08/08/2018

6.999.(8.8.8h8'8".2018.) Paul Verlaine

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Nasceu a 30mar1844 (Metz)
e morreu a 8jan1896 (paRIS) 
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 “Príncipe dos Poetas” da França.
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 foi representante do Parnasianismo e também um dos líderes do movimento simbolista na França. Verlaine nasceu em 30 de março de 1844, morrendo aos 52 anos de idade em 8 de janeiro de 1896. 
O poeta francês teve uma vida considerada atribulada e escandalosa. Teve um romance, mesmo casado com a jovem Mathilde Mauté de Fleurville, com Arthur Rimbaud, um poeta que também foi importante para o simbolismo francês, com o qual fugiu para Bruxelas. Verlaine e Rimbaud viviam brigando, tiveram diversas rupturas e reconciliações e em 1873 Verlaine deu um tiro de pistola em seu amante. O poeta foi preso e condenado, passando dois anos na prisão.
Em 1866, o poeta francês escreve Poemas Saturinos, em francês: Poèmas Saturniens, que é sua primeira coletânea publicada. Em sua poesia de musicalidade lírica e singular, Verlaine expressava os arrebatamentos da alma, transpondo seus sentimentos em impressões, através de paisagens nostálgicas e refinadas.
 http://totalsimbolismo.blogspot.com/2012/02/paul-verlaine.html
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biografia
 https://educacao.uol.com.br/biografias/paul-verlaine.htm
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Via Citador
 











"Música antes de mais nada."
"A independência foi sempre o meu desejo, a dependência foi sempre o meu destino."
"Agora, livro meu, vai, vai para onde o acaso te leve."
"Se esses ontens fossem devorar os nossos belos amanhãs?"
"Não há nada melhor para uma alma do que tornar menos triste outra alma." 
"A vida humilde, cheia de trabalhos fáceis e aborrecidos, é uma obra de eleição que exige muito amor."
"A esperança reluz como uma haste de palha num estábulo."
"O riso é tão ridículo como decepcionante."
"Para mim, a glória é um modesto e efémero absinto."
"Creio que é menos importante amar a alma de uma mulher que o seu corpo. Ao fim e ao cabo, a alma é imortal, e terei tempo de sobra para a amar, mas o corpo..."
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  in "Melancolia"

A Angústia

Nada em ti me comove, Natureza, nem
Faustos das madrugadas, nem campos fecundos,
Nem pastorais do Sul, com o seu eco tão rubro,
A solene dolência dos poentes, além.

Eu rio-me da Arte, do Homem, das canções,
Da poesia, dos templos e das espirais
Lançadas para o céu vazio plas catedrais.
Vejo com os mesmos olhos os maus e os bons.

Não creio em Deus, abjuro e renego qualquer
Pensamento, e nem posso ouvir sequer falar
Dessa velha ironia a que chamam Amor.

Já farta de existir, com medo de morrer,
Como um brigue perdido entre as ondas do mar,
A minha alma persegue um naufrágio maior.
*


Lassidão

Ah, por favor, doçura, doçura, doçura!
Acalma esses arroubos febris, minha bela.
Mesmo em grandes folguedos, a amante só deve
Mostrar o abandono calmo da irmã pura.

Sê lânguida, adormece-me com os teus afagos,
Iguais aos teus suspiros e ao olhar que embala.
O abraço do ciúme, o espasmo impaciente
Não valem um só beijo, mesmo quando mente!

Mas dizes-me, criança, em teu coração de ouro
A paixão mais selvagem toca o seu clarim!...
Deixa-a trombetear à vontade, a impostora!

Chega essa testa à minha, a mão também, assim,
E faz-me juramentos pra amanhã quebrares,
Chorando até ser dia, impetuosa amada! *

A uma Mulher

Pra vós são estes versos, pla consoladora
Graça dos olhos onde chora e ri um sonho
Doce, pla vossa alma pura e sempre boa,
Versos do fundo desta aflição opressora.

Porque, ai! o pesadelo hediondo que me assombra
Não dá tréguas e, louco, furioso, ciumento,
Multiplica-se como um cortejo de lobos
E enforca-se com o meu destino que ensanguenta!

Ah! sofro horrivelmente, ao ponto de o gemido
Desse primeiro homem expulso do Paraíso
Não passar de uma écloga à vista do meu!

