14/06/2018

8.249.(14jun2018.11.11') Ofélia Queirós e as cartas de Fernando Pessoa

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nasce a 14jun1900
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Opinião sobre Pessoa de Ofélia Queirós- A namorada

O Fernando, em geral, era muito alegre. Ria como uma criança, e achava muita graça às coisas. Dizia, por exemplo «ouvistaste?» em vez de «ouviste». Quando saía para engraxar os sapatos, dizia-me: «-Eu já venho, vou lavar os pés por fora». Um dia mandou-me um bilhetinho assim: « O meu amor é pequenino, tem calcinhas cor-de-rosa» Eu li aquilo e fiquei indignada. Quando saímos, disse-lhe zangada: « Ó Fernando, como é que você sabe que eu tenho calcinhas cor-de-rosa ou não, você nunca viu...» (tanto nos tratávamos por tu como por você). E ele respondeu-me assim a rir: « Não te zangues, Bebé, é que todas as bebés pequeninas têm calcinhas cor-de-rosa...»

[...]
Vivia muito isolado, como se sabe. Muitas vezes não tinha quem o tratasse, e queixava-se-me. Estava realmente muito apaixonado por mim, posso dizê-lo, e tinha uma necessidade enorme da minha companhia, da minha presença. Dizia-me numa carta: «...não imaginas as saudades que de ti sinto nestas ocasiões de doença, de abatimento e de tristeza...» E mostra-o bem, nesta quadra que me fez:

Quando passo um dia inteiro
Sem ver o meu amorzinho
Cobre-me um frio de Janeiro
No junho do meu carinho

Em Maio de 1920, a Carris entrou em greve por uns dias, e passámos a fazer o percurso de comboio.
Para que o meu pai não soubesse que eu saía com o Fernando, ele apanhava o comboio do Cais do Sodré e eu em Santos. Assim conversávamos até Belém. Não digo «namorávamos», porque o Fernando não gostava, conforme já contei.
Quando acabou a greve, ia buscar-me, à tarde, como de costume e vínhamos de eléctrico para casa, mas como ele achava que o trajecto não era suficientemente longo, dizia a brincar: « E se fingissemos que nos enganávamos e nos metêssemos num carro para o Poço do Bispo?»
[...]
O Fernando era uma pessoa muito especial. Toda a sua maneira de ser, de sentir, de se vestir até, era especial. Mas eu talvez não desse por isso, nessa altura, talvez porque estava apaixonada. A sua sensibilidade, a sua ternura, a sua timidez, as suas excentricidades, no fundo, encantavam-me.
Por exemplo, o Fernando era um pouco confuso, principalmente quando se apresentava como Álvaro de Campos. Dizia-me então: «Hoje não fui eu que vim, foi o meu amigo Álvaro de Campos »...Portava-se, nestas alturas, de uma maneira totalmente diferente. Destrambelhado, dizendo coisas sem nexo. Um dia, quando chegou ao pé de mim, disse-me: «Trago uma incumbência, minha senhora, é a de deitar a fisionomia abjecta desse Fernando Pessoa, de cabeça para baixo, num balde cheio de água. » E eu respondia-lhe: "Detesto esse Álvaro de Campos. Só gosto de Fernando Pessoa.» « Não sei porquê», respondeu-me, «olha que ele gosta muito de ti.»
Raramente falava no Caeiro, no Reis ou no Soares.

O Fernando, principalmente quando se encontrava abatido, não acreditava que eu pudesse gostar nele:« Se não podes gostar de mim a valer, finge, mas finge tão bem que eu não perceba.» Ou, então como nesta quadra:

Omeu amor já não me quer
Já me esquece e me desama
Tão pouco tempo a mulher
Leva a prova que não ama

Um dia, ao passarmos na calçada da Estrela, disse-me :«O teu amor por mim é tão grande, como aquela árvore.» Eu fingi que não percebi. «Mas não está ali árvore nenhuma...»«Por isso mesmo» respondeu-me ele. Outra vez disse-me : «Chega a ser uma caridade cristã tu gostares de mim. És tão nova e engraçadinha, e eu tão velho e tão feio.»
[...]
O Fernando era extremamente reservado. Falava muito pouco da sua vida íntima; não tinha sequer o que se chama um amigo íntimo (nesta altura já tinha morrido o Sá-Carneiro, e há até uma carta em que me diz:«Não há quem saiba se eu gosto de ti ou não, porque eu não fiz de ninguém confidente sobre o assunto.»

