03/04/2014

7.766.(3abril2014.7.7') Agostinho da Silva.

Nasceu a 13fev1906
e morreu a 3abr1994
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27dez2019
"Por causa do mundo curvo
eis aqui o que procuro
ter eu amor do passado
com a paixão do futuro
mas há remédio bem simples
para não ser inseguro
é amar vida sem tempo
ou seja o presente puro."
Uns Poemas de Agostinho, 4ª ed., Ulmeiro, 1997, p. 83
 A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, barba, óculos graduados, interiores e closeup
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 “Lerás bem quando leres o que não existe entre uma página e outra da mesma folha". 
“Os economistas tinham sobretudo a obrigação de não nos andarem a calcular inflações e a taxa de juro e essas coisas, mas dizerem de que maneira é que nós podemos fazer avançar a gratuitidade da vida."
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"Temos, sobretudo, de aprender duas coisas: aprender o extraordinário que é o mundo e aprender a ser bastante largo por dentro, para o mundo todo poder entrar."
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da página da associação
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"Atingira um silêncio tão de espanto
que era todo universo à sua volta
um seduzido canto".
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"Já são em número demasiado os que vieram ao mundo para combater e separar. (…) Aceitemos como o melhor que foi possível tudo o que nos apresenta o passado; mas procuremos que seja outra a atitude que tomarmos; lancemos sobre a terra uma semente de renovação e de íntimo aperfeiçoamento. Reservemos para nós a tarefa de compreender e unir; busquemos em cada homem e em cada povo e em cada crença não o que nela existe de adverso, para que se levantem as barreiras, mas o que existe de comum e de abordável, para que se lancem as estradas da paz; empreguemos toda a nossa energia em estabelecer um mútuo entendimento; ponhamos de lado todo o instinto de particularismo e de luta, alarguemos a todos a nossa simpatia. Reflictamos que são diferentes os caminhos que toma cada um para seguir em busca da verdade, em que muitas vezes só um antagonismo de nomes esconde um acordo real"

Por Um Fim de Batalha, Considerações [1944], in Textos e Ensaios Filosóficos I, p. 117.

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"Lerás bem quando leres o que não existe entre uma página e outra da mesma folha".
 Pensamento à solta, 1999

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(Sobre o aumento do desemprego:)
"- Sim, (...), embora se preveja que o desemprego vá aumentar em todos os países, porque basta o simples aperfeiçoamento das máquinas, para que isso aconteça. Quando hoje se diz que o que é preciso é manter os subsídio de desemprego, não estou de acordo, porque acho que o que é preciso é criar um subsídio ao ócio..."
 in "A última conversa - entrevista de Luís Machado", 1995 , p. 47

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"A política tem sido a arte de obter a paz por meio da injustiça".
Pensamento à solta, 1999

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4.8.2014
Hoje, que se passam 436 anos de Alcácer-Quibir:
“El-Rei vem de desertos, vem de três séculos de fome, vem pelos caminhos do exílio, do abandono e da perseguição; (...) Só quererá que o sirvam, com humildade, com respeito, com eficiente obediência; de estradas sabe ele melhor que nós; das estradas reais. (...) Mas o Rei está apenas oculto, na Ilha de encantos que é cada um de nós, e espera que a ele nos submetamos para que surja e salve; (...) Basta que num se erga; o Povo é ele e dele. (...) Todos em El-Rei, El-Rei em todos; e sem Rei nenhum, que o não precisamos, para nada, pois o Rei o somos”.

 Quinze Princípios Portugueses, 1965

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"Só existe governo exterior a nós porque temos preguiça de nos governarmos a nós mesmos".
Pensamento à solta, 1999
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"Os economistas tinham sobretudo a obrigação de não nos andarem a calcular inflações e a taxa de juro e essas coisas, mas dizerem de que maneira é que nós podemos fazer avançar a gratuitidade da vida."
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“Temos, sobretudo, de aprender duas coisas: aprender o extraordinário que é o mundo e aprender a ser bastante largo por dentro, para o mundo todo poder entrar.”

