16/06/2018

6.735.(16jun2018.12.12') Líbano

*** 
Via Avante

IRÃO Cresce o perigo de uma nova agressão do imperialismo norte-americano no Médio Oriente, advertiu o PCP na sequência do cancelamento unilateral do acordo nuclear com Irão, iniciativa, aliás, repudiada pelos demais subscritores.

LUSA



Em nota emitida pelo seu gabinete de imprensa horas depois de a administração liderada por Donald Trump ter anunciado o rompimento do acordo multilateral relativo ao desenvolvimento do programa nuclear da República Islâmica do Irão, o Partido considerou que tal iniciativa «representa um grave passo na escalada belicista dos EUA e uma demonstração do seu desprezo pela Carta das Nações Unidas e pelo direito internacional». Constitui «uma séria provocação e traduz o aprofundamento da sua política de confrontação», acrescenta-se.

«O PCP alerta para o perigo da escalada de agressão do imperialismo norte-americano e seus aliados no Médio Oriente, nomeadamente contra o Irão ou o Líbano – na senda das guerras de agressão ao Afeganistão, ao Iraque, à Líbia, à Síria e ao Iémene», e «sublinha o papel belicista e de sistemático desrespeito pelo direito internacional que tem sido desempenhado por Israel – potência nuclear, não signatária do acordo de não proliferação de armas nucleares, e que ocupa ilegalmente territórios palestinianos – e pela Arábia Saudita, ambos países responsáveis por guerras de agressão contra povos do Médio Oriente».

No texto divulgado dia 9, o Partido «realça que as reacções da União Europeia e das suas principais potências à decisão dos EUA, evidenciando contradições, não apagam a sua responsabilidade e conivência com as operações de ingerência e agressão dos EUA e da NATO, como ficou patente na participação anglo-francesa nos recentes ataques militares à Síria, com base em mentiras da propaganda de guerra». Salienta-se, igualmente, que «a defesa da paz no Médio Oriente não passa pela cedência à chantagem da administração norte-americana», e exige-se que o secretário-geral das Nações Unidas use «todos os meios e instrumentos de que dispõe para que a ONU assuma o seu papel na defesa dos princípios da sua Carta, incluindo a condenação desta decisão dos EUA que está claramente em confronto com a legalidade internacional».

Quanto ao governo português, o PCP lembra que, «no respeito pela Constituição da República», deve retirar «deste episódio todas as consequências em matéria de política externa, nomeadamente quanto ao fim do envolvimento de Portugal em operações de ingerência e agressão contra outros povos».

Graves consequências

A denúncia por Washington do acordo subscrito em 2015 entre o Irão, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, Grã-Bretanha e França) e a Alemanha, que previa a limitação da produção e a eliminação do arsenal de urânio susceptível de uso militar, o fim das sanções contra Teerão e a monitorização regular e aleatória pela Agência Internacional de Energia Atómica do programa nuclear iraniano, foi alvo de condenação e, aparentemente, pode provocar uma rearrumação de posições no que a esta matéria diz respeito.

O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano realiza desde o início desta semana um périplo por Pequim, Moscovo e Bruxelas com o objectivo de garantir que russos, chineses e europeus mantêm os termos do texto. Nesse caso, assegurou Mohammad Zarif, o Irão continuará a honrar os compromissos assumidos.

A Rússia, por seu lado, defendeu que os parceiros do Irão no acordo devem assumir conjuntamente medidas para superar a iniciativa dos EUA. França e Alemanha manifestaram preocupação para com as relações económicas, financeiras e comerciais restabelecidas após a entrada em vigor do acordo, mas a chanceler alemã Angela Merkel foi mais longe e referiu que o «velho continente» não pode mais confiar a respectiva segurança colectiva a Washington.

