e morre a 11junho2005
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2017.seTEMbro
https://www.rtp.pt/play/p3861/e306807/vasco-goncalves-o-general-no-seu-labirinto
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https://www.facebook.com/vascogoncalves74/photos/a.521394451250271.1073741825.521385881251128/521394454583604/?type=3&theater
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https://www.facebook.com/vascogoncalves74
«(...) A Revolução de Abril foi a mais profunda e a mais popular das revoluções portuguesas. Trouxe ao povo português, às classes mais desfavorecidas, as maiores conquistas da sua história de mais de oito séculos.»
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a última entrevista de Vasco Gonçalves
http://resistir.info/portugal/entrev_vg.html
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Tivemo-lo cá em Alcobaça
em abril2003
via tintafresca.net
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20ab2015 encontrei esta foto
1 foto especial
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1044603628888499&set=a.104386952910176.9396.100000166158153&type=1&theater
os quadros são do Rogério Ribeiro, com certeza...
Álvaro Cunhal, Vasco Gonçalves e José Aurélio
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18jul2014
40 anos da tomada de posse como 1º ministro
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=807728292570641&set=a.327339943942814.86614.100000004322096&type=1&theater
Na casa do Alentejo pelas 18 horas a Associação Conquistas da Revolução faz o lançamento do livro VASCO,NOME DE ABRIL.
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3mAIo2018...acrescentei:
Abel Manta fez o cartoon:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=562306267485814&set=a.107197922996653.1073741826.100011193364742&type=3&theater
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Ao Revolucionário Vasco Gonçalves
Queria usar a língua em que escrevi
os versos mudos da poesia lírica
para o discurso prático
da revolução escrita.
Ninguém já entendia o vapor grave
e gasto da linguagem.
Durante a desejámos, canto enquanto
desejo, com o gasto
movimento dos versos. Quem entende
a voz da sua boca equivocada?
Desconheço o silêncio. Conheci-o
com o entendimento de quem vive.
Por isso este poema não é épico,
é um simples
poema em quadras íntimas:
um revolucionário
não cabe na política
mas cabe
nos metros úteis da poesia escrita.
Gastão Cruz
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https://www.facebook.com/photo.php?fbid=505681412780873&set=a.162638640418487.43438.100000170564722&type=3&theater
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11JUN2014
MARGARIDA TENGARRINHA:
Deixo aqui um apelo a todos os que conheceram o General Vasco Gonçalves, o admiraram e tiveram a consciência do papel único que ele representou na Revolução portuguesa e, principalmente, aos que se recordam ainda que a ele devemos a concretização do que sonhámos em Abril :
- aumento geral de salários, criação do salário mínimo, reformas para muitos trabalhadores que nunca as tinham tido, pensões mínimas, segurança social, alargamento dos períodos de férias para trinta dias, férias pagas, início do pagamento do 13º mês, licença de parto, redução do horário de trabalho, protecção no desemprego, criação de melhores condições para a dignificação das carreiras da saúde e do ensino, uma mais justa repartição do Rendimento Nacional entre o capital e o trabalho, e muito mais, a todos os que não esquecem a sua simples coragém e o seu profundo amor ao povo e ao país, a todos ! Faço um apelo : Juntem-se à romagem à campa do General Vasco Gonçalves no dia 11 de Junho, pelas 11 horas no cemitério do Alto de S. João.
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https://www.facebook.com/photo.php?fbid=667936173262764&set=a.521404087915974.1073741828.521385881251128&type=1&theater
«(...)A Revolução de Abril foi a mais profunda e a mais popular das revoluções portuguesas. Trouxe ao povo português, às classes mais desfavorecidas, as maiores conquistas da sua história de mais de oito séculos.»
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https://www.facebook.com/vascogoncalves74/photos/a.521398654583184.1073741826.521385881251128/671490756240639/?type=1&theater
Dois homens são mais lúcidos que um só|
«Eu penso que o momento histórico que estamos a viver é um momento comparável a 1820, a 1836, a 1910…Nessas datas, perspectivas se abriram ao futuro dos portugueses, e essas perspectivas foram iludidas. Pois bem, é um dever de honra do Movimento das Forças Armadas e de todas as forças progressivas e patrióticas do nosso país, que não deixem quebrar-se essa esperança e que desta vez não percamos o nosso futuro. É preciso termos a consciência do momento em que vivemos. Nós vivemos um momento histórico, um momento como não viveram os vossos pais e como não sabemos se viverão os nossos filhos. Estes momentos são raros na história portuguesa. É preciso que, tendo a consciência que somos os construtores do nosso futuro, saibamos dar os passos com lucidez que está ao alcance de todos. Dois homens são mais lúcidos que um só.»
Vasco Gonçalves, militar de Abril em Julho de 1975.
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https://www.facebook.com/vascogoncalves74/photos/a.521398654583184.1073741826.521385881251128/667140116675703/?type=1&theater
Não existe terceira via para o socialismo|
«Penso que hoje não há espaço para uma "terceira via". A experiência do passado e do presente demonstra-nos que a "terceira via" caminha sempre para a direita, caminha sempre num rumo reformista do capital, para a ideia de uma suposta "reforma do capital". Não se trata de alcançar um capitalismo reformado sem superar o capitalismo. O capitalismo não é reformável, porque as relações sociais nas quais se baseia, e sem as quais não pode sobreviver, são intrinsecamente injustas e de exploração do homem pelo homem. A "terceira via" não persegue conquistas profundas nas estruturas económicas e sociais. Basta olhar a Inglaterra, a França e a Alemanha para corroborá-lo. Jospin em França, Schroeder na Alemanha e Blair na Grã-Bretanha adoptaram na prática políticas neoliberais e de privatizações. Todos os que pretendem colocar-se entre o capitalismo e o socialismo, no final acabam por adoptar políticas neoliberais. »
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VASCO ÇONÇALVES
O mais insigne capitão de Abril e timoneiro da revolução
Falar de Vasco Gonçalves, em sua memória e na dos 40 anos de tomada de posse como o timoneiro da Revolução, é sermos fiéis à justiça e ao reconhecimento. É falar de Vasco Gonçalves, da sua acção como militar e político revolucionário, seja como coronel - um dos mais experientes e cultos dos oficiais conspiradores, entre capitães do MFA, a partir de 5 de Dezembro de 1973 -, seja como primeiro chefe da 5ªa Divisão do EMGFA, seja como primeiro-ministro dos 2º,3º,4º e 5º Governos Provisórios, seja como um dos mais puros “capitães de Abril” caluniado e vilipendiado. É reflectir também sobre uma vertente do MFA, dos militares que sempre com ele estiveram (com subida honra apelidados de gonçalvistas) e sobre as iniciativas e organizações criadas sob o seu impulso, e que mais não fizeram que, ao dar-lhe apoio, apoiarem o Povo, apoiarem a Revolução.