Com quem ele se dava muito na altura, e a casa de quem ia até jantar uma vez por semana, era o Lobo d´Ávila, que vivia na Praça do Rio de Janeiro, hoje Príncipe Real. De resto, eram só amigos do café.

Há uma frase de Fernando, há várias até, que monstram bem como ele era reservado. «Sinto preciso ocultar o meu íntimo aos olhares.»«Não quero que ninguém saiba o que sinto.» E ainda esta outra : «O Fernando Pessoa sente as coisas mas não se mexe, nem mesmo por dentro.»

O «namoro» durou assim até Novembro de 1920. A sua última carta data de 29 desse mês. Aos poucos, ele foi-se afastando, até que deixámos completamente de nos ver. E isto sem qualquer razão concreta. Ele [...]
[...]
Passaram-se nove anos.
Um dia, o meu sobrinho Carlos Queirós trouxe para casa aquele famoso retrato do Fernando a beber vinho no Abel Pereira da Fonseca (tirado pelo Manuel Martins da Hora) [foto publicada em Dezembro dia 21, poema Guardador de rebanhos]. Trazia uma dedicatória: «Carlos: isto sou eu no Abel, isto é, próximo já do Paraíso Terrestre, aliás perdido. Fernando. Dia 2/9/29» Achei muita graça, como é natural, e disse ao meu sobrinho que gostava de ter uma para mim. O Carlos disse-lhe, e passado pouco tempo ele enviou-me uma fotografia igual com esta dedicatória: « Fernando Pessoa em flagrante delitro.»
Escrevi-lhe a agradecer e ele respondeu-me. Recomeçámos então o «namoro». Isto em 1929. Eu já não trabalhava nessa altura e continuava a viver em casa de minha irmã no Rossio.
O Fernando estava diferente. Não só fisicamente, pois tinha engordado bastante, mas, e principalmente, na sua maneira de ser. Sempre nervoso, vivia obcecado com a sua obra. Muitas vezes dizia que tinha medo de não me fazer feliz, devido ao tempo que tinha de dedicar a essa obra. Disse-me um dia : «Durmo pouco e com um papel e uma caneta à cabeceira. Acordo durante a noite e escrevo, tenho que escrever, e é uma maçada porque depois o Bebé não pode dormir descansado.» Ao mesmo tempo receava não poder dar-me o mesmo nível de vida a que eu estava habituada. Ele não queria ir trabalhar todos os dias, porque queria dias só para si, para a sua vida, que era a sua obra. Vivia com o essencial. Todo o resto lhe era indiferente. Não era um ambicioso nem vaidoso. Era simples e leal.
Dizia-me: «Nunca digas a ninguém que sou poeta. Quanto muito, faço versos.»
 https://poemariopessoa.blogs.sapo.pt/18339.html
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Ofélia Queiroz
 Ophélia Queiroz nasceu em Lisboa, na Rua das Trinas, no dia 14 de junho de 1900. Filha de pais algarvios, de Lagos, é a mais nova de oito irmãos. Concluiu o primeiro grau da instrução, embora desejasse ser professora de matemática, mas procurou estar sempre atualizada estudando Francês e Inglês. Gostava de ler, de ir ao teatro e de conviver. Passava muitas horas em casa do sobrinho, o poeta Carlos Queirós, a conviver com grandes artistas como Carlos Botelho, Vitorino Nemésio, Almada Negreiros, Olavo d'Eça Leal, Teixeira de Pascoaes, José Régio e outros.
Ophélia foi a namorada de Fernando Pessoa durante duas fases: de 1 de maio a 29 de novembro de 1920 e de 11 de setembro de 1929 a 11 de janeiro de 1930, embora o contacto entre os dois se mantenha cordial, mas esporádico, até à morte do Poeta.
A primeira fase, marcada por uma paixão sincera, termina com uma carta em que Pessoa afirma que o seu destino pertence a outra lei. O reencontro, motivado por uma fotografia do Poeta a beber no Abel Ferreira da Fonseca, oferecida a Carlos Queirós, inicia-se quando esta mostra vontade de possuir uma igual e ele lhe envia uma com a dedicatória: Fernando Pessoa em flagrante delitro. Nesta segunda fase, nota-se uma enorme confusão de sentimentos e perturbação psíquica.
A partir de 1936 até 1955 trabalhou no SNI (Secretariado Nacional da Informação). Nesse ano, na Tobis, conhece Augusto Soares, um homem de Teatro, com quem casa em 1938.