A reintrodução de restrições a empresas que negoceiem com o Irão, e, por consequência, o seu sancionamento, foi admitida pelo conselheiro de segurança nacional de Donal Trump, John Bolton, bem como pelo secretário de Estado Mike Pompeo. Um e outro, no entanto, asseguraram disposição para negociar soluções que impeçam a aplicação de punições nos próximos 90 a 180 dias, conforme o sector de actividade em que se realizem as transacções. Em Paris, Berlim e Bruxelas, contudo, o cepticismo impera.

Agressão sionista

Acto contínuo ao cancelamento do acordo nuclear com o Irão por parte dos EUA, Israel bombardeou, faz hoje uma semana, posições iranianas na Síria, onde militares da República Islâmica se encontram, a pedido do governo liderado por Bachar al-Assad, a ajudar a combater grupos terroristas. O governo sionista alega ter respondido a pretensos disparos das forças do Irão e do movimento Hezbollah contra posições israelitas nos Montes Golã, que Israel ocupa há meio século, razão pela qual se mantém em guerra com a Síria.

Damasco e Teerão acusam Israel de mentir. O governo sírio considerou que os bombardeamentos, saudados por EUA e Grã-Bretanha, representam uma nova etapa na agressão, com o sionismo deixar de se «esconder atrás de mercenários» e a passar ao «confronto directo».
**
Sindicatos árabes combatem a exploração, a agressão e a guerra
Edição: 2318, 03-05-2018


PAZ Em entrevista ao Avante!, o Secretário-geral da Confederação Internacional de Sindicatos Árabes (CISA), Ghassan Ghosn, fala das guerras que dilaceram o Médio Oriente e da acção dos sindicatos.


O libanês Ghassan Ghosn é, desde 2016, Secretário-geral da CISA, estrutura que, como o próprio refere, representa cerca de 100 milhões de trabalhadores de todo o mundo árabe, agregando sindicatos dos países do Norte de África e Magrebe, Médio Oriente e Golfo Pérsico, à excepção da Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos. Esteve recentemente em Portugal, a convite da CGTP-IN, para participar em diversas reuniões sindicais e numa sessão de solidariedade com os povos da Síria e do Médio Oriente, realizada em Lisboa no dia 19 de Abril, em parceria com o CPPC.

Avante! – Que avaliação faz a CISA da actual situação que se vive no Médio Oriente, e em particular na Síria?

Ghassan Ghosn – Estamos, nessa região, no centro do vulcão e da batalha pela paz, a justiça social e a libertação, autodeterminação e independência dos povos e países. Enfrentamos os dois lados do terror, o sionista e o fundamentalista, ambos apoiados e financiados pelos EUA, monarquias do Golfo e potências europeias. A chamada «Primavera Árabe», iniciada em 2010, tinha slogans atractivos, como a «liberdade» ou a «justiça social», mas com o tempo a máscara foi caindo e os seus verdadeiros objectivos foram-se revelando, materializando-se no incremento do terrorismo e da guerra em toda a região.

Os casos da Líbia e da Síria particularmente reveladores dessa realidade...

O que aconteceu na Líbia não foi, como se disse, para «libertar o país do ditador», mas para garantir o controlo das suas reservas de petróleo. Tal como antes, no Iraque, a história que nos foi contada, relativa às armas de destruição massiva, mais não foi do que uma forma de esconder os interesses que aí têm os EUA e seus aliados, nomeadamente o controlo do petróleo e a continuidade da sua presença na região. Aliás, os aliados regionais dos Estados Unidos estão a pagar pela «protecção» norte-americana. Quando o presidente Donald Trump admitiu a possibilidade de as tropas norte-americanas deixarem a Síria, a Arábia Saudita insistiu – e pagou! – para que ficassem. Os últimos ataques da troika EUA, França e Reino Unido contra a Síria foram pré-pagos.

Que consequências estão a ter estas guerras na vida dos trabalhadores?

