Nasceu a 9abril1942
morreu a 16out1982
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Ary dos Santos sobre Adriano:
https://www.facebook.com/151447631654781/photos/a.151456491653895.33171.151447631654781/806965092769695/?type=3&theater
MEMÓRIA DE ADRIANO
“Nas tuas mãos tomaste uma guitarra.
Copo de vinho de alegria sã
Sangria de suor e de cigarra
que à noite canta a festa da manhã.
Foste sempre o cantor que não se agarra
O que à Terra chamou amante e irmã
Mas também português que investe e marra
Voz de alaúde e rosto de maçã.
O teu coração de oiro veio do Douro
num barco de vindimas de cantigas
tão generoso como a liberdade.
Resta de ti a ilha de um Tesouro
A jóia com as pedras mais antigas.
Não é saudade, não! É amizade.”
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cantou este poema do António Gedeão: FALA DO HOMEM NASCIDO
uma das poucas canções que sei de cor
Venho da terra assombrada
Do ventre da minha mãe.
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui.
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci.
Trago boca pra comer
E olhos pra desejar.
Tenho pressa de viver
Que a vida é água a correr.
Tenho pressa de viver
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo
Não tenho tempo a perder.
Minha barca aparelhada
Solta o pano rumo ao Norte.
Meu desejo é passaporte
Para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
Nem marés que não convenham.
Nem forças que me molestem
Correntes que me detenham.
Quero eu e a natureza
Que a natureza sou eu.
E as forças da natureza
Nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença
Mesmo morto hei-de passar.
Não há poder que me vença
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.
Venho da terra assombrada
Do ventre da minha mãe.
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui.
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci.
https://www.youtube.com/watch?v=a-XMuSaXtBc&feature=share&list=RDa-XMuSaXtBc
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as melhores
https://www.youtube.com/watch?v=Wk-Z50LzZlg&index=4&list=PL44722233117AF36C
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(Avintes, 9 de Abril de 1942 – 16 de Outubro de 1982)
Morreu aos 40 anos o cantor militante do Partido Comunista que uma vez apanhado por um jornalista a fumar charuto num bar e que o provocou com ironia: “Então você a fumar charuto, o símbolo do capitalismo?” respondeu: “Luto precisamente para que todos possamos fumar charuto.”
Nascido no Porto a 9 de Abril de 1942, morreu cedo de mais: apenas 40 anos depois, em Avintes, a mesma localidade que o viu crescer. Mas, se foi breve demais esta vida, não foi vivida em vão.
Em Coimbra, para onde foi estudar Direito, em 1959, deparou-se com uma intensa actividade estudantil e cultural. Ainda «caloiro», iniciou-se no teatro e na música. Com grande sensibilidade para a poesia e para a música popular e dotado de um timbre de voz único e de uma emoção intensa, que colocava em todos os temas que interpretava, iniciou uma carreira musical própria, juntamente com alguns dos compositores e músicos que o acompanhariam durante toda a sua vida. Em 1960, grava o seu primeiro disco, com o título "Noite de Coimbra".
É também em Coimbra que toma contacto com o forte movimento antifascista estudantil, ao qual adere desde a primeira hora. Também em Coimbra, junta-se ao PCP, o seu partido de sempre e para sempre. Na sua música, da sua extrema emotividade, está sempre presente a sua dedicação aos trabalhadores, ao povo, aos ideais da liberdade, da democracia, do socialismo.
Entre 1960 e 1980, grava mais de noventa temas, que constituíram aquela que é uma das mais ricas obras musicais do século XX português. Antes e depois do 25 de Abril percorre o País e o mundo com a sua voz, carregada de esperança, em espectáculos musicais ou em sessões e comícios do seu Partido. Morreu em Avintes, em Outubro de 1982. Tinha 40 anos. (delta3.no.sapo)
É o homem com melhor voz da música popular portuguesa, dizia Arnaldo Trindade, patrão da Editora Orfeu e que o recorda como alguém “bem disposto e amigo de toda a gente.”