E os cuidados que vós podeis ter são apenas
Andorinhas voando à tarde pelo céu
— Querida — num belo dia de um Setembro ameno.
*
 *


Nevermore

Ah, lembrança, lembrança, que me queres? O Outono
Fazia voar os tordos plo ar desmaiado

E o sol dardejava um monótono raio
No bosque amarelado onde a nortada ecoa.

A sonhar caminhávamos os dois, a sós,
Ela e eu, pensamento e cabelos ao vento.
De repente, fitou-me em olhar comovente:
«Qual foi o teu mais belo dia?» disse a voz

De oiro vivo, sonora, em fresco timbre angélico.
Um sorriso discreto deu-lhe a minha réplica
E então, como um devoto, beijei-lhe a mão branca.

— Ah! as primeiras flores, como são perfumadas!
E como em nós ressoa o murmúrio vibrante
Desse primeiro sim dos lábios bem-amados!*

Voto

Ah! primeiras amantes! oaristos!, dourados
Cabelos, o azul dos olhos, carne em flor
De corpos juvenis, e entre o seu odor
As carícias a medo e com espontaneidade!

Ficaram já distantes essas alegrias
E todas as canduras! Rumo à Primavera
Dos remorsos fugiram aos negros Invernos
Das minhas dores, dos meus cansaços e agonias!

E eis-me aqui, agora, só e abatido,
Desesperado e mais frio que os avós mais antigos,
Tão pobre como um órfão sem irmã crescida.

Ó mulher de amor meigo e tão reconfortante,
Suave e pensativa, que nunca se espanta
E nos beija na testa, como uma criança! *

O Meu Sonho Habitual

Tenho às vezes um sonho estranho e penetrante
Com uma desconhecida, que amo e que me ama
E que, de cada vez, nunca é bem a mesma
Nem é bem qualquer outra, e me ama e compreende.

Porque me entende, e o meu coração, transparente
Só pra ela, ah!, deixa de ser um problema
Só pra ela, e os suores da minha testa pálida,
Só ela, quando chora, sabe refrescá-los.

Será morena, loira ou ruiva? — Ainda ignoro.
O seu nome? Recordo que é suave e sonoro
Como esses dos amantes que a vida exilou.

O olhar é semelhante ao olhar das estátuas
E quanto à voz, distante e calma e grave, guarda
Inflexões de outras vozes que o tempo calou.
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In Caprichos


Il Bacio

O Beijo! malva-rosa em jardim de carícias!
Vivo acompanhamento no piano dos dentes
Dos refrãos que Amor canta nas almas ardentes
Com a sua voz de arcanjo em lânguidas delícias!

Divino e gracioso Beijo, tão sonoro!
Volúpia singular, álcool inenarrável!
O homem, debruçado na taça adorável,
Deleita-se em venturas que nunca se esgotam.

Como o vinho do Reno e a música, embalas
E consolas a mágoa, que expira em conjunto
Com os lábios amuados na prega purpúrea...
Que um maior, Goethe ou Will, te erga um verso clássico.

Quanto a mim, trovador franzino de Paris,
Só te ofereço um bouquet de estrofes infantis:
Sê benévolo e desce aos lábios insubmissos
De Uma que eu bem conheço, Beijo, e neles ri.
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In Festas Galantes

O Amor no Chão

O vento da outra noite derrubou o Amor
Que, no mais misterioso recanto do parque,
Nos sorria, ao esticar malignamente o arco,
E cujo ar nos fez meditar com fervor!

O vento da outra noite derrubou-o! O mármore
com o sopro da manhã, disperso, gira. É triste
Olhar o pedestal, onde o nome do artista
Se lê com muito esforço à sombra de uma árvore,

É triste ver em pé, sozinho, o pedestal!
Melancólicos vêm e vão pensamentos
No meu sonho, onde o mais profundo sofrimento
Evoca um solitário futuro fatal.

É triste! — E mesmo tu, não é? ficas tocada
Plo cenário dolente, embora te divirtas
Com a borboleta rubra e de oiro, que se agita
Sobre a alameda, além, de destroços juncada.
*

Conversa Sentimental

No velho parque deserto e gelado
Duas formas passaram há bocado.

