18/11/2018

7.963.(18noVEMbro2018.9.9') Emily Brontë

Nasceu a 30jul1818...Thornton...Yorkshire...
e morreu a 19dez1848
***
"Tenho tido sonhos que ficam comigo o resto da vida e alteram minhas ideias. Vão mergulhando dentro de mim, como o vinho mergulha na água e mudam a cor do que penso."
"As pessoas orgulhosas forjam, elas mesmas, para si os mais tormentosos pesares."
"Seja qual for a matéria de que as nossas almas são feitas, a minha e a dele são iguais."
"A felicidade que me salva a alma mata-me o corpo, mas não satisfaz a si própria"
"Entreguei-lhe o meu coração ele se apoderou dele, destroçou-o e, depois, o devolveu."
"Beija-me e não me deixes ver teus olhos! Perdoo-te o mal que me fizeste. eu amo quem me mata. Mas como poderei perdoar quem te mata?"
"Ele está sempre, sempre, no meu pensamento. Não por prazer, tal como eu não sou um prazer para mim própria, mas como parte de mim mesma, como eu própria."
"Não sei como explicar mas certamente que tu e todos têm a noção de que existe, ou deveria existir, um outro eu para além de nós próprios. Para que serviria eu ter sido criada se apenas me resumisse a isto?"
"Amará e odiará sem dar disso demonstração e olhará como uma impertinência o amor ou o ódio que receberá em troca".
"O senhor é muito infeliz, não é? Solitário como o demónio e, como ele, invejoso. Ninguém gosta do senhor, ninguém o chorará quando morrer!"
"Que vaidosos cata-ventos somos nós! Eu, que resolvera libertar-me de todo o trato social e que abençoava minha boa estrela, que, afinal, me fizera descobrir um lugar onde ele era quase impossível, eu, fraca criatura, depois de ter mantido até a noitinha uma luta contra o abatimento e a solidão, vi-me finalmente compelido a arriar bandeira."
"Alguns irão acusá-lo de orgulho desmedido, mas tenho um sexto sentido que me diz que não se trata disso - instintivamente, sei que a sua reserva provém de uma aversão inata à exteriorização de sentimentos e a troca de demonstrações de afecto. É capaz de amar e odiar com igual dissimulação e de considerar impertinência a retribuição desse ódio ou desse amor."
"Demorei-me ao pé dos túmulos, sob o céu suave, fiquei a contemplar as mariposas que voejavam sobre a urze e as campainhas, a escutar o vento macio que soprava por entre a relva e a cismar se era possível a alguém imaginar um sono agitado sob aquela terra tranquila."
"Ela nunca recobrou a consciência: não reconheceu ninguém desde o momento em que a deixou, - disse eu - Ela jaz com um doce sorriso nos lábios, e seus últimos pensamentos a levaram de volta aos dias felizes. Sua vida encerrou-se como um sonho suave - que ela possa despertar tão suavemente no outro mundo!"
"Que ela desperte no meio das tormentas! Será que ela mentiu até o fim? Onde está ela? La? não... No céu? não... Consumida? NÃO... Onde? Oh! Tu dizias que não davas importância ao meu sofrimento! E eu, eu rezo uma oração, hei-de de repeti-la até que minha língua entorpeça... Catherine Earnshaw, possas tu não encontrar sossego enquanto eu tiver vida!! Dizes que te matei, persegue-me então! A vitima persegue seus matadores creio eu. Sei que fantasmas tem vagado a terra. Fica sempre comigo, encarna-te em qualquer forma... Torna-me louco!!!
Mas não me abandone neste abismo onde não posso encontrá-la!
Não posso viver sem minha vida, não posso seguir sem minha alma"
"Tenho que me lembrar de respirar, tenho quase que lembrar meu coração de bater! vivo como se me impulsionasse uma mola endurecida: é constrangido que realizo o ato mais insignificante, desde de que esse ato não dependa daquele pensamento único; é constrangido que reparo em qualquer coisa viva ou morta, se ela não esta associada à ideia que é para mim universal. Um único desejo alimento, e todo o meu corpo, todas as minhas faculdades anseiam por atingi-lo vêm ansiando por isso há tanto tempo, e tão inflexivelmente, que estou convencido de que esse desejo será satisfeito, e em breve, porque já dominou minha existência..."
 "Meu maior cuidado na vida é ele. Se tudo desaparecesse e ele ficasse, eu continuaria a existir. E se tudo o mais ficasse e ele fosse aniquilado, eu ficaria só num mundo estranho, incapaz de ter parte dele. Meu amor por Linton. é como a folhagem da mata: o tempo há de mudá-lo como o inverno muda as árvores, isso eu sei muito bem. E o meu amor por Heathcliff é como as rochas eternas que ficam debaixo do chão; uma fonte de felicidade quase invisível, mas necessária. Nelly Eu sou Heathcliff. Sempre, sempre o tenho em meu pensamento. Não é como um prazer - por que eu também não sou um prazer para mim própria - , mas como meu próprio ser..."
"Qual seria o sentido de eu ter sido criada, se estivesse contida apenas em mim mesma? Os grandes desgostos que tive foram os desgostos de Heathcliff, e eu senti cada um deles desde o início: o que me faz viver é ele. Se tudo o mais acabasse e ele permanecesse, eu continuaria a existir; e, se tudo o mais permanecesse e ele fosse aniquilado, eu não me sentiria mais parte do universo. Meu amor por Linton é como a folhagem de um bosque: o tempo o trans-formará, tenho a certeza, da mesma forma que o inverno transforma o arvoredo. O meu amor por Heathcliff lembra as rochas eternas: proporciona uma alegria pouco visível, mas é necessário. Nelly, eu sou Heathcliff! Ele está sempre, mas sempre, no meu pensamento; não como uma fonte de satisfação, que eu também não sou para mim mesma, mas como eu própria. Por isso, não torne a falar da nossa separação: ela é impossível e. . ." 
"..Deixe-me morrer em paz - Catherine
- Se sou culpada morrerei por isso. Mas você também me abandonou, e eu o perdoo. Perdoe-me também!
- Perdoo o que você me fez, amo minha assassina, mas como poderia eu perdoar a sua?"

