23/01/2017

4.283.(23jan2017.7.7') José Moreira

23jan1950
"(...) A PIDE não lhe arrancou uma única morada, uma única informação. E torturou-o até à morte – que ocorreu no dia 23 de Janeiro de 1950.
Com o intuito de esconder o crime, a polícia fascista procedeu à usual encenação do «suicídio», atirando o corpo do militante comunista de uma janela do 3.º andar da António Maria Cardoso.
Tinha 37 anos de idade e era funcionário do Partido há cerca de cinco anos.(...)"
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13 h
José Moreira, um revolucionário que morreu pelo seu partido, o PCP! Homenagem no 67º aniversário do seu assassinato pela PIDE!
Em 22 de janeiro de 1950, uma brigada da PIDE assaltava uma casa clandestina do PCP, em Vila do Paço, no concelho de Torres Novas e prendia o funcionário do Partido que a ocupava. O assalto decorria de uma denúncia, pelo que a polícia sabia, não apenas que se tratava de uma casa clandestina, mas também que nela vivia o responsável principal pelas tipografias do Partido: José Moreira.
Era a grande oportunidade que se oferecia à PIDE – pelo menos esta assim o julgava… – para, finalmente, cumprir o sonho, que perseguia desde há vários anos, de desmantelar a rede de tipografias clandestinas do PCP.
Tanto mais que, nos últimos cinco anos, ou seja, desde que José Moreira assumira aquela responsabilidade, nenhuma tipografia fora localizada e assaltada pela polícia fascista.
E o Avante! passara a sair regularmente, fazendo chegar aos trabalhadores e ao povo as orientações, análises e objectivos do Partido, desempenhando o seu papel de agitador, propagandista e organizador colectivo.
Criado em 1931, na sequência da Conferência de Abril de 1929, o Avante! sofrera pesados golpes nos seus primeiros dez anos de vida.
Por efeito quer da forte repressão fascista quer da insuficiente preparação do Partido para fazer frente a essa ofensiva, a publicação do Avante! fora interrompida por cinco vezes nessa década. Ainda assim, o órgão central do Partido foi publicado regularmente durante todos os meses do ano de 1935 e saiu semanalmente entre 1936 e 1938, chegando a atingir tiragens de 10 mil exemplares – proeza notável, conhecida que era a força da ofensiva fascista nessa sombria década de 30.
É com o processo da histórica reorganização de 1940/41 – processo levado a cabo por um notável conjunto de quadros, dos quais emerge como figura mais destacada o camarada Álvaro Cunhal – que o Partido cria as condições necessárias para enfrentar o aparelho repressivo fascista, ao mesmo tempo que se afirma como um grande partido nacional, marxista-leninista, vanguarda revolucionária da classe operária e das massas, força determinante da resistência e da unidade antifascistas.
Entre as medidas tomadas estão as que se relacionam com a criação de condições para a saída regular da imprensa partidária, objectivo que viria a ser plenamente alcançado: de Agosto de 1941 até ao 25 de Abril de 1974, o Avante! foi publicado sem interrupções, sempre composto e impresso no interior do País, afirmando-se como o jornal que, à escala internacional, durante mais tempo resistiu com êxito à clandestinidade.
Morrer pelo Partido
À altura da prisão de José Moreira, incomodava os esbirros da PIDE o facto de o órgão central do PCP ter sido publicado, sem interrupções, desde a reorganização de 40/41 e de, entre 1945 e 1949 não terem conseguido localizar e assaltar uma única tipografia.
Julgavam, assim, que com a prisão de José Moreira iriam vibrar um golpe fatal na rede de tipografias clandestinas do Partido. Bastaria para isso que o preso falasse, que lhes fornecesse as moradas, que conhecia, das várias tipografias existentes.
Tal não aconteceu: submetido aos interrogatórios pidescos – interrogatórios ininterruptos, intensivos e brutais, já que a PIDE queria obter de imediato as moradas das tipografias de modo a evitar que o Partido tivesse tempo de as mudar – José Moreira recusou-se a falar, a trair os seus camaradas e o seu Partido.
Entre morrer ou trair, optou por morrer.
A PIDE não lhe arrancou uma única morada, uma única informação. E torturou-o até à morte – que ocorreu no dia 23 de Janeiro de 1950.
Com o intuito de esconder o crime, a polícia fascista procedeu à usual encenação do «suicídio», atirando o corpo do militante comunista de uma janela do 3.º andar da António Maria Cardoso.
Tinha 37 anos de idade e era funcionário do Partido há cerca de cinco anos.