© Lorenzo Quinn - Escultura
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Lerás bem quando leres o que não existe entre uma página e outra da mesma folha.
"Pensamento à solta"
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Herman José entrevista Agostinho da Silva
https://www.youtube.com/watch?v=rw5ghtXHgbg
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https://www.facebook.com/354588417950230/photos/a.354594217949650.79091.354588417950230/599974130078323/?type=1&theater

“Religião que não é mais uma entre as outras, mas o aviso de que todas elas são um sinal de Deus, um esforço de chegar a ele e um permanente desejo de que nele se fundam os homens com tudo o que foi vivo no passado, mesmo que o próprio passado seja morto, tudo o que é imaginado no futuro mesmo que seja o próprio futuro imaginário. Repete o Espírito, absoluto de existência, que Deus tanto está na missa cristã como na ablução muçulmana, tanto se manifesta pelo orixá africano como pelo taoismo chinês, tanto resplende nas danças do Xingu como nos mitos de Timor”.

- Agostinho da Silva, Educação de Portugal, 1970.
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(13/2/1906-3/4/1994)
Filósofo, Poeta e Ensaísta Português

“Exige-se, para o perfeito amor, que o amado ame o amante;
que este ame, em si próprio, o amante que ama o amado e
que o amado ama, o mesmo tendo de haver no correspondente.
Que os amantes amem nos amados os amantes que a eles os amam.
Ou, mais simples: que o amor se ame.”

© Jamielyn Duggan - Imagem

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Via Maria Elisa Ribeiro
"Leia, Ouça, Veja, mas sobretudo, Pense
Se grandes invenções ou descobertas, como o fogo, a roda ou a alavanca, se fizeram antes que o homem fosse, historicamente, capaz de escrever, também se põe como fora de dúvida que mais rapidamente se avançou quando foi possível fixar inteligência em escrita, quando o saber se pôde transmitir com maior fidelidade do que oralmente, quando biblioteca, em qualquer forma, foi testamento do passado e base de arranque para o futuro. A livro se veio juntar arquivo, para o que mais ligeiro se afigurava; e fora de bibliotecas ou arquivos ficaram os milhões de páginas de discorrer ou emoção humana que mais ligeiras pareceram ainda, ou menos duradouras. Escrevendo ou lendo nos unimos para além do tempo e do espaço, e os limitados braços se põem a abraçar o mundo; a riqueza de outros nos enriquece a nós. Leia.
Milhões de homens, porém, no mundo actual estão incapacitados de escrever e de ler, muito menos porque faltam métodos e meios do que incitamento que os levante acima do seu tão difícil quotidiano e vontade de quem mais pode de que seus reais irmãos mais dependam de si próprios do que de exteriores e quase sempre enganadoras salvações. Mais se comunica falando do que de qualquer outra forma; o que nos dizem muitas vezes nos parece de nenhuma importância, mas talvez tenha havido uma falha na atitude de escutar do que no conteúdo do que se disse; porventura a palavra-chave estava aí, mas estávamos distraídos, ou ansiosos por nós próprios falarmos; e no vento fugiu, a outros ouvidos ou a nenhuns. Ouça.
No tempo em que a antropologia ainda julgava que o homem descendia do macaco notou-se, para os distinguir, que um, mesmo no estádio mais primitivo, desenhava; o outro, mesmo que antropóide superior, nem olhava o desenho. Imagem nos veio acompanhando pela História fora, desde as pinturas ou gravuras rupestres, cujo verdadeiro significado ainda está por encontrar, até cinema ou televisão, sobre cujo significado igualmente muitas vezes nos podemos interrogar e que se tem de arrancar o mais depressa possível ao domínio do lucro, da publicidade ou das propagandas ideológicas para que possam cumprir, como nas formas mais antigas, a sua missão de iluminar, inspirar e consagrar o mundo. Imagem o cerca. Veja.
Mas o que vê e ouve ou lê nada mais lhe traz senão matéria-prima de pensamento, já livre de muita impureza de minério bruto, porquanto antes do seu outros pensamentos o pensaram; mas, por o pensarem, alguma outra impureza lhe terão juntado. Nunca se precipite, pois, a aderir; não se deixe levar por nenhum sentimento, excepto o do amor de entender, de ver o mais possível claro dentro e fora de si; critique tudo o que receba e não deixe que nada se deposite no seu espírito senão pela peneira da crítica, pelo critério da coerência, pela concordância dos factos; acredite fundamentalmente na dúvida construtiva e daí parta para certezas que nunca deixe de ver como provisórias, excepto uma, a de que é capaz de compreender tudo o que for compreensível; ao resto porá de lado até que o seja, até que possa pôr nos pratos da sua balancinha de razão. A tudo pese. Pense."
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"O Oportunismo