Frequentou o Curso de Direito em Coimbra que nunca concluiu mas manteve sempre uma vida cultural e social muito activa: cantou no Orfeão Académico, fez teatro, jogou voleibol e chegou a concorrer para as eleições para a Associação Académica.
O livro “Adriano Correia de Oliveira – Um Trovador da Liberdade” de Mário Correia editado em Fevereiro retrata a vida e a obra do cantor.
“Trova do Vento que Passa”, “Cantar de Emigração”, “Tejo que Levas as Águas” são canções intemporais. Esquecer Adriano, adverte José Marino, Director Adjunto da Antena 3 “seria um injusto desperdício de talento sublime e irrepetível”. (memórias futuras)
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Helena Pato escreveu assim:
Recordo o ADRIANO
Durante a Resistência, Adriano deu voz ao povo e, acima de tudo, entregou ao povo o seu destino. Cantava em convívios de anti-fascistas, sempre com um sorriso doce e a generosidade das boas almas. «Venho dizer-vos que não tenho medo». Se calhar tinha. Tínhamos todos.
Conheci o Adriano em Coimbra, por 1963.
A ida do CITAC (Grupo de Teatro de Coimbra) a Paris, em 1964, quando me encontrava no exílio, é um marco pessoal inesquecível da minha ligação com a Resistência ao fascismo. Em Paris, numa noite fresca – apesar de Agosto – depois do espectáculo, fomos em grupo para junto do Sena, num clima de emoções e solidariedades. Foi aí que ficou inscrita, nas pedras do cais – tenho a certeza – a voz já inconfundível (mas ainda pouco conhecida) do Adriano Correia de Oliveira.
Ao alvorecer, ele, com a guitarra colada ao peito e a cabeça inclinada para os céus, tão ao seu jeito, ergueu a sua portentosa voz, projectando-a por cima de um coro de dezenas de exilados e de jovens actores, que cantavam em uníssono a canção de José Afonso:
Ergue-te ó sol de verão! / Somos nós os teus cantores/ Da matinal canção/ouvem-se já os rumores/ ouvem-se já os clamores/ouvem-se já os tambores…
Para mim, era o Adriano, levando-nos a esperança dele e do Zeca num qualquer Abril.
Essa noite, toda a noite, foi feita de ternura, de companheirismo e de cumplicidade. E, como se isso não bastasse para reacender o ânimo desses exilados e nos deixar com um peculiar sabor a pátria, era já manhã quando os acompanhámos à gare de Orléans-Austerlitz. Sem nos lembrarmos das horas dos nossos empregos, sem fome, sem sono, mas com os olhos quase fechados, o corpo pesado e uma dor aguda no peito. Sucediam-se os abraços e os beijos. Não nos largávamos, e era tão forte a corrente de solidariedade, que, nas janelas entreabertas do Sud Express, as mãos de quem partia e as de quem ficava pareciam coladas. Foi então que um dos elementos do CITAC (o PC que vestia capa e batina e misturava restos de bebedeira com muitas lágrimas), perante a preocupação geral com a ausência de um dos rapazes do grupo (o VC), gritou sem parar e a plenos pulmões: «Eu já sabia que ele ia ficar, ele fica, ele fica, não o procurem, ele não regressa, ele não quer ir à guerra! Fica por Paris! Tomem conta dele, por cá, amigos!» Esse ficou. Noite memorável: não encontro melhor retrato dos amargos tempos do exílio. O Adriano e o CITAC foram a nossa Pátria por umas horas.
A ida do CITAC (Grupo de Teatro de Coimbra) a Paris, em 1964, quando me encontrava no exílio, é um marco pessoal inesquecível da minha ligação com a Resistência ao fascismo. Em Paris, numa noite fresca – apesar de Agosto – depois do espectáculo, fomos em grupo para junto do Sena, num clima de emoções e solidariedades. Foi aí que ficou inscrita, nas pedras do cais – tenho a certeza – a voz já inconfundível (mas ainda pouco conhecida) do Adriano Correia de Oliveira.
