11/04/2015

9.933.(11ab2015.11.1'11") Heráclito de Efeso

Nasceu 535 aC
e morreu 475 aC
http://pt.wikipedia.org/wiki/Her%C3%A1clito
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A Graça Silva faz poema em que menciona o Rio de Hecáclito:
com certeza pela ideia dele: "ninguém se banha duas vezes no mesmo rio"

"Feliz 2018. Saúde, paz e afeto!...
corre um rio
no meu corpo,
o rio de Heraclito.
são lágrimas do mundo
correndo sinuosas sobre as pedras.
é tão cheio de pedras, o caminho
para casa. onde sou, existo e sinto os gritos.
a casa é o lugar de todos os começos,
sobre as pedras e com os rios
podemos inventar o mar.
o mar de ondas da paz
primeiro no coração
depois na cabeça
e, pela natura lei,
escorre para a mão.
a paz está nas nossas mãos, todos os dias.
GS
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Heráclito e o Rio

João Bugalho


Heráclito, filósofo pré-socrático originário de Éfeso, viveu - aproximadamente – entre 540 e 480 anos A.C.. É curioso notar que parte do que se encontra hoje em diversas vertentes do pensamento científico já, na essência, se espelhava no centro do pensamento de Hieráclito. 
 
O pensador grego considerou pela primeira vez que a mais típica característica da Natureza era a constante mudança, que tudo flui e nada dura infinitamente.
É dele a famosa frase “ninguém pode tomar banho duas vezes nas águas do mesmo rio”, porque o rio está em constante mudança, mas mais ainda, porque também o está quem nele mergulha.
Heráclito entrosou com esta uma outra ideia então original: a de que a diversidade no mundo resulta do conflito dos contrários e da permanente presença destes. Sem guerra não haveria paz, sem saúde não existiria a doença, sem a fome não teríamos prazer em comer.
Assim, a harmonia do Universo resultaria das dissemelhanças, o nascimento e a conservação dos seres dever-se-ia a um conflito de contrários.
Desse conflito, porém, resultaria a unidade, uma razão universal para as coisas, como que uma divindade. O filósofo porém recusou-se a chamar-lhe Deus, mas chamou-lhe antes: “logos”- a razão. A razão universal, uma razão espiritual imanente a tudo, dando aos seres a harmonia nas suas diferenças e regendo o mundo segundo uma ordem. É porém bem evidente que é muito difícil para nós compreender plenamente e justificar o que foram estes conceitos para aqueles pensadores tão distantes, enquadrados num meio bem diferente do nosso, se bem que, numa outra escala, dois milénios sejam um período de tempo tão curto.
Para Heráclito a verdadeira sabedoria, a qual conduzirá à ligação inteligível de todos os fenómenos, consiste em fundir o pensamento individual num pensamento universal.
É interessante reconhecer que Hegel (1770-1831), que defendeu que o desenvolvimento histórico derivava da tensão entre os opostos, procurou a existência de um saber absoluto, de uma realidade global em que natureza e espírito, pensar e ser, Deus e o Homem, constituissem um sistema grandioso reconciliando para sempre a Realidade com a Ideia, visão esta que veio a ser contestada e demolida pelos seus discípulos ou seguidores.
Entre estes, Marx (1818-1883) veio substituir a teoria pela praxis afirmando que: “Até agora a filosofia não fez mais do que interpretar o mundo; o que importa é transformá-lo” e assim Marx colocou a matéria e o trabalho onde Hegel colocara a idea e o espírito.
Em Engels (1820-1895) cuja raíz filosófica é considerada por muitos como mais profunda que a de Marx, vamos encontrar um sistema dialéctico para a natureza que contém as três leis da dialéctica materialista. A segunda lei designou-a por lei da compenetração dos contrários, segundo a qual a contradição é a origem do movimento.
É precisamente baseado em Engels que Stalin (1879-1953) - segundo Klimke-Colomer em Historia da Filosofia – esboça as seguintes teses:
“O cosmos não pode ser considerado como uma acumulação de casos e acontecimentos, independentes entre si, mas sim como uma totalidade unitária em que as coisas e os acontecimentos estão orgânicamente enlaçados, dependendo e condicionando-se uns aos outros; a natureza não deve entender-se num estado de repouso ou imobilidade mas sim num movimento incessante e numa mudança constante de renovação e evolução; a dialéctica considera o processo evolutivo como um desenvolvimento que passa de mudanças quantitativas insignificantes e ocultas a mudanças visíveis, fundamentais, qualitativos e isto como que em saltos repentinos e não graduais; este processo evolutivo é determinado pela lei da unidade e da luta dos opostos segundo a qual a luta entre o velho e o novo, o que perece e o que nasce, constitui o núcleo interno da evolução e do seu salto de quantitativo a qualitativo; a natureza do cosmos é material , os diversos fenómenos que nele se dão representam somente diferentes formas de matéria e o desenvolvimento inteiro do cosmos rege-se por leis do movimento da matéria sem que seja necessário recorrer à hipótese de um Espírito Cósmico; a matéria, a natureza e o ser constituem a realidade objectiva que existe fora da consciência e independente dela; o pensamento é um produto da matéria, mais em concreto, um produto do cérebro e não pode separar-se dela sem que se caia num erro crasso; o universo e as suas leis são cognoscíveis, no cosmos não se dão coisas incognoscíveis mas apenas coisas que ainda não são conhecidas e que o serão pelo esforço da ciência e da praxis.”
Recentemente, num polo quase diametralmente oposto, bem diferente destes na sua essência e nalguns aspectos específicos, nomeadamente na compreensão das teorias evolucionistas, deparamos com as teorias bem recentes de Edward O. Wilson – seguramente um dos mais importantes pensadores e cientistas actuais e pioneiro dos mais modernos e profundos estudos sobre a biodiversidade, bem no cerne do pensamento científico contemporâneo.
Wilson intitulou o seu último livro de Conscilience. Esta palavra, que construiu repescando da etimologia e buscando nos significados mais antigos, pretende significar a fusão, a integração dos conhecimentos parciais num todo, a fusão das ciências, a fusão mesmo das artes e da ciências para o conhecimento integrado, sem a qual não será possível a mais profunda e mais global compreensão de todas as coisas!
Parece que dois mil e quinhentos anos depois, a corrente do rio em que mergulhou Heráclito chegou assim, fresca, torrencial, aos nosso tempo...
Talvez que, apesar de tudo, o que tenha mudado menos, tenha sido a incessante sede de descoberta como uma das mais profundas preocupações dos pensadores de todos os tempos.
http://naturlink.pt/article.aspx?menuid=9&cid=92060&bl=1&viewall=true















































































