Fernão de Magalhães o português que descobriu a passagem marítima do Atlântico para o Pacífico não concluiu a viagem de circum-navegação que iniciara ao serviço da coroa de Espanha. Mas ficou para a História.  A 8 de Setembro de 1522, chegava a Sevilha uma nau com 18 tripulantes. Estes homens tinham zarpado do mesmo porto, mais de três anos antes, à descoberta de uma passagem de ocidente para oriente - eram os poucos sobreviventes da armada de Fernão de Magalhães.
O navegador português serviu durante nove anos nos mares do Oriente, ajudando à conquista de vários territórios, incluindo Malaca, subjugada por Afonso de Albuquerque em 1511.
 De regresso a Lisboa, em 1514, viu recusado pelo rei D. Manuel o seu pedido de aumento da tença anual. Partiu para Espanha e ofereceu os seus préstimos a Carlos I de Espanha (futuro imperador Carlos V).
Aliciado pela perspectiva de atingir as ilhas das especiarias por ocidente, o monarca cedeu ao navegador português as naus e os equipamentos para o intento. Segundo os seus cálculos, e dos irmãos Faleiro*, as Molucas encontravam-se na metade do mundo que, pelo tratado de Tordesilhas, cabia à coroa de Castela; os cosmógrafos portugueses garantiam mesmo que a cerca de 40 graus de latitude a sul do Brasil, havia uma passagem do oceano Atlântico para os mares do Sul.
            Durante um ano foi preparada a armada, composta pelas naus Trinidad, San Antonio, Concepción, Victoria e Santiago. A frota contava com cerca de 240 tripulantes de várias nacionalidades, entre os quais o italiano António Pigafetta, que deixaria um relato completo da viagem de Magalhães.
Segundo ele, no relato publicado por Neves Águas, o português partiu de Sevilha rumo às Canárias a 10 de Agosto de 1519, seguindo depois até à costa da Guiné, "resolvido a abrir um caminho que nenhum navegador conhecera até então". Rumaram depois ao Brasil, atingindo o Rio de Janeiro no início de Dezembro, onde ficaram 15 dias, ao fim dos quais Pigafetta testemunha: "Costeámos o país até 34º 40' de latitude sul, onde encontrámos um grande rio de água doce". Era o rio da Prata, onde "habitam os canibais, ou comedores de homens", que os navegadores julgavam poder ser a tão almejada passagem para o Oriente.
descobridor português – primeiro homem a realizar a viagem de circum-navegação – foi morto na ilha de Cebu (no arquipélago das Filipinas) por Lapu-Lapu.
Fernão de Magalhães é, no entanto, uma figura mal amada. Nunca lhe perdoaram o facto de ter servido o imperador Carlos V, que também era rei de Espanha, depois de ter sido dispensado pelo português D. Manuel. “Não foi por culpa dele, mas de quem não acreditou nele”, declara a escritora Alice Vieira. Magalhães foi, também por isto, um sobrevivente crónico. Demonstrou tenacidade extraordinária.
Fernão de Magalhães terá nascido em Trás-os-Montes, em Sabrosa, no ano de 1480. Pertencia a uma família da baixa nobreza. A sua educação foi orientada para uma carreira militar, estudou navegação em Lisboa e com 25 anos embarcou para a Índia. Em 1511, tomou parte na conquista de Malaca. “Estava constantemente em acção”, conta Gonçalves Neves.
A passagem para o Pacífico foi encontrada em 24 de Agosto de 1520. Tinha cerca de 600 km de comprimento. Fernão de Magalhães deu-lhe o nome de estreito de Todos os Santos. Hoje é denominado estreito de Magalhães.
A frota encontrava-se em situação crítica. O escorbuto espalhava-se pela tripulação. A comida e a água apodreciam. O desastre parecia iminente, quando foi avistada uma ilha. A equipa pôde saciar a fome e os mantimentos foram repostos. Fernão de Magalhães estava num oceano desconhecido. . Como o tempo esteve calmo durante a travessia, decidiu chamar-lhe “Pacífico”. Semanas mais tarde, avistaram outra ilha.
Fernão de Magalhães pensava que se tratava das Molucas, mas estava enganado. Tinha acabado de descobrir o arquipélago das Filipinas.
Aproveitou a ocasião para fazer alguma diplomacia em nome do rei de Espanha. A sorte abandonou-o quando desembarcou em Mactan: foi morto em combate.
Morte de Magalhães

A primeira viagem marítima em redor do globo terrestre foi concluída em 1522, por Sebastião de El Cano, um dos seus capitães.
O facto de Fernão de Magalhães ter concretizado a sua odisseia ao serviço de um rei espanhol não lhe retira o mérito. Pelo contrário. É admirável que tenha conseguido montar uma expedição desta envergadura num país que não era o dele. “Fernão de Magalhães representa um grupo de homens que saíram de Portugal e projectaram o seu saber para fora das fronteiras”, diz Gonçalves Neves. E nunca deixou de ser português. Foi graças a ele que Portugal esteve no início da globalização.

NAU DO SÉCULO XVI

          Foi encontrada na costa da Namíbia uma nau do século XVI. Segundo informações do Ministério daquele país, a nau contem cerca de 2000 moedas em ouro, cerca de um quilo e meio de moedas de prata, vários instrumentos de navegação e 3 canhões de bronze. Este achado, acidental, foi a mais antiga embarcação encontrada na África Austral.
         Será que esta nau foi pertença de Fernão de Magalhães na sua fatídica viagem, que foi a primeira de circum-navegação ao globo e na qual mais tarde viria a falecer no Arquipélago das Filipinas?

O Escorbuto - Ao longo da viagem de circum-navegação, enquanto os marinheiros sofriam e morriam à sua volta devido ao escorbuto, Fernão de Magalhães e vários outros oficiais mantinham-se misteriosamente saudáveis. Ninguém sabia porquê, mas havia uma razão relevante para terem escapado à terrível doença. Durante toda aquela provação, os oficiais serviam-se regularmente de um fornecimento de compota de marmelo que o capitão português fizera embarcar. O marmelo, um fruto do género da maçã, era na realidade um potente anti-escorbuto, graças à sua quantidade de vitamina C.
BERGREEN, Laurence, Fernão de Magalhães - Para além do fim do mundo, Lisboa, Bertrand Editora, 2005
Barril de marmelada - Caderno do Rodolfo
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