morreu a 27ab1521
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Navegador Fernão Magalhães
https://www.youtube.com/watch?v=J_sNgK3Ln50
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Circum-navegação
ou Circum-Navegação?
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https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Circum-navega%C3%A7%C3%A3o
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Circum-navegação é uma viagem marítima em torno de um lugar, que pode ser uma ilha, um continente ou toda a Terra. Fernão de Magalhães fêz a primeira circum-navegação da história, completada pelo comandante Juan Sebastián Elcanovisto que Magahães morreu no trascurso da viagem. Mais recentemente, o termo também se usa para cobrir voos aéreos à volta do mundo. A primeira circum-navegação da Terra foi feita no século XVI, mas as grandes viagens marítimas de exploração e circum-navegação produziram-se do século 17 ao século 18.
https://educalingo.com/pt/dic-pt/circum-navegacao
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20seTEMbro2019
Foi em 1519, a 20 de Setembro, que o português Fernão de Magalhães (1480-1521), navegador português ao serviço de D. Carlos I de Espanha, partiu de Sanlúcar de Barrameda, em Espanha. Três anos depois, com Magalhães morto, Juan Sebastián Elcano voltaria ao início para finalizar aquela que ficou registada como a primeira viagem de circum-navegação da Terra. A efeméride dos 500 anos de tal feito é assinalada com uma nova série documental do Canal História dividida em seis episódios. A Primeira Volta ao Mundo, uma produção espanhola, arranca neste sábado, às 22h15.
O objectivo da série é explorar não tanto “a gesta, mas sim o gesto”, afirmou Sergio Ramos, vice-presidente de programação da versão ibérica do canal, na apresentação de A Primeira Volta ao Mundo na Biblioteca Nacional de Madrid esta quarta-feira à tarde. Ou seja, queriam mostrar como era o dia-a-dia em alto-mar dos entre 230 e 270 tripulantes das cinco naus da expedição — dos quais só restaram, no fim, 18 homens e uma nau —, bem como a maneira como o feito deles mudou o mundo e como a Europa percebeu a dimensão do resto do globo e a vastidão dos oceanos. Ao PÚBLICO, explicou ainda que queriam “dar um twist” à história, com “linguagem e imagem contemporâneas”, como comparar a montagem da expedição com uma start-up, o que acontece no primeiro episódio.
Para tal, a série conta com o depoimento de 53 especialistas de várias nacionalidades e áreas, dos portugueses Jorge Rosas, gerente das Adegas Ramos Pinto, Joaquim António Gonçalves Guimarães, arqueólogo, ou José Manuel de Carvalho Marques, ex-presidente da Câmara de Sabrosa, a historiadores, escritores, navegadores, políticos, guias turísticos, cozinheiros, biólogos, músicos ou militares argentinos, chilenos e espanhóis, nacionalidades que estavam representadas na expedição ou oriundas dos sítios por onde a frota passou. Estes falam de como, no caso de Jorge Rosas, os tripulantes bebiam vinho, ou, no caso de Javier Velázquez, dono de restaurante e cozinheiro argentino, de como é que os tripulantes comiam carne de guanaco, animal sul-americano, tudo em nome da sobrevivência sob condições duras que testaram a capacidade de resistência do ser humano.
230 e 270 tripulantes das cinco naus da expedição inicial, dos quais só restaram 18 homens e uma nau
De fora, ficaram testemunhos como os dos filipinos, um território importante da viagem. “Era o destino principal que queríamos tratar, mas deparámo-nos com um problema, que é não haver muita gente com esse conhecimento. Encontrávamos alguém que disse que falaria disso, mas depois não sabia muito”, confessa Daniel Terzagui, produtor executivo. “É mais fácil encontrar essa informação aqui”, continua Carmen Mena-García, professora catedrática de História da América na Universidade de Sevilha e uma das especialistas retratadas na série. Também não houve possibilidade de incluir, por questões de agenda, o historiador Rui Manuel Loureiro, que a académica espanhola nomeia como alguém “que está a fazer coisas muito interessantes com documentos portugueses”. Longe das polémicas e disputas recentes entre Portugal e Espanha sobre esta efeméride, tanto Terzagui como Mena-García realçam o papel de Portugal na expedição, em termos de “todo o conhecimento e infra-estrutura”.
https://www.publico.pt/2019/09/20/culturaipsilon/noticia/primeira-volta-mundo-1887193?fbclid=IwAR0P9ko6q_6DHX5zmVeZTRr413_42a34801Tl4yYYaN4h45s19pIcBIupos
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atenção de 7feVEReiro a 13mAIo2019...exposição sobre os 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães e...
23jan2019...sapo
Como é que Fernão de Magalhães planeou a primeira viagem de circum-navegação? Uma visita à Biblioteca Nacional vai ajudar a perceber
A
Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), em Lisboa, vai inaugurar em
fevereiro uma exposição que mostra as obras com que Fernão de Magalhães
terá planeado a primeira viagem de circum-navegação, iniciada há 500
anos.
“Em
demanda da biblioteca de Fernão de Magalhães” abre ao público no dia 7
de fevereiro para revelar títulos que o navegador português terá
estudado para projetar a expedição que iniciou ao serviço de Espanha,
com destino às ilhas das especiarias, e que daria origem à primeira
viagem de circum-navegação do mundo, segundo uma nota da BNP.
A
ideia desta mostra é “reunir textos que Magalhães terá consultado para
planear a viagem. Apenas há testemunhos sobre um dos títulos que o
navegador possuiu: um cronista espanhol refere que ele teria na mão o
‘Itinerario’, de Ludovico de Varthema, quando foi recebido pelo rei de
Espanha, Carlos I, em 1518. Na exposição figura umas das primeiras
edições da obra”, afirma Rui Loureiro, historiador e comissário da
exposição.
Em
exibição vão estar ainda roteiros náuticos, descrições geográficas e
relatos de viagem que Magalhães terá analisado, destacando-se a edição
espanhola do livro de Marco Polo, publicada em Sevilha em 1518, onde
Magalhães então vivia.
Será
possível ver também a edição do “Almanach perpetuum”, de 1496, que “é
muito rara”, havendo relatos de alguns cronistas, que “dizem que os
pilotos da armada de Magalhães utilizaram um exemplar desta edição no
litoral do Brasil”, sublinha Rui Loureiro.
Serão
igualmente destacados relatos e crónicas que referem o navegador
português, salientando-se a reprodução do relato de Antonio Pigafetta, o
italiano que fez a viagem de circum-navegação e a descreveu
detalhadamente, bem como o manuscrito de Gaspar Correia (cedido pelo
Arquivo Nacional da Torre do Tombo), que é a primeira crónica portuguesa
que menciona a viagem de Magalhães.
Na
mostra estarão patentes ainda outras peças, como reproduções de mapas,
de que é exemplo o semiplanisfério em projeção polar austral, que se
calcula ter sido preparado durante a viagem de circum-navegação e cujo
original se conserva no Palácio Topkapi, em Istambul.
Fernão
de Magalhães morreu próximo de atingir as ilhas das especiarias pela
via ocidental, contornando assim o Tratado de Tordesilhas (1494), que
impedia os espanhóis de navegar para o Oriente via Cabo da Boa
Esperança, reservada em exclusivo aos portugueses.
Incompatibilizado com Manuel I de Portugal, a quem
serviu e que lhe recusou a mercê a que o navegador considerava ter
direito, partiu de Sevilha em agosto de 1519, ao serviço de Carlos I de
Espanha, comandando uma expedição de cinco navios, que acabaria por se
transformar na primeira viagem de circum-navegação do globo.
A exposição vai estar patente até 13 de maio e tem entrada gratuita.
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lucinda Canelas...Público....3mar2019
espanhóis dizem que a viagem de Fernão de Magalhães é só espanhola!
Se nos limitássemos a ler o que se tem escrito nalguns dos seus diários nos últimos tempos, facilmente diríamos que Espanha parece andar de mal com a sua História. Artigos de jornalistas e historiadores recuperam o passado em torno de dois acontecimentos com 500 anos — a chegada ao México das forças lideradas por Hernán Cortés e a partida da armada que, a mando de Carlos I e por força das circunstâncias, viria a completar a primeira volta ao mundo —, procurando dar-lhes uma leitura que é em boa parte devedora do delicado momento político que o país atravessa. E em ambos os casos a “polémica”, usemos esta palavra à falta de melhor, instalou-se.