Comecemos por citar uma expressão de Vasco Gonçalves: “…o MFA não era um movimento revolucionário: tinha revolucionários nas suas fileiras mas isso não fazia dele um movimento com essas características…”. Dentro do MFA havia militares com várias tendências e diferentes graus de politização. Não era um corpo homogéneo e muito menos de homogeneidade revolucionária. ”Os aspectos mais progressistas da actuação do MFA são motivados pelo levantamento popular num sentido revolucionário” são palavras do próprio Vasco. Foi o pulsar do Povo (dos Povos) e a força da sua razão e o exemplo dado na luta pela liberdade (em Portugal e nas colónias) contra a opressão que nos conduziram à acção de revolta.
É, ainda e sempre, falar da intervenção de Vasco, também na colaboração do texto final, do próprio Programa do MFA, como na sua interpretação prática. Vasco Gonçalves sabe que havia militares que faziam do Programa do MFA uma leitura estática, respeitando apenas o texto. Mas Vasco também sabe que outros entendiam o Programa como um projecto suficientemente aberto à evolução da própria realidade. Para ele, e para o MFA revolucionário, novas dinâmicas surgiram, que parecendo não estar previstas à partida, impuseram uma interpretação “não apenas literal” do Programa do MFA. Porque nele estão expressas as acções programáticas essenciais e que constituem emanação profunda das gentes sacrificadas deste país, dum Portugal oprimido e isolado durante 48 anos, exigindo: ”uma nova política económica”, “uma estratégia antimonopolista”, e “uma outra política social” tudo ”na defesa dos interesses das classes trabalhadoras e no aumento progressivo mas acelerado da qualidade da vida de todos os portugueses”.
O programa do MFA é emanação da vontade dum povo e dum povo inteiro, daquém e de além-mar, onde, numa “Guerra da Libertação” (dita do Ultramar, mas colonial) os capitães de Abril, durante longos treze anos, beberam ensinamentos: com os combatentes, dum lado e doutro, com as contradições do fascismo e do colonialismo mas também com as lições dos ventos da época e de quantos, resistentes e militantes, durante meio século lutaram e morreram, pelo fim da noite escura duma das mais longas ditaduras europeias. A acção do MFA, (com muito poucos oficiais superiores, tal como Vasco Gonçalves, este já antifascista conspirador, ainda como capitão, no Golpe da Sé em Março de 1959) sendo o resultado duma experiência de organização e unidade de jovens capitães que emerge, se consolida e se organiza, é com as armas nas mãos do povo-soldado que faz o 25 de Abril e no seu desenvolvimento cresce a aliança Povo-MFA. A partir dessa alvorada luminosa, do “Renascer da Esperança”, Vasco Gonçalves, na missão que lhe é incumbida, é quem melhor interioriza o Programa do MFA, como bússola que traça um rumo e lhe dá mais força para a liderança das “Conquistas da Revolução”, em nome do seu povo, e que a Constituição de 1976, contra ventos e marés, acabará por consagrar.
A partir do momento o MFA dá ao seu programa o único significado que ele podia ter, e emana uma ordem de missão, para acabar de vez com os resquícios fascistas e construir uma democracia do Povo e para o Povo, vê-se a braços, e de que maneira, com os inimigos desta dinâmica. E o grave é que isso aconteça dentro do próprio MFA particularmente após a queda de Spínola e do falhanço das forças conservadoras, militares e civis, que o acolitaram.
Os “Capitães de Abril” e a seus representantes - a Comissão Coordenadora do MFA - foram ainda firmes e coesos, quer no “golpe Palma Carlos”, em Julho, quer mais tarde no “golpe da maioria silenciosa”, em 28 de Setembro. Resistindo aos ímpetos dum projecto pessoal e de ganância de Poder, o MFA não só afasta e recusa os propósitos do General Spínola, como escolhe Vasco Gonçalves para a responsabilidade de chefiar o segundo e o terceiro Governos Provisórios, respectivamente a 18 de Julho e a 1 de Outubro de 1974. Em ambas as tomadas de posse Vasco Gonçalves reitera a decisão inabalável de cumprir escrupulosamente o Programa do Movimento e em entrevista, horas depois desse acto, é absolutamente claro ao afirmar: “A unidade entre o Povo e o MFA constitui condição fundamental do nosso progresso”.
Sabíamos de que Povo o General falava mas é pertinente questionarmo-nos: - e que se passava no seio do MFA? Interrogamo-nos em várias questões. Do MFA que não tinha falhado nas medidas e conquistas político-sociais, impulsionadas pelos governos de Vasco? Do MFA que fora imperturbável no processo, complexo e difícil, do início da descolonização, mesmo, e ainda, com Spínola? Não estavam com o pensamento de Vasco, alguns membros do MFA, que nunca entenderam que a descolonização não era uma dádiva mas sim uma conquista da Liberdade. Conquista marcada pela coragem dos Movimentos de Libertação e dos militares conscientes que queriam a Paz, que se recusaram a mais guerra e negaram os ímpetos do imperialismo.
