O Comité das Actividades Anti-americanas,
presidido pelo senador Josef MaCarthy,
inicia as audições sobre o alegado "perigo comunista" de Hollywood.
Começa a chamada "caça às bruxas".
***
24nov1947
http://www.seuhistory.com/hoje-na-historia/primeira-lista-negra-anticomunista-de-hollywood-e-instituida
Primeira "lista negra" anticomunista de Hollywood é instituída
24-11-1947 D.C.
A chamada primeira lista negra sistemática de Hollywood foi instituída no dia 24 de novembro de 1947. Quem estivesse com o nome nela não teria emprego na maior indústria de entretenimento dos EUA, como roteiristas, atores, diretores, músicos e outros profissionais da área. A "lista negra" incluía pessoas com supostas convicções políticas ou associações suspeitas, no caso filiação ou simpatia ao Partido Comunista dos EUA, envolvimento em causas políticas associadas ao comunismo ou quem se recusasse a ajudar as investigações sobre as atividades do Partido Comunista conduzidas pelo governo dos EUA.
Nesta primeira lista, dez roteiristas e diretores foram citados por desacato ao Congresso por recusarem prestar depoimento ao Comitê de Atividades Antiamericanas. Todos eles foram demitidos por seu estúdio. Em 22 de junho de 1950, um panfleto nomeou 151 profissionais da indústria do entretenimento como "fascistas vermelhos e seus simpatizantes". Pouco depois, estas pessoas também estavam fora da indústria do entretenimento. A lista negra foi efetivamente quebrada em 1960, quando Dalton Trumbo, um alegado comunista que teve o seu nome incluído na primeira "lista negra", foi reconhecido publicamente como o roteirista do filme Spartacus e Exodus. Contudo, ainda várias pessoas da lista negra seguiram impedidas de trabalhar em suas áreas por muitos anos.
***
23fev2016
fui ver TRUMBO e gostei
sobre a história da democracia e da liberdade nos EUA...Dalton Trumbo era 1 comunista foi preso sem cometer qualquer crime...O anticomunismo primário... Trumbo teve que se refugiar em pseudónimos para poder sobreviver ao Mcartismo...Venceu óscares com outros nomes: Férias em Roma (...);Richard Rich como argumentista do Spartacus...recomendo que vejam o filme "Trumbo"."Muitas perguntas
que exigem respostas de "sim" ou "não "só podem ser respondidas por idiotas
ou escravos."
"Aproxima-te do momente de te libertares dos sovrimentos da carne. Ouves-me bem para que possas escolher o caminho mais fácil. Os teus pés esfriam. A tua vida esvai-se. Compõe os teus pensamentos, pois nada há a temer. A vida abandona os teus membros e a tua visão torna-se indistinta. O frio vem subindo por ti, seguindo a vida que te foge. Compõe os teus pensamentos, pois nada há a temer na libertação da vida para uma realidade maior. As sombras da noite eterna começam a toldar a tua vista e a tua respiração dificilmente passa pela tua garganta. Aproxima-se o momento para a libertação do teu espírito para que este goze dos prazeres da vida eterna. Compõe os teus pensamentos, a hora da tua libertação aproxima-se". (Uma arma para Johnny)
http://cinecartaz.publico.pt/Filme/357041_trumbo
que exigem respostas de "sim" ou "não "só podem ser respondidas por idiotas
ou escravos."
"Aproxima-te do momente de te libertares dos sovrimentos da carne. Ouves-me bem para que possas escolher o caminho mais fácil. Os teus pés esfriam. A tua vida esvai-se. Compõe os teus pensamentos, pois nada há a temer. A vida abandona os teus membros e a tua visão torna-se indistinta. O frio vem subindo por ti, seguindo a vida que te foge. Compõe os teus pensamentos, pois nada há a temer na libertação da vida para uma realidade maior. As sombras da noite eterna começam a toldar a tua vista e a tua respiração dificilmente passa pela tua garganta. Aproxima-se o momento para a libertação do teu espírito para que este goze dos prazeres da vida eterna. Compõe os teus pensamentos, a hora da tua libertação aproxima-se". (Uma arma para Johnny)
http://cinecartaz.publico.pt/Filme/357041_trumbo
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https://www.youtube.com/watch?v=_HnZq6ZiieM
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https://odisseianocinema.wordpress.com/2016/01/28/critica-trumbo-a-lista-negra/
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Via blogue CRAVO DE ABRIL
A CAÇA ÀS BRUXAS
http://cravodeabril.blogspot.pt/2009/11/caca-as-bruxas-1.html
A COMISSÃO DE ACTIVIDADES ANTI AMERICANAS
Em Agosto de 1945, três meses após a capitulação da Alemanha nazi, os EUA lançaram duas bombas atómicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasáqui - acto que viria a revelar-se como «a primeira grande operação da guerra-fria».
Tal atitude tinha como objectivo essencial «avisar» a União Soviética de que os EUA dispunham de uma arma que poderia reduzir a URSS a cinzas.
Segundo Churchill, «nós tínhamos agora nas mãos qualquer coisa capaz de restabelecer o equilíbrio com os russos (...) e imaginava-se já em vias de liquidar todos os centros industriais soviéticos e todas as zonas com forte concentração populacional.
Churchill via-se como o único detentor dessas bombas, capaz de as lançar onde quisesse, tornado todo-poderoso e em condições de ditar as suas vontades a Stáline» (Lorde Allanbrooke).
E en Fulton onde, em Maio de 1946, pronunciou um célebre discurso - lido por ele mas escrito com a colaboração de Truman, do secretário de Estado James Byrnes e do financeiro Bernard Baruch - Churchil tinha a consciência clara de estar a fazer o primeiro discurso da guerra-fria.
Entretanto: o prestígio da União Soviética - que tivera papel decisivo na derrota do nazi-fascismo - chegava a todo o mundo e atingia níveis elevadíssimos; o ideal comunista ganhava amplas massas populares; na Europa, os países do Leste, libertados pelo Exército Vermelho, faziam a sua opção socialista; logo a seguir a URSS anunciava ter, também, a bomba atómica; em 1949 triunfava a Revolução Chinesa...