"O velho estóico

Eu desprezo o Amor e a quem me ama,
Dos ricos, sei zombar;
É sonho a luxúria da Fama,
Que acaba ao despertar -

E se oro, a única Oração
Que a boca me devora
É - "Larga este meu coração
Deixa-me livre agora."

Quais dias de missão cumprida,
Estou eu a implorar -
Alma livre na morte ou vida,
Coragem pra aguentar"

"A Vida
A vida, acredita, não é um sonho
Tão negro quanto os sábios dizem ser.
Freqüentemente uma manhã cinzenta
Prenuncia uma tarde agradável e soalhenta.

Às vezes há nuvens sombrias
Mas é apenas em certos dias;
Se a chuvada faz as rosas florir
Ó porquê lamentar e não sorrir?

Rapidamente, alegremente
As soalhentas horas da vida vão passando
Agradecidamente, animadamente
Goza-as enquanto vão voando.

E quando por vezes a morte aparece
E consigo o que de melhor temos desaparece?
E quando a dor se aprofunda
E a esperança vencida se afunda?

Oh, mesmo então a esperança há-de renascer,
Inconquistável, sem nunca morrer.
Alegre com a sua asa dourada
Suficientemente forte para nos fazer sentir bem
Corajosamente, sem medo de nada
Enfrenta o dia do julgamento que vem.
Porque gloriosamente, vitoriosamente
Pode a coragem o desespero vencer."
"Minhas grandes tristezas neste mundo, têm sido as tristezas de Heathcliff: ele é a minha finalidade de viver. Se tudo mais perecesse e ele ficasse, isto bastaria para que eu continuasse a viver." 
"E eu rezo uma oração... hei de repeti-la até que minha língua se entorpeça... Catarina Earnshaw, possas tu não encontrar sossego enquanto eu tiver vida! Dizes que te matei, persegue-me então! A vítima persegue seus matadores, creio eu. Sei que fantasmas têm vagado pela terra. Fica sempre comigo... encarna-te em qualquer forma... torna-me louco! Só não quero que me deixes neste abismo, onde não posso te encontrar! Oh, Deus! é inexprimível! Não posso viver sem minha vida! Não posso viver sem minha alma! (Heathcliff - O Morro dos Ventos Uivantes)"
"Eu não parti teu coração...foste tu que o quebraste, e, quebrando-o, quebraste o meu. E tanto pior para mim, que sou forte. tenho eu necessidade de viver? Que vida será a minha quando...Oh! Deus! Terias tu vontade de viver com tua alma metida num túmulo?"
"Se o amor dela morresse, eu arrancaria seu coração do peito e beberia seu sangue.
(O Morro dos Ventos Uivantes)"

"- É difícil perdoar e olhar para esses olhos e sentir entre as mãos essas mãos definhadas – respondeu ele. – Beije-me uma vez mais, e não me deixe ver os seus olhos! Perdôo-lhe o que você fez. Amo a minha assassina... mas não a sua! Como poderia?
- Heathcliff
O morro dos ventos uivantes"

 "A pólvora permaneceu tão inofensiva quanto areia, porque nenhum fogo chegou perto para a fazer explodir."
O Morro dos Ventos Uivantes - pág.86
""Nunca lhe confessei o meu amor" de viva voz. Mas se os olhos falam, o mais simplorio dos imbecis poderia verificar que eu estava completamente louco de amor

O Morro dos Ventos Uivantes"
"o que é que, para mim,
não se relaciona com ela? O que não me faz recordá-la? Não posso olhar para este chão sem que veja as suas feições recortadas nas lajes! Em todas as nuvens, em todas as árvores. . . enchendo o ar, à noite, e refletida em todos os
objetos, durante o dia, eu vejo a sua imagem! Os rostos mais comuns de homens e mulheres, os meus próprios traços traem-me com uma semelhança.
O mundo inteiro é um terrível álbum de recordações a provar que ela existiu e que eu a perdi!"
"Dormindo
Nunca encontrei a felicidade dormindo;
A memória se recusa sempre a morrer,
E votei minha alma ao secreto mistério,
Para viver e suspirar de esperança e nostalgia.

Nunca encontrei o repouso dormindo;
Pois as sombras dos mortos,
Que meus olhos acordados nunca saberia distinguir,
Assaltam minha cabeceira.

Nunca encontrei a esperança dormindo:
No mais intenso da minha noite, eu os vejo chegar,
E estender sobre as paredes de profundas trevas
O mais epesso véu do seu triste cortejo.

Nunca encontrei a coragem dormindo.
Onde eu teria podido arrancar um força nova;
Mas o mar em que vago é batido pelas tempestades,
E a onda é mais negra.

Nunca encontrei a amizade dormindo,
Para acalmar a dor e me ajudar a sofrer;
Os olhares da noite são pejados de desprezo
E me deixam abandonada ao meu desespero.

Nunca encontrei o desejo dormindo
Para atiçar o fogo morto do meu coração.
Meu único desejo é atingir o esquecimento
E o sono eterno em que mergulha a morte."
"Recordação

Frio na terra - e sob tanta neve
Tão longe estás na tumba desolada!
De amar-te me esqueci, sequer de leve.
Pelas águas do Tempo separada?

Quando estou só, minh'alma não responde
Voando aos montes dessa costa ao norte.
Nem fecha as asas onde o verde esconde
Teu nobre coração dentro da morte?

Frio na terra - e quinze Invernos foram
Aí, nos pardos montes. Primavera:
Fiel é uma alma que as lembranças douram
Após tanta mudança que sofrera!

Ó doce Amor, perdoa, se eu te esqueço.
Ida que vou nesta maré do mundo.
Desejos me distraem, que aborreço,
Mas nenhum deles é que tu mais fundo.

Que luz brilhou no meu azul celeste,
Ou nova aurora para mim raiou?
O bem da vida é o bem que tu me deste,
E o bem da vida em ti se consumou.

Mas quando de áureos sonhos soou o regresso
E nem já Desespero me vencia,
Eu aprendi como o existir tem preço,
E quanto val' viver sem alegria.

E as lágrimas sequei do amor inútil -
Calei minh'alma de por ti ansiar,
E dura lhe neguei esse ardor fútil
De em tumba mais que minha me deitar.

