01/02/2017

3.462.(1fev2017.7.7') A Portuguesa...A bandeira da República Portuguesa...

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19jun1911... A Assembleia Nacional Constituinte decreta a nova bandeira portuguesa
 

A bandeira da República Portuguesa assumiu as cores actuais após a implementação da República em 5 de Outubro de 1910. Substituiu a bandeira azul e branca da monarquia e herdou as cores dos estandartes revolucionários do século XIX

Divide-se verticalmente em duas cores, verde e vermelho, ficando o verde do lado da tralha ou do mastro. No centro, está o escudo das Armas Nacionais, orlado de branco, assente sobre a esfera armilar manuelina, em amarelo e avivada de negro.
O comprimento é uma vez e meia superior à altura. O verde ocupa dois quintos do tamanho da bandeira e o vermelho, ocupa os restantes três quintos. O emblema preenche metade da altura, ficando a igual distância da orla superior e inferior.
Foi criada por uma comissão nomeada pelo governo provisório da República em 1910, composta pelo pintor Columbano Bordalo Pinheiro, o escritor Abel Botelho, o jornalista João Chagas e dois combatentes do 5 de Outubro o tenente Landislau Pereira e o capitão Afonso Palla. Preserva as cores verde e vermelho, dos movimentos revolucionários republicanos de finais do século XIX que levaram à abolição da Monarquia.

Não foi consensual a adopção das cores, mas a comissão justificou a decisão: o branco representa «uma bela cor fraternal, em que todas as outras se fundem, cor de singeleza, de harmonia e de paz»; O vermelho «… uma das cores fundamentais por ser a cor combativa, quente, viril, por excelência. É a cor da conquista e do riso».

O verde que não tinha tradição histórica em Portugal, surgiu no estandarte da revolta de 31 de Janeiro de 1891 que conduziu à deposição da monarquia em 1910, e por isso foi mantido como uma das cores da bandeira da República.
http://ensina.rtp.pt/artigo/a-bandeira-nacional/
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O Hino Nacional, também conhecido pela “Portuguesa”, foi composto em 1890 como uma canção de protesto na sequência do ultimato inglês. Adotada pelos republicanos, veio a transformar-se no hino em 1911.

A letra de ‘”A Portuguesa” foi escrita por Henrique Lopes de Mendonça e a música composta por Alfredo Keil.
O tema surge em 1890 na sequência do ultimato inglês que exigia a retirada dos portugueses dos territórios entre Angola e Moçambique. A imposição foi considerada uma afronta ao país, mas a coroa, apesar dos protestos, pouco pôde fazer para reverter a situação.
A versão completa d’”A Portuguesa” afirmava a independência e apelava ao patriotismo contra os “Bretões” (britânicos), palavra que foi substituída na versão atual pela palavra “Canhões”. Foi rapidamente adotada pelos revolucionários republicanos que a cantaram quando em 31 de Janeiro de 1891 tentaram, no Porto, um primeiro golpe de estado para derrubar a coroa. A monarquia proibiu-a.
Com a implantação da República em 1910 a canção voltou a ouvir-se nas ruas e foi consagrada como Hino Nacional em 19 de junho de 1911 pela Assembleia Constitutiva.

Letra de “A Portuguesa”
Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!

Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

 http://ensina.rtp.pt/artigo/o-hino-nacional/?fbclid=IwAR2o9yYqez9TD6bX636iVMyuH0e_IZQsE1_dNROHO4NWjl67YgxQ65WIYJc
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19 de Junho de 1911: Sessão inaugural da Assembleia Nacional Constituinte. A Assembleia Constituinte estabelece a República e sanciona a abolição da Monarquia, decreta a nova Bandeira Nacional e adopta "A Portuguesa" para  Hino