O «comunismo avançava». E o grande capital, em pânico, deitava contas à vida...
É neste contexto que nasce e se desenvolve a célebre operação anticomunista e antidemocrática levada a cabo nosEUA, que ficou conhecida por Caça às Bruxas.
Foi no final dos anos 40 que um senador norte-americano - de seu nome Joseph MacCarthy e de sua condição fascista, sádico e psicopata - iniciou uma gigantesca operação de impiedosa caça aos comunistas, alegando que estes eram«antipatriotas» e preparavam «um complot para derrubar o Governo dos EUA e substituí-lo por um governo comunista que acabaria com a liberdade».
Para isso criou e pôs a funcionar uma tal Comissão de Actividades Anti Americanas que viria a celebrizar-se pela sua intolerância e por uma doentia e perversa sanha persecutória e repressiva.
MacCarthy tinha já alguma «experiência» na matéria: eleito senador em 1946, a sua primeira intervenção enquanto tal foi a de propor que o exército fosse mobilizado para pôr termo a uma greve de mineiros - e que os grevistas fossem julgados em tribunal marcial.
O anticomunismo corria nas veias do novo senador...
Ser comunista era, na visão perturbada de MacCarthy, crime grave, mas também o era ser familiar, amigo, vizinho de comunista... - ou, apenas, dar os bons dias a um comunista...
Assim, os «suspeitos» eram aos milhares e os nomes dos«suspeitos» eram lançados na lama pública. Muitos foram os que «desapareceram» ou se «suicidaram» (com ou sem aspas). após receberem a intimação para irem depor perante a sinistra Comissão, ou depois de prestado o depoiamento.
O ambiente de medo generalizado e de histeria, gerava as situações mais degradantes e anti-humanas.
A denúncia - do pai, da mãe, do filho, do irmão, da mulher, do marido, do amigo, do colega... - era enaltecida e apresentada como exemplo maior de «patriotismo».
Milhares de pessoas foram vítimas, em muitos casos tragicamente, da intolerante, sádica e perversa operação da Caça às Bruxas - que se prolongaria até meados da década de 50.
Em Agosto de 1945, três meses após a capitulação da Alemanha nazi, os EUA lançaram duas bombas atómicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasáqui - acto que viria a revelar-se como «a primeira grande operação da guerra-fria».
Tal atitude tinha como objectivo essencial «avisar» a União Soviética de que os EUA dispunham de uma arma que poderia reduzir a URSS a cinzas.
Segundo Churchill, «nós tínhamos agora nas mãos qualquer coisa capaz de restabelecer o equilíbrio com os russos (...) e imaginava-se já em vias de liquidar todos os centros industriais soviéticos e todas as zonas com forte concentração populacional.
Churchill via-se como o único detentor dessas bombas, capaz de as lançar onde quisesse, tornado todo-poderoso e em condições de ditar as suas vontades a Stáline» (Lorde Allanbrooke).
E en Fulton onde, em Maio de 1946, pronunciou um célebre discurso - lido por ele mas escrito com a colaboração de Truman, do secretário de Estado James Byrnes e do financeiro Bernard Baruch - Churchil tinha a consciência clara de estar a fazer o primeiro discurso da guerra-fria.
Entretanto: o prestígio da União Soviética - que tivera papel decisivo na derrota do nazi-fascismo - chegava a todo o mundo e atingia níveis elevadíssimos; o ideal comunista ganhava amplas massas populares; na Europa, os países do Leste, libertados pelo Exército Vermelho, faziam a sua opção socialista; logo a seguir a URSS anunciava ter, também, a bomba atómica; em 1949 triunfava a Revolução Chinesa...
O «comunismo avançava». E o grande capital, em pânico, deitava contas à vida...
É neste contexto que nasce e se desenvolve a célebre operação anticomunista e antidemocrática levada a cabo nosEUA, que ficou conhecida por Caça às Bruxas.
Foi no final dos anos 40 que um senador norte-americano - de seu nome Joseph MacCarthy e de sua condição fascista, sádico e psicopata - iniciou uma gigantesca operação de impiedosa caça aos comunistas, alegando que estes eram«antipatriotas» e preparavam «um complot para derrubar o Governo dos EUA e substituí-lo por um governo comunista que acabaria com a liberdade».
Para isso criou e pôs a funcionar uma tal Comissão de Actividades Anti Americanas que viria a celebrizar-se pela sua intolerância e por uma doentia e perversa sanha persecutória e repressiva.
MacCarthy tinha já alguma «experiência» na matéria: eleito senador em 1946, a sua primeira intervenção enquanto tal foi a de propor que o exército fosse mobilizado para pôr termo a uma greve de mineiros - e que os grevistas fossem julgados em tribunal marcial.
O anticomunismo corria nas veias do novo senador...
Ser comunista era, na visão perturbada de MacCarthy, crime grave, mas também o era ser familiar, amigo, vizinho de comunista... - ou, apenas, dar os bons dias a um comunista...
Assim, os «suspeitos» eram aos milhares e os nomes dos«suspeitos» eram lançados na lama pública. Muitos foram os que «desapareceram» ou se «suicidaram» (com ou sem aspas). após receberem a intimação para irem depor perante a sinistra Comissão, ou depois de prestado o depoiamento.
O ambiente de medo generalizado e de histeria, gerava as situações mais degradantes e anti-humanas.
A denúncia - do pai, da mãe, do filho, do irmão, da mulher, do marido, do amigo, do colega... - era enaltecida e apresentada como exemplo maior de «patriotismo».
Milhares de pessoas foram vítimas, em muitos casos tragicamente, da intolerante, sádica e perversa operação da Caça às Bruxas - que se prolongaria até meados da década de 50.
