05/03/2018

4.864.(5mar2018.16.16') António Maria Lisboa

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nasceu a 1aGOSTO1928
e morreu a 11noVEM1953
1 Ago 1928 // 11 Nov 1953
***

H

Sei que dez anos nos separam de pedras
e raízes nos ouvidos

e ver-te, ó menina do quarto vermelho,
era ver a tua bondade, o teu olhar terno
de Borboleta no Infinito

e toda essa sucessão de pontos vermelhos no espaço
em que tu eras uma estrela que caiu
e incendiou a terra

lá longe numa fonte cheia de fogos-fátuos.
*

Z

As formas, as sombras, a luz que descobre a noite
e um pequeno pássaro

e depois longo tempo eu te perdi de vista
meus braços são dois espaços enormes
os meus olhos são duas garrafas de vento

e depois eu te conheço de novo numa rua isolada
minhas pernas são duas árvores floridas
os meus dedos uma plantação de sargaços

a tua figura era ao que me lembro da cor do jardim. 
*

Rêve Oublié

Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim
nesta minha mania de te dar o que tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti

Agora na superfície da luz a procurar a sombra
agora encostado ao vidro a sonhar a terra
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
e depois matar-te e dar-te vida eterna

Continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
continuar a viver até cristalizar entre neve
continuar a contar a lenda duma princesa sueca
e depois fechar a porta para tremermos de medo

Contar a vida pelos dedos e perdê-los
contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada
contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
e depois contar um a um os teus dedos de fada

Abrir-se a janela para entrarem estrelas
abrir-se a luz para entrarem olhos
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala
e depois ruidosa uma dentadura velha
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro

E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata.
*

Vírgula

Eu menino às onze horas e trinta minutos
a procurar o dia em que não te fale
feito de resistências e ameaças — Este mundo
compreende tanto no meio em que vive
tanto no que devemos pensar.

A experiência o contrário da raiz originária aliás
demasiado formal para que se possa acreditar
no mais rigoroso sentido da palavra.

Tanta metafísica eu e tu
que já não acreditamos como antes
diferentes daquilo que entendem os filósofos
— constitui uma realidade
que não consegue dominar (nem ele próprio)
as forças primitivas
quando já se tem pretendido ordens à vida humana
em conflito com outras surge agora
a necessidade dos Oásis Perdidos.

E vistas assim as coisas fragmentariamente é certo
e a custo na imensidão da desordem
a que terão de ser constantemente arrancadas
— são da máxima importância as Velhas Concepções pois
a cada momento corremos grandes riscos
desconcertantes e de sinistra estranheza.

Resulta isto dum olhar rápido sobre a cidade desconhecida.
E abstraindo dos versos que neste poema se referem ao mundo humano
vemos que ninguém até hoje se apossou do homem
como o frágil véu que nos separa vedados e proibidos. 
*

Conjugação

Para o A. Cruzeiro Seixas

A construção dos poemas é uma vela aberta ao meio
             e coberta de bolor
é a suspensão momentânea dum arrepio num dente
             fino
Como Uma Agulha

A construção dos poemas
A CONS
TRU
ÇÃO DOS
POEMAS

é como matar muitas pulgas com unhas de oiro azul
é como amar formigas brancas obsessivamente junto
             ao peito
olhar uma paisagem em frente e ver um abismo
ver o abismo e sentir uma pedrada nas costas
sentir a pedrada e imaginar-se sem pensar de repente

                            NUM TÚMULO EXAUSTIVO. 
*
P

rojecto de Sucessão

Para o Mário Henrique

Continuar aos saltos até ultrapassar a Lua
continuar deitado até se destruir a cama
permanecer de pé até a polícia vir
permanecer sentado até que o pai morra

Arrancar os cabelos e não morrer numa rua solitária
amar continuamente a posição vertical
e continuamente fazer ângulos rectos

Gritar da janela até que a vizinha ponha as mamas de fora
por-se nu em casa até a escultora dar o sexo
fazer gestos no café até espantar a clientela
pregar sustos nas esquinas até que uma velhinha caia
contar histórias obscenas uma noite em família
narrar um crime perfeito a um adolescente loiro
beber um copo de leite e misturar-lhe nitro-glicerina
deixar fumar um cigarro só até meio
Abrirem-se covas e esquecerem-se os dias
beber-se por um copo de oiro e sonharem-se índias. 
*

Uma Vida Esquecida

Para o Fernando Alves dos Santos

Eu conheço o vidro franja por franja
meticulosamente
à porta parado um homem oco
franja por franja no espaço
meticulosamente oco uma porta parada.