"Desde as oito da manhã de Segunda-feira, 19 de Junho de 1911, que a multidão começa a circular nas ruas que conduzem ao antigo mosteiro de S. Bento, destinado desde 1834 para Palácio das Cortes da monarquia liberal. O comércio fechou. Apenas raros recalcitrantes, que depressa os populares convertem, ousam abrir os estabelecimentos. As fábricas não trabalham. As repartições públicas não funcionam. As bandeiras vermelhas e verdes da República flutuam, numerosíssimas, ao vento. A antiga Avenida D. Carlos, hoje Avenida das Cortes, por onde subiam com os seus sumptuosos coches de gala os cortejos reais das sessões solenes da abertura do Parlamento, está decorada com modestos arcos de triunfo. Os navios de guerra que ficaram no Tejo empavezavam em arco, festivamente, com os pavilhões republicanos nos topes. As tropas começavam a desfilar através da cidade, vestindo todos os regimentos o uniforme de serviço. Os improvisados batalhões voluntários passam, ao som de cornetas e tambores. () O povo ocupa agora o primeiro plano da cena histórica que vai representar-se. () A multidão ocupa as imediações do velho convento cisterciense () Uma animação impressionante agita agora os vinte mil espectadores que se comprimem na vasta área circunvizinha do Congresso. As músicas tocam ininterruptamente a Portuguesa, e à medida que vão chegando a S. Bento, os ministros e os caudilhos populares da República são freneticamente vitoriados pelo povo. Salvas de palmas soam, de momento a momento com estridência. Foguetes estoiram nos ares de um azul turqueza. O ministro da Justiça, vindo do Monte Estoril, onde está convalescendo, é saudado em todo o percurso numa crise contagiosa e delirante de entusiasmo. Pálido, emagrecido pela doença, com o pescoço abafado por uma cache-col de seda branca, o Dr. Afonso Costa agradece e sorri. É evidente que o detentor das simpatias populares da Lisboa jacobina é ele agora. () São onze horas. O presidente do município de Lisboa, o antigo par do reino Anselmo Braamcamp Freire, que, na reunião preparatória do Congresso os deputados nomearam para presidir à sessão legislativa das Constituintes, ocupa, sob a maquette ainda húmida do busto monumental da República, a presidência." (DIAS, Carlos Malheiro, "Ciclorama crítico de um tempo") "Onze em ponto. Um contínuo vai colocar na tribuna da presidência, à direita, uma bandeira nacional de seda. Entretanto vão chegando outros deputados, trocam-se afectuosas saudações em cada rosto é patente o júbilo que a todos inunda. (...) Às onze e vinte, Anselmo Braamcamp Freire, presidente da Junta Preparatória, sobe à presidência com os dois secretários, Miranda do Vale e Carlos Calisto, e agita a companhia, convocando os deputados a reunir na sala, que é invadida, de súbito. Dez minutos depois, entra o ministro da Justiça pelo braço do ministro dos Estrangeiros. (...) Na bancada ministerial acha-se todo o Governo provisório, à excepção do presidente e do ministro do Interior. Os ministros da Justiça, Finanças e Estrangeiros trajam casaca; os da Guerra, Marinha e Fomento vestem as suas fardas oficiais. (...) Com a máxima clareza, quase martelando as palavras, Anselmo Braamcamp Freire mal dissimula a comoção ao ler o seguinte: A Assembleia Nacional Constituinte, confirmando o acto de emancipação realizado pelo povo e pelas forças militares de terra e mar, e reunida para definir militares de terra e mar, e reunida para definir e exercer a consciente soberania, tendo em vista manter a integridade de Portugal, consolidar a paz e a confiança e o bem-estar e progresso do povo português  proclama e decreta: 1.º  Fica para sempre abolida a monarquia e banida a dinastia de Bragança; 2.º  A forma de governo em Portugal é a República democrática; 3.º  São declarados beneméritos da Pátria todos aqueles que para depor a monarquia heroicamente combateram até conquistar a vitória, consagrando para todo o sempre, com piedoso reconhecimento a memória dos que morreram na mesma gloriosa empresa. (...) As palmas estrugem, os vivas soltam-se de todas as bocas, mas o presidente pede, com um gesto que se restabeleça o silêncio e convida a Assembleia a manifestar-se sobre o decreto: "Os senhores deputados que aprovam queiram conservar-se de pé." Ninguém se senta e Braamcamp Freire declara solenemente: "Está aprovado por unanimidade". (RÊGO, Raúl, "História da República") Nesta histórica sessão decreta-se sobre a bandeira (depois de vivas discussões nos meses anteriores sobre os diferentes projectos) e sobre o hino nacional (A Portuguesa, nascido, letra e música no contexto do Ultimatum de 1890).