O MFA, apesar das acções do órgão político-militar criado pelo MFA - a 5ªDivisão do EMGFA - de quem Vasco Gonçalves foi o primeiro chefe, das suas acções da Dinamização Cultural, das suas mais diversas e criativas formas de esclarecimento público, começava agora, para os revolucionários, a dar os primeiros sinais de vulnerabilidade, tal como dizia Vasco: ”…da incapacidade de o MFA revolucionário estender a sua influência a todas as Forças Armadas, do demissionismo, quantas vezes deliberado, de oficiais não afectos ao MFA, das dúvidas e receios de militares menos esclarecidos politicamente, cuja formação conservadora e tradicionalista os perturbava e tornava incompreensível o processo revolucionário e tendo neste aspecto um papel muito negativo as actividades provocatórias esquerdistas.” E não esquecendo, num xadrez mais alargado, a interacção/influência daquilo que o fascismo deixara implantado nas nossas terras, do caciquismo e do clero conservador e preconceituoso, do índice de analfabetismo que rondava os 33 % da população!
Vasco Gonçalves e o MFA, com o imperativo de salvar a economia, para salvar a revolução, enfrentam os disfarçados ataques do “capital” (quer nacional quer imperialista) que, sentindo-se a perder terreno, foram exímios na concretização dos mais ousados esquemas de destabilização e de quebra da unidade revolucionária.
Na evolução dos acontecimentos o núcleo duro do MFA (a sua Coordenadora comandada por Melo Antunes) deixa-se descompensar e perde em firmeza e coerência, aquilo que lhe oferecem em debilidade e inconsequência, na aspiração duma “velha aparente estabilidade de ordem externa” que jamais disfarçará uma “profunda desordem interna e mal-estar social”, absolutamente em contraste com um novo Portugal que se queria como sociedade mais justa e equilibrada. Esta trágica dinâmica, anti-revolução e anti-Vasco Gonçalves, infelizmente atravessou quatro décadas e chegou aos dias de hoje.
Bem se esforçou Vasco Gonçalves, e se esforçaram os revolucionários militares e civis,
para porem fim aos ataques á genuína “essência dos capitães de Abril” e ao cumprimento do seu programa. Vasco sabia bem e afirmava-o muitas vezes “não perder nos gabinetes e/ou pela mão dos militares conservadores o que já se conquistara no terreno”. Reforça-se, assim, a necessidade e a vontade da institucionalização do MFA. Nascem as Assembleias do MFA (AMFA) suscitadas pela positiva experiência da sua criação no processo de descolonização da Guiné-Bissau. Abre-se ainda mais o caminho para referida institucionalização.
Iniciam-se as conversações com os partidos para lhes comunicar o desejo da institucionalização e criar um “modus vivendi” com eles que fosse fiel às conquistas da revolução já alcançadas. O Pacto MFA-Partidos.
Vasco, a Dinamização Cultural e acção da Quinta Divisão empenham-se, ainda mais, em garantir a continuidade e desenvolvimento do processo revolucionário. Através do Boletim quinzenal do MFA, dirigido pela “Coordenadora” do MFA e corpo redactorial da 5ª Divisão, Vasco apela, como primeiro-ministro, à edição dum artigo de fundo, sob o título ”O MFA: do Politico ao Económico” em Novembro de 74. Sugere um apelo para a urgência de se tomarem medidas de carácter económico, lançar as bases para um efectivo controlo da actividade básica pelo Estado e da luta contra a sabotagem ainda vigente, criando condições que permitam melhorias da qualidade de vida dos portugueses e promovam o desmantelamento da base económica do fascismo. Contrariar a indiferença dos latifundiários às solicitações, do Governo e do MFA, para a realização de projectos de aproveitamento económico das terras.
Com a tentativa golpista do 11 de Março, despoletada novamente por Spínola e as suas hostes desesperadas, para fazer gorar a institucionalização do MFA, estes tudo precipitam. Opera-se a institucionalização do MFA, criando-se o Conselho da Revolução (CR) dois dias depois. No patamar económico-social são apontadas a necessidade de se tomarem as medidas mais revolucionárias: Planeamento, Nacionalizações e Reforma Agrária. Estas foram das primeiras medidas do neófito CR. Foram dados poderes a Vasco Gonçalves para formar a 4ª Governo Provisório que inicia suas funções a partir de 27 de Março. A reestruturação da banca nacionalizada, o controlo das empresas privadas pelo Estado, a criação do sistema de Planeamento, o prosseguimento da nacionalização dos sectores básicos e a reforma agrária, são as principais bases da agenda e programa deste governo.
Avança-se para eleições da “constituinte” e para o pacto: MFA-Partidos. Já referimos anteriormente o alcance deste Pacto “não perder prematuramente as conquistas alcançadas e tentar incluí-las na Constituição de 1976”. Embora houvesse consenso no MFA veio-se a confirmar que quem punha reservas às medidas revolucionárias mais tarde se constituiria no chamado “grupo dos nove”. Mas aos partidos de direita e incluindo o PS não interessaria divulgar tais reservas antes das eleições. Houve aqui um tacticismo eleitoralista. Após as eleições, com a vitória do Partido Socialista (PS) logo seguido pelo PPD, estes partidos procuraram atacar desabridamente Vasco Gonçalves e acabar com o processo revolucionário, agravando as condições que eram naturais entre os dois processos. Tudo serviu de pretexto. O processo revolucionário foi travado mas não completamente derrotado: as conquistas alcançadas durante o período mais criativo da revolução foram, efectivamente, todas consagradas na Constituição de 1976.
A partir das eleições, de 25 de Abril de 1975, o PS inicia acções e um comportamento nada conducente com o seu ideário socialista e promessas eleitorais, fomenta divisões entre sindicatos e trabalhadores e salienta-se como um dos principais aliados das forças contra-revolucionárias. O capital e os inimigos da revolução (sobretudo os que perderam privilégios) montam centrais de intriga, de intoxicação e de inquietação junto das populações. Faz-se crer que Vasco Gonçalves e o Partido Comunista (PCP) “são uma e a mesma coisa” e que pretendem controlar tudo. O anticomunismo primário sai à rua. Alarmam-se pessoas, sobretudo as menos esclarecidas com fantasmas e preconceitos.
