e morreu a 11jun2019
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12jun2019
Morreu Isaura Borges Coelho, antifascista que lutou pelos direitos das enfermeiras
Figura
da resistência ao fascismo, lutou pelos direitos das mulheres,
nomeadamente, pelas enfermeiras, profissão que exerceu. Foi presa e
torturada pela PIDE. Casou-se no Forte de Peniche com António Borges
Coelho
(...)
Encabeçou um abaixo-assinado dirigido ao presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar, ao Cardeal Cerejeira e ao enfermeiro-mor dos hospitais quando teve conhecimento que 12 colegas enfermeiras do Hospital Júlio de Matos "foram despedidas, por terem casado sem autorização".
"Recolheu centenas de assinaturas para exigir a liberdade de casamento para as enfermeiras". Pedia a revogação do artigo 60 do decreto-lei nº 28794, de 1 de Julho de 1938, que exigia que para os lugares de enfermeiras e também para os de empregadas domésticas só poderiam "ser admitidas mulheres solteiras e viúvas, sem filhos".
(...)
(...)
Encabeçou um abaixo-assinado dirigido ao presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar, ao Cardeal Cerejeira e ao enfermeiro-mor dos hospitais quando teve conhecimento que 12 colegas enfermeiras do Hospital Júlio de Matos "foram despedidas, por terem casado sem autorização".
"Recolheu centenas de assinaturas para exigir a liberdade de casamento para as enfermeiras". Pedia a revogação do artigo 60 do decreto-lei nº 28794, de 1 de Julho de 1938, que exigia que para os lugares de enfermeiras e também para os de empregadas domésticas só poderiam "ser admitidas mulheres solteiras e viúvas, sem filhos".
(...)
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25jun2017
(1926-2019)
by Helena Pato:
Mulher corajosa e de uma grande doçura, desde sempre admirada pela determinação com que, ainda jovem, enfrentou e desafiou o regime, Isaura é uma figura emblemática da luta das enfermeiras e na Resistência contra o fascismo.
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[1]
O decreto-lei nº 28794, de 1 de Julho de 1938, estabelecia no artigo 60
que «Nos lugares dos serviços de enfermagem e domésticos (serviço
interno) a preencher por pessoal feminino, só poderão de futuro ser
admitidas mulheres solteiras e viúvas, sem filhos, as quais serão
substituídas logo que deixem de verificar-se estas condições». A
proibição do casamento das enfermeiras só terminaria, depois de longa
luta, com o decreto nº 44923, de Março de 1963.
Na verdade, a proibição do casamento das enfermeiras e a luta pela sua revogação marcam 25 anos da história da enfermagem e dos movimentos feministas durante o Estado Novo.
by Helena Pato:
Mulher corajosa e de uma grande doçura, desde sempre admirada pela determinação com que, ainda jovem, enfrentou e desafiou o regime, Isaura é uma figura emblemática da luta das enfermeiras e na Resistência contra o fascismo.
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Isaura Assunção da Silva (Borges Coelho) foi condenada pelo Tribunal
Plenário de Lisboa, no dia 16 de Julho de 1954, a dois anos de prisão
maior, à perda de direitos políticos por quinze anos e a «medidas de
segurança» prorrogáveis _ por «pertencer ao MUD Juvenil e fazer a sua
apologia; por ter acusado a PIDE de infligir torturas morais e físicas
aos presos; por ter exigido condições mínimas para o trabalho nos
hospitais; por ter protestado contra o facto de as enfermeiras não
poderem casar». Esteve presa durante quatro anos, a sua
vida esteve por um fio e, quando pesava cerca de 30 quilos, a PIDE
viu-se obrigada a interná-la. Após a libertação, a sua acção na
resistência contra a ditadura fascista não abrandou.
A vida de Isaura Borges Coelho foi um longo caminho de luta
entusiástica e de sofrimento com a repressão, que a atingiu, também, com
a prisão do seu companheiro, António Borges Coelho, com quem iria casar no Forte de Peniche.