E enlanguescer não ouso mais agora,
Nem dar-me à dor extasiada de lembrar-te:
Bebi da mais divina angústia outrora -
Em que vazio mundo hei-de encontrar-te?."
"O Lago Morto
O lago morto, o céu cinzento ao luar;
Pálida, lutando, coberta pelas nuvens,
A lua;
O murmúrio obstinado que cochicha e passa
(Dir-se-ia que tem medo de falar em alta voz).
Tão tristes agora,
Recaem sobre meu coração,
Onde a alegria morre como um rio deserto.
Minhas pobres alegrias...
Não as toqueis,
Floridas e sorridentes.
Lentamente, a raiz acaba de morrer."
"O Vento da Noite

À meia-noite de verão, mole como um fruto maduro,
A lua sem véus lançou a sua luz
Pela janela aberta do parlatório,
Através dos rosais onde o orvalho chovia.

Sentada e perseguindo o meu sonho de silencio,
A doce mão do vento brincava em meus cabelos
E sua voz me contava as maravilhas do céu.
E a terra era loura e bela de sono.

Eu não tinha necessidade do seu hálito
Para me elevar a tais pensamentos,
Mas um outro suspiro em voz baixa me disse
Que os negros bosques são povoados pelas trevas.

A folha pesada, nas aguas da minha canção,
Escorre e rumoreja como um sonho de seda;
E ligeira, sua voz miriápode caminha,
Dir-se-ia levada por uma alma fagueira.

E eu lhe dizia: "Vai-te, doce encantador.
Tua amavel canção me enaltece e me acaricia,
Mas não creio que a melodia desta voz
Possa jamais atingir o meu espírito.

Vai encontrar as flores, as tuas companheiras,
Os perfumes, a árvore tenra e os galhos debeis;
Deixa meu coração mortal com suas penas humanas,
Permite-lhe escorrer seguindo o próprio curso".

Mas ele, o Vagabundo, não me queria ouvir,
E fazia seus beijos ainda mais ternos,
Mais ternos ainda os seus suspiros: "Oh, vem,
Saberei conquistar-te apesar de ti mesma!

Dize-me, não sou o teu amigo de infância?
Não te concedi sempre o meu amor?
E tu o inutilizavas com a noite solene,
Cujo morno silencio desperta minha canção.

E quando o teu coração achar enfim repouso,
Enterrado na igreja sob a lousa profunda,
Então terei tempo para gemer à vontade,
E te deixarei todas as horas para ficar sozinha"...
"Já não é mais tempo
Já não é mais tempo para te chamar ainda,
Não quero mais embalar este sonho.
Assim o raio de alegria não durou senão um momento
E a dor infalível logo voltou impetuosa.

E depois a bruma já se levantou a meio;
A rocha estéril exibe o seu flanco nu,
Onde o sol e os primeiros olhares da aurora
Acabaram por adorar suas imagens nascentes.

Mas na memoria fiel da minha alma,
Tua sombra amada será eternamente emocionante,
E Deus será o único a reconhecer sempre
O asilo abençoado que abrigou minha infância."
"Estâncias
Já me reprovaram e volto sempre
Aos primeiros sentimentos que nasceram comigo;
Deixo de correr atrás do ouro e do conhecimento,
Para sonhar apenas com maravilhas impossíveis.

Mas hoje,
Não descerei mais ao império das sombras;
Tenho medo da sua frágil e decepcionante imensidão,
E meu sonho, povoado com legiões inumeráveis,
Torna este mundo sem forma estranhamente próximo.

Caminharei,
E ficarão para trás as antigas veredas do heroísmo,
E os caminhos já exaustos da moralidade,
E o imprevisto aglomerado de faces obscuras,
Ídolos em bruma de um passado já longínquo.

Caminharei,
Onde só agradar à minha alma caminhar,
(Não posso suportar a escolha de outro guia)
Onde os rebanhos se acinzentam no verde das campinas,
Onde o vento alucinado vergasta o flanco das montanhas.

Que pode revelar a montanha solitária?
Nada exprime sua glória e sua dor.
Minha alma dormia, quando a terra despertou,
E o círculo do Céu ao círculo do Inferno

Confundindo-se, à terra deram nascimento."
"A Morte

Ó Morte! Feriste,
E eu estava confiante,
Tinha posto minha esperança nas alegrias a vir...
Tu, ó ceifadora, fere ainda,
Tu que cortas do tempo os ramos ressecados
Enquanto reverdece a fresca Eternidade!

Sobre o galho do Tempo cresciam as folhas claras,
E sua seiva se alimentava de um branco orvalho.
Aí os pássaros procuravam um asilo noturno
E a abelha selvagem, apaixonada pelo dia,
Voava circulando acima de suas flores.

Porém, de passagem, a desgraça feneceu o ouro florescido
Depois a maldade pilhou o esplendor da folhagem.
Mas nos flancos generosos que lhe tinham dado nascimento,
Sem fim a Vida lançava uma vaga reparadora.

Derramei algumas lágrimas pela alegria desaparecida,
Sobre o ninho morto entoei a canção do silêncio.
Todavia a esperança que velava
Acabou por expulsar a tristeza com o seu riso.
Baixinho ela murmurava:
"Dentro em pouco o inverno itinerante deverá retirar-se!"

E eis aí!
A primavera multiplicou os seus favores,
Enquanto o ramo vergava de enorme beleza;
Os ventos, a chuva, o fervor do sol,
Para saudar este ouro Maio,
Prodigavam sem descanso suas carícias gloriosas.

Ele se elevou muito alto.
Mesmo assim, a desgraça alada ainda não o podia tocar.
O Mal não podia vencer o brilho de seus raios.
O amor, a vida secreta de seu ser,
Teriam sabido preservá-lo deste golpe ultrajante,
Do estigma,
Se tu não tivesses vindo.

Ó Morte cruel!
A folha ainda inclina sua mocidade languescente.
Talvez ainda... espere um pouco na doçura da noite...
Não!
O sol da manhã zomba das minhas angústias.
Ai de nós, para mim o Tempo acabou de florescer!

Apressa-te a ferir:
Outros ramos poderão desabrochar,
E compensar a morte deste pobre embrião.
Ao menos este corpo alimentará com sua poeira
O princípio eterno que lhe deu a luz!"
"Resposta a um aviso

Na terra - na terra - colocar-te-ão,
Com um céu de pedra cinza,
Sobre um leito de terra negra,
Com a negra terra para te cobrir.