Vasco Gonçalves chega a ter reuniões com Mário Soares e Álvaro Cunhal, mas sem sucesso. Procura-se uma plataforma de unidade estratégica entre si, Vasco Gonçalves e o MFA. Tenta institucionalizar a Aliança POVO-MFA avançando para o aprofundamento duma política de estímulo à participação popular, através das suas organizações e ao estreitamento das relações entre o MFA e estas estruturas.
Na própria Assembleia Constituinte os deputados do PS e dos partidos mais à direita atacam o Governo. Vasco Gonçalves e a corrente dos militares do MFA, mais à esquerda, tentam “superar as contradições partidárias” com a aprovação de documentos como o PAP – Plano de Acção Política e do Documento Guia da Aliança Povo-MFA. Embora este último, não reunisse grande consenso, é este Documento-Guia, com forte influência dos sectores radicais esquerdistas do MFA, que leva a saída dos ministros, do PS e do PPD, do 4º Governo. A gravosa situação só se regulariza em 8 de Agosto com o início dum novo Governo, com carácter efémero - o 5º Governo Provisório - cuja tomada de posse se realiza um dia depois da publicação do designado “Documento dos Nove” (que põe em causa Vasco Gonçalves e o MFA revolucionário) e também cinco dias antes do dito “documento de Oficiais do COPCON” (que procurando contrapor-se àquele documento, abre a porta a futuras posições de radicalismo contra Vasco e os militares da sua linha).
Porque os nove oficiais (4) do documento referido são todos do CR instala-se definitivamente uma cisão neste órgão. Na tentativa de a superar é ainda criado, nesta ocasião, um “pequeno directório” constituído por Gosta Gomes, Vasco Gonçalves e Otelo Saraiva de Carvalho. Mas estava aberta a contestação a Vasco Gonçalves já com alguns anteriores incidentes, não só por parte dos oficiais ditos moderados, como por parte de ministros do PS a quando do chamado caso (jornal) “República”.
O processo precipita-se no designado “Verão Quente” de 1975, com peripécias e distúrbios graves e diversos. A norte do país o então grupo contra-revolucionário (com civis e militares do fascismo) - MDLP – intenta acções terroristas destruindo sedes de partidos de esquerda e praticando vandalismos. Em finais de Agosto, as instalações da 5ª Divisão do EMGFA, são assaltadas pelo Regimento de Comandos às ordens de Otelo Saraiva de Carvalho, Comandante Operacional do Continente (COPCON. São capturados e destruídos documentos e gravações históricas. A culminar surge a divulgação dum documento “insultuoso” subscrito por Otelo a convidar de forma nada digna o abandono de Vasco Gonçalves de primeiro-ministro e a proibi-lo de entrar em quartéis.
É numa dita “Assembleia do MFA em Tancos” em 5 de Setembro de 1975, constituída por militares escolhidos “ad-hoc”, delegados intencionalmente seleccionados, que o MFA progressista e revolucionário se vê afastado do seu processo, ao decapitarem-lhe a sua cabeça, aquele que será sempre para nós (quer militares do MFA que o seguiam, quer para as populações que o estimavam e amavam) mais do que o General Vasco Gonçalves - o eterno Companheiro Vasco - timoneiro das mais singulares e valiosas conquistas que a nossa Associação Conquistas da Revolução (3) se constituiu para preservar, muito particularmente em sua homenagem e ao povo português que o mereceu- que mereceu este HOMEM, simples, íntegro e revolucionário, ao leme desta barca.
Passados mais de quinze anos Vasco Gonçalves dá uma longa entrevista, editada em livro em 2002 (1). É seu este excerto premonitório da situação que vivemos, agora em 2014:
“…já havia o objectivo de romper com aqueles militares que mais consequentemente apoiavam as aspirações populares e travar o aprofundamento da democracia…e digo isto passados tantos anos…porque desde a queda do 5º Governo Provisório temos vindo a assistir à reconstituição duma democracia política que convive bem com as limitações dos direitos sindicais e políticos dos trabalhadores, com a destruição do sector público da economia, com a destruição da reforma agrária, com a sucessão de pacotes de Leis cada vez mais gravosos para os trabalhadores que vão sendo aplicados à medida que a direita e a reacção ganham cada vez mais força”.
Em 2004,um ano antes de morrer, Nestor Kohan, professor e filósofo argentino, (2) faz a última entrevista que Vasco Gonçalves concede. O entrevistador, entusiasmado com o militar que veio encontrar, traça bem, na introdução, o perfil do general e da revolução, um pouco aquilo que todos nós sentimos, da qual retiramos excertos.
«… Vasco Gonçalves…(ao invés dos Generais que conheci é sem dúvida uma avis rara) fala pausadamente, de forma suave e calma. Tem os gestos amáveis e a atitude de um velho professor universitário. Dirige-se aos interlocutores com um ênfase pedagógico que não consegue dissimular. A Revolução dos Cravos foi atípica. Teve lugar na Europa Ocidental, precisamente quando se supunha que a revolução já estava fora da agenda. Precisamente quando nos restantes países europeus se abriam as flores murchas do eurocomunismo e da social-democracia (correntes que renunciavam a toda a rebelião radical… por princípios políticos) Portugal pôs na ordem do dia a questão do poder. Isto teve lugar em plena crise capitalista (1973-1974), quando o dólar e o petróleo sofreram um abanão mundial, liquidando o keynesianismo do pós guerra e abrindo caminho ao neoliberalismo.»
« Esta revolução realizada em plena guerra fria deslocava o papel tradicional das Forças Armadas europeias, especialistas na guerra contra- revolucionária nas colónias africanas e, ao mesmo tempo, peritas na contra-revolução e na tortura pelos militares latino americanos (Brasil, Argentina, Chile, etc.).A de Portugal foi uma revolução que questionava num mesmo movimento o vínculo imanente entre capitalismo, fascismo e colonialismo . Três formas de dominação que costumam apresentar-se na literatura política como se fossem fenómenos desligados entre si,»
«Em Novembro de 1975, um ano e meio depois do início da Revolução dos Cravos, as acções revolucionárias foram neutralizadas. Um golpe de estado de direita, um golpe contra-revolucionário saiu vitorioso. Foi instigado pelo Partido Socialista Português – Mário Soares como responsável civil –, pelos EUA, pela social-democracia internacional e pela Internacional Democrata Cristã.»