Biografia
Isaura Assunção da Silva Borges Coelho nasceu em Portimão em 20 de Junho
de 1926. Em 1949 matriculou-se na Escola de Enfermagem Artur Ravara e
em 1952 iniciou funções nos Hospitais Civis de Lisboa, no Hospital dos
Capuchos.
O trabalho nos hospitais era extremamente penoso, com turnos de doze
horas que, muito frequentemente, se prolongavam pelas 24 horas. As
enfermeiras estavam ainda sujeitas a trinta velas de doze horas
consecutivas, apenas intervaladas por uma folga semanal.
Estas condições de trabalho inspiraram a luta de Isauraem defesa da melhoria das condições de trabalho das enfermeiras e dos cuidados de saúde nos hospitais. Um ano depois, ao tomar conhecimento do despedimento de doze enfermeiras do Hospital Júlio de Matos, por terem casado, tomou a iniciativa de encabeçar um abaixo-assinado, dirigido a Salazar, ao Cardeal Cerejeira e ao Enfermeiro-mor dos hospitais.
Foram centenas de assinaturas, na exigência da liberdade de casamento das enfermeiras[1] . Isaura Silva aderiu então ao MUD.
Estas condições de trabalho inspiraram a luta de Isauraem defesa da melhoria das condições de trabalho das enfermeiras e dos cuidados de saúde nos hospitais. Um ano depois, ao tomar conhecimento do despedimento de doze enfermeiras do Hospital Júlio de Matos, por terem casado, tomou a iniciativa de encabeçar um abaixo-assinado, dirigido a Salazar, ao Cardeal Cerejeira e ao Enfermeiro-mor dos hospitais.
Foram centenas de assinaturas, na exigência da liberdade de casamento das enfermeiras[1] . Isaura Silva aderiu então ao MUD.
Isaura Borges Coelho e a irmã Hortênsia, com duas outras enfermeiras não identificadas, todas activistas da luta das enfermeiras pela liberdade de casamento na profissão
A luta juvenil e a PIDE
Em 13 de Novembro de 1953, na farsa eleitoral para a Assembleia
Nacional, quando se dirigiu à sede do MUD Juvenil (aos Anjos), foi presa
com outros jovens. Libertados estes, Isaura foi mantida em prisão, por
ser identificada pela PIDE como a impulsionadora do «movimento das
enfermeiras» – «a casamenteira», no dizer daquela polícia.
Sujeita ao regime de isolamento, foi brutalmente espancada e
arrastada pelos cabelos, na presença do seu advogado, Dr. Lopes Correia,
também ele barbaramente espancado. A marcação do julgamento de Isaura
Silva desencadeou um amplo movimento de protesto com distribuição de
panfletos e tarjetas.
Surgiram inscrições nas paredes: «Liberdade para Isaura Silva». Num dos comunicados do MUD Juvenil, publicado em Junho de 1954 e intitulado «Com Isaura Silva, no banco dos réus, estão as enfermeiras e a juventude de Portugal», dizia-se:
Foi então julgada em Tribunal Plenário e, durante o julgamento, a
PIDE ocupou os lugares destinados ao público, mas não conseguiu impedir
que a ré fosse «muito cumprimentada pela assistência», enquanto recebia
um ramo de cravos brancos das mãos de uma enfermeira. Entre as
testemunhas de Isaura Silva contavam-se duas enfermeiras
Surgiram inscrições nas paredes: «Liberdade para Isaura Silva». Num dos comunicados do MUD Juvenil, publicado em Junho de 1954 e intitulado «Com Isaura Silva, no banco dos réus, estão as enfermeiras e a juventude de Portugal», dizia-se:
Isaura Silva estava à frente da luta pela revogação da lei que proíbe as enfermeiras de casar. Estava na linha da frente das lutas de protesto contra o horário de 12 horas com velas consecutivas, e pela folga semanal e feriados, contra a alimentação miserável e as instalações de caserna”
e um oficial de escrita dos Hospitais CL, o poeta Alexandre O´Neill, o
engenheiro Veiga de Oliveira, Maria Lamas e Maria Isabel Aboim Inglês.
