07/06/2016

2.170.(7jun2016.7.7') Júlio Dantas

19maio1876
 nasce em Lagos
e morreu em 25maio1962
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Via Citador

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/julio-dantas
A vida é uma vertigem.
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Não há nada que valha a dignidade do silêncio.
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Ser honesto é vestir uma roupa de estrelas.
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O homem é um animal essencialmente infiel.
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A melhor maneira de ser grande é fazer-se entender pelos pequenos.
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Uma mulher é sempre uma interrogação.
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O maior defeito da mulher é o homem.
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Pode secar-se, num coração de mulher, a seiva de todos os amores; nunca se extinguirá a do amor materno.
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A mulher que se beijou e não se teve, que se adivinhou e não se possuiu, transforma-se para nós numa obsessão, numa preocupação doentia.
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As mulheres não se dão ao trabalho de justificar e de analisar as suas afeições.
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Todas as mulheres que amam se parecem, e todas as mulheres que mentem, mentem da mesma maneira.
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Só permanecem na mulher as modas que agradam aos homens.
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Não há felicidade no casamento, quando a mulher não reconhece a superioridade do marido.
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Se as mulheres bonitas tivessem todos os amantes que lhes atribuem, não havia maior castigo do que a beleza.
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O amor, como a vida inteira, está cheio de lugares-comuns.
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Querer que uma mulher ame toda a vida, é tão absurdo como querer que a Primavera dure todo o ano.
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Quem encontrar na vida o verdadeiro amor, deve escondê-lo, longe do mundo, como um tesouro.
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O amor não é uma futilidade ou um divertimento; é um sentimento profundo, que decide de uma vida. Não há o direito de o falsificar.
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Antes de se amar profundamente, não se viveu ainda; e, depois, começa-se a morrer.
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O que foi sempre o amor senão a mais dolorosa, a mais voluptuosa das mentiras?
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Todo o bem que se realiza é uma ventura que se perdeu.
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A boca, é nas mulheres, a feição que menos nos esquece.
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A arte infiltra tudo, vive de tudo. Mas onde ela é maior, é precisamente onde menos se vê.
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A mocidade, quando ama, não tem exigências que não sejam as do próprio amor.
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Um livro mau e uma amiga íntima são os piores inimigos de uma mulher.
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Os bons livros que têm o direito de viver, defendem-se e justificam-se por si próprios.
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A primeira condição para se escrever de literatura, é saber dar a impressão de que se escreve sem literatura.
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A liberdade, afinal, só serve na vida para nos dar o prazer de nos desfazermos dela.
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A inteligência e a vivacidade da mulher afugentam de ordinário os homens medíocres, cujo orgulho de posse prefere, à beleza vivaz e raciocinadora, a beleza triste, passiva, submissa e silenciosa.
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Toda a cautela é pouca com imaginações sempre prontas a voar para a região dos sonhos dourados.
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As mulheres que atravessam a zona perigosa dos quarenta anos nunca se consideram felizes.
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Todas as mulheres têm na vida uma hora perigosa. Essa hora decide da sua existência inteira. É a hora do Diabo. É o instante de fragilidade em que sucumbem para sempre, ou em que para sempre se salvam.
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A mulher só ama quando admira; para amar um homem precisa de se sentir inferior a ele.
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Procura ser tão gentil com a tua mulher como no tempo que a conquistaste.
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As mulheres podem bem não conhecer os homens; mas conhecem-se bem umas às outras.
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O amor nasce de quase nada e morre de quase tudo.
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Como a nossa fragilidade o concebe e o pratica, o amor é um sentimento essencialmente incómodo. Mal dois olhares se trocam e duas mãos se enlaçam, vem logo a tragédia das suspeitas, dos ciúmes, das zangas, das recriminações, estragar momentos que deviam ser os mais belos, os mais alegres, os mais despreocupados da vida.
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A velhice é um simples preconceito aritmético, e todos nós seríamos mais jovens se não tivéssemos o péssimo hábito de contar os anos que vivemos.
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Entre um homem moço e uma mulher bonita, a amizade pura, a amizade intelectual é impossível. O homem e a mulher são, fundamentalmente, irredutivelmente, inimigos. Só se aproximam para se amar - ou para se devorar.
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O amor, para ser belo, não precisa de ser eterno.
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Na sua fúria de masculinização, a mulher começou por nos encantar, e, estejamos certos, há-de acabar por nos bater.
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Plagiar, é implicitamente, admirar.
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É nas velhas casas, onde parece flutuar ainda a penumbra dourada do passado, que se recebe, mais perdurável e mais viva, a impressão da família e do lar.
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A felicidade é qualquer coisa que depende mais de nós mesmos, do que das circunstâncias e das eventualidades da vida.
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São tão imensamente grandes, tão paradoxalmente violentos certos amores, que atingem a expressão terrível do ódio.
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A mocidade é uma corrida vertiginosa: colhemos a flor da vida; mas, tão rápida é a nossa carreira, que mal temos tempo para lhe aspirar o perfume.
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Não são as mulheres muito inteligentes que despertam as maiores paixões. A inteligência tem qualquer coisa de ágil, de másculo, de irritante, que repele a sensualidade misteriosa do homem.
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O bem que se deseja só existe enquanto o vemos de longe; e toda a felicidade sonhada desaparece para nós no momento em que julgamos possuí-la.
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Não há como os imitadores para nos fazerem sentir o que existe de mau na obra de um escritor ilustre.
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Para se ser rigorosamente bem-educado, não basta que não nos metamos na vida dos outros; é preciso que deixemos os outros meterem-se na nossa.
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in "Páginas de Memórias"