«A partir do triunfo da reacção de direita com máscara social-democrata, em Portugal tudo volta à “normalidade”… Isto é, ao capitalismo, à exploração e à obediência.»
«Vasco Gonçalves é hoje (2004) - diz-nos o entrevistador, um homem idoso, mas ainda se lhe incendeia o olhar com o brilho de um adolescente, quando fala da revolução que o teve como principal expoente das forças populares. Modesto e simples, sente-se surpreendido quando uma humilde camponesa, mais velha que ele, vestida de negro da cabeça aos pés, se aproxima para lhe acariciar a cara, expressar-lhe a sua admiração e sentar-se com ele como se fosse um filho.»
Mas é nesta, última entrevista da sua vida, feita a Nestor Kohan que Vasco diria: “penso que hoje não há espaço para uma “terceira via”. A experiência do passado e do presente demonstra-nos que a “terceira via” caminha sempre para a direita, caminha sempre num rumo reformista do capital, para a ideia de uma suposta “reforma do capital”. Não se trata de alcançar um capitalismo reformado sem superar o capitalismo. O capitalismo não é reformável, porque as relações sociais nas quais se baseia, e sem as quais não pode sobreviver, são intrinsecamente injustas e de exploração do homem pelo homem. A “terceira via” não persegue conquistas profundas nas estruturas económicas e sociais. Basta olhar a Inglaterra, a França e a Alemanha para corroborá-lo. Jospin em França, Schroeder na Alemanha e Blair na Grã-Bretanha adoptaram na prática políticas neoliberais e de privatizações. Todos os que pretendem colocar-se entre o capitalismo e o socialismo, no final acabam por adoptar políticas neoliberais.”
Dez anos depois tudo se agravou com Hollande, com Merkel, com Cameron e com outros. Ao comemorarmos 40 anos do 25 de Abril e 40 anos da tomada de posse de Vasco Gonçalves, como primeiro-ministro, estão os portugueses conscientes da diferença entre o que se conseguiu em 1974 (e no ano seguinte) e o que não se consegue em 2014, entre o que se conquistou com Abril e o que tem sido destruído com Novembro (e desde Novembro) e com as tóxicas políticas neoliberais dos dias de hoje.
Por isso “companheiro Vasco” se é com muita saudade que te recordamos é ainda com a tua voz nos nossos corações que manteremos alento a prosseguir na tua luta que é, e será sempre, a nossa luta. Como sempre disseste: «Há que lutar, no dia-a-dia, por reformas cujo conteúdo contraria a lógica do pensamento único, dominante, a pretensão ao domínio universal dos interesses de um restrito conjunto de forças económicas»
Quisemos e construímos este passado com Vasco e ele connosco. Abrem-se de novo presente e futuro, generosos e amplos, em tempos de defesa e de luta pelas conquistas da revolução. Com Vasco timoneiro vamos continuar. Vasco sempre.
“Vasco sempre.” “Vasco nome de Abril…Continuas vivo e presente.”
*M. Duran Clemente, Coronel Ref. - “capitão de Abril, cronista, autarca e associativista”.
Dirigente da Associação Conquistas da Revolução e Membro da Presidência do CPPC.
(1) -“Vasco Gonçalves — um General na Revolução”, Entrevista de Maria Manuela Cruzeiro, Outubro de 2002.
(2)-“Vasco Gonçalves-Entrevista de Nestor Kohan para Rebeliona/Accion, em Outubro de 2004.
(3)- “Tudo já foi dito e tudo resta para dizer do Companheiro Vasco, … – pelo seu exemplo, pela sua obra, pelo seu pensamento - quisemos, inicialmente, que o seu nome fosse o nome da nossa Associação – o que só não aconteceu por obstáculos impossíveis de superar ….”. Declaração dos princípios justificativos da criação da Associação Conquistas da Revolução em 2011.
(4)-“Grupo dos Nove”: Melo Antunes, Vasco Lourenço, Pezarat Correia, Franco Charais, Canto e Castro, Costa Neves, Sousa e Castro, Vítor Alves, Vítor Crespo.
……………………………………………………………………
Homenagem ao General Vasco Gonçalves.
Comunicação feita no Porto em 7 de Abril de 2014.
Fonte: odiário.info
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via publico.pt
Vasco Gonçalves numa reunião decisiva para o 25 de Abril
http://www.publico.pt/multimedia/video/vasco-goncalves-numa-reuniao-decisiva-20140428-221543A 8 de Dezembro de 1973, o ex-primeiro-ministro Vasco Gonçalves (1921-2005), então com a patente de coronel, participa numa reunião decisiva para o golpe militar de 25 de Abril do ano seguinte. Extracto de uma entrevista realizada pela investigadora Manuela Cruzeiro no âmbito do projecto de história oral O 25 de Abril contado pelos seus protagonistas, concretizado pelo Centro de Dociumentação 25 de Abril, entre 2001 e 2009.
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Eugénio de Andrade faz poema:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10203229335287537&set=a.1326347812112.44404.1633435684&type=1&theater
O COMUM DA TERRA (A VASCO GONÇALVES)
Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
de cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem,
vento areias mastros lábios, tudo ardia.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
de cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem,
vento areias mastros lábios, tudo ardia.
Eugénio de Andrade
(Via Zinda R)
**************Via blogue
http://flemingdeoliveira.blogspot.pt/2014/04/um-dia-de-trabalho-para-nacao-em.html
segunda-feira, 28 de Abril de 2014
UM DIA DE TRABALHO PARA A NAÇÃO EM ALCOBAÇA (1975)
UM DIA DE TRABALHO PARA A NAÇÃO EM ALCOBAÇA (1975)
Fleming de Oliveira
Na sequência do 28 de setembro de 1975, Vasco Gonçalves propôs que as “massas (...)façam do próximo domingo, uma jornada de trabalho nacional, comemorando a vitória que acabámos de obter”.