Ao alvorecer, ele, com a guitarra colada ao peito e a cabeça inclinada para os céus, tão ao seu jeito, ergueu a sua portentosa voz, projectando-a por cima de um coro de dezenas de exilados e de jovens actores, que cantavam em uníssono a canção de José Afonso:
Ergue-te ó sol de verão! / Somos nós os teus cantores/ Da matinal canção/ouvem-se já os rumores/ ouvem-se já os clamores/ouvem-se já os tambores…
Para mim, era o Adriano, levando-nos a esperança dele e do Zeca num qualquer Abril.
Essa noite, toda a noite, foi feita de ternura, de companheirismo e de cumplicidade. E, como se isso não bastasse para reacender o ânimo desses exilados e nos deixar com um peculiar sabor a pátria, era já manhã quando os acompanhámos à gare de Orléans-Austerlitz. Sem nos lembrarmos das horas dos nossos empregos, sem fome, sem sono, mas com os olhos quase fechados, o corpo pesado e uma dor aguda no peito. Sucediam-se os abraços e os beijos. Não nos largávamos, e era tão forte a corrente de solidariedade, que, nas janelas entreabertas do Sud Express, as mãos de quem partia e as de quem ficava pareciam coladas. Foi então que um dos elementos do CITAC (o PC que vestia capa e batina e misturava restos de bebedeira com muitas lágrimas), perante a preocupação geral com a ausência de um dos rapazes do grupo (o VC), gritou sem parar e a plenos pulmões: «Eu já sabia que ele ia ficar, ele fica, ele fica, não o procurem, ele não regressa, ele não quer ir à guerra! Fica por Paris! Tomem conta dele, por cá, amigos!» Esse ficou. Noite memorável: não encontro melhor retrato dos amargos tempos do exílio. O Adriano e o CITAC foram a nossa Pátria por umas horas.
Algum tempo depois da gravação, em 1963, do álbum «Trova do Vento que Passa», Adriano Correia de Oliveira comentou: «Foi a partir do acolhimento dessa canção que comecei a sentir que estava do lado justo, do lado antifascista». De facto, na Resistência, Adriano deu voz ao povo, aonde estava o povo. Cantava em convívios de anti-fascistas, sempre com um sorriso doce e a generosidade das boas almas.
Depois da Revolução, ouvimos-lhe o canto, durante alguns anos. Até ao seu fim. Cantou para além da dor. Até ao limite da sua força física. Para além da vida.
Cá por casa, fomos cúmplices nos copos, na festa e nas alegrias. Sofremos, com ele, amarguras, desilusões e afectos. No seu último Agosto partilhou com o meu filho o quarto e o sol da nossa casa na Praia da Rocha. Há poucos dias, comovi-me com um poema recente do Manuel Alegre e veio-me a memória desse Verão com o Adriano:
Depois da Revolução, ouvimos-lhe o canto, durante alguns anos. Até ao seu fim. Cantou para além da dor. Até ao limite da sua força física. Para além da vida.
Cá por casa, fomos cúmplices nos copos, na festa e nas alegrias. Sofremos, com ele, amarguras, desilusões e afectos. No seu último Agosto partilhou com o meu filho o quarto e o sol da nossa casa na Praia da Rocha. Há poucos dias, comovi-me com um poema recente do Manuel Alegre e veio-me a memória desse Verão com o Adriano:
«Nos seus olhos havia desamparo
e mais que desamparo havia perda
e mais que perda havia um espaço em branco
ou talvez a cor do nada, a cor de quem
está para além da própria dor. Levava
uma menina pela mão
e nos seus olhos então sobre a amargura
de repente havia também ternura».
e mais que desamparo havia perda
e mais que perda havia um espaço em branco
ou talvez a cor do nada, a cor de quem
está para além da própria dor. Levava
uma menina pela mão
e nos seus olhos então sobre a amargura
de repente havia também ternura».