O oportunismo é, porventura, a mais poderosa de todas as tentações; quem reflectiu sobre um problema e lhe encontrou solução é levado a querer realizá-la, mesmo que para isso se tenha de afastar um pouco de mais rígidas regras de moral; e a gravidade do perigo é tanto maior quanto é certo que se não é movido por um lado inferior do espírito, mas quase sempre pelo amor das grandes ideias, pela generosidade, pelo desejo de um grupo humano mais culto e mais feliz.
Por outra parte, é muito difícil lutar contra uma tendência que anda inerente ao homem, à sua pequenez, à sua fragilidade ante o universo e que rompe através dos raciocínios mais fortes e das almas mais bem apetrechadas: não damos ao futuro toda a extensão que ele realmente comporta, supomos que o progresso se detém amanhã e que é neste mesmo momento, embora transigindo, embora feridos de incoerência, que temos de lançar o grão à terra e de puxar o caule verde para que a planta se erga mais depressa.
Seria bom, no entanto, que pensássemos no reduzido valor que têm leis e reformas quando não respondem a uma necessidade íntima, quando não exprimem o que já andava, embora sob a forma de vago desejo, no espírito do povo; a criação do estado de alma aparece-nos assim como bem mais importante do que o articular dos decretos; e essa disposição não a consegue o oportunismo por mais elevadas e limpas que sejam as suas intenções: vincam-na e profundam-na os exemplos de resistência moral, a perfeita recusa de se render ao momento.
Depois, tempo virá na Humanidade - para isso trabalham os melhores - em que só hão-de brilhar os puros valores morais, em que todos se voltarão para os que não quiseram vencer, para os que sempre estacaram ante o meio que lhes pareceu menos lícito; eis a hora dos grandes; para ela desejaríamos que se guardassem, isentos de qualquer mancha de tempo, os que mais admiramos pela sua inteligência, pela sua compreensão do que é ser homem, os que mais destinados estavam a não se apresentarem diminuídos aos olhos do futuro. "
in 'Textos e Ensaios Filosóficos'
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 13 de Fevereiro de 1906: Nasce Agostinho da Silva
Professor e investigador português, George Agostinho Batista da Silva nasceu a 13 de fevereiro de 1906, no Porto, e morreu a 3 de abril de 1994, em Lisboa, tendo vivido grande parte da sua juventude em Barca de Alva, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, junto ao rio Douro.


Após terminar, aos 22 anos, a licenciatura e o doutoramento em Filologia Clássica da Faculdade de Letras do Porto, com a nota máxima de 20 valores, uma bolsa de estudo conduziu-o até à Sorbonne, em França.


Depois de regressar a Portugal, o filósofo portuense fundou, em 1931, em Lisboa, o Centro de Estudos de Filologia, encargo que lhe foi atribuído pela Junta Nacional de Educação, e que seria posteriormente transformado no Centro de Linguística da Universidade Clássica de Lisboa.


Quatro anos depois, em 1935, Agostinho da Silva foi demitido da sua condição de professor do ensino oficial por se ter recusado a cumprir a chamada "Lei Cabral", isto é, a assinar uma declaração em que garantisse não pertencer a qualquer organização secreta. Apesar de não pertencer a nenhuma organização desse género, Agostinho da Silva recusou-se a assinar tal documento por ir contra as suas convicções pessoais. 



De 1935 até 1944 residiu em Madrid e em Lisboa, onde viveu à custa do ensino particular e de explicações, tendo-se relacionado, por esta altura, com o grupo Seara Nova e com o escritor António Sérgio. 



Em 1944, foi excomungado pela Igreja, facto que o levou a abandonar Portugal para se fixar no Brasil, país onde desempenhou funções e ocupou cargos importantes no domínio da investigação histórica, mantendo sempre ligações de docente com universidades brasileiras e com os Colégios Libres do Uruguai e Argentina.



Como representante do Brasil, cuja cidadania adquiriu em 1958, viajou pelo mundo inteiro (Japão, Macau, Timor Leste), onde fundou, por exemplo, o Instituto de Língua e Cultura Portuguesa, em Tóquio, e os Centros de Estudos Ruy Cinatti e de Estudos Brasileiros, ambos em Díli.



Em 1969, Agostinho da Silva, portuense com naturalidade brasileira há cerca de 10 anos, decidiu voltar a Portugal, sendo reintegrado no Ensino Superior, na qualidade de aposentado como Professor Titular das Universidades Federais do Brasil. Com direito a uma pensão de aposentação, decidiu, em 1976, criar o Fundo D. Dinis para atribuição do prémio com o mesmo nome, prémio D. Dinis.