*
ANTECEDENTES
Assumindo o risco de abusar da paciência dos visitantes doCravo de Abril, dedicarei ainda três posts ao tema Caça às Bruxas: dois registando acontecimentos e situações que antecederam a operação e o último para fazer um breve balanço de todo o processo.
Como é evidente, a Caça às Bruxas não surgiu do nada nem é apenas uma iniciativa desgarrada levada a cabo peloanticomunista paranóico Joseph MacCarthy.
Repetindo: a operação insere-se na brutal ofensiva anticomunista desencadeada nos EUA logo após o triunfo daRevolução de Outubro.
O facto de, pela primeira vez na história, a classe operária ter conquistado o poder num país, ter construído o primeiro Estado proletário do mundo e ter iniciado a construção de uma sociedade nova, liberta da opressão e da exploração, socialista - este facto aterrorizou o grande capital internacional.
E todos os recursos, meios e métodos foram requisitados para aofensiva visando liquidar à nascença a jovem revolução e impedir a propagação do seu exemplo noutros países.
O Partido Comunista dos EUA - criado em 1920 - foi, naturalmente, o alvo primeiro e principal dessa ofensiva.
Sob pretextos vários, os militantes comunistas eram perseguidos e presos: «o perigo vermelho» passou a ser tema diário nos média, acompanhado das inevitáveis«informações» sobre as «injecções atrás da orelha», as«criancinhas devoradas ao pequeno almoço» e outrosargumentos semelhantes...
Por essa altura, as técnicas de propaganda sofrem um poderoso impulso nos EUA: «controlar as massas e fabricar consentimento» é o objectivo traçado.
Dito de outra forma: de acordo com os mecanismos da democracia norte-americana, «o país deve ser dirigido por uma elite de cidadãos»; os outros «têm apenas de ficar sossegados e concordar», e «para que isso aconteça, é necessário controlar o que eles pensam e arregimentá-los como soldados» - pelo que «controlar a opinião pública e assegurar que os cidadãos fiquem afastados da vida pública», é a grande questão...
Dito ainda de uma outra forma: não se trata de saber se a nossa democracia é perfeita: o que é necessário é que a maioria acredite que ela é perfeita e aja em conformidade com essa crença...
Há que reconhecer que tais técnicas de propaganda registaram assinaláveis (e dramáticos) êxitos, não apenas nos EUA mas praticamente em todo o mundo.
Em 29 de Junho de 1940, o Congresso dos EUA aprovou uma lei (Alien Registration Act) que proibia a manifestação de ideias pondo em causa o governo ou defendendo outro sistema que não fosse o capitalismo dominante...
A mesma lei, obrigava a que todos os estrangeiros com mais de 14 anos residentes nos EUA fizessem uma declaração com o registo das suas convicções políticas...
Obviamente, o não cumprimento da lei era considerado um«acto antipatriótico»...
Estava lançada a ofensiva «legal» contra o PCEUA e contra todas as organizações de esquerda.
De imediato foi lançada uma vasta operação de busca de«pessoas suspeitas de antipatriotismo» - que o mesmo era dizer: de «vermelhos»...
Pouco depois, onze dirigentes do PC foram presos e, após um julgamento que se arrastou por vários meses, foramcondenados a pesadas penas de prisão.
Logo a seguir, são presos cerca de cinquenta militantes comunistas... - e por aí fora, numa escalada que seria atenuada durante a II Guerra Mundial mas que irromperia, brutal, logo que o nazi-fascismo foi derrotado e o prestígio da União Soviética corria mundo.
Este caldo de cultura intolerante e anticomunista é, então, um antecedente da Caça às Bruxas dirigida por MacCarthy.
E é de toda uma ininterrupta sucessão de factos semelhantes, ocorridos ao longo dos tempos e até aos dias de hoje, que é feita a democracia dos EUA...
Assumindo o risco de abusar da paciência dos visitantes doCravo de Abril, dedicarei ainda três posts ao tema Caça às Bruxas: dois registando acontecimentos e situações que antecederam a operação e o último para fazer um breve balanço de todo o processo.
Como é evidente, a Caça às Bruxas não surgiu do nada nem é apenas uma iniciativa desgarrada levada a cabo peloanticomunista paranóico Joseph MacCarthy.
Repetindo: a operação insere-se na brutal ofensiva anticomunista desencadeada nos EUA logo após o triunfo daRevolução de Outubro.
O facto de, pela primeira vez na história, a classe operária ter conquistado o poder num país, ter construído o primeiro Estado proletário do mundo e ter iniciado a construção de uma sociedade nova, liberta da opressão e da exploração, socialista - este facto aterrorizou o grande capital internacional.
E todos os recursos, meios e métodos foram requisitados para aofensiva visando liquidar à nascença a jovem revolução e impedir a propagação do seu exemplo noutros países.
O Partido Comunista dos EUA - criado em 1920 - foi, naturalmente, o alvo primeiro e principal dessa ofensiva.
Sob pretextos vários, os militantes comunistas eram perseguidos e presos: «o perigo vermelho» passou a ser tema diário nos média, acompanhado das inevitáveis«informações» sobre as «injecções atrás da orelha», as«criancinhas devoradas ao pequeno almoço» e outrosargumentos semelhantes...
Por essa altura, as técnicas de propaganda sofrem um poderoso impulso nos EUA: «controlar as massas e fabricar consentimento» é o objectivo traçado.
Dito de outra forma: de acordo com os mecanismos da democracia norte-americana, «o país deve ser dirigido por uma elite de cidadãos»; os outros «têm apenas de ficar sossegados e concordar», e «para que isso aconteça, é necessário controlar o que eles pensam e arregimentá-los como soldados» - pelo que «controlar a opinião pública e assegurar que os cidadãos fiquem afastados da vida pública», é a grande questão...
Dito ainda de uma outra forma: não se trata de saber se a nossa democracia é perfeita: o que é necessário é que a maioria acredite que ela é perfeita e aja em conformidade com essa crença...
Há que reconhecer que tais técnicas de propaganda registaram assinaláveis (e dramáticos) êxitos, não apenas nos EUA mas praticamente em todo o mundo.