Quando falamos de guerra, são os trabalhadores que pagam o mais elevado preço. O que estas guerras provocaram, ao nível económico e social (na Síria, na Líbia, no Iraque e no Iémen), é impressionante, no que respeita à perda de vidas e ao aumento dos níveis de desemprego e pobreza: 14 milhões de refugiados e deslocados, 1,4 milhões de mortos e feridos, 30 milhões de desempregados e, em todo o mundo árabe, 70 milhões de abaixo do limiar de pobreza.

Quaisquer um desses países tinha, antes das guerras, níveis de desenvolvimento razoáveis...

Estamos a falar de países ricos. Na Síria, nos últimos anos antes da agressão, a produtividade estava a aumentar, assim como o produto, e não havia dívidas às instituições financeiras como o Fundo Monetário Internacional ou o Banco Mundial. Esta, como outras guerras, visa proteger Israel, virar árabes contra árabes e assegurar o domínio das imensas reservas petrolíferas. O petróleo, que pode até ser uma riqueza para alguns, é uma maldição para a generalidade dos povos. O fim da ocupação da Palestina, a autodeterminação dos povos e o controlo, por estes, dos recursos naturais são condições sem as quais a região continuará em guerra aberta e enfrentará a constante desestabilização.

Nesta grave situação como se posicionam os sindicatos?

Os sindicatos filiados na CISA partilham os objectivos centrais da generalidade dos sindicatos, batendo-se por questões como a liberdade de associação, condições de vida, salários e direitos laborais e sociais. Mas combatem também a troika de forças agressoras dos trabalhadores e dos povos árabes: o regime sionista, o imperialismo e o capitalismo neoliberal. Estamos todos unidos nestes objectivos.

Na Síria de hoje, qual o papel do movimento sindical?

Vive-se na Síria uma situação muito crítica, na qual os sindicatos procuram defender o povo da agressão do terrorismo e dos seus aliados e, ao mesmo tempo, apoiar os trabalhadores. Estão a exigir do governo medidas que garantam a distribuição mais célere e eficaz de bens e serviços de primeira necessidade e o apoio social. Não é fácil aumentar o nível de vida da população e o investimento nesta situação de guerra aberta, mas está-se a procurar soluções que sirvam o povo. Recentemente, o movimento sindical conseguiu que o governo aumentasse os salários, principalmente no sector público, que é muito forte no país. Os sindicatos assumem ainda um importante papel no combate à agressividade do mercado, contra a especulação, exigindo das autoridades soluções para controlar os preços dos bens essenciais.

Noutros países, claro, será diferente...

Sim, as situações variam muito de país para país. No Líbano, por exemplo, há um movimento sindical muito activo, que recentemente organizou fortes movimentações em torno da protecção social, saúde, salários, impostos, contra a escalada dos preços. Há muitas manifestações e protestos, sobretudo no sector dos transportes e na administração pública.

Na Palestina a situação é diferente, muito dramática, fruto da ocupação. As taxas de desemprego ultrapassam os 70 por cento, os trabalhadores vêem ser-lhes retirada uma parte do seu salário e há ainda tudo o que se relaciona com o trabalho forçado ou o trabalho infantil. O quotidiano de quem trabalha é também muito duro. Um trabalhador palestiniano disse-me há dias que para estar no seu local de trabalho às nove da manhã passa metade da noite à espera no checkpoint. E de regresso é igual. É uma constante humilhação.

No que respeita à liberdade de associação, como estão as coisas no mundo árabe?

A questão da liberdade não pode ser colocada sem se atender ao contexto. É uma questão cultural e política e conquista-se pela luta. Além disso, não é igual de país para país. Não é igual na Argélia e em Marrocos, no Egipto e no Sudão, no Golfo ou no Líbano e na Síria. Relaciona-se com o regime concreto, se é progressista ou não, e com as tradições e cultura de cada um dos povos e países.

O agravamento recente da intolerância religiosa afectou a acção sindical?