Esta antifascista protestou por se encontrarem agentes da PIDE na sala
de audiências e na sala das testemunhas, o que levou o juiz Abreu de
Mesquita a condená-la a três dias de prisão, por falta de respeito ao
tribunal[2].
Prisão
Isaura Borges Coelho ficou em prisão durante quatro anos. A sua vida
esteve por um fio quando o seu peso, pelos 30 quilos, obrigou a um
internamento no Hospital de Santa Marta, em Setembro de 1955 e, um mês
depois em Santa Maria. Até Janeiro de 1956 decorreu uma impressionante
vaga de solidariedade com Isaura, por parte de médicos e enfermeiras. Em
1957 foi libertada, sendo-lhe fixada residência em Portimão, na casa de
seus pais. Ali, ela, familiares e amigos eram permanentemente vigiada
pela PIDE.
Após um ano de residência fixa pôde voltar para Lisboa com o objectivo de fazer formação no IPO, junto
do Professor Gentil Martins. Depois, concorreu à Liga dos Hospitais,
onde desenvolvia um trabalho muito elogiado, até que o patrão, o
almirante Henrique Tenreiro, pediu informações à PIDE e a despediu
imediatamente.
Foi com a ajuda do Professor Pulido Valente e do Dr. Pedro Monjardino
que conseguiu arranjar emprego numa clínica. Quis especializar-se e
concorreu ao Curso de Puericultura e Partos da Maternidade Alfredo da
Costa (MAC), mas só depois de muito protestar, por ser sistematicamente
impedida na admissão por razões políticas, pôde concluir o curso e
entrar na MAC como enfermeira eventual.
Enfermeira-chefe, só após o 25 de Abril
Após o 25 de Abril, quando lhe ofereceram o lugar de enfermeira-chefe
nos HCL, recusou, optando pelo seu lugar de enfermeira de 2ª classe na
MAC. Subiu, depois, a enfermeira de 1ª e a enfermeira- chefe. Tirou o
Curso de Enfermagem Pediátrica e Saúde Infantil e, durante anos, exerceu
o cargo de enfermeira-chefe no Serviço de Prematuros. Até à reforma
manteve-se como delegada sindical das enfermeiras da Maternidade Alfredo
da Costa.
Em 2002, o Presidente da República Jorge Sampaio atribuiu-lhe a Ordem da Liberdade.
António Borges Coelho, seu companheiro, foi preso em 1957, como funcionário do Partido Comunista Português na clandestinidade e só saiu em liberdade em 1962. Casaram no Forte de Peniche. Recorda-a na sua juventude assim:
António Borges Coelho, seu companheiro, foi preso em 1957, como funcionário do Partido Comunista Português na clandestinidade e só saiu em liberdade em 1962. Casaram no Forte de Peniche. Recorda-a na sua juventude assim:
Antes de a conhecer, já ela, com 11 anos, tinha salvo do mar do Vau uma menina de 12 anos. Aos 16, tirou a blusa vermelha para mandar parar o comboio. Estava uma mula e uma carroça na linha. Moveram-lhe um processo por ter atrasado o comboio”
Ao lado de António Borges Coelho, o grande companheiro da sua vida, com quem casou na prisão. Homenagem a A. Borges Coelho em Murça, 2014
Fotografia do arquivo da família. 2016
Poema
Até logo
à Isaura
Há oito meses dissemos:
– Até logo!
Era uma tarde fria de Novembro
uma tarde como qualquer outra
gente regressando a casa do trabalho
lancheiras malas rugas profundas no rosto.
Se houvesse malas de mão
para a saudade a desventura
não havia malas no mundo que
[chegassem…
Era uma tarde fria de Novembro.
Não sei se alguém sorriu
do beijo que trocámos.
– Até logo – disseste.
Depois passaram oito meses
os meses mais compridos que tenho
[encontrado.
Que pensamentos levava comigo?
Sei que disseste «até logo»
E era como se levasse as tuas mãos
Abertas sobre o meu peito.