Um relógio dá dez badaladas ininterruptamente
dez badaladas por brincadeira dança
um homem com pernas de mulher
e um olhar devasso no Marte
passo por passo uma criança chora
uma águia e um vampiro recuados no tempo. 

in "Ossóptico e Outros Poemas" 
http://www.citador.pt/poemas/a/antonio-maria-lisboa
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4feVER2018
Observador...artigo da Joana Emídio Marques
Viveu apenas 25 anos e deixou uma obra curta, fragmentária, hermética. Foi o mais radical dos surrealistas portugueses. Contrariando o esquecimento, Joana Lima publica o primeiro livro sobre o poeta.
É provável que, fora do circuito académico ou dos meios literários, a maior parte dos portugueses não saiba quem foi este António Maria Lisboa, que morreu de tuberculose num quarto alugado na Graça, no longínquo ano de 1953 com apenas 25 anos. A obra que deixou é curta, fragmentária, hermética, onde a filosofia e a poesia se juntam para lançar as bases de um novo mundo.
Contudo foi o mais radical dos surrealistas portugueses, não apenas porque lançou as bases teóricas do movimento na sua vertente abjecionista, mas também porque, como nenhum outro ele lhe entregou o próprio corpo, a própria vida. No ano em que o poeta faria 90 anos e passam 65 sobre a sua morte, Joana Lima, investigadora, e a editora Colibri atrevem-se a publicar o primeiro livro sobre a obra deste neófito: António Maria Lisboa, eterno amoroso.
No momento em que a poesia ganha definitivamente o estatuto de objeto de consumo rápido, veja-se como proliferam as antologias de poemas, é a poesia na sua versão “fé em deus” como se de batatas se tratasse. Num gesto que contraria a poesia “fast food”, a pequena editora Colibri aceita o risco de publicar uma investigação académica densa, que não cede nunca ao facilitismo ou aos apelos românticos da vida deste jovem, tão amado por Mário Cesariny, cultuado por António José Forte e Luiz Pacheco, cuja biografia insiste em fugir entre os dedos da perseguem e onde só a obra fala.
Joana Lima seguiu os passos de outras investigadoras que já tinham trabalhado sobre a obra de Lisboa, como Tânia Martucelli, Isabel Cambra e Maria João Cameira, mas adentrou-se pelo lado mais hermético do poeta, procurou desvendar-lhe os símbolos, encontrar novas pistas de leitura através daqueles que foram as fontes matriciais do poeta: a alquimia, as religiões pré-clássicas, as mitologias ocidental e oriental mas também os surrealistas franceses, com André Breton à cabeça.

Ao contrário do que o título pode sugerir aos incautos, “eterno amoroso” não tem nada que ver com o romantismo, mas é uma das fases do percurso iniciático desenhado por Lisboa, que devia ser percorrido pelos poetas para chegarem à iluminação, ao conhecimento, ao absoluto. Joana Lima desvenda-nos este caminho, os seus desvios, as suas contaminações e mostra-nos como, de facto, é grandiosa a poesia de Lisboa, toda a cultura acumulada num espírito de apenas 25 anos, que teria poucos estudos escolares, que vinha de famílias modestas. Mais: este livro mostra-nos como cada verdadeiro poema é um caminho, uma rede de ligações, fusões, antinomias, sínteses, contradições, onde a identidade do poeta — o seu nome — é o que menos interessa, porque a poesia não é um veículo de identidades, vaidades, mas de conhecimento e de construção de uma ética libertadora de todos os homens.
"Navegamos por águas longe e pelo nevoeiro. A bordo do nosso navio fantasma SOMOS O QUE SOMOS e ao nosso redor apenas o chapinhar das águas misteriosamente calmas de encontro ao casco nos impressiona e informa. Acreditamos que jamais o homem será escravo enquanto houver um só Poeta, isolado e ignorado que seja, a reclamar a si mesmo a decisão ou indecisão magníficas.
O homem não é um “animal”. Esta catalogação é um erro da Biologia.
Agrada-me profundamente saber que eu estou num ponto do Universo que necessita ser esticado para o lado de fora, quero dizer: para a minha frente. Se rebentar é a minha mais profunda aspiração que foi satisfeita!
O Futuro é tão antigo como o Passado. E ao caminharmos para o Futuro é o Passado que conquistamos!”
(AML, “Certos Outros Sinais”)
No momento em que os poetas surrealistas (curiosamente, o mesmo não se passa com os pintores) estão a ser efusivamente redescobertos, esse justo reconhecimento corre o risco de fazer deles tudo o que eles jamais terão querido ser: poetas do sistema, de alguma maneira. Será curioso ver se a poesia de António Maria Lisboa, onde conflui a linguagem surrealista mais radical com a alquimia, o hermetismo, cuja dimensão simbólica a torna um objeto difícil, será também redescoberta ou se continuará no limbo. De qualquer forma, não importa, porque como Fernando Pessoa, Hermes de Trimegisto, Isadore Ducasse ou Rimbaud, Lisboa sabia que para os neófitos não há morte.