Para além de professor, filósofo e investigador, George Agostinho Batista da Silva notabilizou-se também como escritor, em cujo currículo constam mais de 60 obras, muitas delas publicadas durante a sua permanência no Brasil, como, por exemplo, Sentido Histórico das Civilizações Clássicas (1929), A Religião Grega (1930), Miguel Eyquem, senhor de Montaigne (1933), A Vida de Francisco de Assis (1938), A Vida de Moisés (1938), Sete Cartas a um Jovem Filósofo(1945), Herta. Teresinha. Joan (1953), Reflexão à margem da literatura portuguesa (1957), Uns Poemas de Agostinho (1989), Do Agostinho em torno de Pessoa (1990) e Ir à Índia sem Abandonar Portugal (1994).



Tido como um dos grandes filósofos portugueses, Agostinho da Silva tornar-se-ia, nos últimos anos da sua vida, ainda mais conhecido graças à sua participação no programa "Conversas Vadias" emitido pela RTP1.
Fontes: Infopédia


 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/02/13-de-fevereiro-de-1906-nasce-agostinho.html?fbclid=IwAR2UM_FEWIcwJtDUf1rX8OrxQkCzCgdbMczqGdTEGXnAN-GPfavKO9KY56U
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Via Citador
"Escrevendo ou lendo nos unimos para além do tempo e do espaço, e os limitados braços se põem a abraçar o mundo; a riqueza de outros nos enriquece a nós. Leia."Fonte - NotíciaTema - Leitura


"Toda a grande obra supõe um sacrifício; e no próprio sacrifício se encontra a mais bela e a mais valiosa das recompensas."Fonte - GlossasTema - Obras


"Ninguém reprovará o seu irmão por ele ser o que é; mas com paciência e persistência, com inteligência e com amor, procurará levá-lo ao nível mais alto."Fonte - Doutrina CristãTema - Fraternidade


"É preciso estar sempre crítico diante daquilo que se vai admirar, o que é diferente do ser crítico daquilo que se ama. Diante o que se ama, não se deve ser crítico, deve-se deixar que o amor nos possua. Mas diante daquilo que se admira, muito cuidadinho - tem que se estar sempre com objecção pronta, a ver se podemos demolir aquilo que admiramos e que não serve afinal para nada."Fonte - EntrevistaTema - Admiração


"Eu não voto por rótulos. (...) Eu não quero saber das campanhas eleitorais para nada. Eu quero saber das ideias que as pessoas têm e da maneira como depois as vão defender e praticar."Fonte - EntrevistaTema - Partido (político)


"Podes, e deves, ter ideias políticas, mas, por favor, as «tuas» ideias políticas, não as ideias do teu partido; o «teu» comportamento, não o comportamento dos teus líderes; os interesses de «toda» a Humanidade, não os interesses de uma «parte» dela. E lembra-te de que «parte» é a etimologia de «partido»."Fonte - Os Três DragõesTema - Partido (político)


"Se fosse possível explicar-te tudo não precisarias de perceber nada."Fonte - EspólioTema - Compreensão

"Entre um homem e outro homem há barreiras que nunca se transpõem. Só sabemos, seguramente, de uma amizade ou de um amor: o que temos pelos outros. De que os outros nos amem nunca poderemos estar certos. E é por isso talvez que a grande amizade e o grande amor são aqueles que dão sem pedir, que fazem e não esperam ser feitos; que são sempre voz activa, não passiva."Fonte - Sete Cartas a um Jovem FilósofoTema - Amizade

"Não me importa nada que me critiquem. Exactamente como não me importa nada quando me elogiam. Tanto me faz que uma pessoa me elogie como me censure - eu considero aquilo como uma opinião pessoal e não comparo com coisa nenhuma porque eu próprio não tenho opinião pessoal a meu respeito. Não me sinto nem herói, nem criminoso, sinto que vivo, sinto que sou."Fonte - EntrevistaTema - Crítica

"Amar é querer que seja nós e outrem o máximo de nós."Fonte - EspólioTema - Amor

"A liberdade só existe quando todos os nossos actos concordam com todo o nosso pensamento."Fonte - Parábola da Mulher de LothTema - Liberdade


"Fala-se muito contra o analfabetismo e ele é porventura um grande mal; mas não se repara em que há outros analfabetismos ainda mais graves: o de um especialista de determinada matéria que nada conhece do que os outros estudam ou o dos que vão morrer inconscientes do espectáculo em que Deus os jogou."Fonte - Só AjustamentosTema - Analfabeto