Se no caso de Cortés (1485-1547) o desconforto é fácil de compreender, ainda que possa dizer-se que é fruto de uma leitura do passado repleta de preconceitos contemporâneos – como celebrar hoje um conquistador, um homem que está ligado a episódios brutais em que milhares de aztecas foram mortos? —, no da primeira circum-navegação da Terra, uma viagem que à partida não tinha esse objectivo, é preciso ir mais longe para tentar perceber a que se deve o incómodo. Um incómodo que leva a títulos como “Portugal tergiversa la história y borra al Império espanhol de la vuelta al mundo” (diário ABC) e “El Gobierno de Pedro Sánchez vende barata España en el quinto centenário de la primera vuelta al mundo” (El Mundo).
O quinto centenário da primeira circum-navegação do globo serviu já para alguns políticos da oposição criticarem o “descaso” com que o Governo liderado pelo secretário-geral do PSOE tem tratado as comemorações, acusando o executivo de Sánchez de nada fazer perante os projectos portugueses de candidatar a Rota de Magalhães a património mundial sem reconhecer devidamente o papel que nela teve Juan Sebastián Elcano (1476-1526), o basco que viria a completar a volta ao mundo em 1522, depois de substituir Fernão de Magalhães no comando das embarcações espanholas, na sequência da morte do navegador português nas Filipinas, um ano antes.
https://www.publico.pt/2019/03/03/culturaipsilon/noticia/magalhaes-primeira-volta-mundo-continuam-incomodar-1863988?fbclid=IwAR3AKmBiQGWQUrOQCxmBPXn1_ygq2ffji6Q-DeHOVXL5i_He6gmcL6lUZyU
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Circum-navegação: a Magalhães o que é de Magalhães, a Elcano o que é de Elcano. E sem nacionalismos
“Devemos pôr lado a lado Magalhães e Elcano na hora de atribuir méritos na primeira volta ao mundo?”, perguntámos a seis historiadores portugueses e espanhóis. Eis as reflexões que fizeram a partir desta pergunta algo https://www.publico.pt/2019/03/03/culturaipsilon/noticia/magalhaes-magalhaes-elcano-elcano-nacionalismos-bacocos-1863889***
23seTEMbro2018
Lusa:
O historiador norte-americano Laurence
Bergreen, autor de um livro sobre a primeira circum-navegação, iniciada
em 1519, por Fernão de Magalhães, assinalou à Lusa que "talvez ainda
haja coisas para descobrir sobre a viagem" do português.
"Talvez ainda haja coisas para descobrir sobre a sua viagem", disse Bergreen, que considera que a primeira viagem de circum-navegação contribuiu para a mudança de paradigmas que "agora parecem óbvios, mas que são difíceis de processar quando são algo tão novo".
Bergreen assinala que, embora a finalidade da viagem não fosse científica, foram feitas várias descobertas ao longo do seu percurso de três anos.
"A viagem não foi uma expedição científica, mas foi responsável por várias descobertas. Em primeiro lugar, no ramo da geografia, ao descobrir terras e ilhas, mas também para a biologia, com uma vasta biodiversidade encontrada. A sua grande descoberta foi o que agora chamamos estreito de Magalhães" - entre os oceanos Atlântico e Pacífico, a sul da América do Sul.
Em Portugal por ocasião da apresentação das comemorações do V Centenário da primeira viagem que circum-navegou o planeta, Bergreen afirmou "não ter a certeza" sobre como Magalhães é lembrado nos dias de hoje, algo que acredita dever-se ao facto de ter sido um português a comandar uma expedição espanhola.
"Ele era português, mas viajou por Espanha (...) então ele não pertence bem a um sítio, ainda que toda a gente esteja ciente do seu significado. 'Magalhães' representa exploração", comentou.
Magalhães partiu do porto de Sevilha em agosto de 1519, comandando uma frota de cinco embarcações que transportavam mais de 260 pessoas de várias nacionalidades (portugueses, espanhóis, italianos, alemães, belgas, gregos, ingleses e franceses eram algumas das presentes) e incluía marinheiros, académicos (como o escritor italiano Antonio Pigaffeta, que compilou um detalhado relato da viagem), entre outros.
A rivalidade com espanhóis
O historiador lembrou algumas das dificuldades que a expedição enfrentou, como o escorbuto e os motins.
"A liderança de Magalhães nesta viagem nem sempre foi assegurada. Ele era um português a viajar por Espanha. A Casa da Contratação [de Sevilha] deu-lhe um adjunto espanhol, que não era um marinheiro, mas um nobre. Este espanhol pensava que Magalhães trabalhava para ele - o que não era o caso - então teve regularmente de lidar com a sua rivalidade", apontou o biógrafo e historiador.
Para lidar com este nobre espanhol, que "tinha um grupo de espanhóis que o apoiavam e levantavam a contestação contra Magalhães", o português, "por vezes, tinha de lidar com a situação de uma forma mais violenta: executou alguns dos homens, enforcou-os (...), algo que se não tivesse sido feito, provocaria um motim geral".
Bergreen sublinhou que no início "o ambiente era mais pacífico", mas que se tornou "mais e mais agressivo ", o que levou a que o comportamento de Magalhães se tornasse "mais autocrático e ditador nas partes finais da viagem. Na altura em que chegou às Filipinas, estava 'irritadiço'".
O historiador associou esta alteração de comportamento às experiências vividas por Magalhães desde que abandonou o porto de Sevilha, em 1519.
"À medida que Magalhães foi passando por vários pontos do mundo, a sua perspetiva sobre as pessoas, a religião -- tudo -- mudou", disse.
Magalhães viria a morrer nas Filipinas, em 1521, durante uma batalha com uma tribo em que a tripulação liderada pelo português estava em forte desvantagem numérica.
Apenas uma das embarcações, a Vitoria, comandada por Juan Sebastian Elcano e com apenas 18 dos 260 tripulantes, regressou a Espanha, em 1522, o que faria destes os primeiros a completar uma viagem à volta do globo.
No entanto, Bergreen aponta que um outro membro da tripulação inicial poderia ter sido o primeiro a alcançar este estatuto.
"Magalhães levara o seu escravo com ele [Enrique], e ninguém sabia bem de onde vinha, mas algures no Pacífico ele começou a falar a língua nativa. Tornou-se aparente que aquele era o seu lugar de origem. Podemos dizer, de certa forma, que o seu escravo foi o primeiro a dar a volta ao mundo", admitiu o norte-americano.
Bergreen considera Magalhães "um Odisseu [figura da mitologia grega] da vida moderna: é uma lenda, mas é real".
O navegador português Fernão de Magalhães (1480-1521) notabilizou-se por ter organizado e comandado a primeira viagem de circum-navegação ao globo, ao serviço do rei de Espanha, alcançando o extremo sul do continente americano e atravessando o estreito que veio a ser batizado com o seu nome.
O historiador, que também escreveu um livro sobre a exploração de Marte, foi convidado, em 2007, pela Agência Espacial Norte Americana (NASA, em inglês) para nomear características da cratera de impacto 'Victoria', que partilha o nome com a única embarcação que finalizou a expedição de Magalhães.
Entre os nomes, constam Tierra del Fuego, Duck Bay, Cabo da Boa Esperança e Cabo Verde.
Portugal tem um programa das Comemorações do V Centenário da Circum-Navegação, com iniciativas marcadas até 2022.
No total, estão previstas mais de 70 iniciativas e ações, organizadas por "um diversificado leque de entidades, públicas e privadas, de forma privada ou em parceria, de âmbito local, regional, nacional ou internacional".
As iniciativas, refere a Estrutura de Missão das Comemorações do V Centenário da Circum-Navegação comandada pelo navegador português Fernão de Magalhães (EMCFM), pretendem "reconhecer o papel, passado e presente, de Portugal e dos portugueses para a promoção do conhecimento, do diálogo intercultural e da sustentabilidade do planeta, contribuindo para uma sociedade mais justa, inclusiva e com maior bem-estar".
https://expresso.sapo.pt/sociedade/2018-09-23-Quando-Fernao-de-Magalhaes-recorreu-a-enforcamentos-para-lidar-com-rivalidades-de-espanhois"Talvez ainda haja coisas para descobrir sobre a sua viagem", disse Bergreen, que considera que a primeira viagem de circum-navegação contribuiu para a mudança de paradigmas que "agora parecem óbvios, mas que são difíceis de processar quando são algo tão novo".
Bergreen assinala que, embora a finalidade da viagem não fosse científica, foram feitas várias descobertas ao longo do seu percurso de três anos.
"A viagem não foi uma expedição científica, mas foi responsável por várias descobertas. Em primeiro lugar, no ramo da geografia, ao descobrir terras e ilhas, mas também para a biologia, com uma vasta biodiversidade encontrada. A sua grande descoberta foi o que agora chamamos estreito de Magalhães" - entre os oceanos Atlântico e Pacífico, a sul da América do Sul.