O produto desse dia de trabalho teria o destino que decidisse “a consciência revolucionária dos trabalhadores”. Mas o Ministro do Trabalho, Maj. Costa Martins, segundo se disse com insistência, beneficiou pessoalmente da respetiva receita.
Em 15 de janeiro de 1976, na Assembleia Constituinte, foi acusado pelo deputado António Arnaut, PS, de se ter apropriado indevidamente de dinheiro proveniente da campanha “Um dia de Trabalho!:
1.- Tendo tomado conhecimento, através da imprensa, que o antigo Ministro do Trabalho, ex-Major Costa Martins, desertor das forças armadas, teria depositado, na Caixa Geral de Depósitos, e em seu nome pessoal, a quantia de 80 000 000$00 produto da campanha Um dia de trabalho, patrocinada pelo General da reserva Vasco Gonçalves;
2.- Constando que além daquela avultada soma, o dito ex-Ministro teria levantado da referida conta mais 3 500 000$,00 de modo a apresentar ela correspondente saldo negativo, o que, a ser exato, envolve grave irregularidade daquela instituição;
3.- Sendo voz pública que o mesmo ex-Ministro se encontra refugiado na Embaixada de Cuba, sem que esta, que se saiba, tenha informado o Governo do facto, contrariando a praxe internacional.
Requeiro ao Sr. Primeiro-Ministro, nos termos do artigo 6.º, n.º 9, do Regimento da Assembleia Constituinte, se digne informar-me:
a)- Se é verdade que o indicado ex-Ministro do Trabalho depositou na Caixa Geral de Depósitos, em seu nome pessoal, a quantia de 80 000 contos, ou qualquer outra, e qual o saldo atual da respetiva conta:
b)- Se está em curso o consequente inquérito e quais as conclusões já apuradas;
c)-Se o Governo sabe do paradeiro do controverso político-militar e, designadamente, se a Embaixada de Cuba prestou alguns esclarecimentos em face dos rumores correntes de ele ali se encontrar.
Foi o famigerado caso do “Dia do Salário para a Nação”, que esteve durante cerca de16 anos nos Tribunais.
Nesse Domingo, a ALTICOR, Ldª. de Altino Ribeiro também trabalhou, mas este disse claramente aos trabalhadores que não estava de acordo com a iniciativa, pelo que cada um daria o destino que bem entendesse ao salário desse dia, não esperando que a empresa o fizesse por eles.
Assim, tanto quanto se recorda Altino Ribeiro que me contou o episódio, nenhuma quantia foi dali remetida com esse destino. Foi aliás nesse domingo, que populares de Alpedriz, tomaram a iniciativa de por sua iniciativa, aliás estúpida, de destruir à picareta, a velha capelinha, que no tempo das invasões francesas fora utilizada pelo exército invasor como estrebaria e alojamento de soldados.
No domingo 6 de outubro, outros alcobacenses aderiram porém à sugestão do Primeiro-Ministro, Brigadeiro (graduado) Vasco Gonçalves, de trabalhar nesse dia.
Esse domingo, nem parecia domingo, pois havia bastantes lojas de portas abertas. Muitos que não estavam de acordo com esta demagógica iniciativa, por receio de represálias sociais, foram trabalhar.
Quando não era possível fazer-se o trabalho habitual, faziam-se outras coisas. Na Escola Secundária de Alcobaça, os professores foram com funcionários e alunos apanhar maçãs que, depois de pesadas, somaram trinta e sete quilos, que repartiram deixando os alunos de fora. No Externato D. Afonso Henriques, podaram-se as plantas do pátio e arranjaram-se os canteiros. Na Escola Preparatória, (a funcionar na Ala Sul do Mosteiro), alunos orientados por professores procederam caiações no interior e no exterior, limpeza da chamada Fonte Luminosa e Adro do Mosteiro.
COMENTEI ASSIM:
Discordamos +1x...
Este tom de denegrir o PREC...
A história provou a inocência da atoarda contra Costa Martins!!!
Nada aqui está!
Tb não está a estória estranhíssima como ele morreu...
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avante 17 de junho de 2010
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avante 17 de junho de 2010
Vasco Gonçalves, o general do povo
Vasco Gonçalves faleceu a 11 de Junho de 2005. A direita portuguesa – incluindo a direcção do Partido Socialista – esforçou-se nos cinco anos transcorridos desde o seu desaparecimento físico por lhe apagar o nome da História.
Porquê? Precisamente porque o general Vasco Gonçalves deixou marcas profundas na Revolução de Abril, sabotada e destruída pelas forças da reacção, com a cumplicidade activa do Partido Socialista.
Encastelada no poder, a burguesia não esqueceu que o general, na sua breve passagem pelo Governo, apenas 15 meses, contribuiu decisivamente para que o povo português construísse História profunda, realizando como sujeito conquistas revolucionárias que impuseram o País ao respeito da humanidade progressista. É portanto natural que o mesmo governo que decretou luto nacional pela morte de uma vidente de Fátima tenha ignorado a do soldado revolucionário.
Foi indecorosa a atitude de Sócrates e sua gente. Mas não atingiu o objectivo. Vasco Gonçalves não foi esquecido; permanece no coração do povo português.
O general e o MFA
No livro-entrevista «Vasco Gonçalves – um general na Revolução», Manuela Cruzeiro evoca o sentimento de felicidade do soldado de 52 anos quando ruiu o fascismo.
«Quando aderi ao Movimento dos oficiais – esclarece – acreditei que poderia vir a desempenhar um papel destacado».
O sentimento do colectivo, enraizado num patriotismo pouco comum, facilita a compreensão de comportamentos assumidos por este militar atípico ao longo do processo revolucionário, atitudes muitas vezes mal interpretadas, não obstante elas reflectirem uma coerência exemplar.