"Viver interessa mais que ter vivido; e a vida só é vida real quando sentimos fora de nós alguma coisa de diferente."Fonte - Diário de AlcestesTema - Viver


"Tudo vence uma vontade obstinada, todos os obstáculos abate o homem que integrou na sua vida o fim a atingir e que está disposto a todos os sacrifícios para cumprir a missão que a si próprio se impôs."Fonte - ConsideraçõesTema - Vontade


"Não julgues que pensas melhor que todos os que te precederam: o mais provável é que penses pior; principalmente quando tudo te parece mais certo."Fonte - EspólioTema - Pensar

"A política tem sido a arte de obter a paz por meio da injustiça."Fonte - EspólioTema - Politica

"O que se tem que dizer é que a pessoa nasce em determinadas circunstâncias, sem se dizer se elas são boas a olho. É um defeito muito grande que nós temos, aquele de dizer que tal pessoa tem tais qualidades e tem tais falhas, tais defeitos. O que se tem que dizer de qualquer pessoa, ou de qualquer situação no mundo, é que tem determinadas características. Porque muitas vezes o que nós verificamos é que são os defeitos que fazem as boas obras, e as qualidades aquelas que muitas vezes as abatem."Fonte - EntrevistaTema - Qualidade

"Tudo o que os outros me elogiam foi o fácil; foi o complicado e o misterioso tudo o que eles ignoram ou censuram."Fonte - EspólioTema - Elogio

"Exige-se, para o perfeito amor, que o amado ame o amante; que este ame, em si próprio, o amante que ama o amado e que o amado ama, o mesmo tendo de haver no correspondente. Que os amantes amem nos amados os amantes que a eles os amam. Ou, mais simples: que o amor se ame."Fonte - Pensamento em Farmácia de ProvínciaTema - Amor

"A questão portuguesa não é de se falar ou não falar português. É de ser ou não ser à maneira portuguesa, que é ser variadíssimas coisas ao mesmo tempo, e por vezes coisas que parecem contraditórias, e é a possibilidade de tomar um tema e olhar de várias maneiras, conforme o temperamento da pessoa, a época em que viveram, a linguagem de que usavam, a maneira como se sentiam na vida."Fonte - EntrevistaTema - Portugal

"Tu podes, com certeza, conviver com os outros, mas nunca seres os outros. Eles podem ser muito bons, mas tu és sempre melhor porque és diferente e o único com as tuas características."Fonte - Os Três DragõesTema - Individualidade

"Ser companheiro vale mais do que ser chefe. É preciso que os homens à sua volta nunca tenham nenhuma angústia, não sofram nunca por o sentirem a você superior a eles; a sua superioridade, se existir, deve ser um bálsamo nas feridas, deve consolá-los, aliviar-lhes as dores. A sua grandeza, querido Amigo, deve servir para os tornar grandes, no que lhes é possível, não para os humilhar, para os lançar no desespero, no rancor, na inveja."Fonte - Sete Cartas a um Jovem FilósofoTema - Chefe

"Nenhum político deve esperar que lhe agradeçam ou sequer lhe reconheçam o que faz; no fim de contas era ele quem devia agradecer pela ocasião que lhe ofereceram os outros homens de pôr em jogo as suas qualidades e de eliminar, se puder, os seus defeitos."Fonte - As AproximaçõesTema - Políticos

"Deve-se estar atento às ideias novas que vêm dos outros. Nunca julgar que aquilo em que se acredita é efectivamente a verdade. Fujo da verdade como tudo, porque acho que quem tem a verdade num bolso tem sempre uma inquisição do outro lado pronta para atacar alguém; então livro-me de toda a espécie de poder - isso sobretudo."Fonte - EntrevistaTema - Verdade

"O homem tem preguiça, em geral, de pensar todo o pensável e contenta-se com fragmentos de ideias, recusa-se a uma coerência absoluta. Não leva até ao fim o esforço de entender. E, exactamente porque não o faz, toma, em relação à sua capacidade de inteligência, uma absurda posição de orgulho. Compara o pouco que entendeu com o menos que outros entenderam, jamais com o muito que os mais raros puderam perceber."Fonte - As AproximaçõesTema - Entendimento

"O grande defeito dos intelectuais portugueses tem sido sempre o só lidarem com intelectuais. Vão para o povo. Vejam o povo. Vejam como eles reflectem, como ele entende a vida, como eles gostariam que a vida fosse para eles."Fonte - EntrevistaTema - Intelectual