Em Portugal por ocasião da apresentação das comemorações do V Centenário da primeira viagem que circum-navegou o planeta, Bergreen afirmou "não ter a certeza" sobre como Magalhães é lembrado nos dias de hoje, algo que acredita dever-se ao facto de ter sido um português a comandar uma expedição espanhola.
"Ele era português, mas viajou por Espanha (...) então ele não pertence bem a um sítio, ainda que toda a gente esteja ciente do seu significado. 'Magalhães' representa exploração", comentou.
Magalhães partiu do porto de Sevilha em agosto de 1519, comandando uma frota de cinco embarcações que transportavam mais de 260 pessoas de várias nacionalidades (portugueses, espanhóis, italianos, alemães, belgas, gregos, ingleses e franceses eram algumas das presentes) e incluía marinheiros, académicos (como o escritor italiano Antonio Pigaffeta, que compilou um detalhado relato da viagem), entre outros.
A rivalidade com espanhóis
O historiador lembrou algumas das dificuldades que a expedição enfrentou, como o escorbuto e os motins.
"A liderança de Magalhães nesta viagem nem sempre foi assegurada. Ele era um português a viajar por Espanha. A Casa da Contratação [de Sevilha] deu-lhe um adjunto espanhol, que não era um marinheiro, mas um nobre. Este espanhol pensava que Magalhães trabalhava para ele - o que não era o caso - então teve regularmente de lidar com a sua rivalidade", apontou o biógrafo e historiador.
Para lidar com este nobre espanhol, que "tinha um grupo de espanhóis que o apoiavam e levantavam a contestação contra Magalhães", o português, "por vezes, tinha de lidar com a situação de uma forma mais violenta: executou alguns dos homens, enforcou-os (...), algo que se não tivesse sido feito, provocaria um motim geral".
Bergreen sublinhou que no início "o ambiente era mais pacífico", mas que se tornou "mais e mais agressivo ", o que levou a que o comportamento de Magalhães se tornasse "mais autocrático e ditador nas partes finais da viagem. Na altura em que chegou às Filipinas, estava 'irritadiço'".
O historiador associou esta alteração de comportamento às experiências vividas por Magalhães desde que abandonou o porto de Sevilha, em 1519.
"À medida que Magalhães foi passando por vários pontos do mundo, a sua perspetiva sobre as pessoas, a religião -- tudo -- mudou", disse.
Magalhães viria a morrer nas Filipinas, em 1521, durante uma batalha com uma tribo em que a tripulação liderada pelo português estava em forte desvantagem numérica.
Apenas uma das embarcações, a Vitoria, comandada por Juan Sebastian Elcano e com apenas 18 dos 260 tripulantes, regressou a Espanha, em 1522, o que faria destes os primeiros a completar uma viagem à volta do globo.
No entanto, Bergreen aponta que um outro membro da tripulação inicial poderia ter sido o primeiro a alcançar este estatuto.
"Magalhães levara o seu escravo com ele [Enrique], e ninguém sabia bem de onde vinha, mas algures no Pacífico ele começou a falar a língua nativa. Tornou-se aparente que aquele era o seu lugar de origem. Podemos dizer, de certa forma, que o seu escravo foi o primeiro a dar a volta ao mundo", admitiu o norte-americano.
Bergreen considera Magalhães "um Odisseu [figura da mitologia grega] da vida moderna: é uma lenda, mas é real".
O navegador português Fernão de Magalhães (1480-1521) notabilizou-se por ter organizado e comandado a primeira viagem de circum-navegação ao globo, ao serviço do rei de Espanha, alcançando o extremo sul do continente americano e atravessando o estreito que veio a ser batizado com o seu nome.
O historiador, que também escreveu um livro sobre a exploração de Marte, foi convidado, em 2007, pela Agência Espacial Norte Americana (NASA, em inglês) para nomear características da cratera de impacto 'Victoria', que partilha o nome com a única embarcação que finalizou a expedição de Magalhães.
Entre os nomes, constam Tierra del Fuego, Duck Bay, Cabo da Boa Esperança e Cabo Verde.
Portugal tem um programa das Comemorações do V Centenário da Circum-Navegação, com iniciativas marcadas até 2022.
No total, estão previstas mais de 70 iniciativas e ações, organizadas por "um diversificado leque de entidades, públicas e privadas, de forma privada ou em parceria, de âmbito local, regional, nacional ou internacional".
As iniciativas, refere a Estrutura de Missão das Comemorações do V Centenário da Circum-Navegação comandada pelo navegador português Fernão de Magalhães (EMCFM), pretendem "reconhecer o papel, passado e presente, de Portugal e dos portugueses para a promoção do conhecimento, do diálogo intercultural e da sustentabilidade do planeta, contribuindo para uma sociedade mais justa, inclusiva e com maior bem-estar".
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20 Setembro1519
Fernão de Magalhães celebrado em selos
http://estoriasdahistoria12.blogspot.pt/2016/09/20-de-setembro-de-1519-fernao-de.html
Fernão de Magalhães parte de Espanha, na primeira viagem de circum-navegação
Navegador português, ao serviço de Castela na época dos Descobrimentos, nasceu em 1480, provavelmente emTrás-os-Montes, segundo muitos autores em Sabrosa, município do distrito de Vila Real. Morreu bem longe dali, amais de 15 000 quilómetros, na ilha de Mactan, no arquipélago das Filipinas, a 27 de abril de 1521. Sem honranem glória, durante muito tempo com a sua memória esquecida. O seu diário de bordo e as suas anotaçõesdesapareceram depois da sua infeliz ingerência nas guerras tribais na ilha de Mactan, incidente que lhe tirou avida, às mãos do régulo nativo Lapu-Lapu. Acabava assim um périplo que cobrira já dois longos oceanos e umsem número de infortúnios, problemas, mortes e revoltas entre os seus subordinados. Chegar às Filipinas foicomplicado, quase dois anos depois de ter zarpado de Sanlúcar de Barrameda (Espanha), a 20 de setembro de1519. Capitaneava uma armada de cinco navios (Trinidad, San Antonio, Concepción, Victoria e Santiago), à frentede 234 homens. Uma armada que se resumiria, no fim da viagem de circum-navegação completa ao mundo, auma embarcação (Victoria), outro comandante, Sebastião Del Cano, e a apenas dezoito homens (incluindo DelCano). Mas esquecidos de Magalhães, com exceção de um italiano que seguiu na armada de 1519, AntónioPigafetta, que nos deixou relatórios impressionantes mas autênticos das jornadas intercontinentais do navegadorportuguês e dos seus últimos dias.
Tudo começou em 1517, quando aquele nobre português, depois de uma carreira de subalternidade, sem brilhonem grandes feitos pessoais, ao serviço de D. Manuel, na Ásia como na África, ofereceu as suas armas epréstimos ao rei de Espanha, Carlos V. Apesar de no anonimato de um subordinado, Magalhães ganhou vastaexperiência militar e náutica nas suas andanças pelo Oriente. Em 1505, depois de ter sido educado na corteportuguesa, partiu para a Índia na poderosa armada de D. Francisco de Almeida, 1.º vice-rei da Índia (1505-1509),a qual tinha como missão afastar as frotas turcas dos mares da região – o que se conseguiu, até 1538. Depois dapartida do vice-rei, em 1509, sempre animado pelo forte desejo de conhecer as terras a Oriente (percorreu vastosterritórios do subcontinente indiano e da África oriental) e principalmente as terras das Especiarias (Molucas,Sunda, Celebes), acompanhou D. Diogo Lopes Sequeira na malograda expedição (naufrágio) a Malaca, aindanaquele ano de 1509. Permaneceu no Oriente até 1513, tendo-se tornado amigo do feitor das Molucas, FranciscoSerrão, junto do qual apurou os seus conhecimentos acerca dessas ilhas, das suas famosas especiarias e dasrotas adjacentes. Na sua estada no Extremo Oriente, participou ainda na tomada de Malaca por D. Afonso deAlbuquerque, em 1511, um ano depois de ter sido promovido a capitão. Em 1513 regressou a Portugal, tendo sidodestacado para Marrocos, onde participou em várias expedições, numa das quais, a Azamor, em 1514, foi feridonum joelho, regressando a Lisboa. Atrás de si vinha uma fama menos consentânea com a sua posição, acusadode ganância e poucos escrúpulos. Não se sabe se por tal motivo ou se por outro que desconhecemos, o certo éque D. Manuel I lhe recusou um aumento de 100 reais na tença anual que lhe pagava.