Em 29 de Junho de 1940, o Congresso dos EUA aprovou uma lei (Alien Registration Act) que proibia a manifestação de ideias pondo em causa o governo ou defendendo outro sistema que não fosse o capitalismo dominante...
A mesma lei, obrigava a que todos os estrangeiros com mais de 14 anos residentes nos EUA fizessem uma declaração com o registo das suas convicções políticas...
Obviamente, o não cumprimento da lei era considerado um«acto antipatriótico»...
Estava lançada a ofensiva «legal» contra o PCEUA e contra todas as organizações de esquerda.
De imediato foi lançada uma vasta operação de busca de«pessoas suspeitas de antipatriotismo» - que o mesmo era dizer: de «vermelhos»...
Pouco depois, onze dirigentes do PC foram presos e, após um julgamento que se arrastou por vários meses, foramcondenados a pesadas penas de prisão.
Logo a seguir, são presos cerca de cinquenta militantes comunistas... - e por aí fora, numa escalada que seria atenuada durante a II Guerra Mundial mas que irromperia, brutal, logo que o nazi-fascismo foi derrotado e o prestígio da União Soviética corria mundo.
Este caldo de cultura intolerante e anticomunista é, então, um antecedente da Caça às Bruxas dirigida por MacCarthy.
E é de toda uma ininterrupta sucessão de factos semelhantes, ocorridos ao longo dos tempos e até aos dias de hoje, que é feita a democracia dos EUA...
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«O CASAL ROSENBERG»
Em Junho de 1950, três ex-agentes do FBI e um produtor de televisão elaboraram uma lista com 151 nomes de escritores, realizadores e actores «vermelhos» - tudo nomes «novos», isto é: que não constavam das listas da Comissão de MacCarthy.
Essa lista foi elaborada a partir dos arquivos do FBI e de uma busca minuciosa no jornal Daily Worker, órgão do Partido Comunista dos EUA.
«A lista dos vermelhos» foi enviada a todos os directores de estúdios cinematográficos, os quais, de imediato,suspenderam os 151 acusados, «até serem ouvidos pela Comissão» - após o que, se convencessem a Comissão de que estavam inocentes, voltariam a ser readmitidos»... -«convencer a Comissão» significava «confessar o crime, mostrar arrependimento e denunciar outras pessoas»...
É nesse mesmo ano de 1950 que tem início um processo que viria a ter enorme impacto em todo o mundo, iniciado com a prisão do «casal Rosenberg», sob a acusação de fazerem espionagem a favor da União Soviética.
O julgamento - que durou 9 meses - constituiu uma autêntica farsa: tratava-se, afinal, de o tribunal corroborar a decisão de«culpados» previamente decidida pela polícia...
E o tribunal assim fez: em 29 de Março de 1951, Julius e Ethel Rosenberg foram condenados à morte.
A principal testemunha de acusação era um soldado: David Greenglass, irmão de Ethel Rosenberg...
Contra a condenação, ergueu-se em todo o mundo (e nos própiros EUA), uma imensa vaga de protestos, designadamente envolvendo personalidades como Einstein e Jean Cocteau, Frida Kahlo e Dashiel Hammett, Pablo Picasso e Fritz Lang, Brecht e o Papa Pio XII.
Mas a decisão de executar Julius e Ethel Rosenberg estava tomada desde há muito: desde antes, mesmo, de eles serem presos e acusados...
Nos meses que antecederam a execução, milhares de pessoas manifestaram-se em dezenas de países, contra aquilo que Jean Paul Sarte classificou como um «linchamento que mancha de sangue toda uma nação».
E horas antes do «linchamento», Picasso, no jornal do PCF - L'Humanité - apelava à acentuação dos protestos: «As horas contam, os minutos contam. Não deixemos ocorrer este crime contra a humanidade».
Em 19 de Junho de 1953, Julius Rosenberg e Ethel Rosenberg foram executados na cadeira eléctrica, na prisão de Sing Sing.
Até minutos antes da execução contiuaram a negar a acusação de espionagem.
Em 2001, David Greenglass, cujo depoiamento fora decisivo para a condenação da irmã e do cunhado, viria a confessar quementiu no julgamento:
«Eles ameaçaram prender a minha mulher e os meus filhos se eu não colaborasse. E eu não podia sacrificar a minha mulher e os meus filhos pela minha irmã».
E acrescentou: «mas eu não sabia que eles iam ser condenados à morte»...
*
«OS DEZ DE HOLLYWOOD»
No dia 24 de Novembro de 1947, dez homens do cinema foram ouvidos pela Comissão de Actividades Anti Americanas, onde, para além do fascista MacCarthy, pontificava um então jovem político chamado Richard Nixon.
Assim era dado início ao brutal e sádico processo de perseguição e repressão política que foi um dos mais sombrios momentos da história dos EUA.
«Os Dez de Hollywood» - como ficaram conhecidos - todos nomes grandes do cinema norte-americano, eram: Herbert Biberman e Edward Dmytryk, realizadores; Adrian Scott, produtor; e os argumentistas Lester Cole, Albert Maltz, John Howard Lawson, Samuel Ornitz, Ring Lardner, Alvah Bessie e Dalton Trumbo.
Os interrogatórios a que foram submetidos assentavam na pergunta-chave: «É, ou foi, membro do Partido Comunista dos Estados Unidos da América?» - após o que, os inquiridos eram intimados a denunciar todas as pessoas que estivessem nessa situação e a fornecer informações circunstanciadas sobre a matéria.
«Os Dez de Hollywood» - todos - recusaram responder ao interrogatório.
Foram condenados: oito deles, a penas de onze meses de prisão; os restantes, a penas de seis meses.
Dois casos:
1 - Edward Dmytryk: era membro do Partido Comunista dos EUA.
Após o julgamento conseguiu refugiar-se na Inglaterra, onde, com fracos recursos financeiros, realizou aquele que foi, tanto quanto sei, o primeiro filme abordando a caça às bruxas: «O Preço da Vida» - por muitos considerado a sua obra-prima.