Com os olhos mortos e os lábios moles,
Mal se ouvem, a custo, as suas vozes.

No velho parque deserto e gelado
Dois espectros evocaram o passado.

— Recordas-te do nosso êxtase antigo?
— Por que razão acha que ainda consigo?

— Bate, ao ouvires meu nome, o coração?
Vês ainda a minha alma em sonhos? — Não.

— Ah! bons tempos de prazer indizível
Unindo as nossas bocas! — É possível.

— Como era azul, o céu, e grande a esperança!
— Mas é prò negro céu que hoje se lança.

Lá caminhavam plas aveias loucas
E só a noite ouviu as suas bocas.
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In Sabedorias

Sabedoria I, III

Que dizes, viajante, de estações, países?
Colheste ao menos tédio, já que está maduro,
Tu, que vejo a fumar charutos infelizes,
Projectando uma sombra absurda contra o muro?

Também o olhar está morto desde as aventuras,
Tens sempre a mesma cara e teu luto é igual:
Como através dos mastros se vislumbra a lua,
Como o antigo mar sob o mais jovem sol,

Ou como um cemitério de túmulos recentes.
Mas fala-nos, vá lá, de histórias pressentidas,
Dessas desilusões choradas plas correntes,
Dos nojos como insípidos recém-nascidos.

Fala da luz de gás, das mulheres, do infinito
Horror do mal, do feio em todos os caminhos
E fala-nos do Amor e também da Política
Com o sangue desonrado em mãos sujas de tinta.

E sobretudo não te esqueças de ti mesmo,
Arrastando a fraqueza e a simplicidade
Em lugares onde há lutas e amores, a esmo,
De maneira tão triste e louca, na verdade!

Foi já bem castigada essa inocência grave?
Que achas? É duro o homem; e a mulher? E os choros,
Quem os bebeu? E que alma capaz de os contar
Consola isso a que podes chamar tuas dores?

Ah, os outros, ah, tu! Crendo em vãos lisonjeios,
Tu que sonhavas (e era também demasiado)
Com uma qualquer morte suave e ligeira!
Ah, tu, que espécie de anjo sempre amedrontado!

Mas que intenções, que planos? Terás energia
Ou o choro destemperou esse teu coração?
A julgar pela casca, é uma árvore macia
E os teus ares não parecem de vencedor, não.

Tão desastrado ainda! e com a agravante inútil
De seres cada vez mais um sonolento idílico
A fitar pla janela o céu sempre tão estúpido
Sob o astuto olhar do diabo do meio-dia.

Sempre o mesmo na tua extrema decadência!
Ah! — Mas no teu lugar, e assumindo as culpas,
Um ser sensato quer impor outra cadência
Com o risco de alarmar um pouco os transeuntes.

Não terás, vasculhando os recantos da alma,
Um vício pra mostrar, qual sabre à luz do dia,
Algum vício risonho, descarado, que arda
E vibre, dardejante, sob o céu carmim?

Um ou mais? Se os tiveres, será melhor! E parte
Prà guerra e briga a torto e a direito, sem
Escolher ninguém e enverga a indolente máscara
Do ódio insaciado, mas farto também...

Não devemos ser tansos neste alegre mundo
Onde a felicidade não é saborosa
Se nela não vibrar algo perverso, imundo,
E quem não quer ser tanso tem de ser maldoso.

— Sabedoria humana, eu ligo a outras coisas
E, de entre esse passado de que descrevias
O tédio, em conselhos ainda mais penosos,
Só consigo lembrar-me, hoje, do mal que fiz.

Em todos os estranhos passos desta vida,
Dos lugares e dos tempos, ou também dos meus
«Azares», de mim, dos outros, da estrada seguida,
Sempre retive apenas a graça de Deus.

Se me sinto punido, é porque o devo ser.
O homem e a mulher não estão aqui em vão.
Mas espero que um dia possa conhecer
O perdão e a paz que aguardam os cristãos.

É bom não sermos tansos neste mundo efémero,
Mas pra que o não sejamos na eternidade,
O que é mais necessário que reine e governe
Nunca é a maldade, mas sim a bondade.