Com uma imagem não muito boa junto do monarca português, afigurava-se difícil a sua anuência para outroprojeto que há muito acalentava: o de atingir as Molucas por Ocidente, solução que considerava mais rentável esegura que a rota do oriente via Índia-Malaca, repleta de muçulmanos e piratas hostis aos Portugueses e seusinteresses. Depois de várias recusas de D. Manuel I (também de uma nau para a Índia), Magalhães dirigiu-se aSevilha para "vender" o seu projeto ao rei de Espanha, Carlos V. Foi acompanhado de Rui Faleiro, português. ACarlos V propôs Magalhães não apenas atingir as Molucas por Ocidente mas acima de tudo provar que aquelasilhas não estavam dentro da área de jurisdição portuguesa defendida no Tratado de Tordesilhas (1494) mas simem mares "espanhóis". Além disso, a viagem decorreria sempre em águas espanholas. Apesar de algumasreticências, Carlos V aceitou o projeto, confiando a Magalhães uma frota de cinco navios, 234 homens e 480toneladas em navegação. Com muitas peripécias e uma rutura de relações com Faleiro, a armada de Magalhãessaiu de Sanlúcar de Barrameda a 20 setembro de 1519, depois de lhe nascer o primeiro filho e de sua mulheresperar outro, que o altivo navegador nunca conheceu.
Sua mulher era D. Beatriz Barbosa, filha de um amigo português de Sevilha, Diogo Barbosa, antigo companheirono Oriente, muito influente naquela cidade espanhola, pai de Duarte Barbosa, que rumou com Fernão na fatídicaviagem, que o seria também para ele (Duarte foi morto em Cebu, Filipinas, uns dias antes de Magalhães). Beatrizmorreria antes da chegada dos 18 cadáveres vivos em 1522, sobreviventes da viagem de Magalhães. Tentou-se oseu regresso a Portugal, com aumentos de tença, entretanto, mas Magalhães recusou sempre.
A viagem de circum-navegação começou bem, atingiu rapidamente a América do Sul (novembro), depois de escala nas Canárias. Em fevereiro de 1520 passaram no Rio da Prata, chegando a S. Julián, na Patagónia, mais a sul, em março. Começariam aqui os maiores problemas da viagem, ou melhor, acabaria a bonança da mesma.Seis meses ficaram ali retidos, para passar o inverno. Mas estalaram revoltas e motins, perdendo-se aindaSantiago. Depois vem a procura do estreito, que receberia o nome de Magalhães, no extremo sul da América,região de "mau navegar". Passado este (38 dias) e o desaparecimento de mais uma nau (provando-se que uma rota pelo estreito seria péssima), após motins e tempestades, atingiu-se o Pacífico, assim batizado porMagalhães, pelas suas calmarias. Demorou quatro longos meses a atravessar, com muitas mortes (escorbuto),fome e as célebres "nebulosas de Magalhães", diminuindo-se cada vez mais a tripulação. Depois, chegou-se às ilhas Marianas (ou dos "Ladrões"), depois veio a emboscada de Lapu-Lapu, em Mactan, nas Filipinas. Aí, sobreveio a morte, de um navegador português ao serviço de Espanha
Fontes: Fernão de Magalhães. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012
27 de Abril de 1521: Fernão de Magalhães morre em combate, nas Ilhas de S. Lázaro, Filipinas
Navegador
português, ao serviço de Castela na época dos Descobrimentos, nasceu em 1480, provavelmente em Trás-os-Montes, segundo muitos autores em Sabrosa, município do distrito de Vila Real. Morreu bem longe dali, a mais de 15 000 quilómetros, na ilha de Mactan, no arquipélago das Filipinas, a 27 de abril de 1521. Sem honra nem glória, durante muito tempo com a sua memória esquecida. O seu diário de bordo e as suas anotações desapareceram depois da sua infeliz ingerência nas guerras tribais na ilha de Mactan, incidente que lhe tirou a vida, às mãos do régulo nativo Lapu-Lapu. Acabava assim um périplo que cobrira já dois longos oceanos e um sem número de infortúnios, problemas, mortes e revoltas entre os seus subordinados. Chegar às Filipinas foi complicado, quase dois anos depois de ter zarpado de Sanlúcar de Barrameda (Espanha), a 20 de setembro de 1519. Capitaneava uma armada de cinco navios (Trinidad, San Antonio, Concepción, Victoria e Santiago), à frente de 234 homens. Uma armada que se resumiria, no fim da viagem de circum-navegação completa ao mundo, a uma embarcação (Victoria), outro comandante, Sebastião Del Cano, e a apenas dezoito homens (incluindo Del Cano). Mas esquecidos de Magalhães, com exceção de um italiano que seguiu na armada de 1519, António Pigafetta, que nos deixou relatórios impressionantes mas autênticos das jornadas intercontinentais do navegador português e dos seus últimos dias.
Tudo
começou em 1517, quando aquele nobre português, depois de uma carreira de subalternidade, sem brilho nem grandes feitos pessoais, ao serviço de D. Manuel, na Ásia como na África, ofereceu as suas armas e préstimos ao rei de Espanha, Carlos V. Apesar de no anonimato de um subordinado, Magalhães ganhou vasta experiência militar e náutica nas suas andanças pelo Oriente. Em 1505, depois de ter sido educado na corte portuguesa, partiu para a Índia na poderosa armada de D. Francisco de Almeida, 1.º vice-rei da Índia (1505-1509), a qual tinha como missão afastar as frotas turcas dos mares da região – o que se conseguiu, até 1538. Depois da partida do vice-rei, em 1509, sempre animado pelo forte desejo de conhecer as terras a Oriente (percorreu vastos territórios do subcontinente indiano e da África oriental) e principalmente as terras das Especiarias (Molucas, Sunda, Celebes), acompanhou D. Diogo Lopes Sequeira na malograda expedição (naufrágio) a Malaca, ainda naquele ano de 1509. Permaneceu no Oriente até 1513, tendo-se tornado amigo do feitor das Molucas, Francisco Serrão, junto do qual apurou os seus conhecimentos acerca dessas ilhas, das suas famosas especiarias e das rotas adjacentes. Na sua estada no Extremo Oriente, participou ainda na tomada de Malaca por D. Afonso de Albuquerque, em 1511, um ano depois de ter sido promovido a capitão. Em 1513 regressou a Portugal, tendo sido destacado para Marrocos, onde participou em várias expedições, numa das quais, a Azamor, em 1514, foi ferido num joelho, regressando a Lisboa. Atrás de si vinha uma fama menos consentânea com a sua posição, acusado de ganância e poucos escrúpulos. Não se sabe se por tal motivo ou se por outro que desconhecemos, o certo é que D. Manuel I lhe recusou um aumento de 100 reais na tença anual que lhe pagava.
Com uma imagem não muito boa junto do monarca português, afigurava-se difícil a sua anuência para outro projeto que há muito acalentava: o de atingir as Molucas por Ocidente, solução que considerava mais rentável e segura que a rota do oriente via Índia-Malaca, repleta de muçulmanos e piratas hostis aos Portugueses e seus interesses. Depois de várias recusas de D. Manuel I (também de uma nau para a Índia), Magalhães dirigiu-se a Sevilha para "vender" o seu projeto ao rei de Espanha, Carlos V. Foi acompanhado de Rui Faleiro, português. A Carlos V propôs Magalhães não apenas atingir as Molucas por Ocidente mas acima de tudo provar que aquelas ilhas não estavam dentro da área de jurisdição portuguesa defendida no Tratado de Tordesilhas (1494) mas sim em mares "espanhóis". Além disso, a viagem decorreria sempre em águas espanholas. Apesar de algumas reticências, Carlos V aceitou o projeto, confiando a Magalhães uma frota de cinco navios, 234 homens e 480 toneladas em navegação. Com muitas peripécias e uma rutura de relações com Faleiro, a armada de Magalhães saiu de Sanlúcar de Barrameda a 20 setembro de 1519, depois de lhe nascer o primeiro filho e de sua mulher esperar outro, que o altivo navegador nunca conheceu.
Sua
mulher era D. Beatriz Barbosa, filha de um amigo português de Sevilha, Diogo Barbosa, antigo companheiro no Oriente, muito influente naquela cidade espanhola, pai de Duarte Barbosa, que rumou com Fernão na fatídica viagem, que o seria também para ele (Duarte foi morto em Cebu, Filipinas, uns dias antes de Magalhães). Beatriz morreria antes da chegada dos 18 cadáveres vivos em 1522, sobreviventes da viagem de Magalhães. Tentou-se o seu regresso a Portugal, com aumentos de tença, entretanto, mas Magalhães recusou sempre.