Pouco tempo antes da sua prisão e do seu assassinato, escrevera: «Uma tipografia clandestina é o coração da luta popular. Um corpo sem coração não pode viver».
E em Agosto desse ano, pode ler-se no órgão central do PCP: «A melhor homenagem que lhe podemos prestar é levar o Avante!, o seu Avante!, a todos os recantos do país.»
Recorde-se que, cerca de um ano antes, o fascismo rejubilara com a prisão, nos primeiros meses de 1949, de mais de uma dezena de dirigentes e quadros do Partido, entre eles Álvaro Cunhal, Militão Ribeiro e Sofia Ferreira. E que, por essa altura, o governo fascista de Salazar era admitido como membro fundador da NATO, com o apoio do governo dos EUA, que constituía o principal suporte do regime fascista português a nível internacional – suporte que se manteve até ao dia 24 de Abril de 1974.
Registe-se, ainda, que dias antes do assassinato de José Moreira, em 2 de Janeiro, morrera Militão Ribeiro, na Penitenciária de Lisboa, vítima de um crime cruel e perverso.
Coragem sem limites
José Moreira, quase criança, foi trabalhar para a Marinha Grande, como operário vidreiro. É ali, no contacto directo com a exploração em duras condições de trabalho, que vai formando a sua consciência de classe. É ali, num ambiente de forte tradição revolucionária e de luta do operariado local, que adquire a consciência política que cedo o levará a aderir ao PCP.
Em 1945, logo a seguir ao fim da II Guerra Mundial, passa à clandestinidade e, enquanto funcionário do Partido, é-lhe confiada a dura, difícil e importantíssima tarefa de responsável pelo aparelho de imprensa – tarefa que exigia uma dedicação extrema, um alto sentido de responsabilidade e de disciplina, uma grande capacidade criativa e, acima de tudo, uma coragem sem limites.
Tudo características que José Moreira possuía e às quais aliava um elevado espírito de sacrifício, uma entrega total ao Partido e à luta, uma rígida observância dos cuidados conspirativos – bem como uma impressionante sensibilidade humana, visível no seu trato fraterno e solidário com os que o rodeavam e no estímulo e no apoio que dava aos quadros que, em total isolamento, trabalhavam nas tipografias.
Para se perceber a importância e a complexidade da tarefa de José Moreira, basta ter em conta, por exemplo, as dificuldades para fazer chegar o Avante! às mãos dos militantes comunistas e das massas trabalhadoras e populares.
As dificuldades começavam com a aquisição do papel bíblia utilizado na generalidade das publicações do Partido, já que a PIDE obrigava as papelarias a registar o nome de todos os compradores desse tipo de papel e as quantidades adquiridas.
Superada, com imaginação, essa dificuldade, tratava-se, depois, de distribuir o papel e as tintas pelas várias tipografias, operação perigosa e arriscada a exigir cuidados extremos.
A seguir, era necessário ir buscar os textos elaborados pela Direcção do Partido e entregá-los, para impressão, nas tipografias – o que implicava uma série de encontros e contactos.
Depois de impressos, havia que distribuir os documentos – o Avante!, entre eles, com lugar de destaque – pelas organizações partidárias, que os fariam chegar aos trabalhadores e ao povo.
Tudo isto colocava enormes exigências: os cuidados a ter nos múltiplos encontros e deslocações que se impunham e o enorme esforço a que tal tarefa obrigava, sabendo-se que, por razões de segurança, os encontros e as entregas do Avante! e dos outros materiais impressos, eram feitos em locais «neutros», isto é, distantes quer das tipografias quer das zonas a que se destinavam.
Para cumprir todas estas tarefas, José Moreira deslocava-se de bicicleta, chegando a percorrer 2500 quilómetros por mês, muitas vezes transportando pesadas, pesadíssimas cargas.
Assim lutavam os comunistas pela liberdade de informação: exercendo-a – para isso, afrontando as perseguições e a repressão fascistas, dando as suas vidas se necessário fosse.
E muitas vezes isso foi necessário ao longo do quase meio século de luta heróica – das perseguições, das prisões, das torturas a que eram submetidos pelo regime fascista.
Falsificadores da história
Assim, não surpreende que, em milhares de páginas dedicadas pelos PULHAS FALSIFICADORES DA HISTÓRIA DO FASCISMO, em regra, ignorem este grande REVOLUCIONÁRIO, JOSÉ MOREIRA!
As estórias que eles escrevem render-lhes-ão, certamente, volumosos proventos.
Mas a história não os absolverá!
(Elaborado com base no Avante nº 2038 de 20 dezembro de 2012 - “No Centenário do nascimento de José Moreira” por José Casanova)