Tradução de Fernando Pinto do Amaral
http://www.citador.pt/poemas/a/paul-verlaine
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08 de Agosto de 1873: O poeta Paul Verlaine é condenado por tentar matar Rimbaud
No dia 8 de Agosto de 1873, um tribunal de Bruxelas emite o veredicto, condenando o poeta Paul Verlaine, 29 anos, a dois anos de prisão por ter disparado dois tiros contra Arthur Rimbaud, também poeta, 19 anos, seu amante havia dois anos. Para Verlaine era difícil suportar a perda do amor do seu companheiro.
Um mês antes, num quarto de hotel de Bruxelas, Verlaine, alcoolizado e desesperado, disparava contra Rimbaud, uma bala atingindo o seu antebraço. Verlaine seria encarcerado na prisão de Petits-Carmes, enquanto Rimbaud publicaria Une saison en enfer. Na cela, Verlaine escreveu Sagesse , onde se pode ler estes versos que se tornaram célebres: Le ciel est, par-dessus le toit, / Si bleu, si calme ! / Un arbre, par-dessus le toit, / Berce sa palme.
Em 27 de Agosto de 1874, o poeta beneficia de uma redução da pena por boa conduta e sai da prisão. Pouco depois, partiria para se encontrar com Rimbaud em Estugarda, onde o ex-amante trabalhava como preceptor.

Verlaine nasceu em Metz em 30 de Março de 1844. Filho de uma família da pequena burguesia, fez os seus estudos em Paris. Nessa época, frequentava os cafés e os salões literários. Já Rimbaud nasceu em 20 de Outubro de 1854 em Charleville-mézières, nas Ardenas. O jovem Arthur era um aluno brilhante e pena talentosa. Revoltado contra a ordem das coisas, via na poesia um meio de fazê-las evoluir.
Verlaine, que recebera os seus trabalhos, mostrou-se tocado pelos versos do jovem e convida-o a ir para Paris. Rimbaud vai morar na casa de Verlaine, naquela altura casado. Em 1870 Verlaine casara-se com Mathilde Mauté mas o ano seguinte reserva uma mudança radical na sua vida, ao encontrar-se com Rimbaud. Verlaine deixa a sua esposa e acompanha cegamente o jovem poeta pela Inglaterra e depois, Bélgica. Seguem-se dois anos de vida boémia, frequentando os bares do Quartier Latin. Os dois amantes viajariam juntos por Bruxelas e Londres. O relacionamento terminaria violentamente em 8 de Julho de 1873.
Os últimos anos de Verlaine testemunharam a sua dependência de drogas, alcoolismo e pobreza. Ele viveu em bairros pobres e hospitais públicos, e passava os seus dias a beber absinto em cafés parisienses. Por sorte, o amor à arte dos franceses foi capaz de dar-lhe apoio e alguma ajuda financeira: as suas poesias antigas foram redescobertas, o seu estilo de vida e estranho comportamento perante as plateias atraíram admiração, e em1894 ele foi eleito "Príncipe dos Poetas". A sua poesia foi admirada e reconhecida como inovadora, servindo de fonte de inspiração para famosos compositores, como Gabriel Fauré, que transformou vários dos seus poemas em música, incluindo La bonne chanson, e Claude Debussy, que tornou música cinco dos poemas de Fêtes galantes. Paul Verlaine morreu em Paris em 8 de Janeiro de 1896. No dia seguinte ao seu enterro, os jornais estamparam um episódio curioso: na noite das suas exéquias, a estátua representando a Poesia no teatro da Ópera, apareceu sem um braço. Esse membro estava no chão, literalmente despedaçado, junto com a lira que segurava. Por esse exacto lugar, o carro fúnebre de Verlaine havia passado algumas horas antes.

Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)

  

Paul Verlaine fotografado por Paul Marsan Dornac em 1892

File:Rimbaud.PNG

Rimbaud, com17anos, fotografado por Étienne Carjat


À volta da mesa, por Henri Fantin-Latour, 1872, Rimbaud é o segundo à esquerda, tendo ao seu lado direito Paul Verlaine
https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/08/08-de-agosto-de-1873-o-poeta-paul.html
https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/08/08-de-agosto-de-1873-o-poeta-paul.html?spref=fb&fbclid=IwAR38kh1lqZ5YqOEZYzNmSUOre3Ko9cGJ9otXI4yLQOoWtq58xoKNp73oU-8