Pensava
que só nas despedidas breves
por horas
se dizia «até logo»
como a alguém que parte
«boa viagem»
ou ao nosso companheiro
«bom trabalho».
.
Mas já passaram oito meses
duzentos e quarenta dias
cinco mil e setecentas horas.
Porque disseste
«Até logo»?[
Se eu não soubesse
aprenderia que na minha pátria
os namorados dizem «até logo»
e estão meses anos
por vezes não voltam mais.
Fecham-nos
atrás de grades de ferro
espancam-nos
matam-nos devagar
e não permitem que apareçam
«logo».
.
Amiga
o ódio que trago armazenado
destas noite de insónia e abandono
dou-o à luta.
Mas temos que sofrer
sofrer deveras.
Até que um dia
Os homens cantarão livres como
[os pássaros
os namorados beijarão sem pressa
e as palavras «até logo»
quererão dizer simplesmente
«até logo»[*]
[*] Os oito meses transformaram-se em dez anos. Noutros casos, quinze, vinte anos e mais.
Em António Borges Coelho. Fortaleza, Seara Nova, 1974
[António Borges Coelho entra para funcionário do MUD Juvenil e, depois, do PCP. Em 1955 é preso, condenado em Tribunal Plenário e fica 6 anos na cadeia, dos quais 6 meses no isolamento. Escreve então este poema à namorada, que é decorado e recitado nas festas de jovens antifascistas. A meio da pena, casou-se no Forte de Peniche com a namorada Isaura (até hoje sua companheira), uma enfermeira que havia sido presa em 1953, e porque tinha ficado vários anos na prisão de Caxias não tinha autorização para o visitar ou escrever. [Um casamento em que esteve separado por um vidro de todos os amigos presentes na “festa” que durou uma hora]. Libertado em 1962 não volta à clandestinidade, decidindo terminar a licenciatura, sem nunca se afastar da luta].
Na verdade, a proibição do casamento das enfermeiras e a luta pela sua revogação marcam 25 anos da história da enfermagem e dos movimentos feministas durante o Estado Novo.
«Assente numa imagem de mulher limitada ao trabalho doméstico, para quem a família representa o centro exclusivo da sua vida, não é possível dissociar tal imposição legislativa da definição dos papéis sexuais veiculado pelo Estado, bem como do postulado tradicional da função cuidadora e maternal feminina. Além do impedimento do trabalho feminino em certos sectores ou o acesso das mulheres a determinadas profissões, foram ainda impostas restrições de índole vária a algumas profissionais. Por exemplo, para contraírem matrimónio as professoras primárias tinham de solicitar especial autorização ao Ministério da Educação Nacional, ao passo que a proibição do casamento ficou designada às telefonistas da Anglo-Portuguese Telephone Company, às profissionais do Ministério dos Negócios Estrangeiras, às hospedeiras de ar da TAP e às enfermeiras dos Hospitais Civis»[2] Ligada ao movimento das enfermeiras, foi também presa Hortênsia da Silva Campos Lima, sua irmã.
Excerto de um artigo de Ana Sartóris, in O celibato das enfermeiras dos hospitais civis
Dados biográficos:
- Autoria de Helena Pato, com a colaboração de António Borges Coelho, que tornou possível a rigorosa enumeração dos factos citados.
- Fotografia de Isaura Borges Coelho facultada pela própria.
***
URAP - União de Resistentes Antifascistas Portugueses
Na morte de Isaura Silva Borges Coelho
Isaura Borges Coelho, combatente antifascista e pelos direitos das enfermeiras, sócia da URAP, morreu dia 11 de Junho, aos 92 anos. O seu corpo estará em câmara ardente amanhã às 17:00 no centro da Servilusa de Cascais e o funeral realiza-se sexta-feira às 13:30.
Isaura Assunção da Silva Borges Coelho nasceu em Portimão em 20 de
Junho de 1926. Cursou enfermagem na Escola de Enfermagem Artur Ravara e
destacou-se na luta a favor dos direitos das enfermeiras e de
contestação à política do regime salazarista.