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2jan2017
"recebamos como 1 presente o que quer que nos traga o dia de hoje"
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partilhei esta postagem e escreVIVI:
Há 2.600 anos...Heraclito de Efeso...A humanidade demora, demora, a alcançar a paz, a justiça, o pão, a educação, a habitação, o salário justo, a...mas 1 dia temos que ser bem melhores...Quando os 99% perceberem que são só 1% de agiotas.bandidos.exploradores.terroristas.fanáticos...
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Via Ana Cardeira:
https://www.facebook.com/LuadeProverbia/photos/a.697934930240329.1073741825.337459849621174/1015112511855901/?type=1&theater
"Nada é permanente, exceto a mudança."
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Se felicidade estivesse nos prazeres do corpo, diríamos felizes os bois, quando encontram ervilhas para comer.” 
Frases - http://kdfrases.com
Grandes resultados requerem grandes ambições.
A sabedoria é a meta da alma humana; mas a pessoa, à medida que em seus conhecimentos avança, vê o horizonte do desconhecido cada vez mais longe.

Se não sabe escutar, não sabe falar” 

Nada é permanente, exceto a mudança.” 

Ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas que já serão outras.

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Paremos de indagar o que o futuro nos reserva e recebamos como um presente o que quer que nos traga o dia de hoje.

Paremos de indagar o que o futuro nos reserva e recebamos como um presente o que quer que nos traga o dia de hoje. (Heráclito)
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Por Ana Vieira Pereira