Sessão inaugural da Assembleia Nacional Constituinte, 19 de Junho de 1911

 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/06/19-de-junho-de-1911-sessao-inaugural-da.html?spref=fb&fbclid=IwAR2dXm4LEXOiMyptig-fTrCq9j2ujJc8W1wtE-mPdRKsE8JOWYH4tyOiS70
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19 de Junho de 1911: Adopção da nova Bandeira Nacional

Após a instauração da República, um decreto da Assembleia Nacional constituinte datado de 19 de Junho de 1911, aprovou uma nova a Bandeira Nacional que substituiu a anterior.
A Bandeira Nacional é dividida verticalmente em duas cores - verde escuro e vermelho - ficando o verde do lado da tralha ou do mastro. Ao centro, sobreposto à união das cores, tem o escudo das armas nacionais, orlado de branco, sobre a esfera armilar, em amarelo e avivada de negro.
O comprimento da bandeira é de vez e meia a altura da tralha. A divisória entre as duas cores fundamentais é feita com dois quintos do comprimento total ocupados pelo verde e os três quintos restantes pelo vermelho. O emblema ocupa metade da altura, ficando equidistante das orlas superior e inferior.
Assim, no entender da Comissão responsável pela Bandeira Nacional, o branco representa «uma bela cor fraternal, em que todas as outras se fundem, cor de singeleza, de harmonia e de paz» e sob ela, «salpicada pelas quinas (...) se ferem as primeiras rijas batalhas pela lusa nacionalidade (...). Depois é a mesma cor branca que, avivada de entusiasmo e de fé pela cruz vermelha de Cristo, assinala o ciclo épico das nossas descobertas marítimas».
O vermelho «nela deve figurar como uma das cores fundamentais por ser a cor combativa, quente, viril, por excelência. É a cor da conquista e do riso. Uma cor cantante, ardente, alegre (...). Lembra o sangue e incita à vitória».
Para o verde - que não tinha tradição histórica em Portugal -, foi dada como explicação que na preparação da Revolta de 31 de janeiro de 1891, o verde terá surgido no «momento decisivo em que, sob a inflamada reverberação da bandeira revolucionária, o povo português fez chispar o relâmpago redentor da alvorada».
Relativamente à esfera armilar, que já fora adoptada como emblema pessoal de D. Manuel I, estando desde então sempre presente na emblemática nacional, consagra «a epopeia marítima portuguesa (...) feito culminante, essencial da nossa vida colectiva».
Por sua vez, sobre a esfera armilar entendeu a Comissão fazer assentar o escudo branco com as quinas, consagrando «o milagre humano da positiva bravura, tenacidade, diplomacia e audácia que conseguiu atar os primeiros elos da afirmação social e política da lusa nacionalidade».
Finalmente, a Comissão entendeu «dever rodear o escudo branco das quinas por uma larga faixa carmesim, com sete castelos», considerando que estes são um dos símbolos «mais enérgicos da integridade e independência nacional».
wikipédia (imagens)

Bandeira de Portugal
 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/06/19-de-junho-de-1911-adopcao-da-nova.html?spref=fb&fbclid=IwAR2ePqTkG5b-0dPSlQtOn_w0QgQDECcZ8Qd9xqFjjrb9UoaDMvFdHhgsBVc
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 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/06/19-de-junho-de-1911-sessao-inaugural-da.html
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1fev1980
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https://www.youtube.com/watch?v=DdOEpfypWQA
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https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10200673427472690&set=a.1029365188983.3914.1670949754&type=3&theater
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Cantamos o hino várias vezes mas será que sabemos quem são os autores?
 "A Portuguesa" foi composta em 1890, com letra de Henrique Lopes de Mendonça
 e música de Alfredo Keil. 
Neste dia, 1fev, em 1890, era executado pela primeira vez em público, num sarau lisboeta
https://www.facebook.com/canaldehistoriapt/photos/a.10150279379849689.387952.215267034688/10155767486799689/?type=3&theater
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 Nova edição do Hino Nacional A Portuguesa

