10/10/2017

6.303. (10ouTUbro2017.7.7') Richard Thaler

Nasceu a 12seTEMbro1945
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https://super.abril.com.br/blog/supernovas/richard-thaler-o-nobel-que-sabe-o-que-voce-esta-pensando/
Thaler começou a ficar famoso na década de 1970, quando notou que, na maior parte das vezes, as ciências econômicas são muito mais humanas que exatas – e que muitas previsões, modelos e teorias em voga nessa época não funcionavam porque não levavam em consideração o jeitinho imprevisível de ser da nossa espécie. Mas ele foi além: percebeu que essas irracionalidades cotidianas seguem padrões recorrentes, que foram identificados e sistematizados.
Por exemplo: semana passada eu atravessei a cidade para comprar potenciômetros – pecinhas que vão embaixo dos botões de volume de uma guitarra elétrica. Eles custam R$ 20 em uma loja distante – perto da minha casa, saem por R$ 40. Uma passagem de ônibus é R$ 3,80, então eu saio no lucro: ganho um passeio de final de semana, e sobra dinheiro para passar no mercado e comprar meu jantar.

Agora imagine uma situação um pouco diferente: eu preciso de uma guitarra nova. Ela custa R$ 4.980 na loja distante e R$ 5.000 na loja mais próxima. Será que eu vou mais longe por causa dessa diferença? Não. Mas são os mesmíssimos R$ 20 de economia, que pagariam o mesmíssimo jantar. Ou seja: nós encaramos descontos de maneira relativa, não absoluta.
Da mesma maneira, se alguém estiver em dúvida entre dois apartamentos, um custar R$ 200 mil, o outro custar R$ 202 mil, esse alguém provavelmente os tratará como opções de valor equivalente, e tomará a decisão baseado em outras variáveis. Mas pare e pense: o que você faria solto na rua com 2 mil reais? Compraria uma guitarra, talvez?
Quem comprou uma garrafa de vinho que hoje vale R$ 500 por R$ 50 em 1970 provavelmente não pensará que está jogando R$ 450 no lixo ao bebê-la – e eu nem coloquei a inflação na conta. E uma criança que precisa optar entre ganhar um chocolate agora ou dois mais tarde muitas vezes opta por ficar com um só – e ter seu desejo satisfeito imediatamente. Distorções curiosas como essas, todas provadas por experimentos científicos (e pelo cotidiano), influenciam a forma como lidamos com o dinheiro muito mais do que reflexões racionais.
É um caso típico de ovo de Colombo: é fácil perceber que psicologia e economia são inseparáveis 40 anos depois de Thaler e outros pioneiros criarem uma área de pesquisa inteira dedicada a isso – a economia comportamental. Mas em seu tempo, economistas tradicionais o trataram como um herege, que tentava injetar incerteza na matemática impecável das teorias clássicas.

Graças a Thaler, hoje sabemos que posicionar produtos de determinada forma nas prateleiras dos supermercados torna os clientes mais propensos a comprá-los (ou não). Que informar na conta de luz de um indivíduo quanto seus vizinhos gastam o estimula a gastar menos que eles. E entendemos até os mecanismos psicológicos que levaram à crise mundial de 2008 – o que justifica a aparição do economista em A Grande Aposta. Um Nobel merecido – e mais pop que a média
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Selena Gomez com Richard Thaler
https://www.youtube.com/watch?v=Bi0QVF1DKHk

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economia comportamental...investiga:
 "as implicações de relativizar as suposições económicas padrão de que todos na economia são racionais e egoístas, abordando a possibilidade de alguns dos agentes da economia por vezes serem apenas humanos".
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49.º Nobel economia (2017)
O ECO reuniu assim sete citações das suas obras mais aclamadas, sendo elas “Nudge: O Empurrão para a Escolha Certa” e “Comportamento Inadequado: A Construção da Economia Comportamental”, para lhe dar um empurrãozinho na teoria da economia comportamental