Quem é António Maria Lisboa?

Grupo Surrealista de Lisboa, António Maria Lisboa, ao fundo da sala encostado à coluna, na 1ª exposição do grupo em 1949
Os escassos dados biográficos não permitem reconstituir a sua curta vida, podia ter sido mais uma criação dos próprios surrealistas, este menino de rosto anguloso que Cruzeiro Seixas achava belo e fotografou neste ângulo (foto acima) em que os ossos salientes fazem antever a sua face morta — podia ser Osiris, filho de Isis, deuses da mitologia egípcia que tanto o influenciou.
Osiris, o primeiro homem mumificado e depois aquele em quem se tornavam todos os que morriam. Pode ter sido uma reencarnação de Isadore Ducasse, morto aos 24 anos, também ele sem biografia mas com uma poética do Mal, do crime, da transgressão, que foi incorporada no percurso iniciático concebido por Lisboa, onde, como explica Joana Lima, “o Mal é entendido como fundamental ao desenvolvimento histórico”. É no poema que escreve sobre Maldoror que Lisboa sintetiza brilhantemente todo o Surrealismo na ideia de “imagem louca”.
Sabemos que fez parte do 2º grupo Surrealista, conhecido como Grupo Surrealista de Lisboa, que era amigo de infância de António Risques Pereira, que foi apresentado a Mário Cesariny por Pedro Oom num café da avenida da República. Que em 1948 fundam o grupo, do qual faziam parte Henrique Risques Pereira, Mário-Henrique Leiria, António Maria Lisboa, Pedro Oom, Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas, Carlos Eurico da Costa e Fernando Alves dos Santos.
“Isso Ontem Único” foi editado por Luiz Pacheco já depois da morte do poeta
Como testemunham alguns dos surrealistas neste documentário da RTP, de 1978, que se pode ver aqui, Lisboa era um portento intelectual que intimidava os outros, por vezes irascível inconstante, mas também com um humor constante e “mauzinho”, como afirma Mário-Henrique Leiria. Nesse final dos anos 40, viviam todos de forma bastante precária, tinham vagos trabalhos, nunca havia dinheiro, nem casa própria, viviam nos cafés, juntavam a custo “7 réis para a bica” ou dinheiro para Cesariny apanhar o ultimo elétrico para casa. Mas, sobretudo, andavam a pé, passavam horas nas livrarias a folhear livros que não podiam comprar.
Pelo meio, dedicavam-se a atividades surrealistas que consistiam em insultar certas pessoas na rua, fazer passeios pictóricos, andar com os seus quadros, esculturas, etc às costas, pela rua, escreviam folhas volantes, faziam “cadáveres-esquistos” e, é claro, sonhavam com Paris, a pátria do Surrealismo. Era certamente uma Lisboa poética muito diferente da atual, ou igual apenas na existência de grupos e grupinhos, farpas, quezílias, amuos, disputas, vaidades, como se pode ver nas cartas que AML escrevia de Paris aos companheiros, compiladas no volume da Assírio & Alvim que reúne toda a sua obra, e que também tem edição de bolso na BI.