A República

Por ocasião do centenário da proclamação da República, em 2010, o Teatro Nacional de São Carlos/OPART, E.P.E e a Direcção-Geral das Artes promoveram um projecto de edição da partituras e partes instrumentais e da gravação de A Portuguesa de Alfredo Keil, o Hino Nacional português.
A finalidade desta publicação foi fixar a norma do Hino enquanto símbolo nacional, tarefa de edição que ficou a cargo da Assembleia da República e da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República. Ao mesmo tempo, esta iniciativa pretende disponibilizar uma edição que possa substituir todas as variantes policopiadas do hino que circulavam, até então, por escolas, orquestras e bandas, sem qualquer regra.
O maestro e pianista João Paulo Santos, procedeu ao levantamento exaustivo das versões existentes do Hino Nacional e, assim, foram produzidos os seguintes materiais:
1) Partitura e partes para orquestra sinfónica;
2) Partitura e partes para orquestra clássica;
3) Redução para canto e piano (apenas em formato digital);
4) Partitura e partes para banda.
Ao mesmo tempo, foi fixado o registo áudio das seguintes versões:
a) Versão original de Alfredo Keil (com três estrofes) para documento histórico;
b) Versão original para piano só;
c) Versão original para coro e piano (uma estrofe);
d) Versão para orquestra sinfónica (Emissora Nacional), solo e coro (uma estrofe);
e) Versão para orquestra sinfónica só (Emissora Nacional) (uma estrofe);
f) Versão para banda.
Foram intérpretes da gravação: Elisabete Matos, soprano; João Paulo Santos, piano; Orquestra Sinfónica Portuguesa e Coro do Teatro Nacional de São Carlos dirigidos por João Paulo Santos; Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana dirigida por João Cerqueira.
Direcção-Geral das Artes

História da edição do Hino Nacional
A primeira partitura que se conhece de A Portuguesa de Alfredo Keil é o esboço que se encontra reproduzido na História de Barcelos, enquanto no Museu da Música, em Lisboa, encontra-se todo o material de orquestra, banda, fanfarra, coro e redução de canto e piano, daquilo que se pode chamar a “versão original”. Esta foi incluída no “Grande Concerto Patriótico” realizado no Teatro S. Carlos, a 29 de Março de 1890 (solo cantado pela Tetrazzini), para Soprano Solo, Coro, Orquestra, Banda e Fanfarra. Este tipo de efectivo orquestral é comum em muitas óperas da segunda metade do século XIX e encontra-se na tonalidade de Sol maior o que lhe confere também um grande carácter operático.
Cronologicamente, e muitas decerto depois da morte de Keil, seguem-se-lhe variadas versões editadas (Neuparth, Sassetti, Casa da Imprensa) em arranjos diversos como, por exemplo: piano só, piano e canto, canto só, grande orquestra, pequena orquestra, charanga, sol e dó, estudantina, guitarra só, assim como em tonalidades mais graves (Fá para as orquestrais, Mi bem para as que prevêem canto). Destas encontram-se exemplares na Biblioteca Nacional e no Museu da Música.
Em 1957 é criada uma comissão para rever o hino, liderada por Mário Sampayo Ribeiro, que considera a melodia demasiado aguda e exigindo grande amplitude de tessitura. Por isso esta é transposta para Dó maior e são-lhe feitas algumas modificações que pretendem torná-la mais acessível.
É sobre esta forma que A Portuguesa é publicada no Diário do Governo, I série, de 4 de Setembro de 1957, sem acompanhamento, nem indicações dinâmicas. Existe uma edição desta versão com acompanhamento de piano a qual foi gravada para o CD que acompanha as edições feitas no âmbito das comemorações do centenário da República.
Da mesma época existem algumas versões obviamente realizadas com o sentido prático de possibilitar aos agrupamentos sinfónicos do Estado (Emissora Nacional) e bandas a execução do Hino. Das três versões existentes (banda, grande orquestra e orquestra clássica) só esta última verdadeiramente menciona o autor da orquestração – Frederico de Freitas.
Estas partituras e materiais encontram-se nos arquivos da RDP, no arquivo do Teatro Nacional de S. Carlos e no da Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana e foram estas as restantes versões gravadas no referido CD.
Por fim, em 1977, é solicitado a Joly Braga Santos novo trabalho sobre o hino. Dele nascem uma orquestração em Dó maior para orquestra de cordas com oboés e trompas ad libitum, a formação da Orquestra Gulbenkian nessa altura, e uma versão de concerto para coro e grande orquestra que transforma o Hino numa peça coral-sinfónica passível de figurar num concerto à semelhança do que Berlioz realizou para a Marselhesa ou Britten para o God Save the Queen. Esta versão foi gravada na altura pelo Coro e Orquestra Gulbenkian.