O Outro desaparece debaixo 

de nosso olhar superficial e apressado

Heráclito de Éfeso acompanhou-me a semana toda. Alimento-me da sua proposição do mundo ser movimento e mudança constantes e fundamentar-se numa estrutura de contrários. Para ele, a origem de todas as coisas é a contradição, e o conflito é ajuste dessas forças contrapostas.
Há uma lei, entretanto, que rege esse movimento. Heráclito chama-a de Logos. Logos não só rege o devir do mundo, como “indica, dá signos”, ainda que o homem “não saiba escutar nem falar”. As aspas são palavras do próprio Heráclito. Ou seja: Logos dá-nos indícios do mundo tal qual se manifestará no futuro; Logos diz-nos, em forma de signos, o ser da mudança em nós e no mundo. Mas é preciso saber escutar e falar, o que significa saber usar a Palavra e usá-la.
Heráclito
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Heráclito pintado por Rafael-afresco
Heráclito pintado por Rafael-afresco
http://www.contioutra.com/o-outro-desaparece-debaixo-de-nosso-olhar-superficial-e-apressado/
Aprender a ler os signos de Logos é uma arte. Heráclito diz-nos, em outro fragmento, que é indispensável abrir e utilizar os sentidos: o mundo entra-nos pelos olhos, pelos ouvidos, pela pele, esse tecido extenso de composição tão sutil. É preciso aprender a ler os signos que nossos sentidos captam, porque só eles, em estado bruto, não bastam. É preciso lapidar.
Lapidar significa, aqui, fazê-los acompanhar do sentido da inteligência, e essa apóia-se numa atitude indagadora. É preciso pensar, e é preciso fazer(-se) perguntas. Se não, seremos seres encastelados na matéria imprecisa dos sentidos, onde o real é invisível. A pergunta, costumo eu dizer nos cursos de escrita, é o movimento propulsor do diálogo. Se a palavra afirmativa, enunciativa, dá nome ao mundo, e é objetiva e verdadeira, embora distante e fria, a pergunta é o primeiro movimento de Um em aproximação ao Outro. Pergunto, porque me interesso, e me interesso porque a vida parte do interesse.
Inter-esse é aquilo que “está entre”. Para haver “entre” é preciso que haja dois e há de haver aquilo que os conecte, uma importância que um reconheça no outro: é entre dois ou mais que Cristo se manifesta. É entre dois ou mais que o céu se constela.
Interesse cultiva-se, e seu cultivo parte da intenção de aprender a ler os signos de Logos. Porque, a rigor, podemos passar várias existências surdos e mudos. Logos continuará e as águas dos rios continuarão passando por baixo de todas as pontes. É preciso que algo em nós se mova na direção do outro, esse interesse verdadeiro na verdade que ele carrega em si como ser divino que é, e esse interesse manifesta-se na importância que lhe conferimos, na ocupação que lhe dedicamos, para que a conexão que se anuncia seja real e verdadeira.
Somos indiferentes ao sofrer alheio, às percepções dos sentidos do Outro, desinteressamo-nos daquilo que vê e diz, porque o nosso Eu tem pressa, e tem suas próprias obrigações, compromissos, responsabilidades, interditos, exigências, territórios…
Mas o Outro desaparece debaixo de n
Somos indiferentes ao sofrer alheio, 
às percepções dos sentidos do Outro, 
desinteressamo-nos daquilo que vê e diz, 
porque o nosso Eu tem pressa, e tem suas próprias obrigações,
 compromissos, responsabilidades, interditos, exigências, territórios…
Mas o Outro desaparece debaixo de nosso olhar superficial e apressado. Somos indiferentes ao sofrer alheio, às percepções dos sentidos do Outro, desinteressamo-nos daquilo que vê e diz, porque o nosso Eu tem pressa, e tem suas próprias obrigações, compromissos, responsabilidades, interditos, exigências, territórios… e não descansa de si, e nem se detém, porque o mundo anda rápido e tudo é veloz e são tantas tarefas e não temos tempo não temos tempo não temos – e o que não temos afinal é a chance de perceber o Outro, partilhar do seu caminho e multiplicar o nosso. Somos só superfície, um mundo raso de pele sem tato pro Outro. Esse olhar de superfície, indiferente e desinteressado, é um rolo compressor em marcha lenta por cima da alma.
Eu me pergunto, e pergunto a Heráclito, qual será a força de contraposição. Qual será a força, de igual magnitude e poder, que se oporá a esse desmantelamento da humanidade em nós. E Heráclito responde com a sua frase mais famosa, aquela em que Platão se inspira para, na sua própria e particular leitura, dizer que “um homem não se banha duas vezes no mesmo rio”.
“Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos” são as palavras proferidas por Heráclito. Embora uma parte do rio flua e mude (a água), há uma outra (o caudal, o leito), que se mantém relativamente permanente.
É esse caudal, que guia o movimento da água, o Logos que tudo rege. Ao entrarmos num rio, entramos nele e não entramos, porque ele sempre muda nas águas que passam, apesar de ser sempre o mesmo. E nós mesmos, sob a regência de Logos, somos permanentes e mutáveis a cada instante. Quanto mais conseguirmos compreender os signos que Logos indica, mais conseguiremos compreender onde se manifesta a lei regente, e onde a constante mutação modifica. É nessa condição que precisamos parar, observar, pensar, indagar e mudar. Sem esse movimento, mudaremos porque forças externas nos impelem, e não por forças de nosso próprio caminhar evolutivo.
Sem menosprezar o olhar do Outro, e mantendo o pensar do Outro em mim, pavimento o meu caminho. Nos embates entre, no interesse que se cultiva, no conflito que se estabelece e do qual não se foge, nasce uma nova possibilidade. Talvez possa ser a força de contraposição à diluição do vir a ser humano, essa força que se manifesta às vezes tão próxima, em tantas almas que se angustiam tanto que procuram a morte como refúgio. Talvez o que nelas tão cruamente chore, e chore em nós quando a parede do desinteresse e da indiferença nos atinge, seja o choro da humanidade que sofre, e que vive em cada um de nós. Cada movimento que Eu faço na direção do Outro aglutina-se em torno dos movimentos que o Outro faz, e soma e multiplica, e é dessa aritmética que nasce a força necessária de contraposição. E sempre, sempre vigiar a si mesmo e amar o outro.