Antes do imperialismo chegar aos nossos países não havia diferença entre cristãos, sunitas ou xiitas. Éramos todos trabalhadores e todos partilhávamos as mesmas injustiças, preocupações e aspirações. No movimento sindical, e na CISA em particular, nunca sentimos essas diferenças. Aliás, eu sou de origem cristã e lidero uma estrutura de sindicatos árabes, em que a maioria de filiados são muçulmanos. Estamos a insistir muito nesta questão.

Quando se cria diferenças entre sindicatos divide-se e enfraquece-se o movimento. A nossa acção continua a nortear-se pelo lema «proletários de todos os países, uni-vos!», pois a unidade é que nos dá força. Não se pode combater o capitalismo isolados, de mãos vazias; não se consegue direitos suplicando, mas conquistando-os através da luta.
**
Primeiro-ministro do Líbano promete voltar em breve ao país
Edição: 2294, 16-11-2017

Na primeira declaração pública após ter anunciado a demissão, o primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, assegurou na segunda-feira, 13, que regressará ao seu país «dentro de dois ou três dias», noticiaram diversos órgãos de informação em Beirute.


Hariri fez estas afirmações a partir de Riade, capital da Arábia Saudita, onde se encontra desde o dia 3 e donde, um dia depois, surpreendeu a opinião pública com a renúncia ao cargo. Justificou então a decisão pelo receio de um atentado contra si e pela alegada influência crescente do movimento político e militar libanês Hezbollah, de maioria xiita.


Em declarações à cadeia televisiva TV Future, propriedade sua, Hariri, sunita, sugeriu que poderia voltar atrás com a demissão caso o Hezbollah deixasse de fazer parte do governo libanês. Outra das razões da renúncia, disse, é que o Líbano não seguiu uma política de distanciamento dos conflitos regionais e adoptou uma linha de apoio ao Irão. Explicou que a Arábia Saudita «quer» um Líbano neutro nos conflitos regionais e não ao lado do Irão, adversário do reino saudita.


Para o líder do Hezbollah, Hasan Nasrallah, a Arábia Saudita «declarou guerra» ao Líbano e retém no país o primeiro-ministro libanês contra a sua vontade.


Observadores em Beirute consideram que esta ameaça à paz no Líbano tem a ver com a derrota militar na Síria e no Iraque dos mercenários terroristas («Estado Islâmico», Al-Qaeda e outros) apoiados pelos Estados Unidos e os seus principais aliados no Médio Oriente – Arábia Saudita e Israel. Esses grupos poderiam agora ser «empurrados» para o Líbano com o objectivo de destabilizar o país e combater o Hezbollah. 
**
Delegação do PE no Líbano em crise
Edição: 2293, 09-11-2017

O primeiro-ministro libanês, Saad al-Hariri, em visita à Arábia Saudita, anunciou, no sábado, 4, a demissão do cargo. Justificou a decisão com questões relacionadas com a sua segurança.


O presidente Michel Aoun apelou à «unidade nacional» e o secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Nasrallah, cujas forças militares combatem na Síria o terrorismo apoiado pelos sauditas, pediu «calma a todas as partes» e sugeriu que al-Hariri é pressionado por Riade.


A crise política no Líbano decorre dos frágeis equilíbrios entre cristãos maronitas, xiitas e sunitas, uma divisão artificial com consequências negativas para a unidade nacional do povo libanês.


Há um ano tinha sido alcançado um acordo que esteve na base da eleição de Michel Aoun (cristão maronita) como presidente da República do Líbano, de Nabih Berri (xiita) como presidente do parlamento e da formação de um governo de unidade nacional cujo primeiro-ministro, Saad al-Hariri (sunita) se demitiu agora.


Encontram-se refugiados no Líbano milhões de palestinianos e sírios, em consequência da política colonialista de Israel, que há décadas ocupa ilegalmente territórios da Palestina, e da agressão dos EUA e seus aliados, que se desenvolveu abertamente desde 2012, contra a República Árabe da Síria e o seu povo.