"Ao menos aí poderei repousar;
Possa tal profecia surpreender-me dentro em pouco,
O tempo em que meus cabelos de fino sol
Misturar-se-ão sob a terra às raízes da erva".

Mas este lugar é mais frio do que o inverno.
E fechado para sempre à alegria de ser livre.
E aqueles a quem seduzia o calor da tua face,
Estremecerão de horror ao deparar-te.

"Não.
O mundo em que vivemos é uma seara de frêmitos.
Eu sou a árvore do inferno,
A amizade foi para mim a folha decepcionante.
Mas talvez AO LONGE gostarão de me conhecer
E dar à minha imagem uma justa memória".

Deverias renunciar a este grande amor,
Aos ternos jogos da humana piedade:
Oh! não te despertes,
O grande riso do Céu rompe acima das nossas cabeças,
Jamais lamenta a Terra a uma Ausência.

E a erva, a poeira e a lousa solitária
Terão dispersado dentro em pouco a humana companhia;
Só o eco do suspiro se desola neste mundo.

O único ser... e esta alma era digna de ti!"
 https://www.pensador.com/autor/emily_bronte/
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19 de Dezembro de 1848 : Morre a escritora Emily Brontë, autora de "O Monte dos Vendavais"

Emily Jane Brontë, a autora do clássico inglês "O Monte dos Vendavais" "Wuthering Heights", no seu título original nasceu a 30 de Julho de 1818 em Thornton, Yorkshire. Irmã das também escritoras Charlotte e Anne Brontë, foi a quinta dos seis filhos que tiveram Patrick Brontë e Mary Branwell. Mudou-se com a família para Haworth em 1820, onde o seu pai, um reverendo, passou a servir a comunidade como reitor e presidente da paróquia, local onde ela e os irmãos estudaram os clássicos da literatura e tiveram acesso a artigos contemporâneos publicados na imprensa. As crianças passaram a maior parte do seu tempo dentro da casa paroquial, lendo e compondo, ambiente este que fez o talento literário de Emily surgir.



Em 1821, a mãe de Emily  morreu de cancro, e ela e as suas irmãs foram enviadas pela rígida tia Branwell para Clergy Daughter's School, um colégio interno em Cowan Bridge, onde viveram em condições precárias. Depois de passarem fome, frio e sofrerem castigos constantes devido ao severo regime em que viviam, duas das irmãs de Emily, Maria e Elizabeth Brontë, morreram de tuberculose. Patrick Branwell resolveu então levar as filhas de volta para casa.

Na casa dos Brontë trabalhava Thabitha, uma empregada que costumava contar histórias às crianças e que mais tarde foi homenageada com a fiel personagem Nelly Dean, em "O Monte dos Vendavais", único romance de Emily Brontë. O mundo do faz de conta aumentou o interesse dos irmãos pela leitura, uma forma de entretenimento que fez nascerem terras fantásticas, criadas para personagens do seu imaginário. Nessa época, Emily escreveu poemas e algumas histórias, porém poucos de seus trabalhos desse período sobreviveram.

Charlotte foi para Roe Head, onde, mais tarde, foi convidada para leccionar, levando Emily consigo. Devido à timidez, Emily não se adaptou a Roe Head e voltou para casa. O seu irmão Branwell bebia de forma imoderada e ela passava os dias solitariamente compondo poemas.

Em 1842, Emily e Charlotte foram para a Bélgica, onde aprenderam Francês, Alemão e literatura com o objectivo de abrirem a sua própria escola. A empreitada, no entanto, não obteve sucesso por falta de alunos. Já de volta a Haworth, Charlotte descobriu os versos da irmã e teve a ideia de os juntar aos dela e aos de Anne para publicá-los sob os pseudónimos de Currer, Ellis e Acton Bell. Em 1846, uma pequena editora aceitou publicar os poemas, porém as irmãs teriam de se responsabilizar pelos custos, que pagaram com a herança da tia Branwell, falecida pouco antes daquela ocasião. A despeito do elogio e da crítica, apenas dois exemplares foram vendidos, mas as irmãs continuaram a escrever, agora cada uma a sua narrativa. Charlotte publicou "Jane Eyre", que atingiu grande sucesso, e Emily, em 1847, publicou "O Monte dos Vendavais" que, devido ao clima tenso da narrativa, foi mal compreendido na época do seu lançamento. Posteriormente, a obra foi consagrada


A notável autora de "O Monte dos Vendavais", talvez a mais fechada e mais solitária das irmãs Brontë, morreu de tuberculose, aos 30 anos, em 19 de Dezembro de 1848.

Fontes: UOL Educação
             Infopédia
wikipedia (Imagens)
Arquivo: Emilybronte retouche.jpg
Retrato de Emily Brontë pelo seu irmão Branwell Brontë


Wuthering Heights ( O Monte dos Vendavais) é um filme norte-americano realizado por William Wyler e estreado em 1939. O guião é baseado na novela de mesmo nome de Emily Brontë.

Wuthering Heights (O Monte dos Vendavais)
Filme de produção norte americana e britânica de 1992 realizado por Peter Kosminsky, baseado na obra Wuthering Heights, de Emily Brontë. Os actores principais são Juliette Binoche e Ralph Fiennes.
 https://www.youtube.com/watch?v=PzzsmzAyOs8
Wuthering Heights (1992)  - Wuthering Heights; 1992; Peter Kosminsky; Juliette Binoche; Ralph Fiennes; Janet McTeer; Sophie Ward; Simon Shepherd; Jeremy Northam; Jason Riddington; Simon Ward; Dick Sullivan; Robert Demeger; Paul Geoffrey;
https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/12/19-de-dezembro-de-1848-morre-escritora.html?fbclid=IwAR2UDYQ6xDtYUBcBuDf2GNxRquMsTwsVwQVve8fhcFZ8XyCPw5tthN-4Xhs
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30 de Julho de 1818: Nasce a escritora Emily Brontë, autora de "O Monte dos Vendavais"

 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/07/30-de-julho-de-1818-nasce-escritora.html?spref=fb&fbclid=IwAR2OrJ-v_ThhIviIl949WpX8CYqT1Tu3l2wO6UmBqwP-tjsT0E4tz4CFW4s
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Via Susana Duarte:"Uma das minhas Escritoras maiores."
 