O Progresso Aumenta a Vida e a Morte


Não desconheço que a velhice constitui, em grande parte, um preconceito aritmético, e que o nosso maior erro consiste em contar os anos que vivemos. Com efeito, tudo nos leva a supor que a Natureza dotou o homem (não falo já nas longevidades da Bíblia) de vida média mais longa do que aquela que as estatísticas demográficas acusam, e que, se morremos antes do termo normal da existência, é porque sucumbimos, não a «morte natural» (a «morte fisiológica», de Metchnickoff), mas a «morte violenta», que é a morte por acção destrutiva dos germes patogénicos. Como quer que seja, porém, parece-me incontestável que o homem envelhece antes do tempo e morre, em geral, quando ainda não chegou a meio do caminho da vida.

Será o engenho humano capaz de opôr uma barreira à marcha inexorável da decrepitude? Talvez. O nosso organismo é uma máquina; gasta-se, como todas as máquinas; e, por milagre da Natureza, ainda é aquela que, funcionando permanentemente, consegue durar mais tempo. Contentemo-nos com a ideia de que o homem de hoje vive mais do que vivia na Antiguidade clássica e na época medieval, mercê do progresso das técnicas, do conforto moderno da existência, da observação dos preceitos que a higiene, a ortobiose e a própria gerontologia (que quer ser uma ciência) prudentemente lhe aconselham. Vive, e viverá - bem entendido, se o deixarem. No regime, em que nos encontramos, de sucessivas guerras totais, se é certo que aumentam, em progressão aritmética, os recursos da ciência para prolongar a vida, - cresce, em progrssão geométrica, o esforço da humanidade para apressar a morte. 
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A Ilusão da Consistência da Obra do Escritor


O homem não é permanentemente igual a si mesmo. A velha concepção dos carácteres rectilíneos e das mentalidades cristalizadas em sistemas imutáveis abriu falência. Tudo muda, no espaço e no tempo. Para um organismo vivo, existir - mesmo no ponto de vista somático - é transformar-se. Quando começamos cedo e envelhecemos na actividade das letras, não há um nós apenas um escritor; há, ou houve, escritores sucessivos, múltiplos e diversos, representando estados de evolução da mesma mentalidade incessantemente renovada. Ao chegar a altura da vida em que a estabilização se opera, olhamos para trás, e muitas das nossas próprias obras parecem-nos escritas por um estranho, tão longe se encontram já, não apenas dos nossos processos literários, mas do nosso espírito, das nossas tendências, da nossa orientação, dos nossos pontos de vista éticos e estéticos.
Nesse exame retrospectivo, por vezes doloroso, se de algumas coisas temos de louvar-nos - obras a que a nossa mocidade comunicou a chama viva do entusiasmo e da paixão -, de outras somos forçados a reconhecer a pobreza da concepção, os vícios da linguagem, as carências da técnica, e tantas vezes (poenitet me!) as audácias, as incoerências, as injustiças, as demasias, a licença de certas pinturas de costumes e o erro de certas atitudes morais. É preciso começar - bem o sei - na literatura como na vida. Il faut que jeunesse se passe. Mas, quando vejo alguns jovens das letras, deslumbrados de si próprios, passeando imponentemente os loiros dos seus primeiros livros e a sua inabalável certeza da imortalidade, penso na desilusão que os espera ao assomar dos primeiros cabelos brancos (a pior das desilusões, que é a que sentimos perante nós mesmos) e no aborrecimento que lhes causará um dia a reeedição de alguns dos seus livros da juventude - se, porventura, tiverem praticado a imprudência de alienar a propriedade da sua obra. 
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O Talento na Juventude e na Velhice

