e morreu a 18noVEMbro1824 (Toledo)
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Padre, inventor da Passarola.
Bartolomeu Lourenço de Gusmão (1685-1724), por antonomásia o Voador
- como precursor da navegação aérea, nasceu em 1685, no Brasil
(Santos), filho dum modesto cirurgião-mor de presídio, Francisco
Lourenço, e de sua mulher, Maria Álvares.
Irmão
mais velho do Dr. Alexandre de Gusmão, a quem o futuro reservaria uma
carreira brilhante na diplomacia e política de D. João V, fez com ele
seus estudos no Seminário Jesuítico da Baía, em que ambos foram
discípulos dilectos do reitor, padre Alexandre de Gusmão, cujo nobre
apelido ele consentiu que adoptassem desde a adolescência, na falta de
mais condigno nome de família.
Por
sua precoce inteligência e aplicação a estudos eclesiásticos, fez
Bartolomeu de Gusmão no seminário o noviciado para padre jesuíta, de que
em breve desistia, mas mantendo a disposição de se ordenar padre
secular. Em 1701, o provincial da Companhia manda-o, com 16 anos, ao
Reino, a completar os estudos, e muito impressionaram logo
favoravelmente em Lisboa os seus conhecimentos profundos de casuística
eclesiástica, bem como o vivo engenho em matérias de Matemática e Física
Experimental. Quatro anos
mais tarde voltava ao Brasil, e lá comprovava a extraordinária vocação
para inventos mecânicos, com uma sua bomba hidráulica de elevação de
água, cuja instalação ele próprio dirigiu, para fornecimento da do rio
Paraguaçu ao seu antigo seminário da Baía, erguido no alto duma colina.
Voltava
em 1708 definitivamente a Lisboa, porque, no seu destino de homem, o
talento de inventor mecânico atrofiava-lhe o saber eclesiástico, pois
trazia então em mente outros mais altos e audaciosos projectos, entre
eles o de um aparelho, ou máquina voadora, baseado no velho princípio de
Arquimedes acerca dos efeitos de impulsão dos fluidos sobre os corpos
neles mergulhados.
Apresentado
então na corte e recebido com o maior agrado pelo monarca, requeria-lhe
e obtinha em 1709 o privilégio de exclusivo sobre o seu rudimentar
aeróstato, depois apelidado, irónica e pitorescamente pelo vulgo, de Passarola.
Em resumo, consistia o aparelho num grande balão esférico, de tela
consistente, cheio de ar aquecido por estopa a arder na abertura da
base, devendo erguer-se livremente na atmosfera, mais densa que o ar
quente do balão, e, ao sabor do vento, deslocar-se, voar.
Realizou-se
em Agosto a primeira experiência desde o alto do Castelo de S. Jorge,
perante o rei e toda a corte. A experiência, como era de prever, foi
infeliz, dada a improvisada técnica simplista. Pouco depois de efectivamente se
ter erguido nos ares, o aparelho incendiou-se; confirmara-se, porém, na
prática, a validez da teoria de base do princípio de Arquimedes para a
navegação aérea, e é de crer que se tivessem repetido novas
experiências, de que não houve notícia, embora houvesse ficado na
tradição que uma nova Passarola, também lançada do Castelo, teria por fim descido intacta no Terreiro do Paço.
A
glória dessa primazia viria a ser contestada nos fins do século, em
França, por outro aeróstato do matemático e engenheiro francês Monge,
aparelho do mesmo tipo, fundado na mesma teoria, e que, menos
rudimentar, fora experimentado com mais êxito pelos irmãos Montgolfier,
em 1794. Posteriormente, porém, tornou-se indiscutível em conferências
várias, e mesmo num recente congresso internacional de aeronáutica, que
ao inventor português se ficara devendo, como seu antecessor, a glória
dessa conquista do espírito humano, a abrir na História Universal um
novo capítulo de progresso de extraordinárias e imprevisíveis
consequências científicas e tecnológicas, políticas e sociais.
Como
de regra, as infelizes tentativas do autor da «Passarela» concitaram
logo as invejas e vaias dos seus detractores, reforçados pelas suspeitas
da Inquisição de que Bartolomeu, o Voador, teria tido pacto com o Diabo, sem que, todavia, essa torpeza fizesse decair Bartolomeu de Gusmão no conceito e apreço do Magnânimo, em cuja corte, aliás, seu irmão Alexandre gozava já de sólido prestígio como político e diplomata.
É, aliás, obscuro e confuso o curriculum vitae
de Bartolomeu de Gusmão a partir da sua proeza aerostática. Sabe-se
que, um tanto deprimido moralmente, os fracassos, decepções e embates da
opinião pública o reconduziram às funções eclesiásticas, conquanto em
seu espírito possivelmente não esmorecesse a imaginação inventiva para
fins práticos.