 Rita Cipriano

Teimosa, com um espírito indomável e antissocial: há 200 anos que Emily Brontë é considerada a mais estranha das "três irmãs estranhas". Uma nova biografia mostra-a como uma mulher à frente do tempo.

Das três irmãs Brontë, Emily é aquela sobre a qual menos se sabe. É certo que nasceu a 30 de julho de 1818, que morreu a 19 de dezembro de 1848 de tuberculose, a doença que matou o irmão meses antes, e que entre essas duas datas tentou ser professora, viajou até Bruxelas, escreveu algumas dezenas de poemas e um único romance, O Monte dos Vendavais, obra obscura e violenta sobre uma paixão capaz de sobreviver até depois da morte. Uma das melhores da história da literatura inglesa. Mas se a sua vida parece mais ou menos certa, a sua personalidade não o é. Existem muitas dúvidas, muitos mitos, que, 200 anos depois, continuam sem resposta. E é talvez por isso que a mais estranha das “três irmãs estranhas” — como o poeta inglês Ted Hughes chamou a Charlotte, Emily e Anne Brontë, numa evocação das três bruxas de Macbeth –, autora de um estranho romance, permanece até hoje motivo de fascínio e, sobretudo, vítima de lugares comuns.
Isto deve-se sobretudo à falta de material original sobre Emily Brontë. Segundo Claire O’Callaghan, autora da mais recente biografia da autora, “existe literalmente uma mão cheia de notas descuidadas, alguns esboços, quatro ‘Diários’ que escreveu com Anne, [dois anos mais nova do que ela,] uma mão cheia de ensaios que escreveu durante a sua estadia na Bélgica (conhecidos como devoirs) e os objetos da sua secretária para refletirmos sobre eles”. A maioria dos seus manuscritos perdeu-se ou foi destruída, havendo quem sugira que foi Charlotte que, na ânsia de construir a imagem das irmãs que considerava correta, terá queimado os papéis de Emily. Estes “itens preciosos”, “a base sobre a qual assenta o seu legado literário”, constituem “todo o material primário” que existe sobre Emily, e é com eles que “qualquer biógrafo tem trabalhar”.
A informação é tão escassa que ninguém consegue dizer ao certo como ela era. A par de algumas vagas descrições, feitas por quem a conheceu pessoalmente, existem apenas dois retratos “oficiais”, que foram considerados autênticos pela Brontë Society, responsável pela gestão do património das três irmãs: o “Pillar”, a famosa pintura de 1834 que mostra Charlotte, Emily e Anne lado a lado; e o chamado “Gun Group”, obra produzida provavelmente por volta da mesma data. As duas pinturas são da autoria de Patrick Branwell, o único filho de Patrick Brontë, que tinha ambições literárias e que gostava de pintar. Dos dois retratos, o “Gun” é o mais curioso. Apesar de ter sido originalmente uma pintura das três irmãs, conhece-se dela apenas uma parte, que se acredita conter uma representação de Emily (há, porém, quem defenda tratar-se de Anne). O resto do quadro foi destruído por Arthur Bell Nicholls, marido de Charlotte, que achava tratar-se de uma má representação da família.

O famoso retrato “Pillar”, pintado por volta de 1834 por Patrick Branwell Brontë. Este mostra (da esquerda para a direita) as suas irmãs Anne, Emily e Charlotte. A figura obscurecida do meio é o próprio Branwell, cujo significado ainda hoje se discute
Mal conservadas e de fraca qualidade, as duas pinturas pouco dizem sobre Emily. Além destas, as poucas descrições fidedignas dela — nomeadamente a que foi feita pela grande amiga de Charlotte, Ellen Nussey, num artigo publicado na revista ilustrada Scribner’s Monthly, em 1871 — permitem apenas saber que tinha o cabelo castanho, provavelmente ondulado, e que os seus olhos, “gentis”, eram claros, cinzentos ou azuis. Não existem fotografias dela, nem das suas irmãs, ainda que de vez em quando surjam alegadas imagens de Charlotte, Emily e Anne. A última apareceu em 2015. Sobre ela, John Sutherland escreveu no The Guardian: “Se esta é uma imagem verdadeira das Brontë, então eu sou o Heathcliff!”, numa referência à famosa personagem de O Monte dos Vendavais. “Será que esta pode ser uma fotografia das três irmãs Brontë?, perguntou Seamus Molloy, que comprou a fotografia por 15 paus no eBay. Ele devia pedir o dinheiro de volta. Nem vale a pena falar no óbvio. Tecnicamente, a fotografia foi claramente tirada mais tarde do que as morte trágicas das irmãs.”
Foi contra estas e outras suposições que Claire O’Callaghan decidiu escrever um livro sobre a escritora inglesa, que morreu com apenas 30 anos. Emily Brontë Reappraised. A view from the twenty-first century, publicado em junho pela Saraband, é, nas palavras da professora da Loughborough University, em Inglaterra, uma “espécie de biografia com um twist”, porque “revisita algumas das ideias dominantes que se formaram sobre Emily e lê-las de uma nova forma, do ponto de vista do novo milénio”. E estas não são poucos — embora pouco se saiba sobre ela, há muito que sua personalidade foi definida. Era teimosa ao ponto de se prejudicar a si própria, tinha um espírito selvagem, indomável e uma vontade de ferro; era tão antissocial que parecia sofrer de uma fobia e preferia a companhia dos animais — sobretudo do seu cão, Keeper — à dos humanos, o silêncio dos campos ao barulho da grande cidade. Houve quem dissesse que era mística, louca, e até quem a acusasse de ser uma fraude literária, já que a sua obra-prima teria sido escrita pelo irmão Branwell, e não por si. Tudo isto porque era mulher e um enigma para muitos.
Em Emily Brontë Reappraised, O’Callaghan tentou separar o trigo do joio, a verdade das muitas possíveis mentiras. E mais do que isso, tentou perceber se a poetiza e romancista de Yorkshire foi de facto “um mistério no seu próprio tempo”, ou se essa aura misteriosa, que persiste até aos dias de hoje, se deve simplesmente ao facto de ter sido “uma mulher à frente do seu tempo”, que os seus contemporâneos tinham dificuldade em entender. Talvez agora, em pleno século XXI e à luz da “cultura contemporânea”, seja finalmente possível saber quem foi Emily Brontë. É isso que a biografa espera ter ajudado a fazer.