Considerando o passado de guerra, incluindo as agressões de Israel, que destruíram a economia do Líbano, o desfecho da actual situação passa por uma política de paz e pelo fim da ingerência e das agressões do imperialismo, pela reconstrução em bases sólidas deste país ancestral cujo povo clama por paz, soberania, desenvolvimento e progresso social.


Coincidindo com a crise, uma delegação do Parlamento Europeu (PE), de que fez parte Miguel Viegas, deputado do PCP, visitou o Líbano de 30 de Outubro a 2 deste mês.


A União Europeia, com responsabilidades claras nos conflitos que assolam o Médio Oriente, tem um acordo de associação com o Líbano que implica as habituais «reformas estruturais», que significam pressão sobre o papel do Estado no desenvolvimento sócio-económico e na garantia dos direitos sociais, abrindo espaço à liberalização dos mercados, às privatizações, às parcerias público-privadas e à flexibilização das leis laborais.
**
Irão e Líbano contra o terrorismo
Edição: 2280, 10-08-2017

Os presidentes do parlamento iraniano, Ali Lariyani, e libanês, Nabih Berri, estão convencidos de que só a unidade regional erradicará o terrorismo no Médio Oriente.

Os dois líderes parlamentares reuniram-se em Teerão, por ocasião da tomada de posse do presidente Hassan Rohani, que iniciou o segundo mandato de quatro anos à frente da nação persa.

Lariyani sublinhou o êxito do Movimento de Resistência Islâmica do Líbano (Hizbulah), juntamente com os exércitos libanês e sírio, na luta para desalojar grupos extremistas de áreas da fronteira sírio-libanesa.

Berri agradeceu o papel iraniano na solução de crises regionais e disse que a República Islâmica do Irão «é a esperança do mundo muçulmano».
**
«Há comunistas armados a defender as fronteiras do país»
Edição: 2181, 17-09-2015