Em 1950 regressou aos EUA, disposto a cumprir os seis meses de prisão a que fora condenado.
Novamente sujeito aos interrogatórios da Comissão,transformou-se num delator, denunciando vários colegas, entre eles 26 camaradas seus.
Depois disso, viu abrirem-se-lhe de par em par as portas da poderosa indústria cinematográfica norte-americana, passando a dispor de orçamentos fabulosos para os seus filmes.
Todavia, Dmytryk perdera o talento e a criatividade revelados nos filmes anteriores.
Era, talvez, a traição a cobrar o seu verdadeiro preço...
2 - Dalton Trumbo: militante comunista. Recusou-se a prestar declarações aos inquisidores e foi condenado a 11 meses de prisão.
Após o cumprimento da pena, alvo de perseguições e ameaças e com todas as portas profissionais fechadas, mudou-se com a família para o México.
Aí escreveu - assinando com pseudónimo ou pedindo a amigos para que assinassem por ele - cerca de trinta argumentospara filmes.
Entre eles os de Spartacus, The Brave One (que viria a ganhar o Óscar para o Melhor Argumento em 1956 - Óscar que, pela primeira e única vez na história do Prémio, não teve ninguém a reclamá-lo: o Autor havia assinado com pseudónimo e estava longe...) e Férias em Roma (também galardoado com o Óscar e que Trumbo só viria a receber, a título póstumo,em 1993).
Em 1973, já a viver nos EUA, escreveu o seu último argumento: o do filme Papillon.
Dalton Trumbo morreu em 1976, em Los Angeles, com 70 anos de idade.
Nunca traíu.
No dia 24 de Novembro de 1947, dez homens do cinema foram ouvidos pela Comissão de Actividades Anti Americanas, onde, para além do fascista MacCarthy, pontificava um então jovem político chamado Richard Nixon.
Assim era dado início ao brutal e sádico processo de perseguição e repressão política que foi um dos mais sombrios momentos da história dos EUA.
«Os Dez de Hollywood» - como ficaram conhecidos - todos nomes grandes do cinema norte-americano, eram: Herbert Biberman e Edward Dmytryk, realizadores; Adrian Scott, produtor; e os argumentistas Lester Cole, Albert Maltz, John Howard Lawson, Samuel Ornitz, Ring Lardner, Alvah Bessie e Dalton Trumbo.
Os interrogatórios a que foram submetidos assentavam na pergunta-chave: «É, ou foi, membro do Partido Comunista dos Estados Unidos da América?» - após o que, os inquiridos eram intimados a denunciar todas as pessoas que estivessem nessa situação e a fornecer informações circunstanciadas sobre a matéria.
«Os Dez de Hollywood» - todos - recusaram responder ao interrogatório.
Foram condenados: oito deles, a penas de onze meses de prisão; os restantes, a penas de seis meses.
Dois casos:
1 - Edward Dmytryk: era membro do Partido Comunista dos EUA.
Após o julgamento conseguiu refugiar-se na Inglaterra, onde, com fracos recursos financeiros, realizou aquele que foi, tanto quanto sei, o primeiro filme abordando a caça às bruxas: «O Preço da Vida» - por muitos considerado a sua obra-prima.
Em 1950 regressou aos EUA, disposto a cumprir os seis meses de prisão a que fora condenado.
Novamente sujeito aos interrogatórios da Comissão,transformou-se num delator, denunciando vários colegas, entre eles 26 camaradas seus.
Depois disso, viu abrirem-se-lhe de par em par as portas da poderosa indústria cinematográfica norte-americana, passando a dispor de orçamentos fabulosos para os seus filmes.
Todavia, Dmytryk perdera o talento e a criatividade revelados nos filmes anteriores.
Era, talvez, a traição a cobrar o seu verdadeiro preço...
2 - Dalton Trumbo: militante comunista. Recusou-se a prestar declarações aos inquisidores e foi condenado a 11 meses de prisão.
Após o cumprimento da pena, alvo de perseguições e ameaças e com todas as portas profissionais fechadas, mudou-se com a família para o México.
Aí escreveu - assinando com pseudónimo ou pedindo a amigos para que assinassem por ele - cerca de trinta argumentospara filmes.
Entre eles os de Spartacus, The Brave One (que viria a ganhar o Óscar para o Melhor Argumento em 1956 - Óscar que, pela primeira e única vez na história do Prémio, não teve ninguém a reclamá-lo: o Autor havia assinado com pseudónimo e estava longe...) e Férias em Roma (também galardoado com o Óscar e que Trumbo só viria a receber, a título póstumo,em 1993).
Em 1973, já a viver nos EUA, escreveu o seu último argumento: o do filme Papillon.
Dalton Trumbo morreu em 1976, em Los Angeles, com 70 anos de idade.
Nunca traíu.
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«A LISTA NEGRA»
No dia seguinte à condenação dos Dez de Hollywood, em 25 de Novembro de 1947, a Comissão de Actividades Anti-Americanas anunciou a primeira «Lista Negra» de cidadãos norte-americanos suspeitos de simpatias comunistas e, portanto, «antipatriotas» e «traidores» que preparavam«um complot para derrubar o governo dos EUA»...
Muitos eram ligados à indústria cinematográfica e ao mundo do espectáculo; muitos outros eram cientistas, professores, sindicalistas - e, todos, suspeitos de pertencer, ter pertencido, vir a pertencer, ou simpatizar com o Partido Comunista dos EUA...
Essa primeira «Lista Negra» que, até 1952, viria a ser aumentada, incluia centenas de nomes conhecidos de actores, realizadores, escritores, músicos, entre eles:
Orson Welles, Bur Ives, José Ferrer, Lee J. Cobb, Edie Albert, Judy Holliday, Gary Cooper, Robert Taylor, Elia Kazan, John Garfield, Edward G. Robinson, Joseph Losey, Charles Chaplin, Bertolt Brecht, Jules Dassin, Robert Rossen, Martin Ritt, Arthur Miller, Howard Fast, Dashiel Hammett, Richard Wright, Irwing Shaw, Bud Schulberg, Langston Hugues, Canada Lee, Paul Robeson, Hans Eisler, Pete Seger, Aarons Copland, Abraham Polonsky, Burgess Meredith, Sterling Haiden, Leonard Bernstein.