  1. "Primeiro, nunca subestime o poder da inércia. Segundo, esse poder pode ser aproveitado.”
  2. "Se quer encorajar alguém a fazer alguma coisa, faça com que seja simples.”
  3. "A maior lição é que, assim que se percebe um problema comportamental, é possível inventar uma solução comportamental para ele.”
  4. "As pessoas pensam na vida em termos de mudanças e não de níveis. Podem ser mudanças de status quo ou de expectativas, mas qualquer que seja a forma, são as mudanças que nos fazem felizes ou miseráveis.”
  5. "Lembre-se que as pessoas gostam de fazer o que a maioria pensa que é certo. Lembre-se também que as pessoas gostam de fazer o que a maioria realmente faz.”
  6. "Não há melhor maneira de construir confiança em torno de uma teoria do que acreditar que não é testável.”
  7. "Ao desenvolvermos propriamente os incentivos e os empurrões, podemos melhorar a nossa capacidade de tornar a vida dos outros melhor e ajudar a resolver muitos dos maiores problemas da sociedade. E conseguimos fazer isto protegendo o direito de escolha de todos.”
https://eco.pt/2017/10/09/sete-frases-para-entender-o-nobel-da-economia/
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“Somos mais parecidos com Homer Simpson do que com Einstein”

http://expresso.sapo.pt/economia/2017-10-09-Richard-Thaler-Somos-mais-parecidos-com-Homer-Simpson-do-que-com-Einstein

Numa entrevista à revista “Exame”, em novembro de 2009 e que aqui se republica, Richard Thaler, premiado esta manhã com o Nobel de Economia de 2017, defendia que, muitas vezes, tudo o que as pessoas precisam para tomar as melhores decisões para si próprias, as suas famílias e a sociedade em geral, é de um pequeno “nudge”

