Nasceu a 28nov1936
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19fev2017
http://www.abrilabril.pt/internacional/raduan-nassar-vivemos-tempos-sombrios-muito-sombrios
Entrega do Prémio Camões
Raduan Nassar: «Vivemos tempos sombrios, muito sombrios»
A cerimónia de entrega do Prémio Camões ao brasileiro Raduan Nassar, na sexta-feira, ficou marcada pelas duras críticas que o escritor dirigiu, na sua intervenção, ao Governo golpista e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Raduan Nassar, considerado um dos maiores escritores vivos da língua portuguesa e a quem o júri do Prémio Camões 2016 atribuiu a distinção por unanimidade, em Maio do ano passado, recebeu ontem o prémio, em São Paulo. No decorrer da cerimónia, Nassar fez uma leitura muito crítica do actual cenário brasileiro: «Vivemos tempos sombrios, muito sombrios», disse.
Referiu-se, em seguida, a uma série de episódios que marcam a governação de Michel Temer (PMDB): «Invasão na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo; invasão na Escola Nacional Florestan Fernandes; invasão nas escolas de ensino médio em muitos estados; a prisão de Guilherme Boulos, membro da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; violência contra a oposição democrática ao se manifestar na rua. Episódios perpetrados por Alexandre de Moraes».
Não se ficaram por aqui as referências a Moraes, ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, durante governo de Geraldo Alckmin (PSDB), e ministro da Justiça do Governo Temer, indicado por este para ocupar uma cadeira no STF. O escritor caracterizou-o como uma «figura exótica» e acusou-o de, «com curriculum mais amplo de truculência», ter propiciado também, «por omissão, as tragédias nos presídios de Manaus e Roraima».
O discurso foi contundente. «Os fatos configuram por extensão todo um governo repressor: contra o trabalhador, contra aposentadorias criteriosas, contra universidades federais de ensino gratuito, contra a diplomacia ativa e altiva de Celso Amorim [ex-ministro dos Negócios Estrangeiros]. Governo atrelado por sinal ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração da riqueza, o que vem desgraçando os pobres do mundo inteiro», afirmou.
Conhecido pela sua oposição à destituição de Dilma Rousseff, Raduan Nassar dirigiu-se em particular ao STF, criticando-o pelo papel assumido. «É esse o Supremo que temos, ressalvadas poucas exceções. Coerente com seu passado à época do regime militar, o mesmo Supremo propiciou a reversão da nossa democracia: não impediu que Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados e réu na Corte, instaurasse o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Íntegra, eleita pelo voto popular, Dilma foi afastada definitivamente no Senado. O golpe estava consumado! Não há como ficar calado», disse. (O discurso pode ser lido na íntegra em Carta Capital).
Ministro irritado
Adivinhando-se, porventura, que o discurso não seria «mole», o protocolo seguiu um rumo diverso, que possibilitou ao ministro da Cultura, Roberto Freire, discursar depois do homenageado – quando o costume é ser este a ter a palavra final. Visivelmente irritado, Freire disse que o governo de que faz parte é democrático. «Não existe nenhuma confusão em relação ao momento democrático que vive o Brasil», disse, seguido de risos e vaias da assistência. «É um humorista!», disse um dos presentes, segundo revela o Brasil de Fato.
Para o Freire, o escritor devia ter recusado o prémio, que foi instituído pelos governos de Portugal e do Brasil em 1988. E, por entre os protestos dos presentes, sublinhou que não se tratou «apenas de um reconhecimento», mas de um «prémio concreto», «dado pelo governo democrático brasileiro».
O Brasil de Fato indica que algumas pessoas o interromperam, afirmando que aquele era o dia de Raduan e «não de publicidade do Governo Temer». A Folha de São Paulo refere ainda que, à saída, Freire chamou idiota a um professor da Universidade de São Paulo que o acusara de não estar «à altura do evento».
Escritor distinguido
Com três livros publicados – os romances Lavoura Arcaica (1975)
e Um Copo de Cólera (1978) e o livro de contos Menina a Caminho (1994) –, Raduan Nassar, de 81 anos, é há muito considerado pela crítica como um dos grandes nomes da literatura brasileira, sendo comparado a escritores da grandeza de Guimarães Rosa, a título de exemplo.
No final de Maio de 2016, o Prémio Camões foi atribuído, por unanimidade, a este filho de imigrantes libaneses, nascido no estado de São Paulo. Nassar tornou-se, assim, o 12.º brasileiro a receber aquele que é considerado o mais importante prémio literário destinado a autores de língua portuguesa. Na altura, o júri destacou «a extraordinária qualidade da sua linguagem» e a «força poética da sua prosa».