Jamil Safieh, do PC do Líbano

Image 19025

A situação actual no Líbano, como em todo o Médio Oriente, é «complexa, sensível e difícil». Quem assim a caracteriza é Jamil Safieh, membro do Comité Central e da Secção Internacional do Partido Comunista Libanês, para quem a «tradicional» ingerência do imperialismo é a grande responsável pelo caos que, garante, está instalado.
Para além da corrupção que grassa no aparelho de Estado e do apoio por parte de alguns governantes ao chamado «Estado Islâmico» (que se tem vindo a introduzir no Líbano), a grande vaga de refugiados sírios que chegou ao país – um milhão e meio numa população de três milhões, a que acrescem os 700 mil refugiados palestinianos – deixou clara a incapacidade do governo em atender a importantes necessidades sociais do povo. Em muitas regiões do Líbano não há abastecimento de energia eléctrica e de água, o lixo não é recolhido e os cuidados de saúde não são prestados.
Em torno da exigência de satisfação destas necessidades, desenvolveu-se nas últimas semanas um «poderoso movimento de massas», traduzido em «manifestações diárias» contra o governo; o Partido Comunista Libanês e a sua organização de juventude estão ao lado do povo nestes protestos, valoriza Jamil Safieh.
Nos dias que antecederam a conversa com o Avante!, conta, a situação evoluiu. O governo, que não dá sinais de pretender dar resposta às reivindicações populares, subiu a parada, ao infiltrar provocadores nas manifestações para deturpar o seu sentido e legitimar a repressão policial. Mas a luta vai continuar, garante.
Ingerência e agressão
A ingerência do imperialismo no Líbano é antiga, mas atingiu um ponto particularmente extremo em 2006, aquando da tentativa de invasão israelita do país, travada então pela resistência patriótica libanesa (que o PCL integra) e pelo Hezbolá. Israel continua a ser a principal ameaça à soberania nacional, garante Jamil Safieh.
Mais recentemente, a guerra contra a Síria veio desestabilizar ainda mais a região. Para os comunistas libaneses, o derrube do governo da Síria é um objectivo central da estratégia do imperialismo no Médio Oriente. Por um lado, porque a República Árabe Síria é aliada do Irão e do Hezbolá, dois dos principais obstáculos ao predomínio dos EUA e de Israel na região.
Mas a ofensiva contra a Síria representa também um «ataque indirecto» à Rússia, que não só tem bases na Síria como tem com esse país sólidas relações comerciais, políticas e militares. Forçar a Rússia a recuar é outro dos objectivos do imperialismo norte-americano.
Para a escalada da ingerência na Síria, no Líbano e um pouco por todo o Médio Oriente concorre ainda outro factor, revela Safieh: a intenção do imperialismo de controlar as importantes jazidas de gás recentemente descobertas na região. Os EUA estabeleceram já com o Qatar um plano para transporte deste gás para a Europa, através da Turquia, do Líbano e da Síria.
Concluindo, o dirigente do PCL afirma que os EUA pretendem «aumentar a sua influência na região», através da salvaguarda dos seus actuais aliados (Israel, Arábia Saudita e restantes monarquias do Golfo) e do alargamento dos seus apoios, através da substituição de governos que lhe são hostis por outros que lhe sejam favoráveis.
Questionado sobre o papel do designado «Estado Islâmico», Jamil Safieh não tem dúvidas em incluí-lo no lote dos aliados do imperialismo. E garante que, ao contrário do que é apregoado, os EUA não bombardeiam posições deste grupo, pelo contrário, favorecem o seu avanço no terreno.
Resistência e luta
Perante uma situação tão complexa, os comunistas têm bem definidos os seus objectivos: um primeiro e mais imediato é, desde logo, o apoio à luta das massas populares pela satisfação das suas necessidades mais elementares.
Um outro propósito, mais de fundo, é a alteração da lei eleitoral no país, que faz com que o PCL, que se estima que tenha um apoio entre os nove e os 12 por cento, não tenha qualquer deputado eleito. No Líbano, a população é dividida segundo os seus credos religiosos – e há dezenas – e cada comunidade vota em partidos próprios e tem à partida um número de lugares para ocupar (no parlamento como na administração pública). O Partido Comunista Libanês defende um sistema laico de representação proporcional.
Outro objectivo essencial para os comunistas é a salvaguarda da soberania nacional contra a agressão externa, particularmente por parte do chamado «Estado Islâmico» e de Israel. Neste momento, revela, «existem membros do Partido Comunista armados a lutar na fronteira com a Síria para travar a invasão do país».
**
PCP no Líbano
Edição: 2034, 22-11-2012

 

14.º EIPCO
Partiu anteontem para a capital do Líbano, Beirute, uma delegação do PCP para participar no 14.º Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários (EIPCO), que tem lugar entre os dias 23 e 25 deste mês. Composta por Ângelo Alves, da Comissão Política do CC, e Inês Zuber, deputada do PCP no Parlamento Europeu, a delegação do Partido participa, no dia 22, na reunião do grupo de trabalho do EIPCO, que o PCP integra juntamente com outros 10 partidos de vários continentes.
Contando com a participação de dezenas de partidos comunistas e operários, o encontro deste ano tem como lema Fortalecer a luta contra a escalada agressiva imperialista, pela satisfação dos direitos e aspirações sócio-económicas e democráticas dos povos, pelo socialismo e constitui uma oportunidade para o contacto directo com vários partidos comunistas de todo o Mundo e em especial da região do Médio Oriente.
Num momento em que o povo palestino é sujeito, mais uma vez, à «violenta e criminosa agressão israelita», a visita ao Líbano «assume também a expressão da solidariedade dos comunistas portugueses para com este povo e os demais povos do Médio Oriente vítimas das pressões, ingerências e agressões das principais potências imperialistas mundiais», destaca o PCP numa nota de imprensa emitida dia 22. A delegação do PCP regressa a Portugal no domingo.
***
2jun2010
Cartoon de Carlos Latuff
 
***