15/02/2017

5.469.(15fev2017.8.8') Miguel Manso

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Nasceu a 1979 (Santarém...)
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Miguel-Manso
https://www.wook.pt/autor/miguel-manso/3043661
Miguel-Manso nasceu em Santarém em 1979. Viveu em Almeirim e em Lisboa. Hoje mora numa aldeia do concelho da Sertã. Estreou-se em 2008 com o livro ...
 Contra a Manhã Burra (edição do autor) e fez sair no mesmo  ano Quando Escreve Descalça-se (edição Trama Livraria). Santo Subito, de 2010 (edição do autor), pertence, como os anteriores, à coleção Os Carimbos de Gent, à qual acrescentou outros dois títulos em 2012: Ensinar o Caminho ao Diabo e Um Lugar a Menos (edições do autor). No mesmo ano publicou Aqui Podia Viver Gente, com ilustrações de Bárbara Assis Pacheco (Primeiro Passo). Em 2013 publicou Tojo: Poemas Escolhidos (Relógio D’Água) e Supremo 16/70 (Artefacto). Persianas marca a estreia do autor nas edições Tinta-da-china.
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18jan2017

Daniel Faria, Camões e Miguel-Manso: o Ensaio Poético está no palco do D. Maria II

Portugal, país de poetas que não lê poesia? O Teatro Nacional quer inverter isso. Até 12 de fevereiro estão em cena três peças à procura de novos públicos para a lírica e para o teatro.
http://observador.pt/2017/01/18/daniel-faria-camoes-e-miguel-manso-o-ensaio-poetico-esta-no-palco-do-d-maria-ii/