João Paulo Santos

A Portuguesa
Alfredo Keil (1850-1907), o autor da música do hino nacional português, é uma das mais interessantes figuras de artista do seu tempo, pelo carácter multifacetado da sua actividade como compositor, mas também como pintor, desenhador, coleccionador, poeta, pioneiro da arte da fotografia e, de um modo geral, representante daquele culto da arte típico do mundo ocidental nas últimas décadas do século XIX.
Autor de diversas óperas, música orquestral, canções e peças para piano, Alfredo Keil deve em parte a sua celebridade à marcha patriótica A Portuguesa, reflexo da comoção política, social e cultural que o Ultimato britânico de Janeiro de 1890 veio provocar durante a última fase do regime monárquico. Reagindo ao clima de efervescência colectiva e à retórica do “ressurgimento” da Pátria decadente, Keil terá composto a sua marcha ainda em finais do mesmo mês, solicitando ao poeta, dramaturgo e oficial da armada Henrique Lopes de Mendonça (1856-1931) a feitura dos versos apropriados à circunstância. Num artigo tardio, Lopes de Mendonça viria a relatar a sua versão da génese da peça. Segundo esse testemunho, fora intenção do compositor publicar rapidamente o hino, numa larga tiragem, e distribuí-lo “profusamente” pelo país, para “não deixar arrefecer o entusiasmo do povo” e para que este o aprendesse quanto antes e o adoptasse como “canto de reivindicação nacional”. No mesmo artigo, o escritor dava também conta da tarefa – manifestamente ingrata, reconheça-se – de conceber a letra a partir de uma composição musical pré-existente: “Foi em íntimo acordo com o Keil, quase sempre em sua casa, que eu compus as estrofes, compasso a compasso” – escreve Lopes de Mendonça – “acomodando constantemente o verso não só à contextura musical, mas também às intenções de cada frase, engastando uma sílaba em cada nota que ele arrancava do piano, com o empenho, para nós ambos simpático, de afastar da letra o mais ligeiro vislumbre de sentimento monárquico”. O título terá sido adoptado por sugestão do autor literário, “como susceptível de congregar as aspirações patrióticas de todos os portugueses”. E foi sob esse título que o hino rapidamente adquiriu popularidade por todo o país, divulgado por meio de folhetos, partituras, jornais, adereços e objectos decorativos, sem esquecer o papel desempenhado pelos teatros na sua difusão.
Já em Abril do mesmo ano, os autores faziam questão de sublinhar, em carta distribuída à imprensa, o seu distanciamento relativamente às facções políticas então em confronto pela apropriação do hino: “Perante a vergonha duma afronta […] desejámos que, sob o influxo dum canto patriótico, um só grito surgisse espontaneamente de lábios portugueses, grito veemente e enérgico que repercutisse lá fora como a afirmação duma nacionalidade vivaz, brado unânime que levantasse os ânimos abatidos […]. Esse grito era o de: Viva Portugal!”. Fosse qual fosse a intenção original dos seus autores, A Portuguesa tornou-se efectivamente o cântico de predilecção dos estudantes e jovens militares empenhados nas manifestações patrióticas do início da década de 1890, geralmente imbuídas de um espírito de contestação às instituições do Estado, acusadas de subserviência perante os interesses estrangeiros. Terá sido principalmente a partir da revolta portuense de 31 de Janeiro de 1891 que A Portuguesa viu consolidado o seu estatuto de símbolo da mobilização republicana contra uma monarquia desacreditada. De facto, segundo rezam as crónicas, a República viria a ser proclamada a 5 de Outubro de 1910 ao som da Portuguesa, e, previsivelmente, a obra veio a ser adoptada como hino nacional por decreto da Assembleia Nacional Constituinte (19 de Junho de 1911), ao mesmo tempo que era oficialmente instituída a bandeira verde-rubra.
A Portuguesa tem sido diversamente apreciada enquanto realização poetico-musical – sendo certo que, como qualquer composição congénere, o seu valor de ícone patriótico se sobrepõe inevitavelmente a uma “pura” avaliação estética. À primeira vista, ressalta a óbvia afinidade com o modelo “revolucionário” da Marselhesa. A estrutura poetico-musical de ambas as peças é semelhante; não dispondo de um texto específico como ponto de partida, é provável que Keil se tenha servido do hino francês como molde da sua composição. As afinidades não se limitam aliás à estrutura: é notório o paralelismo imagético consubstanciado na inflexão ao modo menor em ponto idêntico de ambas as peças (“Mugir ces féroces soldats…”/“Ó Pátria sente-se a voz…”), vincando o contraste com o belicoso refrão “Aux armes, citoyens!”/“Às armas, às armas!”, que assinala em ambos os casos o regresso triunfal ao modo maior. O refrão, por seu turno, contém uma quase-citação do antigo Hino da Maria da Fonte (cuja popularidade em certos quadrantes, após a implantação da República, o recomendaria como potencial concorrente da Portuguesa à dignidade de hino nacional). Bem característica, de acordo com a intenção de Keil de introduzir na sua composição “umas leves mas significativas reminiscências dos nossos principais hinos e cantos populares”, parece ser a inflexão fadística da secção correspondente à evocação dos antepassados, emergindo de “entre as brumas da memória”. Note-se ainda o curioso tratamento harmónico dado ao verso inicial “Heróis do mar, nobre povo”, que vem conferir uma nota nostálgica (reforçada pela dinâmica piano) à escansão enfática dos versos, e que talvez constitua o momento mais subtil da partitura.
A versão primitiva da Portuguesa apresentava o inconveniente de possuir um âmbito melódico muito extenso (um intervalo de décima terceira entre as notas extremas), tornando-a imprópria para a execução pela voz inculta do cidadão comum. Esse facto, e também a existência de numerosas variantes, levaram à constituição, em Março de 1956, de uma comissão incumbida de estabelecer uma versão oficial do hino nacional. Essa versão (na tonalidade de dó maior, mais facilmente cantável por vozes de tessitura média) difere da original sobretudo na redução do âmbito da melodia e nalguns detalhes de natureza rítmica, aliás pouco significativos e amplamente sancionados pela prática; a mesma veio a ser publicada – infelizmente sem acompanhamento, nem indicações dinâmicas – no Diário do Governo, I Série, de 4 de Setembro de 1957, mantendo-se presentemente em vigor.