A “filha dos campos”, criadora de monstros

A ideia de Emily como a mais estranha das “três irmãs estranhas” começou com Charlotte, a sua primeira “biógrafa e mitóloga”. Foi ela que, depois da morte das irmãs, decidiu tomar em mãos a tarefa de editar e divulgar as suas obras, publicando em 1850 um volume revisto dos seus romances de estreia, O Monte dos Vendavais e Agnes Grey. Este vinha acompanhado por uma “Biographical Notice of Ellis and Acton Bell”, escrita por si, sobre as duas escritoras. Foi nesta nota à edição da editora londrina Smith, Elder & Co., a primeira de carácter biográfico sobre Emily e Anne, que foi confirmado pela primeira vez e oficialmente género das autoras, que tinham assinado as obras com pseudónimos ambíguos por terem consciência do preconceito que existia em relação às mulheres escritoras. Isso levou a que, depois das primeiras edições de 1847, surgisse um debate entre leitores e críticos sobre se Ellis Bell (Emily) e Acton Bell (Anne) eram homens ou mulheres.
A “Biographical Notice” também foi importante por outro motivo. Neste texto, hoje famoso, Charlotte procurou descrever a personalidade das irmãs, justificando assim os romances que tinham escrito e que tantas críticas tinham recebido. Emily Brontë foi a que saiu mais prejudicada, uma vez que as afirmações da irmã mais velha ajudaram a criar muitos dos mitos sobre ela que persistem até aos dias de hoje. Segundo Charlotte, Emily tinha uma “cultura pouco sofisticada, gostos naturais e um exterior modesto”, mas um “poder e fogo secretos” tão grandes que eram capazes de alimentar as “veias de um herói”; não era flexível, o que fazia com que muitas vezes tomasse decisões erradas, que acabavam por a prejudicar, “o seu temperamento era magnânimo, mas quente e inesperado” e “o seu espírito indomável”. Através de uma crítica velada, suavizada por alguns elogios, Charlotte Brontë acusava assim a irmã de ser demasiado teimosa e querer fazer sempre tudo à sua maneira, sem que tivesse noção ou conhecimento da realidade. O seu espírito indomável fazia com que fosse difícil lidar com ela.
Anne também não escapou às críticas da irmã mais velha: no mesmo texto, afirmou que a escolha do tema para o segundo romance de Acton Bell, The Tenant of Wildfell Hall, publicado um ano antes da sua morte, tinha sido um “erro total”. Segundo O’Callagh, Charlotte chegou inclusivamente a pedir ao seu editor que não reeditasse a obra enquanto fosse viva. Hoje, The Tenant of Wildfell é considerado um dos primeiros romances feministas.

“Esta nota foi escrita porque senti ser um dever sagrado limpar o pó das suas sepulturas [de Emily e Anne], e deixar os seus nomes queridos livres de terra.”
Charlotte Brontë na “Biographical Notice” de 1850
Charlotte Brontë também escreveu, para o mesmo volume, um prefácio ao romance da irmã. Ainda que este tivesse alguns elogios, dando a entender que Charlotte não o considerava mau de todo, acabou por ficar marcado por uma tentativa por parte da autora de Jane Eyre de se distanciar dos elementos mais controversos de O Monte dos Vendavais, nomeadamente da personalidade violenta de Heathcliff, que chocou muitos críticos na altura. Ao fazê-lo, contudo, Charlotte criou uma imagem da irmã que não era a mais simpática. Descreveu-a como uma campónia que, devido à sua personalidade antissocial, tinha um conhecimento realidade do camponeses de Yorkshire que era muito semelhante ao que uma freira tinha das “pessoas que passam à porta do seu convento”.
Esta “filha dos campos” nunca teria escrito uma obra como O Monte dos Vendavais se tivesse tido a coragem de atravessar a porta de casa: “Sem dúvida que se ela tivesse sido colocada numa cidade, os seus escritos, se é que ela teria escrito alguma coisa, possuiriam outro carácter. Se Ellis Bell fosse uma senhora ou um senhor acostumado ao que se costuma chamar ‘o mundo’, a sua visão de uma região remota e sem dono e de quem lá vive seria muito diferente do de uma rapariga nascida e criada no campo”, afirmou Charlotte, que acreditava que o romance da irmã tinha várias falhas, também explicáveis pela sua origem. Afinal, Emily era “uma nativa e uma filha dos campos”, com “uma tendência para a reclusão”. “Raramente saía de casa, a não ser para ir à missa ou para dar uma caminhada. (…) A sua imaginação, que era mais sombria do que solarenga, (…) encontrou nestes traços material para produzir criações como Heathcliff, Earnshaw e Catherine. Ao criar estas criaturas, ela não sabe o que fez”, afirmou a escritora, concluindo: “Se é certo ou aconselhável criar coisas como Heathcliff, eu não sei”.
Como escreveu Claire O’Callagham, estas afirmações por parte de Charlotte parecem sugerir que a irmã era incapaz de controlar a sua imaginação selvagem, produzindo criaturas monstruosas como Heathcliff. Contudo, a especialista em literatura vitoriana não acredita que Charlotte tenha escrito o que escreveu por mal: “As coisas desagradáveis que ela disse não nasceram da antipatia ou da mesquinhez — foram escritas durante o luto e distorcidas para corresponderem a algumas das questões relacionadas com a reputação das irmãs depois das suas mortes e aos críticos que achavam que o trabalho delas era ‘grosseiro'”, disse ao Observador. “No entanto, acho que as pessoas terão a sua opinião em relação ao quão egoísta isso foi ou sobre o quão egoísta isso hoje parece. É definitivamente um assunto difícil e faz com que Charlotte pareça menos santa do que muitas vezes é descrita.”
Depois da morte das irmãs, Charlotte Brontë dedicou-se a divulgar o seu trabalho. Foi assim que se tornou responsável por muitos dos mitos que persistem ainda hoje sobre Emily

A doida e má irmã Brontë (de quem Elizabeth Gaskell não gostava nada)