A viagem de circum-navegação começou bem, atingiu rapidamente a América do Sul (novembro), depois de escala nas Canárias. Em fevereiro de 1520 passaram no Rio da Prata, chegando a S. Julián, na Patagónia, mais a sul, em março. Começariam aqui os maiores problemas da viagem, ou melhor, acabaria a bonança da mesma. Seis meses ficaram ali retidos, para passar o inverno. Mas estalaram revoltas e motins, perdendo-se ainda Santiago. Depois vem a procura do estreito, que receberia o nome de Magalhães, no extremo sul da América, região de "mau navegar". Passado este (38 dias) e o desaparecimento de mais uma nau (provando-se que uma rota pelo estreito seria péssima), após motins e tempestades, atingiu-se o Pacífico, assim batizado por Magalhães, pelas suas calmarias. Demorou quatro longos meses a atravessar, com muitas mortes (escorbuto), fome e as célebres "nebulosas de Magalhães", diminuindo-se cada vez mais a tripulação. Depois, chegou-se às ilhas Marianas (ou dos "Ladrões"), depois veio a emboscada de Lapu-Lapu, em Mactan, nas Filipinas. Aí, sobreveio a morte, de um navegador português ao serviço de Espanha
Fontes: Fernão de Magalhães. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012
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28 de Novembro de 1520: Fernão de Magalhães atinge o Oceano Pacífico
Navegador português, ao serviço de Castela na época dos Descobrimentos, nasceu em 1480, provavelmente em Trás-os-Montes, segundo muitos autores em Sabrosa, município do distrito de Vila Real. Morreu bem longe dali, a mais de 15 000 quilómetros, na ilha de Mactan, no arquipélago das Filipinas, a 27 de abril de 1521. Sem honra nem glória, durante muito tempo com a sua memória esquecida. O seu diário de bordo e as suas anotações desapareceram depois da sua infeliz ingerência nas guerras tribais na ilha de Mactan, incidente que lhe tirou a vida, às mãos do régulo nativo Lapu-Lapu. Acabava assim um périplo que cobrira já dois longos oceanos e um sem número de infortúnios, problemas, mortes e revoltas entre os seus subordinados. Chegar às Filipinas foi complicado, quase dois anos depois de ter zarpado de Sanlúcar de Barrameda (Espanha), a 20 de setembro de 1519. Capitaneava uma armada de cinco navios (Trinidad, San Antonio, Concepción, Victoria e Santiago), à frente de 234 homens. Uma armada que se resumiria, no fim da viagem de circum-navegação completa ao mundo, a uma embarcação (Victoria), outro comandante, Sebastião Del Cano, e a apenas dezoito homens (incluindo Del Cano). Mas esquecidos de Magalhães, com exceção de um italiano que seguiu na armada de 1519, António Pigafetta, que nos deixou relatórios impressionantes mas autênticos das jornadas intercontinentais do navegador português e dos seus últimos dias.
Tudo começou em 1517, quando aquele nobre português, depois de uma carreira de subalternidade, sem brilho nem grandes feitos pessoais, ao serviço de D. Manuel, na Ásia como na África, ofereceu as suas armas e préstimos ao rei de Espanha, Carlos V. Apesar de no anonimato de um subordinado, Magalhães ganhou vasta experiência militar e náutica nas suas andanças pelo Oriente. Em 1505, depois de ter sido educado na corte portuguesa, partiu para a Índia na poderosa armada de D. Francisco de Almeida, 1.º vice-rei da Índia (1505-1509), a qual tinha como missão afastar as frotas turcas dos mares da região – o que se conseguiu, até 1538. Depois da partida do vice-rei, em 1509, sempre animado pelo forte desejo de conhecer as terras a Oriente (percorreu vastos territórios do subcontinente indiano e da África oriental) e principalmente as terras das Especiarias (Molucas, Sunda, Celebes), acompanhou D. Diogo Lopes Sequeira na malograda expedição (naufrágio) a Malaca, ainda naquele ano de 1509. Permaneceu no Oriente até 1513, tendo-se tornado amigo do feitor das Molucas, Francisco Serrão, junto do qual apurou os seus conhecimentos acerca dessas ilhas, das suas famosas especiarias e das rotas adjacentes. Na sua estada no Extremo Oriente, participou ainda na tomada de Malaca por D. Afonso de Albuquerque, em 1511, um ano depois de ter sido promovido a capitão. Em 1513 regressou a Portugal, tendo sido destacado para Marrocos, onde participou em várias expedições, numa das quais, a Azamor, em 1514, foi ferido num joelho, regressando a Lisboa. Atrás de si vinha uma fama menos consentânea com a sua posição, acusado de ganância e poucos escrúpulos. Não se sabe se por tal motivo ou se por outro que desconhecemos, o certo é que D. Manuel I lhe recusou um aumento de 100 reais na tença anual que lhe pagava.
Com uma imagem não muito boa junto do monarca português, afigurava-se difícil a sua anuência para outro projeto que há muito acalentava: o de atingir as Molucas por Ocidente, solução que considerava mais rentável e segura que a rota do oriente via Índia-Malaca, repleta de muçulmanos e piratas hostis aos Portugueses e seus interesses. Depois de várias recusas de D. Manuel I (também de uma nau para a Índia), Magalhães dirigiu-se a Sevilha para "vender" o seu projeto ao rei de Espanha, Carlos V. Foi acompanhado de Rui Faleiro, português. A Carlos V propôs Magalhães não apenas atingir as Molucas por Ocidente mas acima de tudo provar que aquelas ilhas não estavam dentro da área de jurisdição portuguesa defendida no Tratado de Tordesilhas (1494) mas sim em mares "espanhóis". Além disso, a viagem decorreria sempre em águas espanholas. Apesar de algumas reticências, Carlos V aceitou o projeto, confiando a Magalhães uma frota de cinco navios, 234 homens e 480 toneladas em navegação. Com muitas peripécias e uma rutura de relações com Faleiro, a armada de Magalhães saiu de Sanlúcar de Barrameda a 20 Setembro de 1519, depois de lhe nascer o primeiro filho e de sua mulher esperar outro, que o altivo navegador nunca conheceu.
A viagem de circum-navegação começou bem, atingiu rapidamente a América do Sul depois de escala nas Canárias. Prosseguindo para o sul,
atingiram Puerto San
Julian à entrada do estreito, na
extremidade da actual costa da Argentina, onde o capitão decidiu
hibernar. Irrompeu então uma revolta que ele conseguiu dominar com habilidosa
astúcia. Após cinco meses de espera, período no qual a nau "Santiago" foi
perdida numa viagem de reconhecimento, tendo os seus tripulantes conseguido ser
resgatados, Magalhães encontrou o estreito que hoje leva seu nome,
aprofundando-se nele. Noutra viagem de reconhecimento, outra nau foi perdida,
mas desta vez por um motim na nau "San Antonio" onde a tripulação aprisionou o
seu capitão Álvaro de Mesquita, primo de Magalhães, e iniciou uma viagem de
volta com o piloto Estêvão Gomes.
Em Novembro de 1520 a
esquadra atravessaria o Estreito, penetrando nas águas do Mar do Sul (28 de
Novembro de 1520), e baptizando o oceano em que entravam como«Pacífico» por
contraste às dificuldades encontradas no Estreito. Depois de cerca de quatro
meses, a fome, a sede e as doenças (principalmente o escorbuto) começaram a
dizimar a tripulação. Foi também no Pacífico que encontrou as nebulosas que hoje
ostentam o seu nome - as nebulosas de Magalhães.
Em
Março de 1521, alcançaram a ilha de Ladrões no actual arquipélago de Guam,
chegando à ilha de Cebu nas actuais ilhas Filipinas em 7 de Abril. Imediatamente
começaram com os nativos as trocas comerciais; boa parte das grandes
dificuldades da viagem tinham sido vencidas. Dias depois, porém, Fernão de
Magalhães morreu em combate com os nativos na ilha de Mactan, atraído a uma
emboscada.A expedição prosseguiu sob o comando de João Lopes Carvalho, deixando
Cebu no início de Março de 1522. Dois meses depois, seria comandada por Juan
Sebastián Elcano.
Fontes:
Fernão de Magalhães.