"Morre menos gente de cancro ou de coração do que de não saber para que vive; e a velhice, no sentido de caducidade, de que tantos se vão, tem por origem exactamente isto: o cansaço de se não saber para que se está a viver."Fonte - As AproximaçõesTema - Viver

"A acção só vale quando é feita como um exercício, e um exercício com amor, quando é feita como uma ascese, e uma ascese por amor de que se liberte o Deus que em nós reside. E se a acção implica amargura, o que há a fazer é mudar de campo: porque não é a acção que estará errada, mas nós próprios."Fonte - As AproximaçõesTema - Acção

"O essencial na vida não é convencer ninguém, nem talvez isso seja possível; o que é preciso é que eles sejam nossos amigos; para tal, seremos nós amigos deles; que forças hão-de trabalhar o mundo se pusermos de parte a amizade?"Fonte - Sete Cartas a um Jovem FilósofoTema - Amizade

"O que impede de saber não são nem o tempo nem a inteligência, mas somente a falta de curiosidade."
"Os políticos, em lugar de se ajudarem entre si e uns aos outros nesta tarefa difícil que é administrarem um país, em que se tem ao mesmo tempo que olhar o presente com todo o cuidado objectivo, e ter a maior confiança no que se pode concretizar de futuro, em lugar de os políticos se ajudarem uns aos outros, se auxiliarem, a realmente levar essa tarefa por diante, tantas vezes se entretêm, em todos os países, a lutar uns com os outros, a desacreditarem-se uns aos outros, como se isso pudesse fazer avançar seja o que for."Fonte - EntrevistaTema - Políticos



"Amar alguém ou alguma coisa é primacialmente instalá-lo num clima de plena liberdade, com todos os riscos que a liberdade comporta: desejar é limitar na liberdade; a nós e aos outros."Fonte - As AproximaçõesTema - Amor



"A liberdade que há no capitalismo é a do cão preso de dia e solto à noite."Fonte - EspólioTema - Capitalismo



"É necessário que um dia todos os homens vejam que o desejo de chegar mais longe, a atenção à crítica, a calma ante o que fere, nada têm com a força e a fraqueza: são qualidades da alma."Fonte - Parábola da Mulher de LothTema - Alma



"Apaixonar-se é passivo; amar activo; o perfeito está no que não é nem isto nem aquilo."Fonte - EspólioTema - Amor



"Toda a vida bem vivida, harmoniosamente vivida, vivida sem faltas, sem manchas, com felicidade, com serenidade, é uma vida medíocre. Tudo o que passe do medíocre tem em si o excesso e o erro."Fonte - Sete Cartas a um Jovem FilósofoTema - Mediocridade



"Não é amar as raparigas tratá-las como seres que não entendem senão as suas lisonjas e as suas anedotas; só as amará e só elas o poderão amar a você, para além das enganadoras aparências, quando a sua alma se lhes abrir, e com todos os seus problemas, todas as suas angústias, toda a sua seriedade, toda a sua gravidade humana."Fonte - Sete Cartas a um Jovem FilósofoTema - Amor



"Quem fala de Amor não ama verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja realizando uma óptima obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoado aos quatro ventos; quando se ama, em silêncio se ama."Fonte - Sete Cartas a um Jovem FilósofoTema - Amor
"Se tiveres problemas com alguém nada mais precisas, para os resolver, do que lhe dar amor e liberdade."Fonte - Pensamento em Farmácia de ProvínciaTema - Problema
"Existir-se é fundamentalmente amar."Fonte - EntrevistaTema - Existência***