A escritora foi também a principal fonte da hoje infame biografia de Elizabeth Gaskell, The Life of Charlotte Brontë. O livro, o primeiro sobre a autora de Jane Eyre, foi publicado em 1857, dois anos depois da morte de Charlotte, que tinha conhecido a autora em 1850. Incluía muitas citações diretas da escritora, mas apresentava uma versão algo lúgubre da vida da família — que Gaskell nunca conheceu mas de quem falou como se tivesse conhecido –, chegando ao ponto de acusar o reverendo Patrick de não deixar os filhos comerem carne. Charlotte era descrita como “genuinamente bondosa” e “verdadeiramente grandiosa”, em contraste com a irmã, quase selvagem. Segundo Gaskell, Emily Brontë era “extremamente reservada” e odiava estranhos, mas não era envergonhada como as irmãs. Tinha um “espírito livre e indomável”, e “nunca estava em ou feliz a não ser nos campos que havia em redor de sua casa”. Embora nunca a tivesse visto, Gaskell garantia que o que tinha ouvido era suficiente para chegar à conclusão de que não gostava dela: “Tudo o que eu, uma estranha, consegui apreender sobre ela, não me fez ter ou aos meus leitores uma boa impressão”, afirmou.
Este espírito “indomável” de Emily teria, segundo Gaskell, inspirado a Shirley do segundo romance de Charlotte. Publicado em 1849, Shirley conta a história de uma mulher que, depois de herdar uma quinta na zona de Yorkshire, consegue estabelecer a sua própria independência. Contrastando fortemente com Caroline Helstone, personagem que vive presa às convenções e à atmosfera opressiva da Inglaterra de então, Shirley é uma mulher diferente, com um nome geralmente atribuído a um homem (o seu pai queria um filho) e que até sabe usar uma arma — tal como Emily sabia. “Estes pontos dizem-nos que Emily era claramente uma mulher atípica. Ela rejeitava os traços geralmente associados com o feminino — como a passividade, emotividade, irracionalidade”, escreveu O’Callaghan. Claro que nada disto era visto com bons olhos na época vitoriana, como os comentários depreciativos de Elizabeth Gaskell tão bem indicam. Hoje seria diferente, contudo: os traços descritos por Charlotte em Shirley ou por Gaskell em The Life of Charlotte Brontë não seriam encarados como negativos, mas simplesmente fazendo “parte da personalidade de uma pessoa, que é multifacetada e complexa”, apontou O’Callaghan na sua biografia.

"A ideia de que era uma eremita com quem era difícil de lidar cimentou-se e tornou-se num estereótipo quando na verdade é uma exageração da figura desta mulher sossegada.”
Claire O'Callaghan, autora de "Emily Brontë Reappraised"
Estas primeiras descrições de Emily, feitas por Charlotte, ganharam raízes e, nas décadas seguintes, foram replicadas por inúmeros biógrafos que não tinham mais nada a que se agarrar. “A ideia de que era uma eremita com quem era difícil de lidar cimentou-se e tornou-se num estereótipo quando na verdade é uma exageração”, afirmou Claire O’Callaghan ao Observador, descrevendo a escritora como uma “mulher sossegada”. A par disto, a “caricatura mórbida que se desenvolveu depois da biografia de Gaskell– com Haworth descrito como um lugar sinistro e remoto e a casa como esconderijo soturno de um trio de solteironas mal-humoradas” –, que as suas cartas “inteligentes e por vezes engraçadas” desmentem, como referiu Blake Morrison num artigo publicado no The Guardian em 2011, também alimentou a ideia de que toda a família, e em especial Emily, sofria de problemas psicológicos. A provar os alegados distúrbios da autora de O Monte dos Vendavais estava um episódio descrito por Charlotte Brontë a Elizabeth Gaskell.
Em outubro de 1835, quando tinha 17 anos, Emily foi inscrita como aluna na escola de Roe Head, onde dava aulas. Regressou a casa apenas três meses depois, sendo substituída por Anne. A escritora terá sido incapaz de se adaptar à disciplina e à estrutura, mas a versão de Charlotte, citada por Gaskell, é bem mais dramática: “A liberdade era o ar que alimentava as narinas de Emily; sem ela, ela morreria. A mudança da sua casa para uma escola, e do seu modo de vida, muito silencioso, muito isolado, sem restrições e natural para uma rotina disciplinada foi o que ela não foi capaz de suportar. (…) Nesta luta, a sua saúde foi rapidamente destruída”. O seu rosto empalideceu, emagreceu e perdeu todas as forças. “Senti no meu coração que ela morreria se não voltasse para casa.”
Emily viveu a vida toda na casa da família em Haworth, Yorkshire, que só deixou por breves períodos. É aí que hoje funciona o museu dedicado às três irmãs Brontë
Não há forma de saber se, quando regressou a casa, Emily estava às portas da morte ou não. O que é certo é que foi o relato de Charlotte, citado por Gaskell, que “abriu caminho a muitas das interpretações pseudo-psicológicas que se seguiram”, como escreveu O’Callaghan. Nas décadas seguintes, a escritora foi acusada de sofrer de várias patologias, nomeadamente de agorafobia (medo de espaços públicos, que geralmente leva a que os doentes não queiram sair de casa), anorexia (distúrbio que se manifesta na recusa da alimentação) e Síndrome de Asperger (uma forma de autismo que afeta as capacidades de comunicação e relacionamento), ainda que não existam provas de que sofresse realmente de algumas destas doenças.
Para a autora de Emily Brontë Reappraised, “diagnosticar Emily com autismo, anorexia ou Asperger tendo como base observações casuais e informações duvidosas é quase impossível, sobretudo quando os dados que temos sobre ela são tão poucos”. A escritora de Yorkshire parece ter sido apenas alguém que gostava de passar tempo em casa, ocupada com os seus afazeres e com aquilo que lhe dava mais prazer — a natureza, a literatura e também o desenho.