Em
1710, obtinha privilégio do exclusivo de uma nova bomba hidráulica para
esgotar água entrada nos porões das naus; mas, em 1713, talvez receoso
do Santo Ofício, abandonou sem grandes recursos materiais o País,
vagabundeando quatro anos por Holanda, França e talvez Inglaterra,
mantendo-se a custo em ocupações modestas, mesmo a de ervanário em
Paris, até se encontrar na Embaixada portuguesa com seu irmão Alexandre,
então secretário da missão diplomática do conde da Ribeira. Com ele
regressou a Portugal, e então, a expensas dele, se decidiu a completar
seus estudos da Baía na Universidade de Coimbra, que em 1720 o doutorava
com brilho em Cânones. No ano seguinte ordenava-se padre secular,
notabilizando-se, elevado a cónego, como eloquente orador sacro. Por
fim, elevou-o D. João V, em 1722, a fidalgo capelão-mor da Capela Real, e
já nessa categoria foi como enviado extraordinário a Roma, incumbido de
tratar com a Cúria pontifícia da obtenção dos ambicionados privilégios
do monarca em benefício da Sé de Lisboa e seu alto Clero.
Nada,
porém, tendo obtido o padre Bartolomeu de Gusmão em todo um ano de
falhadas negociações, foi seu irmão Alexandre, em 1723, substitui-lo em
Roma na difícil missão. No seu regresso ao Reino, porém, designou-o D.
João V sócio efectivo da Academia Real de História, entre os 50
candidatos escolhidos, o que lhe valeu terem-lhe sido impressos, até
1721, os seus sermões e outras obras, em três volumes.
Em
remate de tão desorbitada existência, pelo excesso de faculdades e
inquietação de espírito, uma última desventura lhe estava tristemente
reservada. Com efeito, no renovado convívio da corte, viu-se por fim
envolvido com um irmão do rei, infante D. Francisco, numa tortuosa
intriga, suspeita de escândalo, que o forçou em 1724 a de novo se
expatriar escusamente por Espanha, em companhia de outro irmão seu, frei
João Álvares, carmelita descalço. Adoecendo gravemente à chegada a
Toledo, teve de recolher ao hospital, onde, apesar dos seus ainda
robustos 39 anos, veio a morrer esgotado por tão intensa e desordenada
vida de actividades e das mais díspares ocupações, efémeros êxitos,
lutas, decepções, misérias e grandezas, em permanente insatisfação de
espírito, que dia a dia lhe ia minando o rico potencial de vitalidade.
Obscuramente
ficava sepultado numa campa rasa de Toledo o imortal precursor da
navegação aérea, hoje insuperável glória da Humanidade.
http://conventosaramago.blogspot.com/2011/03/bartolomeu-lourenco-de-gusmao.html
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Caracterização do Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão
O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão representa as novas ideias que causavam estranheza na inculta sociedade portuguesa.
Estrangeirado, Bartolomeu de Gusmão tornou-se um alvo apetecido da chacota da corte e da Inquisição, apesar da protecção real.
Homem curioso e grande orador sacro (a sua fama aproxima-o do padre António Vieira).
Bartolomeu de Gusmão evidenciou, ao longo da obra, uma profunda crise de fé, a que as leituras diversificadas e a postura "antidogmática" não serão alheios, numa busca incessante do saber.
A sua personagem risível - era conhecido por "Voador" - torna-o elemento catalisador do voo do passarola, conjuntamente com Baltasar e Blimunda.
A tríade corporiza o sonho e o empenho tornados realidade, a par da desgraça, também ela,
partilhada (loucura e morte, em Toledo, de Bartolomeu de Gusmão, morte
de Baltasar Sete-Sóis no auto-de-fé e solidão de Blimunda).
http://conventosaramago.blogspot.com/2011/04/caracterizacao-do-padre-bartolomeu.html***
08 de Agosto de 1709: Bartolomeu de Gusmão apresenta a D. João V uma demonstração com um balão de ar quente
Bartolomeu Lourenço de Gusmão, cognominado “O Padre Voador” nasceu na
capitania de São Vicente, no Brasil. Sacerdote secular, cientista e
inventor tornou-se famoso por ter inventado o primeiro aeróstato
operacional, a que chamou “passarola” – mais conhecido na sua versão
moderna, como balão de ar quente.
Cursou as primeiras letras no Colégio São Miguel em São Vicente.
Prosseguiu os estudos na Capitania da Baía de Todos os Santos. Ingressou
no Seminário de Belém, em Cachoeira, onde teve início a profícua
carreira de inventor. Em1699, concluído a formação, Bartolomeu mudou-se
para Salvador e ingressou na Companhia de Jesus, de onde saiu antes de
ser ordenado, em 1701.
Viaja para Portugal, hospedando-se em Lisboa na casa do Marquês de
Fontes, que se impressionara com os dotes intelectuais do jovem de 16
anos.
Em 1702, Bartolomeu retorna ao Brasil e dá início ao processo de ordenação sacerdotal.