Pouco depois, em Outubro, a esperada notícia.
«O Adriano morreu, mãe! Porquê?» – Vi os olhos rasos de lágrimas numa criança com 12 anos, que não percebia porquê. Quem lhe tirava para sempre um amigo? (ele, o Adriano, a quem dera ingénuos conselhos, como a um pai). A morte saltava-lhe, pela primeira vez, dos textos abstractos dos livros da escola.
«O Adriano morreu, mãe! Porquê?» – Vi os olhos rasos de lágrimas numa criança com 12 anos, que não percebia porquê. Quem lhe tirava para sempre um amigo? (ele, o Adriano, a quem dera ingénuos conselhos, como a um pai). A morte saltava-lhe, pela primeira vez, dos textos abstractos dos livros da escola.
Vim para longe, mas estarei sempre convosco – sussurra-me agora, nas horas de trevas, calando-me saudades de velha chorincas. E daí, de um lugar de memória a que só raros estão destinados, chega-nos, uma brisa que nos perpassa, neste Abril:
«Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não».
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não».
Texto escrito para uma homenagem em Mira (Abril de 2010)
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https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/10/16-de-outubro-de-1982-morre-adriano.html
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16 de Outubro de 1982: Morre Adriano Correia de Oliveira
Adriano
Correia de Oliveira nasceu no dia 9 de Abril de 1942 no Porto e
faleceu a 16 de Outubro de 1982 em Avintes. Tirou o curso do liceu no
Porto. Em Avintes iniciou-se no teatro amador e foi co-fundador da União
Académica de Avintes. Em 1959 rumou a Coimbra, onde estudou Direito,
tendo sido repúblico na Real Repúbica Ras-Teparta. Fez parte do Grupo
Universitário de Danças e Cantares e do Círculo de Iniciação Teatral da
Académica de Coimbra. Tocou guitarra no Conjunto Ligeiro da Tuna
Académica.
Em
1963 saiu o primeiro disco de vinil "Fados de Coimbra" que continha
Trova do vento que passa, essa balada fundamental da sua carreira, com
poema de Manuel Alegre, em consequência da sua resistência ao regime
Salazarista. Tornou-se militante do PCP no início da década de 60. Em
1962, participou nas greves académicas e concorreu às eleições da
Associação Académica, através da lista do Movimento de Unidade
Democrática (MUD).
Em 1970 troca Coimbra por Lisboa,
exercendo funções no Gabinete de Imprensa da FIL - Feira Industrial de
Lisboa, até 1974. Ainda em 1969 vê editado o álbum O Canto e as Armas, revelando, de novo, vários poemas de Manuel Alegre. Pela sua obra recebe, no mesmo ano, o Prémio Pozal Domingues.Lança Cantaremos, em 1970, e Gente d' aqui e de agora, em 1971, este último com o primeiro arranjo, como maestro, de José Calvário, e composição de José Niza. Em 1973 funda a Editora Edicta, com Carlos Vargas, para se tornar produtor na Orfeu, em 1974. Em
1975 lançou "Que Nunca Mais", com direcção musical de Fausto e textos
de Manuel da Fonseca. Este vinil levou a revista inglesa Music Week a
elegê-lo como "Artista do Ano".
Fundou
a Cooperativa Cantabril e publicou o seu último álbum, "Cantigas
Portuguesas", em 1980. No ano seguinte, numa altura em que a sua saúde
já se encontrava deteriorada rompeu com a direcção da Cantabril e
ingressou na Cooperativa Era Nova. Em 1982, com quarenta anos, num
sábado, dia 16 de Outubro, morreu em Avintes, vitimado por uma
hemorragia esofágica.
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