In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto
Editora, 2003-2012
wikipedia
(Imagens)
Fernão de Magalhães
A embarcação de Fernão de Magalhães,
Victoria
Mapa da expedição: a vermelho a rota percorrida por
Magalhães, a laranja a rota percorrida por Elcano
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20 de Setembro de 1519: Fernão de Magalhães parte de Espanha, na primeira viagem de circum-navegação
Navegador
português, ao serviço de Castela na época dos Descobrimentos, nasceu em 1480, provavelmente em Trás-os-Montes, segundo muitos autores em Sabrosa, município do distrito de Vila Real. Morreu bem longe dali, a mais de 15 000 quilómetros, na ilha de Mactan, no arquipélago das Filipinas, a 27 de abril de 1521. Sem honra nem glória, durante muito tempo com a sua memória esquecida. O seu diário de bordo e as suas anotações desapareceram depois da sua infeliz ingerência nas guerras tribais na ilha de Mactan, incidente que lhe tirou a vida, às mãos do régulo nativo Lapu-Lapu. Acabava assim um périplo que cobrira já dois longos oceanos e um sem número de infortúnios, problemas, mortes e revoltas entre os seus subordinados. Chegar às Filipinas foi complicado, quase dois anos depois de ter zarpado de Sanlúcar de Barrameda (Espanha), a 20 de setembro de 1519. Capitaneava uma armada de cinco navios (Trinidad, San Antonio, Concepción, Victoria e Santiago), à frente de 234 homens. Uma armada que se resumiria, no fim da viagem de circum-navegação completa ao mundo, a uma embarcação (Victoria), outro comandante, Sebastião Del Cano, e a apenas dezoito homens (incluindo Del Cano). Mas esquecidos de Magalhães, com exceção de um italiano que seguiu na armada de 1519, António Pigafetta, que nos deixou relatórios impressionantes mas autênticos das jornadas intercontinentais do navegador português e dos seus últimos dias.
Tudo
começou em 1517, quando aquele nobre português, depois de uma carreira de subalternidade, sem brilho nem grandes feitos pessoais, ao serviço de D. Manuel, na Ásia como na África, ofereceu as suas armas e préstimos ao rei de Espanha, Carlos V. Apesar de no anonimato de um subordinado, Magalhães ganhou vasta experiência militar e náutica nas suas andanças pelo Oriente. Em 1505, depois de ter sido educado na corte portuguesa, partiu para a Índia na poderosa armada de D. Francisco de Almeida, 1.º vice-rei da Índia (1505-1509), a qual tinha como missão afastar as frotas turcas dos mares da região – o que se conseguiu, até 1538. Depois da partida do vice-rei, em 1509, sempre animado pelo forte desejo de conhecer as terras a Oriente (percorreu vastos territórios do subcontinente indiano e da África oriental) e principalmente as terras das Especiarias (Molucas, Sunda, Celebes), acompanhou D. Diogo Lopes Sequeira na malograda expedição (naufrágio) a Malaca, ainda naquele ano de 1509. Permaneceu no Oriente até 1513, tendo-se tornado amigo do feitor das Molucas, Francisco Serrão, junto do qual apurou os seus conhecimentos acerca dessas ilhas, das suas famosas especiarias e das rotas adjacentes. Na sua estada no Extremo Oriente, participou ainda na tomada de Malaca por D. Afonso de Albuquerque, em 1511, um ano depois de ter sido promovido a capitão. Em 1513 regressou a Portugal, tendo sido destacado para Marrocos, onde participou em várias expedições, numa das quais, a Azamor, em 1514, foi ferido num joelho, regressando a Lisboa. Atrás de si vinha uma fama menos consentânea com a sua posição, acusado de ganância e poucos escrúpulos. Não se sabe se por tal motivo ou se por outro que desconhecemos, o certo é que D. Manuel I lhe recusou um aumento de 100 reais na tença anual que lhe pagava.
Com uma imagem não muito boa junto do monarca português, afigurava-se difícil a sua anuência para outro projeto que há muito acalentava: o de atingir as Molucas por Ocidente, solução que considerava mais rentável e segura que a rota do oriente via Índia-Malaca, repleta de muçulmanos e piratas hostis aos Portugueses e seus interesses. Depois de várias recusas de D. Manuel I (também de uma nau para a Índia), Magalhães dirigiu-se a Sevilha para "vender" o seu projeto ao rei de Espanha, Carlos V. Foi acompanhado de Rui Faleiro, português. A Carlos V propôs Magalhães não apenas atingir as Molucas por Ocidente mas acima de tudo provar que aquelas ilhas não estavam dentro da área de jurisdição portuguesa defendida no Tratado de Tordesilhas (1494) mas sim em mares "espanhóis". Além disso, a viagem decorreria sempre em águas espanholas. Apesar de algumas reticências, Carlos V aceitou o projeto, confiando a Magalhães uma frota de cinco navios, 234 homens e 480 toneladas em navegação. Com muitas peripécias e uma rutura de relações com Faleiro, a armada de Magalhães saiu de Sanlúcar de Barrameda a 20 setembro de 1519, depois de lhe nascer o primeiro filho e de sua mulher esperar outro, que o altivo navegador nunca conheceu.
Sua
mulher era D. Beatriz Barbosa, filha de um amigo português de Sevilha, Diogo Barbosa, antigo companheiro no Oriente, muito influente naquela cidade espanhola, pai de Duarte Barbosa, que rumou com Fernão na fatídica viagem, que o seria também para ele (Duarte foi morto em Cebu, Filipinas, uns dias antes de Magalhães). Beatriz morreria antes da chegada dos 18 cadáveres vivos em 1522, sobreviventes da viagem de Magalhães. Tentou-se o seu regresso a Portugal, com aumentos de tença, entretanto, mas Magalhães recusou sempre.
A viagem de circum-navegação começou bem, atingiu rapidamente a América do Sul (novembro), depois de escala nas Canárias. Em fevereiro de 1520 passaram no Rio da Prata, chegando a S. Julián, na Patagónia, mais a sul, em março. Começariam aqui os maiores problemas da viagem, ou melhor, acabaria a bonança da mesma. Seis meses ficaram ali retidos, para passar o inverno. Mas estalaram revoltas e motins, perdendo-se ainda Santiago. Depois vem a procura do estreito, que receberia o nome de Magalhães, no extremo sul da América, região de "mau navegar". Passado este (38 dias) e o desaparecimento de mais uma nau (provando-se que uma rota pelo estreito seria péssima), após motins e tempestades, atingiu-se o Pacífico, assim batizado por Magalhães, pelas suas calmarias. Demorou quatro longos meses a atravessar, com muitas mortes (escorbuto), fome e as célebres "nebulosas de Magalhães", diminuindo-se cada vez mais a tripulação. Depois, chegou-se às ilhas Marianas (ou dos "Ladrões"), depois veio a emboscada de Lapu-Lapu, em Mactan, nas Filipinas. Aí, sobreveio a morte, de um navegador português ao serviço de Espanha
Fontes: Fernão de Magalhães. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012
Fernão de Magalhães celebrado em
selos
***
Fernando Pessoa - in mensagem:
Fernão de Magalhães
No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titãs, os filhos da Terra,
Que dançam da morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto -
Cingi-lo, dos homens, o primeiro -,
Na praia ao longe por fim sepulto.
Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.
Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.
***
Via: http://minervacoimbra.blogspot.pt/2008/12/ferno-de-magalhes-visto-por-stefan.html
SÁBADO, DEZEMBRO 20, 2008
Fernão de Magalhães visto por Stefan Zweig
Isabel de Carvalho Garcia, Gabriela Fragoso,
Maria de Fátima Gil e Maria Manuela Gouveia Delille
As Edições MinervaCoimbra e o Centro Interuniversitário de Estudos Germanísticos (CIEG)lançaram mais um volume da colecção Minerva/CIEG — “Uma Biografia «Moderna» dos Anos 30 - ‘Magellan. Der Mann und seine Tat’ de Stefan Zweig” (‘Magalhães, o homem e o seu feito’), da autoria de Maria de Fátima Gil.
Apresentada por Gabriela Fragoso, docente da Universidade Nova de Lisboa, a obra, referiu, “culmina vários anos de investigação e entrega da autora” que, ao longo desse tempo criou uma “grande empatia com Stefan Zweig.
De facto, a descrição da vida e obra do escritor austríaco, bem com da época e da sociedade em que este viveu, “surge de forma clara e escorreita” no livro de Maria de Fátima Gil, que Gabriela Fragoso, também ela especialista em Zweig, considera de “uma grande humildade científica”.
Maria Manuela Gouveia Delille, directora da colecção em que a obra se insere, referiu por sua vez que este tipo de trabalhos “merecem e devem ultrapassar as fronteiras da universidade”. Os textos que constituem os volumes da colecção Minerva/CIEG são, afirmou, “fruto de reflexão conjunta sobre as relações literárias e culturais luso-alemãs”.
O trabalho agora publicado e que se baseou na tese de doutoramento de Maria de Fátima Gil, analisa a obra Magalhães à luz da série literária em que se insere, estudando a relação dialógica desta biografia com a situação histórica e cultural dos anos 30 e mostrando que o texto afirmava a fé na eficácia da acção individual, exortava à tolerância e à coexistência entre os povos, defendia os valores humanistas da civilização europeia e sustentava que mesmo as épocas mais conturbadas podiam ser conjunções de mudança e oportunidades de avanço para a Humanidade.
Maria de Fátima Gil é professora auxiliar da Universidade de Coimbra e investigadora do CIEG.