 https://www.goodreads.com/author/show/2887673.Of_lia_Queiroz
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 Gostava de ler, de ir ao teatro e de conviver. Passava muitas horas em casa do sobrinho, o poeta Carlos Queirós, a conviver com grandes artistas como Carlos Botelho, Vitorino Nemésio, Almada Negreiros, Olavo d'Eça Leal, Teixeira de Pascoaes, José Régio etc.
 
 O crítico David Mourão-Ferreira, que estudou as duas fases da correspondência amorosa, sugere que o fracasso desta aventura se deve à presença constante de Álvaro de Campos e que a relação de 1929-1930 era, na verdade, um "ménage à trois virtual".
 http://lumeear.blogspot.com/2016/02/ofelia-namorada-de-pessoa.html
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Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz
"encontramos uma série de objectos que ficaram com a família de Ofélia
Queiroz: as prendas que Pessoa lhe ofereceu e que dão uma materialidade ainda maior a essas cartas. Neste inventário, ou catálogo crítico, revelam-se esses objectos, que complementam a publicação de
Os
Objectos de Fernando Pessoa
(2013), e alguns textos de
temática amorosa.
 https://www.brown.edu/Departments/Portuguese_Brazilian_Studies/ejph/pessoaplural/Issue4/PDF/I4A07.pdf
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14 de Junho de 1900: Nasce Ofélia Queirós, a namorada de Fernando Pessoa

Ofélia Queirós  nasceu em Lisboa no dia 14 de Junho de 1900. Filha de Francisco dos Santos Queirós e de Maria de Jesus Queirós, naturais de Lagos, era a mais nova de oito irmãos. Concluiu o primeiro grau da instrução, embora desejasse ser professora de matemática. No entanto, procurou estar sempre actualizada, estudando Francês e Inglês. Gostava de ler, de ir ao teatro e de conviver. Passava muitas horas em casa do sobrinho, o poeta Carlos Queirós, a conviver com grandes artistas como Carlos Botelho, Vitorino Nemésio, Almada Negreiros, Olavo d'Eça Leal, Teixeira de Pascoaes, José Régio e outros.

Ofélia, no entanto, ficou célebre por ter sido a única namorada conhecida do poeta Fernando Pessoa. Este namoro é caracterizado por duas fases distintas. De 1 de Maio a 29 de Novembro de 1920 e de 11 de Setembro de 1929 a 11 de Janeiro de 1930, embora o contacto entre os dois se mantenha cordial, mas esporádico, até à morte do Poeta.