Nada menos exacto do que supor que o talento constitui privilégio da mocidade. Não. Nem da mocidade, nem da velhice. Não se é talentoso por se ser moço, nem genial por se ser velho. A certidão de idade não confere superioridade de espírito a ninguém. Nunca compreendi a hostilidade tradicional entre velhos e moços (que aliás enche a história das literaturas); e não percebo a razão por que os homens se lançam tantas vezes recíprocamente em rosto, como um agravo, a sua velhice ou a sua juventude.
Ser idoso não quer dizer que se seja necessáriamente intolerante e retrógado; e engana-se quem supuser que a mocidade, por si só, constitui garantia de progresso ou de renovação mental. As grandes descobertas que ilustram a história da ciência e contribuiram para o progresso humano são, em geral, obra dos velhos sábios; e a mocidade literária, negando embora sistemáticamente o passado, é nele que se inspira, até que o escritor adquire (quando adquire) personalidade própria.
(...) A mocidade, em geral, não cria; utiliza, transformando-o, o legado que recebeu. Juventude e velhice não se opõem; completam-se na harmonia universal dos seres e das coisas. A vida não é só o entusiasmo dos moços; nem só a reflexão dos velhos; não está apenas na audácia de uns, nem apenas na experiência dos outros; realiza-se pela magnífica integração das virtudes contrárias, sem a qual não seria possível, em todo o seu esplendor, a marcha da humanidade. Que se ganha em cavar um abismo entre mocidade e velhice, se uma é, fatalmente, o prolongamento da outra; se o que passa de mão em mão é, afinal, o mesmo facho aceso, como na corrida ritual da Grécia antiga; e se, bem vistas as coisas, não está de nenhum modo provado que os novos sejam intelectualmente os mais novos, e os velhos os mais velhos?

(...) Como admitir o divórcio entre novos e velhos - invenção antinatural dos conventículos literários de todos os tempos -, se os velhos têm nas novas gerações, penhor radioso do futuro, o instrumento de compreensão e de difusão da sua obra, e se os novos devem aos velhos a formação do seu espírito, a educação da sua sensibilidade e a opulenta capitalização de riquezas da língua em que se expressam?
A paz entre idades sucederá um dia, decerto, à paz entre as nações - quando a velhice egoísta reconhecer, finalmente, que não deve menosprezar os moços, antes facilitar-lhe o caminho da vida, e quando, por seu turno, a juventude impaciente chegar à convicção de que não é atropelando nem injuriando que se vence, e de que, quando os jovens se instalaram no planeta - já os velhos o habitavam. 
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A elegância não se explica, constata-se apenas. 
É alguma coisa de incoercível, alguma coisa de impreciso, de fugitivo e de imaterial, que escapa a toda a definição e que resiste a toda a análise. 
Como a beleza, como o próprio Deus, é mais difícil dizer onde ela está do que onde ela não está. 
Como o perfume, sente-se e não se vê. 
Todos percebem onde ela falta; e ninguém sabe dizer de onde ela vem.
Quando tentamos defini-la, precisá-la, isolá-la, foge-nos entre os dedos, como uma sombra.
Onde existe, transforma tudo; onde não existe, não há arte, não há talento, não há beleza que a substitua.
Não é um dom que se adquire. É um instinto com que se nasce.