cedo o «olhar»: é uma teoria muito forte, que reconduz aos pitagóricos, os quais sabiam muito bem que a música é, mais do que diversão, um caminho para a verdade: a «escuta» pode ser tão ou mais importante do que o «ver» no desvendar do segredo do mundo.
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UMA ANÁLISE IMPRESSIONANTE...
https://phala.wordpress.com/2010/12/16/a-edicao-de-%C2%ABo-caminho-dos-pisoes%C2%BB-de-m-s-lourenco/
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http://triplov.com/helena/2009/MS-Lourenco.html
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Sintra...
http://www.e-cultura.sapo.pt/artigo/5679
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via: http://canaldepoesia.blogspot.pt/2013/12/m-s-lourenco-alfa.html
I

flutuo
no ar
esguelho sobre um dos lados
oblíqua em baixo uma superfície
lateral uma paisagem aberta
interior exterior
fronteira a separá-las
no centro palavras desligadas
juntas às vezes
a escorregar no sentido a frase
deslisa num vento
um remoinho no nó sintáctico
(voltar com barras a ligá-las!)
corpos cá dentro chove
alheios olham a corrente

troncos de árvore lamacenta
desço até terra firme
sem molde orgânica ou padrão
ou motus animi continuus
as pás rodam

ou esquema nublado de uma rima
um metro regular
a frase solta aponta para fora
move-se o verbo
sem avistar as outras partes

toco o chão pulveriza-se o sentido
poeira e chuva invadem o meu casaco
saltam as cabras pobre poeta
destruo os telhados com o vento
fugiram há muito alguns traços

escondidos para lá da aldeia
levanto procuro leste
sem sentido ainda
a proposição no seu conjunto
ocasional ao fundo um arco-íris

arte combinatória
1971
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http://meianoitetododia.blogspot.pt/2010/11/um-poema-de-ms-lourenco.html
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Via Graça Silva: 
Um Outono de Chuva
III Foi a tua vontade. Mas agora sorri, Mesmo que os montes & a serra te apertem. Não pares. O rio salpica as margens, Hoje de cobre & até ao fundo, Onde a própria Terra jaz morta. Mas agora toca-me na cara Mesmo no teu voo da noite, Poupando-me ao Inverno. Para ti abro agora um espaço novo, Num silêncio crepuscular: os pássaros calaram-se, Para te restituir a música da chuva. em Nada Brahma, Lisboa: Assírio & Alvim, colecção Cadernos Peninsulares/Literatura, 1991, p. 47.