Miguel-Manso: Rosto, Clareira e Desmaio

O poeta Miguel-Manso é o único poeta vivo desta trilogia. Nasceu em 1979 mas já tem uma dezena livros publicados entre edições de autor, pequenas e grandes editoras. Vive entre a adesão eufórica de uns e a indiferença de muitos. O próprio faz por se manter relativamente discreto. Este é pois um momento possível para abrir a porta a uma poesia que se alimenta do porvir e de um autor que escreve sabiamente: “Que o texto seja não o texto consumado mas o caminho para a consumação do texto”.
A encenadora Susana Vidal traz para o palco um poema que nasce de um diálogo entre Manso e o livro Máscara, Mato e Morte: Textos para Uma Etnografia de São Tomé, do antropólogo Paulo Valverde, tal como Daniel Faria, falecido em 1999, vítima de malária. Valverde era um dos mais emblemáticos antropólogos portugueses e este ensaio está impregnado da linguagem poética que caracterizava sua obra.
Este livro, que seria o último de Valverde, nasceu das investigações que o cientista desenvolveu na ilha de São Tomé, entre 1995 e 1999, sobre o tchiloli, um ritual que teve origem nas representações teatrais que que os europeus lá fizeram da tragédia do Imperador Carlos Magno que, face ao homicídio do filho, o Príncipe Dom Carloto, deve optar entre as razões do sangue e as razões do Estado. Além das atuações do tchiloli, o ensaio vai ainda aos quintais dos mestres curandeiros e às cerimónias curativas que neles se realizam, os djambis. Este livro que se tornou um marco para a Antropologia portuguesa é resgatado pelo poeta Miguel- Manso que sobre ele construiu o poema que agora se faz de novo teatro.
Rosto, Clareira e Desmaio junta assim dois textos poéticos, cada um dele refletindo à sua maneira sobre as máscaras, o visível e o invisível, o sagrado e o profano.
A poesia de Miguel-manso chega aos palcos pela mão da encenadora e atriz Susana Vidal
A poesia de Miguel-Manso chega aos palcos pela mão da encenadora e atriz Susana Vidal (D.R)
Do elenco deste trabalho fazem ainda parte os atores Bruno Alexandre, Carla Ribeiro, Cláudio da Silva e a própria Susana Vidal.
Tiago Rodrigues, por estes dias no Canadá a acompanhar a digressão de uma peça do Nacional, explicou ainda ao Observador que, apesar de estarem apenas três dias em cena, estes espetáculos vão fazer carreira por outras cidades do país: “A opção de fazer carreiras curtas não é uma política para todas as peças dos Nacional, mas a tentativa de se adequar ao público expectável para cada uma delas”.
Mais informação no site oficial do Teatro Nacional D. Maria II
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http://multimedia.expresso.pt/poemas/220814_Poema_Miguel_Manso/index.html
A poesia serve para quê?
Deixo-me ficar em silêncio. Como um mestre Zen.
Deve saber vários versos de cor. Qual o primeiro que lhe vem à cabeça?
Que um erro em tantos erros é concerto.
Se não fosse poeta português (ou de outro país) seria de que nacionalidade?
Uma amiga a viver em Angola conheceu aí um fulano que dá pelo nome de Cosmonauta Sozinho. Cosmonauta… e Sozinho, como toda a gente.
Um bom poema é...
Um ardil engenhoso.
O que o comove?
A infância como país lendário, submerso. A morte sucessiva e implacável de todos os seus habitantes.
Que poema enviaria ao primeiro-ministro português?
A antologia "Obra Quase Incompleta", de Alberto Pimenta, a que juntaria o mais que lhe vai avolumando a obra. Pese a afronta ao autor e a provável inépcia do destinatário.
Por sua vontade, o que ficaria escrito no seu epitáfio?
"Volto Já".
"O POEMA É ANTES DE TUDO UM PALCO PARA GESTOS SIMPLES
EU REGO AS FLORES DE JUNHO"
Miguel-Manso nasceu em Santarém, em 1979. Viveu em Almeirim até aos 20 anos, idade em que se mudou para o bairro de Campo de Ourique, em Lisboa. Estudou desenho no AR.CO, e fez um curso de Técnico de Biblioteca e Documentação. Não tem formação académica e acumula no curriculum vários ofícios: vigilante de museu, comissário de pista num kartódromo onde "acenava as bandeirinhas", padeiro na padaria dos avós, porteiro de hotel, ajudante de cargas e descargas de uma conhecida marca de roupa.
Atualmente não tem emprego a não ser o de escrever: "Escrevo e não escrevo poesia a tempo inteiro".
Não planeou ser poeta e explica que a vontade de escrever versos apareceu já depois dos 20 anos, quando conheceu a poesia de João Miguel Fernandes Jorge: "Era tão diferente de tudo o que tinha lido. Comecei por tentar imitá-lo".
Ainda adolescente lia os livros do Círculo de Leitores que iam aparecendo na estante da casa dos pais. Andou às voltas com a poesia de Alexandre O´Neill durante cerca de 3 anos: "Lia-o sem o entender e voltava ao livro várias vezes. Finalmente, deixei de precisar de perceber". Das primeiras leituras poéticas recorda também Alberto Caeiro, heterónimo de Fernado Pessoa, e Rui Knopfli.
Desde 2008 publicou oito livros de poesia, vários em edições de autor. Explica que não tem nada contra os editores mas que não quis submeter-se à deliberação de terceiros para saber se devia ou não publicar.
O primeiro livro chama-se "Contra a Manhã Burra". Quando o teve na mão enviou-o ao poeta Manuel de Freitas porque "gostava da poesia dele". "Tinha uma voz muito diferente do que se fazia na altura. Falava de charros e de tabernas." A resposta chegou por email. Manuel de Freitas iria escrever sobre o livro para o Expresso.
"Sair de Lisboa é poder continuar a escrever poesia" 
Nas semanas seguintes, Miguel Manso comprou religiosamente o jornal à espera do veredicto. Quando, finalmente, a crítica saiu estava de férias com os pais no Algarve. "Ele deu-me quatro estrelas e não havia um único livro à venda numa livraria. Tive de vir a correr para Lisboa para o distribuir."
"Contra a Manhã Burra" teve várias edições e vendeu quase 800 exemplares, coisa rara no mercado editorial de poesia, ainda mais tratando-se de uma estreia.
Depois do primeiro livro, publicou mais sete.
Além de poesia, Miguel Manso tem também no curriculum um filme-documentário chamado "Bibliografia", inspirado numa história de família. Em 1969, o pai de Miguel e três amigos de Almeirim construíram uma jangada com o objetivo de fazer a viagem da Foz da Ribeira da Sertã ao Cais das Colunas, em Lisboa. Não conseguiram fazer o percurso desejado mas os filhos, Miguel e João Manso, propõem-se repetir a aventura quatro décadas depois.
Dessa aventura resulta um filme que começa por mostrar a construção da jangada feita com prateleiras de uma estante de livros, e intercala literatura de viagem dos séculos XVI e XVII e poesia contemporânea com a viagem até Lisboa. É um filme-documentário a que Miguel Manso e o irmão João Manso gostam de chamar naufrágio.
"Além de escrever poesia, mantém uma horta biológica e é "inspetor" de capoeira" 
Há uns meses deixou o bairro de Campo de Ourique, em Lisboa, e mudou-se para uma aldeia do Concelho da Sertã: "Sair de Lisboa é poder continuar a escrever poesia".
O texto de Fernando Assis Pacheco que escolheu para ser lido aqui "podia ser uma despedida deste bairro" onde viveu 14 anos.
Atualmente está empenhado em recuperar a casa dos bisavós, onde vive com a namorada e uma criança de 8 anos, a que chama "Casa do Gigante" para resgatar a alcunha do bisavô.
Além de escrever poesia, mantém uma horta biológica com cebolas, alfaces, curgetes, pimentos e brócolos, e inspeciona diariamente a capoeira onde vivem cinco galinhas e um galo, em busca de ovos matutinos.
Tem uma gata e um cão.
Está a preparar um livro de poesia para sair em 2015.
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http://bibliotecariodebabel.com/geral/quatro-poemas-de-miguel-manso-2/