Edição de bolso da obra reunida de António Maria Lisboa
Hoje, a nossa vida num regime democrático, numa sociedade de consumo, de costumes liberais e veículo próprio, dificilmente pode perceber no osso como se convivia diariamente paredes meias com a fome, a falta de tudo, a impossibilidade de sonhar um futuro para lá desta circunstância e, ainda assim, não se vender a nenhum amo. Foi como uma estratégia de sobrevivência que Lisboa criou então as bases do Abjecionismo, com Pedro Oom, mas numa linha diversa deste e até das bretonianas. Pois onde Breton colocava a pureza como ideal, Lisboa colocava a sobrevivência que visa superar a angústia e a abjeção, que era a situação política e cultural portuguesa. O Abjecionismo teorizado sobre as bases do surrealismo vai ter em Lisboa o seu mais corajoso protagonista, como escreve Mário Cesariny no prefácio à obra de AML
“Por muito que a sintamos válida e sedutora, nada percebemos da violenta sinceridade de António Maria Lisboa se não percebermos nela o acréscimo por rutura que é o seu abandono das formas e das fórmulas, por que tem subsistido o pensamento ocidental(…)”
Ora esse abandono das formas rigidamente fixadas no “Penso, Logo Existo” de Descartes era uma das ambições dos surrealistas, que consideravam uma teoria que dá jeito “aos que têm medo do escuro”, como diz Cesariny. Lisboa não tinha medo da noite, dos mistérios, e por isso escolheu caminhos menos fáceis e onde é quase sempre noite, como os misticismos desse oriente a Oriente do Oriente que já fascinara Álvaro de Campos e que será também fundamental a Manuel de Castro.
Virás ao saberes da existência do Surreal quando os homens furiosamente afirmam
a sua vida, quando das paredes derruídas vêm palavras estranhas e preveem o futuro
hieróglifos indecifráveis inscritos nas pedras dos túmulos te indicam (…)”
(AML, “Isso, Ontem, Único”)
Se não podemos conhecer bem os caminhos da vida de Lisboa, com o livro de Joana Lima ficamos a conhecer o percurso da sua filosofia poética que se dividia em três etapas: Plano Circunvalado, Iniciação, Estrela. Entre a primeira e a terceira etapa, Lisboa terá contraído tuberculose, provavelmente na sua primeira incursão a Paris, às escondidas da família, sem ter quaisquer condições financeiras para permanecer na capital francesa. A dureza desses dias merece-lhe vagos apontamentos, pois nas cartas que escreve para Lisboa tudo o que lhe interessa contar são os encontros e desencontros com os surrealistas franceses, as promessas, o deslumbramento com as experiências que vivia.
Nessa religião postulada como poesia, AML faz de cada poeta um “novo amoroso”, entregue ao devir, que procura a poesia como conhecimento, como o alquimista procura a pedra filosofal. Esse devir só era compatível com o fragmento, por isso essa é a forma como a obra de Lisboa se apresenta. Por isso, a morte não existe. O poeta está aquém e além da morte.
Depois de diagnosticada a doença e ciente da sua gravidade, a família conseguiu que fosse internado num sanatório. Mas o poeta não se mantém lá tempo suficiente para se curar. Cesariny conta que quando ele vai pela segunda vez para Paris já tinha um pulmão destruído e essa viagem, de novo sem quaisquer condições, foi-lhe fatal. Mas, apesar dessa convivência com a morte próxima, a sua poesia não se torna dramática, angustiada, mas sim cada vez mais solar, mais virtuosa, mais potente “como se ele criasse a expensas da morte”, dirá Mário Cesariny. Uns dirão que teve uma vida suicida, outros que morreu asfixiado por este país, outros ainda que foi surrealista ou abjecionista, simbolista, anjo. Ele dirá que “tudo é possível até a nossa própria vida.”

Sabe-se que a mãe teve que ir trabalhar para África para lhe poder pagar o quarto na Graça, para que ele pudesse morrer com dignidade. No dia 11 de Novembro de 1953, deixou esse corpo espúrio e putrefactível ao qual ele sabia não pertencer e tornou-se estrela, cometa onde a Liberdade, o Amor e o Conhecimento se cumpriam, se tornavam matéria do Universo e ele um eterno amoroso.
http://observador.pt/2018/02/04/a-historia-nunca-antes-escrita-de-antonio-maria-lisboa/
***
*
Via Susana Duarte
“(…)
RAOMOMAR


amor confuso, amor repetido, amor esotérico,
[amor mágico.
– MAR
mar perdido de conchas no meio do mar
mar de marés justapostas de amor num mar
[de marfim.
perdido no teu joelho de marfim.
mar de bosques que anuncia ao estrangeiro
[terra perfumada
oceano no teu oceano de olhar
Isís a mulher de Osíris ? – a realidade misturada.
no MAR.
mar que te apontei do alto da torre coberta
[pelo nevoeiro
pelo avião que atravessa o espaço
pelo incêndio que percorre o mundo
[num autocarro
pelo soerguer do teu corpo semi-quente
[na madrugada
mar azul-vermelho queimado de arestas
mar de dedos frios, de velas sibilinas na noite
[de cristal
mar de sonâmbulos esquecidos a medir o espaço
[com fitas de estrelas
mar de passageiros estranhos e abismados
mar de casas altíssimas onde habitam as cidades
MAR para que não me chegam os olhos
Mar branco de nuvens sobrepostas para lhe
[podermos passar por cima
Mar de esquecimento, de objetos sensíveis
[e distintos
Mar onde guardei o aquário azul que trouxe
[até hoje na memória
e só hoje te espalho para o mundo MAR
onde é possível e provável o envenena
[mento total da espécie.
onde descanso a minha mão esquerda
[sobre uma pantera negra
e todos os dias mergulho em fogo
Amor sem nexo, amor contínuo,
[amor disperso – MAR
mar com uma bala direita no cérebro
mar sem apoio em nenhum ponto do espaço, mas
preso apesar de
tudo numa enorme teia diabolicamente construída
para conseguir
ser livre
mar de submarinos insondáveis que navegam o
infinito do mar
mar espacial de sons, de cores, de imagens, de mil anos passados
que percorremos
MAR que flutua no MAR abusivamente medonho
amor esquecido, amor distante, amor insolente
RAOMOMAR