As pessoas têm de tomar inúmeras decisões, todos os dias. E, muitas vezes, fazem más escolhas. Tudo porque os seres humanos são criaturas imperfeitas.
Esta foi a premissa-base de que partiram Richard Thaler, professor de Economia e Ciência Comportamental, na Universidade de Chicago, e Cass R. Sunstein, professor de Direito, na mesma universidade e hoje diretor do Gabinete de Informação e Regulação de Mercados da Casa Branca, para escrever "Nudge Improving Decisions About Health, Wealth, and Happiness".
A obra, editada em Portugal pela Academia do Livro com o título "Nudge –Como Melhorar as Decisões Sobre Saúde, Dinheiro e Felicidade", foi um sucesso junto da crítica e do público. Steve D. Levitt, economista e coautor de Freakonomics, foi um leitor entusiasta: "Adoro este livro. É das poucas obras que li nos últimos tempos que mudou, de forma fundamental, a maneira como penso sobre o mundo."
"Nudge" foi também fonte de inspiração para o antigo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que durante anos foi colega dos autores na Universidade de Chicago.
Porque é que "Nudge" é tão marcante? O livro mostra que percebendo a forma como as pessoas pensam, é possível desenhar ambientes de escolha que tornam mais fácil para elas tomarem as melhores decisões para si próprias, as suas famílias e a sociedade em geral. Tudo isto com uma escrita divertida e acessível ao grande público, e utilizando inúmeros exemplos do mundo real. Afinal, muitas vezes, tudo o que as pessoas precisam é de um pequeno nudge, expressão que em português pode ser traduzida como estímulo, empurrãozinho ou toque.
Richard Thaler um dos "pais" da economia comportamental, que integra investigação na área da psicologia com a teoria económica explica em entrevista à "Exame" as ideias por trás de "Nudge". E afirma: "Tenho consciência de que é possível utilizar os princípios de nudging para enganar as pessoas, ou fazer batota. Não inventámos o conceito. Por isso, quando autografo exemplares do livro escrevo sempre: 'Nudge para o bem!' Espero que seja isso que as pessoas façam."
Porque é que escreveu "Nudge", em parceria com Cass Sunstein?
Faço investigação no campo da economia comportamental há 30 anos, mas tenho, no essencial, escrito para uma audiência de economistas profissionais. Quis tentar alcançar um público mais vasto, tanto de não académicos, como de pessoas cuja língua-mãe não é o inglês.
Qual é a principal mensagem do livro?
Começamos com a premissa da economia comportamental que é, simplesmente, os seres humanos são criaturas imperfeitas.
Não somos infinitamente inteligentes, nem possuímos um autodomínio perfeito. Somos mais parecidos com Homer Simpson do que com Albert Einstein. Estas observações parecem óbvias, mas a economia tradicional não incorporou estes factos. Depois, perguntamos como é que podemos tornar o mundo num lugar mais fácil para as pessoas reais viverem.
O que é que a economia comportamental pode ensinar a qualquer pessoa que leia o livro?
Estudando a forma como as pessoas cometem erros, podemos todos ver-nos a nós próprios a cometer esses mesmos erros e, deste modo, podemos aprender a ser melhores decisores.
"Nudge" utiliza exemplos tão díspares como urinóis das casas de banho dos homens, refeitórios escolares, planos de poupança para a reforma, doação de órgãos e casamentos. A economia comportamental tem ensinamentos para todas as áreas da vida humana?
Sim. Já houve pessoas a dizer-me que estavam a usar as ideias de Nudge para lidarem com os seus filhos, ou no seu emprego.
Os princípios são gerais.
Como chegou a exemplos tão diversos?
Como disse, faço investigação nesta área há 30 anos, por isso recolhi inúmeros exemplos. Além disso, sei pela minha experiência de muitos anos de ensino que as pessoas aprendem melhor a partir de exemplos da vida real.
O livro salienta que, todos os dias, tomamos muitas decisões e, infelizmente, muitas vezes escolhemos mal. Porque é que isto acontece?
Um dos maiores problemas dos seres humanos é que não podemos aprender, não conseguimos evoluir, se não recebemos feedback, e muitas das decisões mais importantes da vida acontecem raramente. Compramos uma casa apenas algumas vezes na vida. E, a maioria de nós, casa-se apenas uma vez ou duas. Mesmo os problemas menores tornaram-se mais complicados ao longo do tempo. Quando eu era miúdo havia apenas um tipo de telefone e era preto. Agora, quase é necessário um MBA para escolher um tarifário da rede móvel, e não nos podemos dar ao luxo de gastar todo o nosso tempo a tomar decisões.
Referiu que uma das principais falhas da teoria económica tradicional é assumir que as pessoas fazem sempre escolhas racionais e completamente informadas, quando a realidade não é assim. Quais são as implicações para a regulação e as políticas públicas?
O objetivo deve ser criar ambientes em que seja mais fácil para pessoas ocupadas e pouco sofisticadas fazerem escolhas sensatas, sem recorrerem a proibições e mandatos.
O livro mostra isso, que é possível desenhar ambientes que tornam mais fácil para as pessoas fazerem boas escolhas, através daquilo que designa por arquitetura da escolha. Como é que isto pode ser feito? Utiliza a ideia de paternalismo libertário.
Um arquiteto da escolha é qualquer pessoa que desenha o ambiente em que fazemos escolhas. No livro ilustramos a ideia com o exemplo de um refeitório escolar, cujos responsáveis descobrem que a ordem de apresentação da comida influencia o que as crianças comem. Que utilização deve ser feita desta informação? Se acha que a direção da escola deve tentar que as crianças comam de forma mais saudável, por exemplo, colocando a fruta num local mais proeminente do que os doces, então é um paternalista libertário.
O que é que isso significa de facto?
Significa que se quer manter a liberdade para fazer opções e também ajudar as pessoas a fazerem boas escolhas.
Pode dar alguns exemplos?
Um exemplo é a escolha de opções por defeito. A maioria dos planos de poupança para a reforma nas empresas são sistemas opt-in, ou seja, uma pessoa tem de tomar a iniciativa de aderir, preencher alguns formulários e fazer algumas escolhas. Resultado: muitas nunca o fazem. Por isso, algumas companhias adotaram a "inscrição automática", tornando estes planos em sistemas opt-out, ou seja, a adesão acontece por defeito, e quem não quiser ser abrangido tem de o manifestar. Nesta modalidade quase toda a gente adere de imediato.
Quais são os princípios fundamentais por trás da arquitetura da escolha?
A escolha de opções por defeito é um deles. Dois outros são esperar o erro - errar é humano - e dar feedback às pessoas.
E, que regras deve seguir?
É importante que o arquiteto da escolha recorra a especialistas que o ajudem a determinar o que são boas escolhas. O arquiteto da escolha não precisa de ser especialista em nutrição, finanças, ou qualquer outra área, mas há especialistas cujo conhecimento pode ser utilizado.
A crise financeira trouxe a economia comportamental para a luz da ribalta, porque na sua base estiveram más decisões e tomada de risco. Como é que Nudge pode ajudar a melhorar o funcionamento do sistema financeiro e prevenir novas crises como esta?
Nudge pode ajudar de muitas formas. Larry Summers (director do National Economic Council, nos Estados Unidos, e um dos conselheiros do Presidente Barack Obama) afirmou num discurso recente: "A experiência sugere que ao invés de tentar aperfeiçoar o julgamento humano, as políticas públicas podem ser melhor sucedidas tornando as imperfeições inevitáveis menos onerosas." Esta é, exatamente, a mensagem de Nudge.
TRADUTOR SIMULTÂNEO

Arquiteto e arquitetura da escolha e paternalismo libertário são algumas expressões do glossário de "Nudge"

Arquiteto da escolha: Pessoa responsável por organizar a forma como as outras tomam decisões. Os arquitetos da escolha reconhecem que o desenho neutral é impossível, e mesmo decisões aparentemente arbitrárias como a localização das casas de banho num edifício têm muita importância. E não apenas na área económica. Um médico que descreve tratamentos alternativos a um doente é um exemplo.