A Comissão dispunha de uma outra «lista»: a dos bufos - gente do cinema, também, que colaborava activamente na«caça às bruxas», espiando e denunciando colegas.
Desses bufos, destacaram-se, entre vários outros, Ronald Reagan, Adolphe Menjou e Walt Disney.
(registe-se o facto, por demais significativo, de, ligados a este sinistro processo estarem dois futuros presidentes dos EUA: Nixou e Reagan - e acrescente-se o facto de o apoio deMacCarthy a Eisenhower ter vindo a ser decisivo para a eleição deste à presidência dos EUA)
Corajosas acções de solidariedade com os perseguidos e de protesto contra as práticas da Comissão, foram levadas à prática, entretanto.
Entre os que assumiram publicamente essa postura, contam-seJohn Huston, Howard Hawks, Lauren Bacal e Humphrey Bogart - estes dois, particularmente activos no combate à intolerância, chegaram a promover, a dada altura, rm Washington, uma marcha contra a caça às bruxas.
Muitos dos incluídos na «Lista Negra» não resistiram aos interrogatórios e confessaram o «crime», o que significou, nuns casos, confessarem o que os inquisidores queriam que confessassem; noutros casos, confessarem mais, até, do que lhes era pedido...
Outros, após terem recusado prestar declarações, vieram posteriormente a ceder, como forma de salvarem as suas carreiras, casos, entre outros, de José Ferrer, Judy Holliday, Canada Lee, Martin Ritt.
Houve ainda os que se transformaram em activos delatores, entre eles Gary Cooper, Sterking Hayden, Robert Taylor, Bud Schulberg, Elia Kazan.
Dois casos:
1 - Robert Taylor: foi chamado à Comissão porque participara, em 1944, num filme intitulado «Canção da Rússia»- filme que após o fim da guerra, passou a ser considerado como «muito perigoso», pelo facto de mostrar «russos a sorrir». Ora, segundo a Comissão, mostrar «essa gente a sorrir é fazer propaganda comunista»...
Acrescia que, no filme, o personagem desempenhado porRobert Taylor cometera o gravíssimo crime de «mostrar simpatia e sorrir para o actor que representava um camponês russo»...
No decorrer do interrogatório, Taylor declarou-se «profundamente arrependido» de ter entrado em tal filme e, para que a Comissão não tivesse dúvidas sobre o seu profundo arrependimento, informou que tinha «ouvido dizer que Howard Silva, Karen Morley, Lester Cole ( e mais uns quantos) eram comunistas»...
2 - John Garfield: é considerado um dos maiores actores da história do cinema. Celebrizado pelo desempenho de papéis em que «personificava o rebelde pertencente à classe operária», foi um predecessor de James Dean (do qual se dizia que era o «John Garfield da década de 50»).
Scorsese diz, reportando-se designadamente à interpretação de John Garfield em «Forças do Mal», que «ninguém no cinema expressou melhor do que ele o sentimento de culpa».
Denunciado à Comissão por Elia Kazan - que conhecia a sua actividade política por terem sido, ambos, militantes comunistas - John Garfield foi interrogado dezenas e dezenas de vezes e ameaçado, insultado, miseravelmente provocado pelos inquisidores fascistas.
Recusou, sempre e até ao fim, prestar quaisquer declarações.
Na sequência disso viu a sua carreira de actor completamente arruinada.
Viria a morrer em 1952, com 39 anos de idade, em circunstâncias estranhas e obviamente ligadas ao pesadelo a que estava a ser sujeito: a sua morte, de enfarte cardíaco, ocorreu quando se dirigia para mais uma sessão de interrogatórios...
O funeral de John Garfield constituíu uma impressionante manifestação em que milhares e milhares de pessoas -intelectuais, operários, empregados, sindicalistas - expressaram a sua admiração pelo talento, pela coragem, pela dignidade do jovem actor.
No dia seguinte à condenação dos Dez de Hollywood, em 25 de Novembro de 1947, a Comissão de Actividades Anti-Americanas anunciou a primeira «Lista Negra» de cidadãos norte-americanos suspeitos de simpatias comunistas e, portanto, «antipatriotas» e «traidores» que preparavam«um complot para derrubar o governo dos EUA»...
Muitos eram ligados à indústria cinematográfica e ao mundo do espectáculo; muitos outros eram cientistas, professores, sindicalistas - e, todos, suspeitos de pertencer, ter pertencido, vir a pertencer, ou simpatizar com o Partido Comunista dos EUA...
Essa primeira «Lista Negra» que, até 1952, viria a ser aumentada, incluia centenas de nomes conhecidos de actores, realizadores, escritores, músicos, entre eles:
Orson Welles, Bur Ives, José Ferrer, Lee J. Cobb, Edie Albert, Judy Holliday, Gary Cooper, Robert Taylor, Elia Kazan, John Garfield, Edward G. Robinson, Joseph Losey, Charles Chaplin, Bertolt Brecht, Jules Dassin, Robert Rossen, Martin Ritt, Arthur Miller, Howard Fast, Dashiel Hammett, Richard Wright, Irwing Shaw, Bud Schulberg, Langston Hugues, Canada Lee, Paul Robeson, Hans Eisler, Pete Seger, Aarons Copland, Abraham Polonsky, Burgess Meredith, Sterling Haiden, Leonard Bernstein.
A Comissão dispunha de uma outra «lista»: a dos bufos - gente do cinema, também, que colaborava activamente na«caça às bruxas», espiando e denunciando colegas.
Desses bufos, destacaram-se, entre vários outros, Ronald Reagan, Adolphe Menjou e Walt Disney.