Os seus romances alcançaram sucesso a nível internacional logo na primeira metade dos anos 80, com as traduções para francês, castelhano e alemão, mas, tal como sublinha o Público numa peça publicada a 30 de Maio do ano passado, a sua obra tornou-se bastante mais popular com a adaptação cinematográfica de Um Copo de Cólera, em 1999, e de Lavoura Arcaica, em 2001.
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http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/11/1711579-diante-da-verborragia-raduan-nassar-educa-pelo-rigor-do-silencio.shtml
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entrevista
"É com as boas teorias, ou nem tanto, que se faz a má literatura", afirma Nassar, parodiando André Gide.
http://www.blogdoims.com.br/ims/entrevista-com-raduan-nassar-2
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"Conversar é muito importante, meu filho,
toda palavra, sim, é uma semente"
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O projeto era escrever, não ia além disso. Dei conta de repente de que gostava de palavras, de que queria mexer com palavras. Não só com a casca delas, mas com a gema também. Achava que isso bastava.
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Trabalhei um pouco, com sons, grafias, sintaxes, pontuação, ritmo etc. Se em função disso tudo cheguei às vezes a violentar a semântica de algumas palavras, por outro lado trabalhava também com aquelas coordenadas em função dos significados. Era um trânsito de duas mãos, uma relação dinâmica entre os dois níveis.
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Acho que não adianta forjar uma escora metafísica para aquela postura, como arrolar a estética disso ou a estética daquilo, porque no fundo o caso daquela tendência seria mesmo de inaptidão pra reflexão existencial. Agora, a casca das palavras, da proposta antidiscursiva, como a laranja que se passa num espremedor, certamente que não excluía resíduos de significados. Fosse então o caso de forjar uma escora, quando muito se poderia falar na estética do bagaço. Não vai aí qualquer conotação pejorativa, é só uma tentativa de adequação vocabular. Entre usar bagaço ou palavras em toda sua acepção possível, cada escritor que fizesse a sua escolha.
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Suponho que já deixei claro que trabalhar com a casca não excluía um trabalho com a gema também. E depois, vai que o poético se realiza no plano conceitual, sem que os poetas precisassem suar tanto a camisa com seu trabalho antidiscursivo, e com a árdua incorporação do espaço em branco como valor literário.
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http://alexandregaioto.blogspot.pt/2013/09/o-silencio-de-raduan-nassar.html
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http://www.dn.pt/artes/interior/raduan-nassar-vence-premio-camoes-de-2016-5200633.html
Raduan Nassar é o escritor da língua portuguesa escolhido pelo júri como vencedor do Prémio Camões de 2016. O autor brasileiro está longe da ribalta há muitos anos, vivendo recluso numa quinta. Entre os poucos romances publicados destaca-se Lavoura Arcaica.
A escolha do seu nome surpreende devido à sua ausência da vida literária há duas décadas, mesmo que tenha sido um dos 13 finalistas da recente edição do Prémio Man Booker Internacional, onde, a par do angolano José Eduardo Agualusa, eram as duas únicas vozes de língua portuguesa.
A sua obra está publicada em Portugal pelas editoras Cotovia e Relógio D'Água, respetivamente A Menina a Caminho na primeira e O Copo de Cólera e Lavoura Arcaica na segunda, e é considerada uma das mais importantes da literatura brasileira contemporânea.
A atribuição do Prémio Camões a Nassar interrompe a habitual rotatividade entre autores de língua portuguesa. No ano passado foi a portuguesa Hélia Correia, no ano anterior ao brasileiro Alberto da Costa e Silva e antes ao moçambicano Mia Couto. Esperava-se por isso que esta edição distinguisse a carreira literária de um escritor africano. Uma rotatividade que não é oficial e que já antes tinha sido alterada.
O nome foi anunciado esta segunda-feira, numa conferência de imprensa com o secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, e o júri desta 28.ª edição do concurso.
No ano passado a vencedora foi a portuguesa Hélia Correia e, em 2014, o prémio foi atribuído ao historiador e ensaísta brasileiro Alberto da Costa e Silva.
O Prémio Camões foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1988, para "consagrar anualmente um autor de língua portuguesa que, pelo valor intrínseco da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum".
Foi atribuído pela primeira vez em 1989, ao escritor Miguel Torga (1907-1995) e entre os 27 distinguidos há 11 portugueses e 11 brasileiros, tendo já sido também distinguidos um autor cabo-verdiano, Arménio Vieira, de 75 anos, em 2009, dois angolanos - Luandino, em 2006, e Pepetela, de 74 anos, em 2006 -, e dois moçambicanos, José Craveirinha (1922-2003), em 1991, e Mia Couto, de 61 anos, em 2013.