Em 1708, o já padre Bartolomeu embarca para Portugal, matriculando-se na
Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra. Abandona a faculdade a
meio e instala-se em Lisboa. Na capital pede patente para um
“instrumento para se andar pelo ar” – que se revelaria mais tarde como
sendo o aeróstato ou balão – concedida em 19 de Abril de 1709. O
invento, divulgado por meia Europa em estampas fantasiosas, causou
celeuma. Era retratado como uma barca com formato de pássaro, ficando
conhecido como “passarola”. As primeiras ilustrações da Passarola tinham
sido elaboradas por um filho do Marquês de Fontes, Joaquim Francisco,
com a conivência de Bartolomeu. Aluno de matemática do padre, era a
única pessoa que tinha livre acesso ao recinto em que o engenho voador
era guardado.
O monarca manifestou interesse nas
demonstrações de Bartolomeu de Gusmão. Em Agosto de 1709, o sacerdote
fez perante a corte portuguesa cinco experiências com balões de pequenas
dimensões construídos por ele: na primeira, realizada no dia 3 na Casa
do Forte (Palácio Real), o protótipo utilizado incendiou-se antes de
subir; na segunda, feita no dia 5 noutra dependência do palácio, o
aeróstato elevou-se a 4 metros, quando começou a arder ainda no ar; na
terceira, feita no dia 6 novamente na Casa do Forte, o balão, contendo
no interior uma vela acesa, logrou fazer um voo curto, mas incendiou-se
ao chegar ao chão; na quarta, feita no dia 7 no Terreiro do Paço, o
balão elevou-se a grande altura, pousando lentamente minutos depois; no
dia 8 na Sala das Audiências, no interior do Palácio Real, o balão
subiu até o tecto do aposento, descendo posteriormente com suavidade.
Em 3 de Outubro de 1709, na ponte da Casa da Índia, o padre fez nova
demonstração do invento. O aparelho utilizado era maior que os
anteriores, mas ainda incapaz de transportar um homem. A experiência
teve êxito absoluto: o balão subiu bastante alto, flutuou por um tempo
não medido e pousou sem problemas.
Cinco testemunhas registaram estas experiências: o cardeal italiano
Michelangelo Conti, eleito papa em 1721 sob o nome de Inocêncio XIII, os
escritores Francisco Leitão e José Soares, membros da Academia Real de
História Portuguesa, o diplomata José Brochado e o cronista Salvador
Ferreira.
Estas experiências, embora com a assistência de personalidades da época,
não foram suficientes para popularizar o invento. Os pequenos balões
exibidos, além de não terem sido encarados como inovação importante ou
útil, por serem desprovidos de qualquer tipo de controlo - eram levados
pelo vento. Foram considerados perigosos, pois podiam provocar
incêndios. Estes factores não permitiram a construção de um modelo
grande, tripulável.
Entre 1713 e 1716, viajou pela Europa. Registou na Holanda o invento de
uma “máquina para drenagem da água alagadora das embarcações de alto
mar”. Viveu em Paris, trabalhou como ervanário para sustentar-se.
O padre Bartolomeu de Gusmão voltou a Portugal, quando foi vítima de
insidiosa campanha de difamação. Acusado pela Inquisição de simpatizar
com cristãos-novos, viu-se forçado a fugir para a Espanha, no final de
Setembro de 1724.
Segundo o testemunho que, mais tarde, João Álvares, um irmão mais novo,
daria à Inquisição espanhola, Bartolomeu teria feito a conversão ao
judaísmo, em 1722, depois de atravessar uma crise religiosa. O relato de
João Álvares ao Santo Ofício, ainda que deva ser visto com cautela,
mostra aspectos místicos, messiânicos e megalómanos do "padre voador".
Em Toledo, Bartolomeu adoece gravemente, recolhendo-se ao Hospital da
Misericórdia, onde veio a falecer em 18 de Novembro de 1724. Antes de
morrer, confessou-se e recebeu a comunhão, conforme o rito católico, e
assim foi sepultado na Igreja de São Romão, em Toledo. Foram feitas, ao
longo de décadas, várias tentativas para localizar a sua sepultura , o
que só ocorreu em 1856. Parte dos restos mortais foi transportada para o
Brasil e encontra-se, desde 2004, na Catedral Metropolitana de São
Paulo.
Bartolomeu de Gusmão figura como uma das personagens centrais de Memorial do Convento, romance de José Saramago.
Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)
Bartolomeu Lourenço de Gusmão, por Benedito Calixto, em quadro de 1902
Ilustração fantasiosa da Passarola de 1709
Bartolomeu de Gusmão apresenta os seus protótipos à corte de D. João V
https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/08/08-de-agosto-de-1709-bartolomeu-de.htmlhttps://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/08/08-de-agosto-de-1709-bartolomeu-de.html?spref=fb&fbclid=IwAR0BBHlZsoyYSSNYMCBnyaTfsJjH8_lgiE3BkJosQRLErnluQQvv8vBZhjY
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18 de Novembro de 1724 : Data provável da morte de Bartolomeu de Gusmão, o "Padre voador"
https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/11/18-de-novembro-de-1724-data-provavel-da_18.html?fbclid=IwAR1gEFeRVrsJ8ZSQF0TPI3896gLt_wRX48-yhRtU8T86g8ryM5iSMNTpVcs***