(registe-se o facto, por demais significativo, de, ligados a este sinistro processo estarem dois futuros presidentes dos EUA: Nixou e Reagan - e acrescente-se o facto de o apoio deMacCarthy a Eisenhower ter vindo a ser decisivo para a eleição deste à presidência dos EUA)
Corajosas acções de solidariedade com os perseguidos e de protesto contra as práticas da Comissão, foram levadas à prática, entretanto.
Entre os que assumiram publicamente essa postura, contam-seJohn Huston, Howard Hawks, Lauren Bacal e Humphrey Bogart - estes dois, particularmente activos no combate à intolerância, chegaram a promover, a dada altura, rm Washington, uma marcha contra a caça às bruxas.
Muitos dos incluídos na «Lista Negra» não resistiram aos interrogatórios e confessaram o «crime», o que significou, nuns casos, confessarem o que os inquisidores queriam que confessassem; noutros casos, confessarem mais, até, do que lhes era pedido...
Outros, após terem recusado prestar declarações, vieram posteriormente a ceder, como forma de salvarem as suas carreiras, casos, entre outros, de José Ferrer, Judy Holliday, Canada Lee, Martin Ritt.
Houve ainda os que se transformaram em activos delatores, entre eles Gary Cooper, Sterking Hayden, Robert Taylor, Bud Schulberg, Elia Kazan.
Dois casos:
1 - Robert Taylor: foi chamado à Comissão porque participara, em 1944, num filme intitulado «Canção da Rússia»- filme que após o fim da guerra, passou a ser considerado como «muito perigoso», pelo facto de mostrar «russos a sorrir». Ora, segundo a Comissão, mostrar «essa gente a sorrir é fazer propaganda comunista»...
Acrescia que, no filme, o personagem desempenhado porRobert Taylor cometera o gravíssimo crime de «mostrar simpatia e sorrir para o actor que representava um camponês russo»...
No decorrer do interrogatório, Taylor declarou-se «profundamente arrependido» de ter entrado em tal filme e, para que a Comissão não tivesse dúvidas sobre o seu profundo arrependimento, informou que tinha «ouvido dizer que Howard Silva, Karen Morley, Lester Cole ( e mais uns quantos) eram comunistas»...
2 - John Garfield: é considerado um dos maiores actores da história do cinema. Celebrizado pelo desempenho de papéis em que «personificava o rebelde pertencente à classe operária», foi um predecessor de James Dean (do qual se dizia que era o «John Garfield da década de 50»).
Scorsese diz, reportando-se designadamente à interpretação de John Garfield em «Forças do Mal», que «ninguém no cinema expressou melhor do que ele o sentimento de culpa».
Denunciado à Comissão por Elia Kazan - que conhecia a sua actividade política por terem sido, ambos, militantes comunistas - John Garfield foi interrogado dezenas e dezenas de vezes e ameaçado, insultado, miseravelmente provocado pelos inquisidores fascistas.
Recusou, sempre e até ao fim, prestar quaisquer declarações.
Na sequência disso viu a sua carreira de actor completamente arruinada.
Viria a morrer em 1952, com 39 anos de idade, em circunstâncias estranhas e obviamente ligadas ao pesadelo a que estava a ser sujeito: a sua morte, de enfarte cardíaco, ocorreu quando se dirigia para mais uma sessão de interrogatórios...
O funeral de John Garfield constituíu uma impressionante manifestação em que milhares e milhares de pessoas -intelectuais, operários, empregados, sindicalistas - expressaram a sua admiração pelo talento, pela coragem, pela dignidade do jovem actor.
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HÁ LODO EM KAZAN
Há os que traem porque não conseguiram resistir - mas continuam do mesmo lado da barricada e prosseguem a luta.
Há os que traem porque não conseguiram resistir - e se vendem e passam, com armas e bagagens, para o outro lado da barricada.
Elia Kazan foi um dos vendidos - e talvez o mais degradado de todos eles.
Era membro do PC dos EUA. Denunciou à Comissão dezenas de camaradas e amigos seus - os quais foram presos e viram as suas carreiras arruinadas e as suas vidas destruídas.
Até ao fim da vida, Kazan não apenas não tinha lamentado o que fez, como se mostrava satisfeito com o que tinha feito.
No plano profissional, ao contrário de Dmytryk - que se transformou num realizador vulgar - Kazan continuou a exibir o seu talento em filmes de grande qualidade.
Mas, naturalmente, também com orçamentos à medida dos seus desejos...
Registe-se, no entanto, que as vantagens financeiras que a traição proporcionou a esses vendidos, tinha a ver, também com as suas vidas pessoais e particulares.
Orson Welles pôs o dedo na ferida quando disse, referindo-se expressamente a Kazan mas falando para todos os vendidos, que «eles venderam as suas consciências a troco da casas com piscina»...
Dis filmes realizados por Kazan após a traição, emerge o célebre Há Lodo no Cais - elogiadíssimo e premiadíssimo.
Ora a verdade é que, tratando-se de um filme notável em vários aspectos, ele é, também e de facto, uma autêntica apologia da delação - o que não surprende se tivermos em conta queHá Lodo no Cais é fruto do trabalho conjunto de dois delatores: Kazan e o argumentista Bud Schulberg...
Em Setembro passado, aquando da comemoração do 100º aniversário do nascimento de Kazan pela Cinemateca Nacional, alguém comentou assim essa parte da vida deKazan:
«Elia Kazan corre o risco de ser lembrado mais pelo seu papel na "caça às bruxas" dos anos 50. Tiremos isso já do caminho: em 1952, acossado pela House Un-American Activities Comittee, ferramenta do senador Joe MacCarthy para tentar extirpar o comunismo da América, Elia Kazan, que havia feito parte do Partido Comunista Americano nos anos 30, denunciou vários colegas que, ao longo dessa década, não mais arranjaram emprego no seu ramo. Imoral? Desprezível?Talvez, mas, por um lado, apenas Kazan sabe as pressões a que esteve sujeito e, por outro lado, tal facto não belisca em nada uma das mais brilhantes e influentes carreiras da época dourada de Hollywood»
Dispenso-me de comentar em pormenosr esta espécie demanual do bom delator e passo adiante:
É certo que estamos a falar de um dos mais talentosos realizadores norte-americanos. Mas não é menos certo que estamos igualmente a falar de um indivíduo imoral edesprezível (sem pontos de interrogação...)