Esta relação é conhecida pelas cartas que ele lhe escreveu, 48 cartas publicadas em 1978 e precedidas de um texto explicativo da própria Ofélia (testemunho sóbrio e modesto mas muito precioso, dado que é tudo aquilo que tornou público) e das cartas dela para ele, publicadas pela sua sobrinha em 1996, e que só foram publicadas anos depois da morte de Ofélia (1991).
Além desta correspondência, apenas existem testemunhos isolados, demasiado vagos e escassos que recriem ou relembrem este amor. Nem mesmo dos familiares ou amigos mais próximos, porque foi uma relação levada com a máxima discrição e nunca se oficializou. De qualquer maneira, foi o único amor conhecido do poeta, o único nos seus 47 anos de vida; e a publicação em 1996 das cartas de Ofélia para Fernando (um total de 110 cartas, mas certamente foram, no mínimo, mais de uma dúzia, entre extraviadas, ilegíveis e as que a família censurou) lança luz em tantos lados de sombra e destrói o ponto de vista unidireccional (cartas dele para ela) que até então os seus biógrafos contemplavam, principalmente no que respeita à chamada "segunda fase", o período compreendido entre 1929 até quase à morte do poeta. 
A primeira fase durou poucos meses e foi marcada por uma paixão sincera. Começa quando Pessoa conhece a jovem, na altura com 19 anos, nos escritórios da Baixa lisboeta, onde ela entra para trabalhar como dactilógrafa e ele já exercia os seus serviços como tradutor de correspondência comercial. A relação é pura e doce. Pessoa trata-a como a uma criancinha. Todos os críticos e estudiosos estão de acordo na não inocência deste tom infantil. A mudança de Ofélia para o outro lado da Cidade, a morte do padrasto e a volta da mãe para Lisboa, somadas ao estado dos nervos do poeta, que se reconhece muito doente, arrefecem o entusiasmo que impulsionava a relação e, em 29 de Novembro de 1920, uma lúcida e cruel mensagem encerra o namoro: "O amor passou... O meu destino pertence a outra Lei, cuja existência a Ophelinha ignora, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam..."
Dez anos depois acontece a retomada do namoro, agora usando igualmente o recurso da voz: já existem telefones em Portugal. O reencontro é motivado por uma fotografia do Poeta a beber no Abel Ferreira da Fonseca, que tinha sido oferecida a Carlos Queirós, sobrinho de Ofélia e amigo de Pessoa. A jovem mostra vontade de possuir uma igual e ele lhe envia uma com a dedicatória: "Fernando Pessoa em flagrante delitro". A 11 de Setembro inicia-se a primeira da segunda série de cartas de amor. Nesta segunda fase, nota-se uma enorme confusão de sentimentos e perturbação psíquica.
Ofélia acabou por seguir a sua vida. A partir de 1936 e até 1955 trabalhou no Secretariado Nacional de Informação – onde, na Tobis, conhece o teatrólogo Augusto Soares (m. 1955), um homem de Teatro, com quem se casa em 1938, três anos após a morte de Pessoa.
Fontes:Librópatas
wikipédia

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Ficheiro:Pessoacopo.jpg
"Fernando Pessoa em flagrante delitro": dedicatória na fotografia que ofereceu à namorada Ophélia Queiroz em 1929

Fernando Pessoa

[Carta a Ophélia Queiroz - 5 Abr. 1920]

Meu Bebé pequeno e rabino:

Cá estou em casa, sozinho, salvo o intelectual que está pondo o papel nas paredes (pudera! havia de ser no tecto ou no chão!); e esse não conta. E, conforme prometi, vou escrever ao meu Bebezinho para lhe dizer, pelo menos, que ela é muito má, excepto numa coisa, que é na arte de fingir, em que vejo que é mestra.
Sabes? Estou-te escrevendo mas não estou pensando em ti . Estou pensando nas saudades que tenho do meu tempo da caça aos pombos ; e isto é uma coisa, como tu sabes, com que tu não tens nada...
Foi agradável hoje o nosso passeio — não foi? Tu estavas bem disposta, e eu estava bem disposto, e o dia estava bem disposto também (O meu amigo, não. A. A. Crosse: está de saúde — uma libra de saúde por enquanto, o bastante para não estar constipado).
Não te admires de a minha letra ser um pouco esquisita. Há para isso duas razões. A primeira é a de este papel (o único acessível agora) ser muito corredio, e a pena passar por ele muito depressa; a segunda é a de eu ter descoberto aqui em casa um vinho do Porto esplêndido, de que abri uma garrafa, de que já bebi metade. A terceira razão é haver só duas razões, e portanto não haver terceira razão nenhuma. (Álvaro de Campos, engenheiro).
Quando nos poderemos nós encontrar a sós em qualquer parte, meu amor? Sinto a boca estranha, sabes, por não ter beijinhos há tanto tempo... Meu Bebé para sentar ao colo! Meu Bebé para dar dentadas! Meu Bebé para...
(e depois o Bebé é mau e bate-me...) «Corpinho de tentação» te chamei eu; e assim continuarás sendo, mas longe de mim.
Bebé, vem cá; vem para o pé do Nininho; vem para os braços do Nininho; põe a tua boquinha contra a boca do Nininho... Vem... Estou tão só, tão só de beijinhos ...
Quem me dera ter a certeza de tu teres saudades de mim a valer . Ao menos isso era uma consolação... Mas tu, se calhar, pensas menos em mim que no rapaz do gargarejo, e no D. A. F. e no guarda-livros da C. D. & C.! Má, má, má, má, má...!!!!!
Açoites é que tu precisas.
Adeus; vou-me deitar dentro de um balde de cabeça para baixo para descansar o espírito. Assim fazem todos os grandes homens — pelo menos quando têm — 1º espírito, 2º cabeça, 3º balde onde meter a cabeça.
Um beijo só durando todo o tempo que ainda o mundo tem que durar, do teu, sempre e muito teu