Começou a exercer a profissão no Hospital dos Capuchos, onde as enfermeiras eram obrigadas a turnos de 12 horas, que iam muitas vezes até às 24 horas, e a 30 velas de 12 horas, com apenas uma folga semanal.
Quando 12 colegas, enfermeiras do Hospital Júlio de Matos, foram despedidas, por terem casado sem autorização, encabeçou um abaixo-assinado a Salazar, ao Cardeal Cerejeira e ao Enfermeiro-mor dos hospitais.
Recolheu centenas de assinaturas para exigir a liberdade de casamento para as enfermeiras. O decreto-lei nº 28794, de 1 de Julho de 1938, estabelecia no artigo 60 que “Nos lugares dos serviços de enfermagem e domésticos (serviço interno) a preencher por pessoal feminino, só poderão de futuro ser admitidas mulheres solteiras e viúvas, sem filhos, as quais serão substituídas logo que deixem de verificar-se estas condições”. A proibição do casamento das enfermeiras só terminaria, depois de longa luta, com a publicação do decreto nº 44923, de Março de 1963.
Aderiu ao Movimento de Unidade Democrática (MUD) em 1953. Durante a campanha para as eleições para a Assembleia Nacional, quando se dirigia para a sede do MUD Juvenil (aos Anjos, Lisboa) é presa juntamente com outros jovens, posteriormente libertados. Ficou em prisão preventiva por dinamizar do “movimento das enfermeiras”.
A “casamenteira”, como jocosamente a PIDE a apelidava, foi sujeita ao regime de isolamento, brutalmente espancada e arrastada pelos cabelos, na presença do seu advogado, Dr. Lopes Correia, também violentamente agredido pela PIDE.
Durante o julgamento no Tribunal Plenário de Lisboa, em 1954, a PIDE ocupou a quase totalidade dos lugares do público, não conseguindo impedir que fosse saudada por muitos populares e recebido um cravo branco de uma enfermeira. Entre as testemunhas de defesa, estava o poeta Alexandre O’Neil, a escritora Maria Lamas, o engenheiro Veiga de Oliveira e Maria Isabel Aboim Inglês.
Condenada a dois anos de prisão maior, à perda de direitos políticos por 15 anos e a medidas de segurança prorrogáveis, passou quatro anos em Caxias. Chegou a pesar 30 quilos, esteve às portas da morte, sendo internada nos hospitais de Santa Marta e de Santa Maria, onde colheu a solidariedade de médicos e enfermeiros. A PIDE viu-se obrigada a interná-la.
Casou no Forte de Peniche com o historiador e resistente António Borges Coelho, em 1959, que esteve preso seis anos em Peniche por ser membro do MUD Juvenil e do Partido Comunista Português.
Após o 25 de Abril, quando lhe ofereceram o lugar de enfermeira-chefe nos HCL, recusou, optando pelo seu lugar de enfermeira de 2ª classe na MAC. Subiu, depois, a enfermeira de 1ª e a enfermeira- chefe. Tirou o curso de Enfermagem Pediátrica e Saúde Infantil e, durante anos, exerceu o cargo de enfermeira-chefe no Serviço de Prematuros. Até à reforma manteve-se como delegada sindical das enfermeiras da Maternidade Alfredo da Costa.
Aos 11 anos, Isaura salvou do mar do Vau uma menina de 12 anos. Aos 16, tirou a blusa vermelha para mandar parar um comboio, dado que estava uma mula e uma carroça na linha. Moveram-lhe um processo por ter atrasado o comboio.
Foi condecorada, em 2002, com a Ordem da Liberdade, concedida pelo Presidente Jorge Sampaio.
Em Dezembro passado, foi galardoada pelo Município de Portimão com o título de cidadã benemérita e com a Medalha de Honra.
A história da sua vida e de sua irmã Hortênsia da Silva Campos Lima, que também esteve presa, foi contada em 2000 num filme de Susana de Sousa Dias, “Enfermeiras do Estado Novo”, com memórias, imagens e documentos da época.