Não sendo comunista tinha adquirido um conhecimento dos clássicos do marxismo que lhe proporcionou uma compreensão científica da História que, na prática da vida militar, se traduzia numa consciência da necessidade de formar «homens responsáveis» e paralelamente num sentimento de solidariedade com o seu povo, vítima como os das colónias de um sistema monstruoso.
Admito que somente as próximas gerações terão condições, com o distanciamento temporal, de situar sem paixão na História o papel que o cidadão, o soldado, o intelectual e o estadista cumpriram na Revolução Portuguesa.
Vasco Gonçalves cedo aprendeu a avaliar o significado e as limitações da intervenção do indivíduo na História.
É transparente a sua amargura ao meditar sobre a mesquinhez, a mediocridade, a ambição, a deslealdade, o medo do povo que em instantes decisivos contribuíram para inflectir o rumo da Revolução.
Cedo tomou consciência de evidências que a milhões de portugueses passaram despercebidas. Um exemplo: «O MFA – sublinha na entrevista a Manuela Cruzeiro – não era um movimento revolucionário (…) não tinha ao princípio, no seu horizonte, uma revolução social».
Foi a irrupção torrencial das massas, tomando as ruas, na jornada do 25 de Abril, que abriu as portas à aliança Povo-MFA, imprimindo ao processo um rumo não previsto. E lembra que «no próprio dia 25 de Abril, o MFA ainda se dirigiu ao Tomás como Sua Excelência o Presidente da República e ao Marcelo como Sua Excelência o Presidente do Conselho».
É muito negativa a opinião que transmite de Mário Soares, como homem e político. Quase sem recorrer a adjectivos, esboça o perfil de um político ambicioso, sem princípios nem convicções.
Comentando o papel que o ex-presidente da República desempenhou como ministro dos Negócios Estrangeiros, Vasco Gonçalves conclui que ele «não deu uma imagem fiel do MFA (…) e, nas suas frequentes viagens ao estrangeiro, aproveitava para desenvolver acções coordenadas com a social-democracia internacional, as quais, quanto a mim – sublinha – nunca eram úteis, no mínimo à consolidação do processo revolucionário» (págs. 147 e 148).
Mas que se poderia esperar de um político que, recentemente, enalteceu a contribuição de Frank Carlucci – o ex director da CIA – para «a instauração da democracia em Portugal» (pág. 267).
A serenidade e eticismo de Vasco Gonçalves estão aliás omnipresentes nas atitudes que assumiu sempre no seu relacionamento com os seus camaradas do MFA no período revolucionário e posteriormente quando, transcorridos anos, foi chamado a pronunciar-se sobre acontecimentos cujo dramatismo reflectiu a ruptura da unidade do Movimento que tornara possível o 25 de Abril.
Citarei apenas um exemplo. Esse eticismo transparece de maneira límpida nas páginas dedicadas às movimentações de carácter conspirativo que desembocaram no Documento dos Nove. Não guardou rancores, mas nas opiniões que, já no século XXI, emitiu sobre Melo Antunes, o camarada do MFA que mais admirava, não transparece o mais leve vestígio de animosidade pessoal.
«O Melo Antunes, sublinha no seu depoimento, era sem dúvida entre os meus camaradas o militar com maiores conhecimentos políticos, mais leituras, mais reflexão».
Convidado a pronunciar-se sobre a actuação dele antes e após o 25 de Novembro, dá ênfase à coerência do líder dos Nove:
«Ele não mudou de ideias ou de posição, no fundamental, entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro. Era um homem sinceramente de esquerda (à esquerda do PS), era um patriota, um anticolonialista convicto».
Mas visões diferentes da História teriam, inexoravelmente, de os distanciar.
«Melo Antunes – são palavras suas – pretendia caminhar como que por uma terceira via, mas a experiência tem demonstrado que essa via é o caminho da social-democracia para a direita».
Uma certeza me ficou de muitas horas de conversa com Vasco Gonçalves sobre a Revolução Portuguesa. Ninguém como ele conseguiu até hoje descer tão fundo na análise do comportamento e das motivações da parcela do corpo de oficiais do MFA, o movimento heterogéneo que concebeu e organizou o golpe militar do 25 de Abril, espoleta da Revolução Portuguesa.
O apaixonado pela História
Tive o privilégio de manter uma relação de sólida amizade com Vasco Gonçalves durante três décadas.
Não sendo comunista, não ocultava a sua adesão ao materialismo histórico. Recordo que um dia, na viragem do milénio, me chamou a atenção para trabalhos de Rosa Luxemburgo por os considerar úteis para a compreensão do oportunismo dos falsos renovadores do marxismo, herdeiros das bolorentas teses de Edward Bernstein e Kautsky.
Não se limitara a folhear «O Capital» como a maioria dos intelectuais de esquerda. Estudara a obra de Marx, de Engels, de Mao Tse, de Gramsci, lera marxistas latino-americanos como Mariategui, Caio Prado Júnior, Che Guevara.
Em Serpa, no I Encontro Civilização ou Barbárie, conheceu o húngaro Istvan Meszaros e o francês Georges Labica e recordo que a sua comunicação naquele evento mereceu palavras de grande apreço desses filósofos de prestígio mundial.
Militar, engenheiro, revolucionário, Vasco Gonçalves tinha paixão pela História que, tal como Lucien Febvre, considerava a mãe das ciências.
O interesse que manifestava em conhecer revolucionários e intelectuais que de algum modo tinham sido protagonistas de acontecimentos históricos inseria-se na sua perspectiva histórica.
Fidel Castro admirava-o e atribuiu-lhe a mais alta condecoração cubana, a Ordem de José Martí. Raul Castro foi seu amigo pessoal. Pedro Pires, companheiro de Amílcar e actual Presidente da República de Cabo Verde, convidou-o, quando primeiro-ministro, a pronunciar conferências na Cidade da Praia.
Recordo conversas de Vasco Gonçalves com o historiador britânico Basil Davidson, com o dirigente comunista boliviano Simon Reyes, e com Darcy Ribeiro, o fundador da Universidade de Brasília, quando os recebeu em sua casa.