Valdemar Rodrigues:
Bem sei que são muitos os portugueses que descobriram o filósofo português Agostinho da Silva no início da década de noventa do ido século, através dessa memorável série da RTP que deu pelo nome de "Conversas Vadias".
Foi bom que tal tivesse acontecido, pois assim ainda tiveram oportunidade de ouvir de viva voz a explicação do Quinto Império, essa visão messiânica e universalista engendrada no século XVII pelo padre António Vieira, na qual eram protagonistas os portugueses.
Agostinho, que sonhou a adesão de Portugal à CEE como um "desembarque" de Portugal na Europa, a fim de a salvar e de a levar ao Mundo, estaria hoje porventura algo desiludido, pois foi mais o contrário disso que aconteceu.
A Europa parece ter aprendido pouco sobre o "ser português", e nós aprendemos com ela muito que não devíamos: a competir e a "produzir" mais e mais para descanso da alma, já que do corpo não porque os cansaços permaneceram, apenas "suavizados" pela "modernização".
Ao contrário de muitos, eu tive a sorte de descobrir Agostinho da Silva antes dessa série de programas, em meados da década de oitenta, quando sobre ele falavam jornais como o "Jornal de Letras". Comprei na altura as suas "Considerações e outros textos", um texto magnífico, e Mestre Agostinho passou desde então a ocupar na minha vida o espaço que normalmente reservo aos dilectos. Em 1990 a Editorial Notícias editou uma Antologia com os melhores trabalhos em prosa publicados no suplemento literário do Diário de Notícias, o saudoso DN Jovem, no qual colaborei durante vários anos.
O meu texto "As Três Idades" foi um dos escolhidos. Dediquei-o então ao Mestre Agostinho da Silva. Tinha apenas 22 anos de idade. A actual "crise" convida-me a relê-lo, coisa que faço com enorme prazer. E a reconhecer que a "profecia" agostiniana continua ainda por realizar.
Uma das coisas simples que o Mestre dizia era que os homens, em particular os europeus, tinham o mau hábito de passar o tempo a planear a vida, escusando-se assim a ouvi-la. Ele achava que devia ser mais a vida a levar-nos do que nós a carregar com ela.
Sonhava com um mundo em que todo o homem podesse cumprir o seu desígnio de criador: «O homem não foi feito para trabalhar, mas sim para criar!» – afirmava ele prontamente.
E nesse sentido tanto criava o carpinteiro como o poeta, uma vez libertos da necessidade. Uma vez libertos de "dono", como sugere hoje a palavra vadio. Era a ideia arendtiana de homo faber que brilhava nos seus olhos de filósofo e de poeta. Continua a ser essa a ideia que nos falta e falha. Que a "crise" nos faça voltar a pensar nela. E não tenhamos vergonha de a ensinarmos, depois de a termos compreendida, aos nossos irmãos, aos europeus e a todos os outros.
............
Fui reler o que tenho disperso...
Agostinho da Silva diz de si mesmo e das suas quadras:
Se estas quadrinhas não prestam
com certeza as compus eu
mas se boas foi poeta
além de mim que mas deu
Mais longe estás se houve início
mais perto se o tempo finda
e a rosa que em ti abriu
é em mim botão ainda.
Agostinho da Silva,
Quadras Inéditas, Lisboa: Ulmeiro, 1997, p.7 e 57
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George Agostinho Baptista da Silva nasceu no Porto a 13 de Fevereiro e morreu em Lisboa a 3 de Abril de 1994.
Filósofo, poeta e ensaísta, Agostinho da Silva foi também um lutador da liberdade: afirmava que a liberdade era a mais importante qualidade do ser humano. Escreveu para a revista Seara Nova; criou o Núcleo Pedagógico Antero de Quental em 1939 e em 1940 publica Iniciação: cadernos de informação cultural. Foi preso pela polícia política em 1943 e abandonou o país em 1944. Regressou a Portugal em 1969 após a doença de Salazar e a sua substituição por Marcello Caetano que deu origem a alguma abertura política e cultural do regime.
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Frases de Agostinho da Silva:
in Textos e ensaios Filosóficos:
"Não sou do ortodoxo nem do heterodoxo; cada um deles só exprime metade da vida, sou do paradoxo que a contém no total."
"Contradizer-me dá-me a segurança de que atingi a verdade possível."
"Acompanhando Gide, faço votos que a loucura me inspire e a razão me exprima."
"Passo a vida fabricando o real."
" Oxalá no que digo entremostre o silêncio"
"Sou especialista da curiosidade não especializada."
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in Cartas a um jovem filósofo:
“Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não são seus. Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição, venha a pensar o mesmo que eu; mas, nessa altura. já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem”
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Frases dispersas:
"Se fazes és; se não fazes serias."
" Só serei eu
se for tudo o outro;
as instituições mo impedem."
"Existir-se é fundamentalmente amar."
"Tudo o que é interessante na vida deve ser sempre por opção. Não haver nada obrigado definido, porque é muito engraçado nós termos até o divertimento por obrigatório."
" Os casos excepcionais são todos os que há no mundo. Cada um de nós, como homem, é inteiramente excepcional. Não há ninguém igual a cada um de nós em todos os biliões de homens que existem, nem fisicamente nem psicologicamente. Tudo é excepção. E todas as coisas existem no mundo deviam ser excepções aplicadas a esses seres excepcionais. Simplesmente, as condições da sociedade em que vivemos obrigam todos nós a, lentamente, nos irmos parecendo uns com os outros."
"Procura considerares-te inexistente e assim, ao contrário do que pensava Nietzche, nunca serás, com teu interesse e serviço dos outros, um desprezado, um desprezador tirano de ti próprio. Procura realizar-te nos outros, em todos os outros, e só assim serás totalmente vário, como deves, em honra do Espírito que em ti habita".
"Para quem nãó é imbecil o êxito constitui um grande risco."
"Muitos dos êxitos que tive foram devidos aos defeitos que tenho."
"O que eu quero é que a filosofia que haja por estes lados arranque do povo português, faça que o povo português tenha confiança em si mesmo".