3 poemas de Miguel-Manso

ANTIMUNDO
Para o João Diogo
plágio manhoso do big-bang
a matéria do poema expande, arrefece
tão estranhamente se demora e permanece
semelhando o Universo
o poema é a imagem-espelho de um corpo
sem reflexo: a poesia
oco assimétrico, residual desse princípio
colocada em lugar dubitativo, separada quase sempre
do buraco negro a que chamam literatura
poder-se-á supor que poucos são os poetas
capazes de acelerar partículas
de modo a ver-se não só o que a luz já percorreu
mas a região mais central do nada, o pátio
furioso da potência
e neste lugar de substâncias, de objectos
as palavras são figuras do imundo, coisas que
sobraram do estampido inaugural desse ‘dia inicial inteiro
e limpo’ que culminou no lugar a menos deste texto
breve logaritmo sem aplicação ou saída
resta ao poeta o embuste
de afirmar o que propende para o infindo
espiar o acesso que cada coisa consente pela fissura do milagre
e dá pelo nome de imprevisto, ou acidente
a criança na rua abrindo o caixote do lixo
onde alguém sem saber depositou o assombro de um
balão de hélio branco ainda cheio
que se soltou e subiu à laia de lua ao fim da tarde
ao pé de casa
a criança pasmou, entristeceu depois
mais tarde lembrou-se: ‘tens de escrever um poema sobre o balão
que voou do lixo e não agarrámos’
um poema é a coisa mais triste que há
e escrevi
*
PIAZZA SAN MARCO – ACQUA ALTA
às Musas não interessam
drenagens, deixam alagar livremente
com o que sobrevém: a água do instante
subjectivo
quando o poeta era uma fera luminosa
e Veneza, sobre a laguna, a porta para o Levante
com seu tráfego de peregrinos imateriais – que também traziam
as laranjas douradas, a seda, a musselina
porcelanas, aço, pimenta
incenso e alívios
a cidade detinha um colégio de sábios
que sabia, em dialecto próprio, ser a magia
este palácio mergulhado nos silêncios
meio submersos
e que apenas a ciência da leitura paulatina
poderá ser o escafandro glotal e sinal que soltará
da grosseria eloquente
o espanto oculto do poema
*
NEM TANTA COISA DEPENDE
preferes o canto, o lugar oculto
a folhagem, a sombra, o quarto, este
saco de trigo: ouro de um texto
sobre a velha escrivaninha do real
lá fora o clarão do arvoredo
atalhos para a tingidura da paisagem
cá dentro menos caminho, outro
panorama: a presença tão-só
desabitada de uma pessoa, mistério sem
atributo ou função
sempre a desfeita de um coração
o cultivo intensivo das figuras
e sobram tristeza e dias ao corpo que escreve
no calabouço de uma manhã muito larga
reluzente de gotas de mel
enquanto os gatos lambem o sábado
e sentado, sapo de ouro, permites-te pôr no mundo
(mas porquê) outro poema