No final do encontro com o primeiro, o general procurou na estante um livro do autor de Old Africa Rediscovered, pediu-lhe que o autografasse e na despedida fez uma confidência: «A sua visita é uma honra para mim. Não era fácil durante o fascismo obter os seus livros. Mas consegui e aprendi muito lendo o que escrevia sobre o colonialismo».
Simón Reyes, que na véspera o saudara num comício, na Voz do Operário, como «General del Pueblo», informou que um livro do general de crítica à Doutrina de Segurança Militar dos EUA aplicada nas Forças Armadas Portuguesas fora traduzido na Bolívia pelo Partido Comunista e circulara durante uma campanha eleitoral.
Quando Simón, então secretário-geral da Central Obrera Boliviana, expressou a sua satisfação por o ter conhecido, o general interrompeu-o:
«Não diga isso. O senhor é um herói da América Latina. Pode ser um civil, mas combateu de armas na mão à frente dos mineiros do seu país. Sinto-me pequeno junto de si…»
Henri Alleg e Vasco Gonçalves tinham um pelo outro um apreço que se transformou em amizade. Sempre que o autor de «A Questão» vinha a Portugal, o general reunia em sua casa um grupo de amigos, a maioria militares de Abril, e durante horas, no seu apartamento da Avenida dos EUA, a conversa tinha como tema o último livro do escritor.
O intelectual militante
Vasco Gonçalves tinha horror da pequena política. Mas ao deixar o Governo e passar à Reserva como militar, e depois à Reforma, não abandonou a política, tal como a concebia ao serviço da ideia da revolução social.
Grande tribuno, desenvolveu uma oratória inconfundível, um estilo de comunicação com a massa que empolgava os auditórios. Esclarecendo, emocionava e comovia pela autenticidade. Os portugueses progressistas sentiam que Vasco Gonçalves mantinha intacta a sua fidelidade aos princípios que defendera no Governo, ao projecto de sociedade inviabilizado pela contra-revolução.
Caluniado pelos partidos da burguesia e pelo imperialismo, oCompanheiro Vasco – como lhe chamavam – foi até ao fim o revolucionário que contribuiu decisivamente para a criação do salário mínimo, para as nacionalizações, a criação de condições que permitiram conquistas como o 13.º e o 14.º salários, o defensor da Reforma Agrária, o soldado que soube responder com dignidade a todas as pressões e ameaças do imperialismo.
O lançamento, na sede da Associação 25 Abril, da Comissão Nacional de Solidariedade com o povo da Venezuela Bolivariana terá sido uma das suas últimas intervenções públicas. Foi então o orador principal e a sua comunicação a melhor e a mais aplaudida.
Antes do chamado Referendo Revogatório, enviou a Hugo Chavez um DVD com uma mensagem de apoio – um pequeno filme que foi exibido em Caracas.
O patriota
A defesa da soberania nacional foi uma constante na política externa de Vasco Gonçalves quando primeiro-ministro.
É do domínio público a atitude digna que o general assumiu quando o presidente Gerald Ford, com arrogância, se lhe dirigiu em termos inaceitáveis, exibindo um anticomunismo primário. Anos depois foram divulgadas nos EUA declarações de Henry Kissinger, reproduzidas pelo Diário de Notícias, nas quais o ex-secretário de Estado reconhece a firmeza de carácter do então primeiro-ministro português, por ele definido como interlocutor muito difícil.
Aliás, já afastado do governo, Vasco Gonçalves demonstrou permanentemente o seu patriotismo. Em actos públicos realizados em Portugal e no estrangeiro e em ensaios e artigos que obtiveram ampla divulgação, combateu com firmeza o espírito de vassalagem do PS e do PSD nas relações com os EUA e com as estruturas de poder da União Europeia.
Mais de uma vez o ouvi comentar com indignação a tendência desses governos para minimizar o significado de datas ligadas a grandes acontecimentos da nossa História.
O feriado do 1.º de Dezembro, por exemplo, incomoda essa gente. Foi um exército improvisado, saído do povo, que durante 28 anos defendeu as fronteiras portuguesas das ofensivas da Espanha que era então, com a França, a primeira potência militar da Europa e expulsou do Brasil a Holanda, ao tempo a primeira potência naval e financeira do mundo.
Vasco Gonçalves tinha consciência de que o universal parte do particular, como dizia André Gide, e costuma recordar Fidel Castro. O general sabia que o internacionalismo não é incompatível com a defesa dos valores nacionais e que não pode abdicar deles sem se desvirtuar. A preservação das culturas é inseparável do progresso da humanidade, não pode ser confundida com o nacionalismo obscurantista de raiz fascista.
Nestes dias em que intelectuais portugueses desfraldam mais uma vez a esfarrapada bandeira do iberismo e não hesitam em sugerir a transformação de Portugal numa espécie de região autónoma da Espanha, é oportuno recordar que Vasco Gonçalves identificou sempre na Revolução democrática e nacional de 1383-85 um acontecimento maravilhoso da nossa história.
Um dos mais belos trabalhos de Vasco Gonçalves é na minha opinião o ensaio que escreveu sobre Aljubarrota – estudo sobre a formação do exército popular que nos campos de Aljubarrota garantiu a continuidade de Portugal ao derrotar a cavalaria feudal espanhola e a grande nobreza de Portugal aliada a D. João de Castela (tal como o alto clero) garantindo a continuidade de Portugal – e foi publicado num Suplemento de o diário e posteriormente reproduzido pelo semanário Diário do Alentejo, e divulgado por revistas Web da América Latina.
Repito: é compreensível a hostilidade da burguesia portuguesa a Vasco Gonçalves.
Ele foi, com Álvaro Cunhal, um dos grandes portugueses do século XX. A sua intervenção na História ficou assinalada por mudanças revolucionárias que deixaram marcas indeléveis.
As forças do grande capital não podem perdoar-lhe a tenacidade com que – segundo as suas palavras – levou à prática ideias que tinha abraçado ao longo de toda a vida. Ideias que respondem a aspirações eternas do homem e que, por isso mesmo, não podem ser destruídas. Sufocadas pelos inimigos do progresso, elas voltarão a germinar.