Arquitetura da escolha: Estrutura desenhada por um arquiteto da escolha para melhorar a qualidade das decisões feitas pelas pessoas. Muitas vezes (quase) invisível, é a forma específica, amiga do utilizador, de uma política organizacional ou pública, ou de uma estrutura física (como um edifício).

Homo economicus: Uma pessoa, segundo a teoria económica tradicional. Alguém que, quando tem de tomar uma decisão, pensa em todas as opções disponíveis, e faz sempre uma grande escolha. O homo economicus tem a capacidade mental de Albert Einstein e o autocontrolo de Mahatma Gandhi.

Homo sapiens: Qualquer pessoa.

Paternalismo libertário: Tipo de paternalismo suave e não intrusivo, em que as escolhas não são bloqueadas, vedadas, ou sobrecarregadas de forma significativa. É uma abordagem filosófica à governação, pública ou privada, para ajudar as pessoas que querem fazer escolhas que melhorem as suas vidas, sem infringir na liberdade de todas as outras.

Nudges: Ferramentas de escolha para paternalistas libertários e arquitetos da escolha. A escolha de opções por defeito e os incentivos (baseados no mercado ou criados socialmente) são dois exemplos.
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http://expresso.sapo.pt/economia/2017-10-09-Richard-Thaler-vence-Nobel-da-Economia
 professor da universidade de Chicago nos EUA, é o vencedor de 2017 do Prémio do Banco da Suécia em Ciências Económicas, conhecido como o Nobel da Economia. Thaler é norte-americano, tem 72 anos e é um dos maiores especialistas mundiais em economia comportamental.
O agora premiado é autor de best-sellers mundiais sobre ciências do comportamento, nomeadamente "Nudge" (em coautoria com Cass Sustein), de 2008, e "Misbehaving", de 2015, bem como de vários artigos académicos sobre economia comportamental.
Nos últimos anos, têm surgido inúmeros trabalhos a questionar a racionalidade dos agentes económicos – usada numa parte importante dos principais modelos teóricos – e Richard Thaler é um dos nomes mais importantes desta área de investigação.
"Thaler é pioneiro na economia comportamental, uma área de investigação onde são aplicados resultados da psicologia às decisões económicas", lê-se no comunicado do anúncio do prémio. Que acrescenta: "Uma perspetiva comportamental incorpora uma análise mais realistas sobre como as pessoas pensam e se comportam quando tomam decisões económicas, oferecendo novas oportunidades para desenhar medidas e instituições que aumentem o benefício para a sociedade."
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2015

Arquitetura das escolhas

http://economia.estadao.com.br/blogs/marcas-causas-pessoas/arquitetura-das-escolhas/
Regina Augusto
24 Setembro 2015 | 07h53