[in Ensinar o Caminho ao Diabo, edição do autor, 2012]
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http://bibliotecariodebabel.com/tag/miguel-manso/
Ensinar o Caminho ao Diabo
Autor: Miguel-Manso
Editora: edição de autor
N.º de páginas: 95
ISBN: 978-989-96644-2-5
Ano de publicação: 2012
Avaliação: 8/10
Um lugar a menos
Autor: Miguel-Manso
Editora: edição de autor
N.º de páginas: 90
ISBN: 978-989-96644-1-8
Ano de publicação: 2012
Avaliação: 7/10
Colocado voluntariamente à margem do mundo editorial, Miguel-Manso é um caso singular na literatura portuguesa contemporânea. Desde 2008 vem publicando, a expensas próprias, os seus livros de poemas: volumes simples, brancos, com grafismo sóbrio e paratexto fotográfico, uma série em curso (são já cinco) que o poeta apelidou «Os Carimbos de Gent», porque nas capas são reproduzidas imagens de carimbos comprados numa loja de velharias daquela cidade belga. Embora razoavelmente diferentes entre si, os livros partilham um mesmo tom, uma escrita atentíssima à pulsação caótica do mundo, pródiga em «entusiasmos verbais», em «proezas de linguagem», e com uma certa queda para as palavras raras (um verdadeiro festim para quem gosta de vocabulário arcaico, daquele há muito enterrado no fundo dos dicionários). Com edição simultânea, Um Lugar a Menos e Ensinar o Caminho ao Diabo são as obras mais recentes de Manso, confirmando as qualidades que já lhe reconhecíamos nos três primeiros livros.
Um Lugar a Menos é composto por algumas dezenas de textos curtos, em prosa, parágrafos bem lapidados que estão mais perto da reflexão aforística do que do lirismo. O título é um trocadilho com o locus amoenus, tópico da literatura clássica, mas os lugares que aqui se revelam e questionam são os da própria escrita, na sua difícil tarefa de olhar pela janela «os vestígios do mundo» e esconjurar a paisagem. Afirma Miguel-Manso: «A qualquer poemário devemos atribuir uma estrutura que permita todas as perplexidades.» É o que acontece neste livro exigente, umas vezes opaco, outras irónico (a variação de Cesariny para autarcas: «Ama como a rotunda começa»), outras tangencialmente próximo da realidade quotidiana (a história da mulher que esteve nove anos morta em casa). «Que o texto seja não o texto consumado mas o caminho para a consumação do texto», sugere o início de um dos fragmentos. E os outros fragmentos obedecem-lhe.
Menos hermético, Ensinar o Caminho ao Diabo é o livro de um poeta nocturno e invernal, um flâneur que «caminha de um lugar que não sabe / a um lugar que não pode», saltando de cidade em cidade (Lisboa, São Paulo, Londres, Évora, Veneza), rabiscando versos e suas cicatrizes («o caderno é a máquina fotográfica»), em busca do «espanto oculto» do poema, esse amontoado de palavras em deslocação que «é a coisa mais triste que há». Coisa triste mas necessária, capaz de dizer tudo com quase nada. Como prova este dístico escrito no Mindelo, Cabo Verde: «estão a construir um bar / e começaram pela música».
[Texto publicado no n.º 113 da revista Ler]
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Via Graça Silva
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O PREC EM 2008 o deus Silêncio ostenta as Inumeráveis águas nesta apertada livraria de Lisboa também ainda o primeiro título (poesia) de Manuel António Pina em ano de revolução que nesse tempo eram mesmo a sério as revoluções e podíamos acrescentar-lhes pela rua o nosso carme as madrugadas flores agora um amigo diz-me: “esta revolução não dá um passo!” concedo, mas não desisto incorro em certos delicados actos de guerrilha por exemplo deixo poemas em cafés ou em pequenas livrarias que ainda apoiam em segredo esta causa revolucionária depois mando as coordenadas sigilosas à amada que no dia seguinte quase sempre pela tarde os vai buscar [in Quando escreve descalça-se, Trama, 2008]