Começou a exercer a profissão no Hospital dos Capuchos, onde as enfermeiras eram obrigadas a turnos de 12 horas, que iam muitas vezes até às 24 horas, e a 30 velas de 12 horas, com apenas uma folga semanal.
Quando 12 colegas, enfermeiras do Hospital Júlio de Matos, foram despedidas, por terem casado sem autorização, encabeçou um abaixo-assinado a Salazar, ao Cardeal Cerejeira e ao Enfermeiro-mor dos hospitais.
Recolheu centenas de assinaturas para exigir a liberdade de casamento para as enfermeiras. O decreto-lei nº 28794, de 1 de Julho de 1938, estabelecia no artigo 60 que “Nos lugares dos serviços de enfermagem e domésticos (serviço interno) a preencher por pessoal feminino, só poderão de futuro ser admitidas mulheres solteiras e viúvas, sem filhos, as quais serão substituídas logo que deixem de verificar-se estas condições”. A proibição do casamento das enfermeiras só terminaria, depois de longa luta, com a publicação do decreto nº 44923, de Março de 1963.
Aderiu ao Movimento de Unidade Democrática (MUD) em 1953. Durante a campanha para as eleições para a Assembleia Nacional, quando se dirigia para a sede do MUD Juvenil (aos Anjos, Lisboa) é presa juntamente com outros jovens, posteriormente libertados. Ficou em prisão preventiva por dinamizar do “movimento das enfermeiras”.
A “casamenteira”, como jocosamente a PIDE a apelidava, foi sujeita ao regime de isolamento, brutalmente espancada e arrastada pelos cabelos, na presença do seu advogado, Dr. Lopes Correia, também violentamente agredido pela PIDE.
Durante o julgamento no Tribunal Plenário de Lisboa, em 1954, a PIDE ocupou a quase totalidade dos lugares do público, não conseguindo impedir que fosse saudada por muitos populares e recebido um cravo branco de uma enfermeira. Entre as testemunhas de defesa, estava o poeta Alexandre O’Neil, a escritora Maria Lamas, o engenheiro Veiga de Oliveira e Maria Isabel Aboim Inglês.
Condenada a dois anos de prisão maior, à perda de direitos políticos por 15 anos e a medidas de segurança prorrogáveis, passou quatro anos em Caxias. Chegou a pesar 30 quilos, esteve às portas da morte, sendo internada nos hospitais de Santa Marta e de Santa Maria, onde colheu a solidariedade de médicos e enfermeiros. A PIDE viu-se obrigada a interná-la.
Casou no Forte de Peniche com o historiador e resistente António Borges Coelho, em 1959, que esteve preso seis anos em Peniche por ser membro do MUD Juvenil e do Partido Comunista Português.
Após o 25 de Abril, quando lhe ofereceram o lugar de enfermeira-chefe nos HCL, recusou, optando pelo seu lugar de enfermeira de 2ª classe na MAC. Subiu, depois, a enfermeira de 1ª e a enfermeira- chefe. Tirou o curso de Enfermagem Pediátrica e Saúde Infantil e, durante anos, exerceu o cargo de enfermeira-chefe no Serviço de Prematuros. Até à reforma manteve-se como delegada sindical das enfermeiras da Maternidade Alfredo da Costa.
Aos 11 anos, Isaura salvou do mar do Vau uma menina de 12 anos. Aos 16, tirou a blusa vermelha para mandar parar um comboio, dado que estava uma mula e uma carroça na linha. Moveram-lhe um processo por ter atrasado o comboio.
Foi condecorada, em 2002, com a Ordem da Liberdade, concedida pelo Presidente Jorge Sampaio.
Em Dezembro passado, foi galardoada pelo Município de Portimão com o título de cidadã benemérita e com a Medalha de Honra.
A história da sua vida e de sua irmã Hortênsia da Silva Campos Lima, que também esteve presa, foi contada em 2000 num filme de Susana de Sousa Dias, “Enfermeiras do Estado Novo”, com memórias, imagens e documentos da época.

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