Em 2008, o professor da Universidade de Chicago, Richard Thaler, conselheiro informal do então candidato à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama e um dos grandes expoentes da chamada economia comportamental lançou o best seller “Nudge – aprimore suas decisões sobre saúde, riqueza e felicidade”. A obra, feita em coautoria com Cass Sustein, foi lançada no Brasil um ano depois pela editora Elsevier com o subtítulo “O Empurrão para a escolha certa”. Mais do que uma introdução acessível a essa linha da teoria econômica ao traçar as duas formas de pensamento (automática e reflexiva), os autores se apresentam como arquitetos de escolhas. A saber: aqueles que têm a responsabilidade de organizar o contexto no qual as pessoas tomam decisões.
Eles listam seis princípios da boa arquitetura das escolhas: estruturas complexas, entender mapeamentos, esperar erros, incentivos, opções predefinidas e fornecer feedback. Thaler e Cass partem do princípio de que não existe design neutro, ou seja, tudo importa. Um arquiteto de escolhas deve influenciar as pessoas a tomarem boas decisões, dando uma cutucada, uma orientação, ou seja, em inglês nudge.
Fico imaginando qual deve ter sido o nudge que levou a Volkswagen a tomar a decisão de colocar um software em seus carros movidos a diesel para fraudar emissão de gases poluentes. Ainda mais no mercado mais desenvolvido do mundo, os Estados Unidos.
Que tipo de argumentação e negociação fizeram com que os engenheiros da companhia alemã, que até então disputava a liderança global da indústria automobilística, levassem a cabo esse tipo de decisão? Qual o mapeamento de riscos feito por esses executivos que os levou a por em prática uma medida tão nefasta?
Se para se aprovar iniciativas muito menos complexas como, por exemplo, uma campanha de comunicação, exige-se uma ginástica incrível com várias instâncias de aprovação, inúmeras devolutivas, refações de trabalhos e meses de suor, o que dirá de um processo que resulta numa tomada de decisão como a que põe nos produtos um dispositivo que rouba no jogo?
Na sexta 18, dois órgãos norte-americanos, a EPA (agência federal de proteção ambiental) e a ARB (agência californiana de controle da qualidade do ar), informaram que a Volkswagen havia instalado em mais de meio milhão de veículos um dispositivo que servia para burlar os controles de emissões de partículas poluentes. Desde então, uma reação em cadeia de estragos não dá sinais de que vai parar tão cedo em uma poderosa espiral de destruição que carrega para o olho do furacão tudo o que encontra ao seu redor.
A última vítima foi o CEO da Volkswagen, Martin Winterkorn, que renunciou ao cargo nesta quarta 23. “Estou fazendo isso pelo bem da companhia ainda que não esteja ciente de nenhum erro da minha parte. Estou chocado com os eventos dos últimos dias. Acima de tudo, estou abismado por como foi possível um erro de conduta de tal tamanho no Grupo Volkswagen. A Volkswagen precisa de um recomeço do zero – mesmo em termos de pessoal. Estou deixando o caminho livre para esse recomeço com a minha renúncia”, diz Winterkon em trechos do comunicado.
Na segunda 21, durante evento de apresentação de uma nova versão do modelo Passat, que contou com a participação do cantor Lenny Kravitz, Michael Horn, principal executivo da VW nos Estados Unidos, pediu reiterada desculpas pelo escândalo. “Ferramos tudo”, disse ele após admitir o erro. “Fomos desonestos com a EPA, fomos desonestos com o conselho da ARB, fomos desonestos com todos vocês”, afirmou ao se comprometer a recuperar a confiança dos consumidores norte-americanos.
Exatamente esse é o grande ponto em questão: confiança. Nas décadas de 1980 e 1990, o slogan da Volkswagen no Brasil era “você conhece, você confia”. Agora a montadora alemã faz movimentos opostos a essa poderosa frase de efeito
É inegável a dimensão estrondosa do prejuízo econômico de uma tragédia de reputação como essa. Na abertura dos mercados financeiros no início da semana, as ações da Volkswagen despencaram 19% atingindo em três dias perdas acumuladas da ordem de 25 bilhões de euros. Se não houver um acordo extrajudicial, a empresa alemã pode ter de pagar uma multa de até 37.500 dólares (148.000 reais) por veículo vendido, o que no total chegaria a 18 bilhões de dólares (71 bilhões de reais). Seria a indenização mais alta paga por uma empresa alemã nos EUA.
Abalo na economia alemã também é esperado já que a VW é uma das maiores empregadoras do país europeu com cerca de 270 mil funcionários. O prejuízo não para apenas na montadora. Outras empresas automobilísticas do continente começam a sofrer os efeitos deste escândalo também com quedas em suas ações ao longo da semana como Daimler, BMW, Peugeot e Renault. Escaldado, o governo americano vai investigar outras empresas do setor para apurar se também existem mais fraudes do tipo.

Está comprovado cientificamente que por volta de 85% das crises pelas quais as empresas passam são provocadas por fatores internos, ou seja, controláveis. O escândalo da Volkswagen, que aparentemente não vai parar na própria montadora, é um exemplo clássico da combinação bombástica que mistura soberba, ambição desmesurada e miopia empresarial. O final é trágico. Afinal, vivemos em mundo onde não há mais atalhos para se sair bem. Espera-se que companhias globais com marcas respeitadas no seu portfolio tomem um pouco mais de cuidado no seu ímpeto de ganhar market share a qualquer preço. Esse é um estudo de caso que está só começando. Ainda é cedo para avaliar se a força da marca combinada com uma gestão eficiente dessa crise sem precedentes poderá reverter parte dos estragos que já foram feitos. A lição que fica é curta e reta: reputação é uma jovem senhora que merece muito respeito e não tolera desaforos.