"Não sei se há filosofias nacionais, e não sei se os filósofos, exactamente porque reflectem sobre o geral, se não internacionalizam desde logo."
"A tradição mais profunda é a que vem da pré-história; noção alguma de propriedade; nenhuma instituição do sagrado; acordo sim, chefia não; de escola nem sinal."
"Por muito cuidado que se tenha, educar é podar; deixar crescer com toda a força o ramo que nos agrada,"
"Todas as nossas escolas são escolas de guerra, pelo recrutamento, porque só queremos os mais aptos ou aqueles que julgamos mais aptos, pela disciplina do curso e do comportamento, e pelo nosso objectivo de, no final dos estudos, os repartirmos por armas."
" Mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não seus."
"... a democracia é um ideal, mas nunca foi realizado. Foram sempre pequenos grupos que dominaram grupos maiores, por uma forma ou por outra. Tem sido sempre assim. Espero que um dia cheguemos realmente a ser vontade geral que leva as coisas num determinado sentido. Me parece tão longínquo isso que me dá a impressão de que enssa altura nem é preciso haver democracia. Que as coisas decorrerão de tal maneira que a vontade geral se manifesta sem voto, sem nada, e tudo vai correr pelo melhor. Enfim, esperamos isso".
"Não acredito nessa história de países pobres e países ricos. Portugal é um país pobre, porque nunca se aproveitou como se devia aproveitar ou como se poderia ter aproveitado, se outras tarefas não tivessem desviado a atenção do país".
" Os portugueses fazem todos os papéis qu querem quando lhes convém...É uma malandragem do pior que há...Do pior que há em questões de falta de carácter, de safadeza, de enganar os outros!".
"...Hoje o problema não é produzir, o problema hoje é distribuir, mas as pessoas, há séculos com a ideia de produzir, não há jeito de mudarem de cabeça assim tão facilmente. E ainda por cima, agora o problema é distribuir o que se produz, porque se produz bastante".
"Se alguma vez te tornares conhecido, arrepende-te e volta à obscuridade; nela serás irmão dos melhores."
"Tudo vence uma vontade obstinada, todos os obstáculos abate o homem que integrou na sua vida o fim a atingir e que está disposto a todos os sacrifícios para cumprir a missão que a si próprio se impôs."
"Que o querer tenha a sua origem e seu apoio em coração aberto à nobreza, à beleza e à justica; de outro modo é apenas gume fino e duro de faca; por isso mesmo frágil, na sua aparente penetração e resistência. Vontade inteligente, e não manhosa, altruísta, e não virada ao sujeito, pedagógica, e não sedenta de domínio; a esta pertencem os séculos por vir: é a voz a que surgem; a outra estabelece os muros que ainda tentam defender o passado."

“(…) Não se atrapalhem a fazer muitos planos porque, quem sabe, por vezes os planos não iriam atrapalhar os planos da Deusa. Os meus amigos, se querem alcançar o Céu na Terra, tratem do seu navio, mantendo-o em ordem, com disciplina a bordo, porque um dia a Ilha dos Amores aparece.”

"A nossa mente olha o Eterno e o faz Tempo."

"A nossa mente olha o Vazio e o faz Espaço."

"Um dia serás do Espírito Santo e continuarás a ser cristão como sendo cristão continuaste a ser pagão: divino e humano te vejo e quero."

"Chamo liberdade à minha ignorância do destino; e destino ao meu ignorar da liberdade."

"Falar já vem do céu: o que se ganha, ao nascer, é voz."

"Boa leitura é aquela que leia o que não há entre página e página da mesma folha."
"Os economistas tinham sobretudo a obrigação de não nos andarem a calcular inflações e a taxa de juro e essas coisas, mas dizerem de que maneira é que nós podemos fazer avançar a gratuitidade da vida."

A serigrafia é da artista Maria Keil