***
Introdução de Fernão de Magalhães – o homem e a sua façanha
Stefan Zweig
A origem de um livro pode estar nos sentimentos mais diversos. Há quem escreva livros movido por entusiasmo ou estimulado por um sentimento de gratidão, mas a paixão intelectual também pode ser acesa da mesma forma pela irritação, a ira ou o desgosto. Às vezes, a curiosidade serve de motor, o prazer psicológico de entender, escrevendo, os homens ou os fatos; outras vezes – muito freqüentemente – são motivos mais censuráveis, como a vaidade, a cobiça, o prazer em se ver retratado, que levam alguém a produzir. Eis por que a cada livro o autor deveria fazer uma espécie de prestação de contas interior para tentar descobrir os sentimentos ou a necessidade pessoal que o levaram a escolher um determinado assunto. No caso deste livro, tenho total clareza sobre o seu motivo interior. Ele nasceu de um sentimento algo insólito mas muito intenso: a vergonha.
Foi assim. Ano passado, tive pela primeira vez a oportunidade longamente desejada de fazer uma viagem à América do Sul. Sabia que me esperavam, no Brasil, algumas das paisagens mais lindas do mundo, e, na Argentina, um reencontro inigualável com velhos amigos. Só este pressentimento já tornou a travessia maravilhosa, e a ele se somou tudo de bom que se pode imaginar: mar tranqüilo, o relaxamento total no navio veloz e amplo, liberação de todos os compromissos e aborrecimentos diários. Saboreei infinitamente os dias paradisíacos dessa travessia. Mas de repente, no sétimo ou no oitavo dia, flagrei em mim uma impaciência irritante. Sempre este céu azul, sempre este mar azul e tranqüilo! Nesses súbitos acessos, as horas de viagem me pareciam excessivamente lentas. Ansiava chegar logo ao porto de destino, alegrava-me que os ponteiros do relógio avançassem inexoravelmente, e deprimia-me aquele gozo indolente e frouxo do nada. Cansavam-me os mesmos rostos, e a monotonia da vida a bordo me enervava precisamente pela tranqüilidade de sua pulsação regular. Adiante, adiante, mais rápido, mais depressa! De repente, aquele belo e confortável vapor parecia mover-se com excessivamorosidade.
Foi talvez naquele segundo que me dei conta de meu estado de impaciência, e logo me envergonhei. Estás viajando – disse a mim mesmo – no barco mais seguro, na viagem mais linda possível, com todo o luxo à disposição. Se, à noite, sentes frio no camarote, basta girar um botão com dois dedos e o ar já se aquece. Sentes muito calor, à hora do sol a pino no Equador, basta dar um passo rumo ao salão com os ventiladores refrescantes ou mais dez passos até uma piscina à tua espera. À mesa, podes escolher qualquer prato e qualquer bebida neste que é o mais completo de todos os hotéis, e tudo chegará num passe de mágica, trazido por anjos, em abundância. Podes escolher entre ficar sozinho e ler livros ou participar de jogos a bordo com música e companhia, o quanto quiseres. Sabes para onde estás viajando, conheces exatamente a hora da chegada e sabes que estás sendo aguardado com simpatia. Da mesma forma, sabe-se a qualquer momento em Londres, Paris, Buenos Aires e Nova York em que ponto do universo o navio se encontra. Basta galgar os vinte degraus de uma pequena escada e uma centelha obediente saltará do aparelho da telegrafia sem fio, levando a tua pergunta, a tua saudação, para qualquer lugar da Terra, e em apenas uma hora receberás a resposta. Lembra-te, impaciente, lembrate, imodesto, do passado! Compara, por um instante, esta viagem com as de outrora, sobretudo com as daqueles intrépidos homens que descobriram para nós estes mares imensos e o mundo, e tem vergonha! Tenta imaginar como partiam em seus diminutos veleiros rumo ao desconhecido, sem noção do caminho, perdidos no infinito, incessantemente expostos ao perigo, à mercê de todas as inclemências do tempo, de todo o martírio da privação. Sem luz que os iluminasse à noite, nada para beber senão a água salobra e morna das talhas ou da chuva recolhida, nada para comer senão torradas velhas e toucinho salgado e rançoso, e ainda privados, às vezes, deste alimento escasso durante dias e dias. Sem cama nem espaço para descansar, sob calor infernal, sob um frio inclemente e, além de tudo, a consciência de estar só, absolutamente só, neste inclemente deserto de água. Durante meses, anos, ninguém sabia em seus lares onde estavam, nem eles próprios sabiam para onde iam. Acompanhava-os a necessidade, a morte rondava em mil formas no mar e na terra, o perigo os aguardava na forma de pessoas e elementos, e durante meses, anos, a solidão os acompanhava em suas embarcações miseráveis. Ninguém, eles sabiam, poderia ajudá-los, durante meses e meses não cruzariam com nenhum veleiro nestas águas intransitadas, ninguém poderia salvá-los do perigo e da miséria, ninguém relataria sua morte e seu naufrágio. E bastava que eu começasse a imaginar essas primeiras viagens dos conquistadores dos mares para sentirme profundamente envergonhado de minha impaciência.
Uma vez despertado, este sentimento de vergonha não me abandonaria mais durante toda a viagem, e a idéia destes heróis sem nome não me largou mais nem um instante. Experimentei o desejo de saber mais a respeito daqueles que foram os primeiros a ousar a luta contra os elementos, sobre as primeiras viagens nos oceanos desconhecidos, cuja descrição já em menino excitara a minha imaginação. Fui à biblioteca do navio e escolhi ao acaso alguns volumes. E de todas as figuras e viagens, vim a admirar principalmente a façanha daquele homem que, a meu ver, realizou a proeza mais grandiosa da história dos descobrimentos: Fernão de Magalhães, que partiu de Sevilha em cinco minúsculos barcos pesqueiros para dar a volta ao mundo, no que talvez tenha sido a odisséia mais maravilhosa da história da humanidade, aquela partida de duzentos e sessenta e cinco homens decididos, dos quais só regressaram dezoito num galeão em frangalhos, mas tendo içada ao mastro a bandeira da maior vitória. Naqueles livros não havia muitos relatos sobre ele, pelo menos o que li não me bastou. Por isso, ao regressar, li e pesquisei mais, espantado com o quão pouco se disse sobre esse feito heróico até agora. E, como já aconteceu algumas vezes antes, vi que a melhor e mais fértil possibilidade de entender algo inexplicável é tentar recriálo também para outras pessoas. Assim nasceu este livro, e, posso dizer sinceramente, para a minha própria surpresa. Pois ao tentar descrever, com a maior fidelidade possível, esta odisséia de acordo com os documentos disponíveis, tive o tempo todo a sensação de estar contando uma ficção, um sonho, um daqueles contos de fada sagrados da humanidade. Mas não há nada melhor do que uma verdade que parece inverossímil! Por se elevarem tão acima da média terrestre, todos os feitos heróicos da humanidade têm algo de inconcebível; mas sempre é aquilo que há de incrível em suas realizações que faz os homens voltarem a ter fé em si mesmos.
in Fernão de Magalhães – o homem e a sua façanha. Rio de Janeiro: Editora Record, 1999. Tradução de Kristina Michahelles. (publicado com expressa autorização da editora)
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https://www.youtube.com/watch?v=KwTGZuHBA78
Fernão de Magalhães era do Porto
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https://www.youtube.com/watch?v=J_sNgK3Ln50&noredirect=1
Breve documentário narrando a biografia e importância do navegador português Fernão de Magalhães (1480-1521)
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https://www.youtube.com/watch?v=BuVciA9d0Uw
A EXPEDIÇÃO DE FERNÃO DE MAGALHÃES
Portugal não soube valorizar o talentoso navegador...
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Espanhóis nas "conquistas" dizimaram massacraram nativos em maior nº e proporção que os portugueses...
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Via profª Olinda Gil:
Fernão de Magalhães
Fernão de Magalhães o português que descobriu a passagem marítima do Atlântico para o Pacífico não concluiu a viagem de circum-navegação que iniciara ao serviço da coroa de Espanha. Mas ficou para a História. A 8 de Setembro de 1522, chegava a Sevilha uma nau com 18 tripulantes. Estes homens tinham zarpado do mesmo porto, mais de três anos antes, à descoberta de uma passagem de ocidente para oriente - eram os poucos sobreviventes da armada de Fernão de Magalhães.
O navegador português serviu durante nove anos nos mares do Oriente, ajudando à conquista de vários territórios, incluindo Malaca, subjugada por Afonso de Albuquerque em 1511.
De regresso a Lisboa, em 1514, viu recusado pelo rei D. Manuel o seu pedido de aumento da tença anual. Partiu para Espanha e ofereceu os seus préstimos a Carlos I de Espanha (futuro imperador Carlos V).