Paulo Ferreira de Castro


Versões para orquestra

Histórica em Sol M | soprano, coro e orquestra


Para grande orquestra em Mib M | soprano, coro e orquestra
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Para grande orquestra em Mib M | coro e orquestra
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Para grande orquestra em Mib M | só orquestra
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Para orquestra clássica | Frederico de Freitas
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Versões para piano

De 1957 em Dó M | coro e piano
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De 1957 em Dó M | só piano
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Versões para bandas

Para banda em Mib M
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Para banda (2ª versão) em Mib M


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República Portuguesa — Cultura
OPART Organismo de Produção Artística


<a href="http://tnsc.bandcamp.com/album/tnsc-a-portuguesa">TNSC · &#8216;A Portuguesa&#8217; by TNSC</a>


Intérpretes: Orquestra Sinfónica Portuguesa, Coro do Teatro Nacional de São Carlos, Elisabete Matos soprano, João Paulo Santos piano e direcção musical; Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana, João Cerqueira, direcção.


Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar



As duas estrofes que se seguem foram retiradas do Hino em 16 de Julho de 1957, e já não são cantadas.
Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O Oceano, a rugir d’amor,
E teu braço vencedor
Deu mundos novos ao Mundo!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.



Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,

Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

Henrique Lopes de Mendonça

 https://tnsc.pt/a-portuguesa-alfredo-keil-henrique-lopes-de-mendonca-hino-nacional-da-republica-portuguesa/
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