Fernando (Nininho).
 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/06/14-de-junho-de-1900-nasce-ofelia.html
 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/06/14-de-junho-de-1900-nasce-ofelia.html?spref=fb&fbclid=IwAR0kDk0iA9HIqz4bIViWNe70xn6K8Urft0q04jCtBjl6PSWW4yRJ59rBpT0
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[Carta a Ophélia Queiroz - 5 Abr. 1920]
Meu Bebé pequeno e rabino:
Cá estou em casa, sozinho, salvo o intelectual que está pondo o papel nas paredes (pudera! havia de ser no tecto ou no chão!); e esse não conta. E, conforme prometi, vou escrever ao meu Bebezinho para lhe dizer, pelo menos, que ela é muito má, excepto numa coisa, que é na arte de fingir, em que vejo que é mestra.
Sabes? Estou-te escrevendo mas não estou pensando em ti . Estou pensando nas saudades que tenho do meu tempo da caça aos pombos ; e isto é uma coisa, como tu sabes, com que tu não tens nada...
Foi agradável hoje o nosso passeio — não foi? Tu estavas bem disposta, e eu estava bem disposto, e o dia estava bem disposto também (O meu amigo, não. A. A. Crosse: está de saúde — uma libra de saúde por enquanto, o bastante para não estar constipado).
Não te admires de a minha letra ser um pouco esquisita. Há para isso duas razões. A primeira é a de este papel (o único acessível agora) ser muito corredio, e a pena passar por ele muito depressa; a segunda é a de eu ter descoberto aqui em casa um vinho do Porto esplêndido, de que abri uma garrafa, de que já bebi metade. A terceira razão é haver só duas razões, e portanto não haver terceira razão nenhuma. (Álvaro de Campos, engenheiro).
Quando nos poderemos nós encontrar a sós em qualquer parte, meu amor? Sinto a boca estranha, sabes, por não ter beijinhos há tanto tempo... Meu Bebé para sentar ao colo! Meu Bebé para dar dentadas! Meu Bebé para...
(e depois o Bebé é mau e bate-me...) «Corpinho de tentação» te chamei eu; e assim continuarás sendo, mas longe de mim.
Bebé, vem cá; vem para o pé do Nininho; vem para os braços do Nininho; põe a tua boquinha contra a boca do Nininho... Vem... Estou tão só, tão só de beijinhos ...
Quem me dera ter a certeza de tu teres saudades de mim a valer . Ao menos isso era uma consolação... Mas tu, se calhar, pensas menos em mim que no rapaz do gargarejo, e no D. A. F. e no guarda-livros da C. D. & C.! Má, má, má, má, má...!!!!!
Açoites é que tu precisas.
Adeus; vou-me deitar dentro de um balde de cabeça para baixo para descansar o espírito. Assim fazem todos os grandes homens — pelo menos quando têm — 1º espírito, 2º cabeça, 3º balde onde meter a cabeça.
Um beijo só durando todo o tempo que ainda o mundo tem que durar, do teu, sempre e muito teu

Fernando (Nininho).
Fonte: http://arquivopessoa.net/

 https://www.facebook.com/107358489335605/photos/a.107488435989277.12708.107358489335605/1984422718295830/?type=3&theater
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