Mulher estranha? Não, independente

Há uma imagem “muito forte” de Emily Brontë que persiste até hoje: a da mulher solitária, que os habitantes de Haworth costumavam ver a caminhar pelos campos na companhia do seu cão Kepper. De acordo com Charlotte, era durante estes passeios que a irmã encontrava aquilo que lhe era mais caro — a liberdade. Emily era um “corvo que adorava a solidão”, que procurava na natureza todos “queridos encantos” que a faziam feliz, disse certa vez a autora de Jane Eyre, dando a entender que a irmã mais nova sofria de uma espécie de melancolia crónica que a levava aos campos. Para Claire O’Callaghan,  os passeios solitários da escritora têm outro significado: “Emily era um espírito independente num tempo em que a independência feminina não era bem vista culturalmente”, escreveu a investigadora na sua biografia, explicando que “é em parte por essa razão que ela é cruelmente descrita como singular e estranha”.
Emily Brontë sempre foi teimosa e muito independente. Em 1838, viu-se envolvida numa situação muito semelhante à de Roe Head, quando aceitou um emprego como professora na escola de Miss Patchett em Law Hill, em Halifax, que abandonou apenas cinco meses depois. Ao que parece, não terá gostado da “formalidade de aprendizagem e de educação” do estabelecimento de ensino, segundo O’Callaghan. Decidida a fazer as coisas à sua maneira, uma vez regressada a Haworth, começou a planear abrir uma escola com as irmãs. Foi com isso em mente que viajou com Charlotte até Bruxelas, onde ingressou no Pensionnat Héger, um “estabelecimento de ensino para jovens senhoras”, para melhorar o seu francês. Mas, mais uma vez, Emily não se deu bem com a ordem estabelecida — a escritora não gostava dos métodos de ensino do professor, M. Constatin Héger, e fazia questão de lho dizer. Héger, contudo, viu na inglesa algum potencial. Anos mais tarde, elogiou a sua imaginação e sua “vontade imperiosa”.
A estadia das irmãs na Bélgica foi interrompida com a súbita notícia da morte de Elizabeth Branwell, a tia que tinha assumido o papel de matriarca da família depois da morte da mulher de Patrick Brontë, em 1821. Emily recebeu 300 libras de herança e decidiu desistir de vez da carreira de professora, uma das poucas acessíveis no século XIX a uma mulher, e ficar a tomar conta da casa, que até então era responsabilidade da tia. É justo questionar o porquê de alguém tão independente ter escolhido dedicar o resto da sua vida às lides domésticas, mas é muito provável que a decisão de Emily tenha sido ponderada. Como escreveu Claire O’Callaghan:  o seu lugar “pode ter sido firmemente colocado na esfera doméstica, mas a sua decisão deu-lhe controlo sobre o seu próprio tempo. Podia continua a aprofundar conhecimento em várias matérias e escrever até o seu coração estar satisfeito desde que fizesse as suas tarefas, claro”. E foi precisamente isso que fez: começou a estudar alemão e a transcrever os seus poemas para dois cadernos diferentes. Nunca se poderá saber com toda certeza, mas talvez O Monte dos Vendavais nunca teria existido se Emily não se tivesse tornado na senhora da casa.

"Às vezes aceitamos facilmente a informação que nos é transmitida em vez de pensarmos criticamente sobre o material. É isto que acontece com as biografias. São lidas como se fossem factos em vez de uma interpretação do autor."
Claire O'Callaghan, autora de "Emily Brontë Reappraised"
Esta é uma das razões pelas quais Emily, ao contrário de Charlotte e Anne, nunca foi vista como uma feminista. Claire O’Callaghan acredita que isso não corresponde à verdade e tentou mostrá-lo no seu livro.“Charlotte e Anne fizeram aquilo que reconheceríamos como grandes afirmações ‘feministas’ e isso significa que são mais facilmente encaradas como escritoras feministas do que Emily. Isto não significa que Emily não era uma feminista; em vez disso, mostra-nos que precisamos de reconhecer como o feminismo de uma pessoa se manifesta de outras maneiras”, afirmou a investigadora ao Observador, explicando que o feminismo de Emily Brontë se manifestou de diversas formas, em diferentes formados.
“Ela escreveu e criou um mundo imaginário em verso liderado por mulheres durante toda a sua vida [Gondal], ela lutou diariamente contra as ideias antiquadas de feminilidade e que ela, juntamente com as suas irmãs, escreveu sobre a forma como o género, a sexualidade e as normas sociais restringiam a vida das mulheres”, disse O’Callaghan. Por exemplo, “a narrativa de Isabella Heathcliff em O Monte dos Vendavais oferece um comentário importante à violência doméstica no século XX que permanece ainda válido nos dias de hoje”.
A secretária de Emily Brontë é um dos poucos objetos da escritora que se encontram conservados. Hoje está exposta na antiga casa da família, em Haworth, transformada em museu
Tudo isto leva à pergunta óbvia e necessária: se muito do que se pensa, se diz e se escreve sobre Emily Brontë é baseado em preconceitos antigos, por que é que, passados 200 anos, a escritora não é encarada de outra forma? “Acho que quando as ideias se enraízam e se tornam aceites como ‘factos’ em vez de ‘opiniões, ou menor, como ‘opiniões tendenciosas’, isto acontece. Às vezes aceitamos facilmente a informação que nos é transmitida em vez de pensarmos criticamente sobre o material. É isto que acontece com as biografias. São lidas como se fossem factos em vez de uma interpretação do autor”, explicou Claire O’Callaghan. “Foi por isto que não quis escrever uma típica biografia, mas um livro mais vasto que olhasse para Emily tematicamente e que reunisse as ideias e as imagens conflituosas que temos sobre ela.”
Nesse sentido, a professora de literatura inglesa espera que Emily Brontë Reappraised inspire uma nova abordagem da vida da autora de Yorkshire, e que “os leitores se sintam inclinados a pensar em abordar Emily de uma forma mais empática. Ela, como todos os seres humanos, não era perfeita, mas não era a eremita irada em que foi transformada. Não ouvimos o suficiente sobre outros traços seus e qualidades — o seu lado carinhoso, em particular –, por isso espero que comecem a olhar para ela de uma forma mais redonda”. Está na altura de Emily sair a sombra das irmãs, menos “estranhas” do que ela.
A imagem da capa mostra o retrato “Gun Group”, pintado por Branwell Brontë e parcialmente destruído pelo marido de Charlotte Brontë, Arthur Bell Nicholls. A pintura faz hoje parte da coleção da National Portrait Gallery, em Londres
Fotografias de OLI SCARFF/AFP/Getty Images e Christopher Furlong/Getty Images


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