Aliciado pela perspectiva de atingir as ilhas das especiarias por ocidente, o monarca cedeu ao navegador português as naus e os equipamentos para o intento. Segundo os seus cálculos, e dos irmãos Faleiro*, as Molucas encontravam-se na metade do mundo que, pelo tratado de Tordesilhas, cabia à coroa de Castela; os cosmógrafos portugueses garantiam mesmo que a cerca de 40 graus de latitude a sul do Brasil, havia uma passagem do oceano Atlântico para os mares do Sul.
Durante um ano foi preparada a armada, composta pelas naus Trinidad, San Antonio, Concepción, Victoria e Santiago. A frota contava com cerca de 240 tripulantes de várias nacionalidades, entre os quais o italiano António Pigafetta, que deixaria um relato completo da viagem de Magalhães.
Segundo ele, no relato publicado por Neves Águas, o português partiu de Sevilha rumo às Canárias a 10 de Agosto de 1519, seguindo depois até à costa da Guiné, "resolvido a abrir um caminho que nenhum navegador conhecera até então". Rumaram depois ao Brasil, atingindo o Rio de Janeiro no início de Dezembro, onde ficaram 15 dias, ao fim dos quais Pigafetta testemunha: "Costeámos o país até 34º 40' de latitude sul, onde encontrámos um grande rio de água doce". Era o rio da Prata, onde "habitam os canibais, ou comedores de homens", que os navegadores julgavam poder ser a tão almejada passagem para o Oriente.
O descobridor português – primeiro homem a realizar a viagem de circum-navegação – foi morto na ilha de Cebu (no arquipélago das Filipinas) por Lapu-Lapu.
Fernão de Magalhães é, no entanto, uma figura mal amada. Nunca lhe perdoaram o facto de ter servido o imperador Carlos V, que também era rei de Espanha, depois de ter sido dispensado pelo português D. Manuel. “Não foi por culpa dele, mas de quem não acreditou nele”, declara a escritora Alice Vieira. Magalhães foi, também por isto, um sobrevivente crónico. Demonstrou tenacidade extraordinária.
Fernão de Magalhães terá nascido em Trás-os-Montes, em Sabrosa, no ano de 1480. Pertencia a uma família da baixa nobreza. A sua educação foi orientada para uma carreira militar, estudou navegação em Lisboa e com 25 anos embarcou para a Índia. Em 1511, tomou parte na conquista de Malaca. “Estava constantemente em acção”, conta Gonçalves Neves.
A passagem para o Pacífico foi encontrada em 24 de Agosto de 1520. Tinha cerca de 600 km de comprimento. Fernão de Magalhães deu-lhe o nome de estreito de Todos os Santos. Hoje é denominado estreito de Magalhães.
A frota encontrava-se em situação crítica. O escorbuto espalhava-se pela tripulação. A comida e a água apodreciam. O desastre parecia iminente, quando foi avistada uma ilha. A equipa pôde saciar a fome e os mantimentos foram repostos. Fernão de Magalhães estava num oceano desconhecido. . Como o tempo esteve calmo durante a travessia, decidiu chamar-lhe “Pacífico”. Semanas mais tarde, avistaram outra ilha.
Fernão de Magalhães pensava que se tratava das Molucas, mas estava enganado. Tinha acabado de descobrir o arquipélago das Filipinas.
Aproveitou a ocasião para fazer alguma diplomacia em nome do rei de Espanha. A sorte abandonou-o quando desembarcou em Mactan: foi morto em combate.
Morte de Magalhães
A primeira viagem marítima em redor do globo terrestre foi concluída em 1522, por Sebastião de El Cano, um dos seus capitães.
O facto de Fernão de Magalhães ter concretizado a sua odisseia ao serviço de um rei espanhol não lhe retira o mérito. Pelo contrário. É admirável que tenha conseguido montar uma expedição desta envergadura num país que não era o dele. “Fernão de Magalhães representa um grupo de homens que saíram de Portugal e projectaram o seu saber para fora das fronteiras”, diz Gonçalves Neves. E nunca deixou de ser português. Foi graças a ele que Portugal esteve no início da globalização.
NAU DO SÉCULO XVI
Foi encontrada na costa da Namíbia uma nau do século XVI. Segundo informações do Ministério daquele país, a nau contem cerca de 2000 moedas em ouro, cerca de um quilo e meio de moedas de prata, vários instrumentos de navegação e 3 canhões de bronze. Este achado, acidental, foi a mais antiga embarcação encontrada na África Austral.
Será que esta nau foi pertença de Fernão de Magalhães na sua fatídica viagem, que foi a primeira de circum-navegação ao globo e na qual mais tarde viria a falecer no Arquipélago das Filipinas?
O Escorbuto - Ao longo da viagem de circum-navegação, enquanto os marinheiros sofriam e morriam à sua volta devido ao escorbuto, Fernão de Magalhães e vários outros oficiais mantinham-se misteriosamente saudáveis. Ninguém sabia porquê, mas havia uma razão relevante para terem escapado à terrível doença. Durante toda aquela provação, os oficiais serviam-se regularmente de um fornecimento de compota de marmelo que o capitão português fizera embarcar. O marmelo, um fruto do género da maçã, era na realidade um potente anti-escorbuto, graças à sua quantidade de vitamina C.
BERGREEN, Laurence, Fernão de Magalhães - Para além do fim do mundo, Lisboa, Bertrand Editora, 2005
Barril de marmelada - Caderno do Rodolfo
OUTROS SÍTIOS ONDE PODES ESTUDAR HISTÓRIA:
Via Eulália V.
FERNÃO DE MAGALHÃES...
Pintura de Kostecki Tomasz.
Navegador português, que se notabilizou por ter organizado a primeira viagem de circum-navegação ao globo de 1519 até 1522. Nasceu em 1480 e a 27 de abril de 1521 morre em combate, nas Ilhas de S. Lázaro, Filipinas.
Fernão de Magalhães
No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titãs, os filhos da Terra,
Que dançam da morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto -
Cingi-lo, dos homens, o primeiro -,
Na praia ao longe por fim sepulto.
São os Titãs, os filhos da Terra,
Que dançam da morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto -
Cingi-lo, dos homens, o primeiro -,
Na praia ao longe por fim sepulto.
Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.
Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.
Mensagem de Fernando Pessoa.
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Cronologia
1480 - Data provável do nascimento de Fernão de Magalhães no norte de Portugal
1505 - Partiu para a Índia na armada de D. Francisco de Almeida.
1509 - Participou na desastrosa expedição a Malaca de Diogo Lopes de Sequeira; fez grande amizade com Francisco Serrão.
1511 - Participou, sob o comando de Afonso de Albuquerque, na conquista de Malaca.
1513 - Regressou a Lisboa.
1514 - Foi ferido em combate, em Azamor (Marrocos); novamente em Lisboa, D. Manuel recusou-lhe o aumento na tença.
1517 - Dirigiu-se a Sevilha para apresentar a Carlos V o seu plano de alcançar as "Ilhas das Especiarias" pelo Ocidente.
1519 - Iniciou a que foi a primeira viagem de circum-navegação; alcançou a baía da Guanabara.
1520 - Alcançou a foz do Rio da Prata; fez invernada na baía de S. Julião; dominou um motim; atravessou o Estreito e alcançou o Oceano Pacífico.
1521 - Descobriu a Ilha dos Ladrões; descobriu o arquipélago das Filipinas e aí foi morto em combate.
1522 - Juan Sebastián Elcano concluiu a primeira viagem de circum-navegação.
Cronologia
1480 - Data provável do nascimento de Fernão de Magalhães no norte de Portugal
1505 - Partiu para a Índia na armada de D. Francisco de Almeida.
1509 - Participou na desastrosa expedição a Malaca de Diogo Lopes de Sequeira; fez grande amizade com Francisco Serrão.
1511 - Participou, sob o comando de Afonso de Albuquerque, na conquista de Malaca.
1513 - Regressou a Lisboa.
1514 - Foi ferido em combate, em Azamor (Marrocos); novamente em Lisboa, D. Manuel recusou-lhe o aumento na tença.
1517 - Dirigiu-se a Sevilha para apresentar a Carlos V o seu plano de alcançar as "Ilhas das Especiarias" pelo Ocidente.
1519 - Iniciou a que foi a primeira viagem de circum-navegação; alcançou a baía da Guanabara.
1520 - Alcançou a foz do Rio da Prata; fez invernada na baía de S. Julião; dominou um motim; atravessou o Estreito e alcançou o Oceano Pacífico.
1521 - Descobriu a Ilha dos Ladrões; descobriu o arquipélago das Filipinas e aí foi morto em combate.
1522 - Juan Sebastián Elcano concluiu a primeira viagem de circum-navegação.