E não sou eu, apenas, que o digo: dizem-no muitos homens do cinema norte-americano e mundial e confirma-o... o próprio Kazan - com adiante veremos.
Em 1996 e 1999, Kazan viu o conjunto da sua obra premiado, respectivamente, com o Urso de Ouro do Festival de Berlim e com o Óscar de Carreira, em Hollywood.
Na cerimónia de entrega do Óscar - e nos dias que se lhe seguiram - dezenas de actores fizeram ouvir o seu protesto pela atribuição do prémio a tal pessoa. Entre os que protestaram e (ou) vaiaram Kazan, estão Richard Dreyfuss, Nick Nolte, Ed Harris, Ian Mckellen, Rod Steiger, Sean Pen (cujo pai foi uma vítima do maccarthismo).
Em Berlim, onde se deslocou para receber o tal Urso, Kazanmostrou que «imoral» e «desprezível» são palavras demasiado suaves para qualificar a abjecção que foi o seu comportamento.
Tendo-lhe sido perguntado o que pensava das práticas da Comissão de MacCarthy, porque denunciara os seus amigose se estava arrependido do que fizera, Kazan respondeu:
«Concordei com tudo o que a Comissão fez. Concordei e colaborei com os inquéritos. Estou convencido que as liberdades americanas estiveram ameaçadas por umcomplot comunista -e entre a consciência e os amigos, escolhi a consciência. Não estou arrependido de nada, não foi um erro».
Assim afirmou Kazan a sua orgulhosa condição de delator e de herdeiro político e ideológico do fascista, sádico e psicopata MacCarthy.
Assim confirmou Kazan que, na outra face do grande homemde cinema que é, mora um homenzinho minúsculo, vil, rasteiro, nojento.
Assim confirmo eu que há lodo em Kazan.
*
A DIGNIDADE DE DASHIEL HAMMETT
Dashiel Hammett - o criador do policial negro - foi (é) um dos maiores escritores norte-americanos.
Quando MacCarthy mandou retirar de todas as bibliotecas públicas dos EUA «30 mil livros escritos por comunistas e simpatizantes», os livros de Hammett encontravam-se, naturalmente, entre os banidos...
Hammett era membro do Partido Comunista dos EUA ePresidente do Congresso dos Direitos Civis de Nova Iorque, organização comunista muito activa no apoio e na solidariedade às organizações a activistas de esquerda.
No processo da Caça às Bruxas, Dashiel Hammett foi submetido a três longos e cerrados interrogatórios: o primeiro, em Julho de 1951; os dois restantes, em Março de 1953.
Passou vários meses numa prisão de alta segurança, onde foi tratado como se fosse um terrível criminoso - e onde lhe foi atribuída a tarefa de limpar as retretes...
Sabia-se que, nesses interrogatórios, Hammett destroçara os inquisidores - entre eles o próprio MacCarthy - com a suainabalável recusa em prestar declarações, fosse sobre o que fosse.
Mas só agora - com a publicação dos relatos integrais desses interrogatórios (Dashiel Hammett/Interrogatoires, Editions Allia, Paris, 2009) - se ficou a conhecer, com rigor, o que foram aquelas alucinantes sessões.
Estes «Interrogatoires» são um documento notável que nos mostra como, à demência persecutória, ameaçadora e repressiva das bestas, Hammett contrapôs a sua corajosa e serena dignidade.
Na verdade, Hammett recusou responder a tudo, inclusive a questões cujas respostas não o incriminariam mesmo na óptica dos fanáticos inquisidores.
Mais tarde, quando a sua companheira - Lillian Helmann, também militante comunista e também na «lista negra» - lhe perguntou por que não tinha respondido a essas coisas que eram do conhecimento público e que não o incriminariam,Dashiel Hammett respondeu simplesmente:
«Só sei que tinha que fazer o que fiz. Por uma questão de princípio. Mesmo que as consequências disso não fossem apenas a cadeia e implicassem a perda da própria vida, eu teria feito o mesmo».
Dashiel Hammett - o criador do policial negro - foi (é) um dos maiores escritores norte-americanos.
Quando MacCarthy mandou retirar de todas as bibliotecas públicas dos EUA «30 mil livros escritos por comunistas e simpatizantes», os livros de Hammett encontravam-se, naturalmente, entre os banidos...
Hammett era membro do Partido Comunista dos EUA ePresidente do Congresso dos Direitos Civis de Nova Iorque, organização comunista muito activa no apoio e na solidariedade às organizações a activistas de esquerda.
No processo da Caça às Bruxas, Dashiel Hammett foi submetido a três longos e cerrados interrogatórios: o primeiro, em Julho de 1951; os dois restantes, em Março de 1953.
Passou vários meses numa prisão de alta segurança, onde foi tratado como se fosse um terrível criminoso - e onde lhe foi atribuída a tarefa de limpar as retretes...
Sabia-se que, nesses interrogatórios, Hammett destroçara os inquisidores - entre eles o próprio MacCarthy - com a suainabalável recusa em prestar declarações, fosse sobre o que fosse.
Mas só agora - com a publicação dos relatos integrais desses interrogatórios (Dashiel Hammett/Interrogatoires, Editions Allia, Paris, 2009) - se ficou a conhecer, com rigor, o que foram aquelas alucinantes sessões.
Estes «Interrogatoires» são um documento notável que nos mostra como, à demência persecutória, ameaçadora e repressiva das bestas, Hammett contrapôs a sua corajosa e serena dignidade.
Na verdade, Hammett recusou responder a tudo, inclusive a questões cujas respostas não o incriminariam mesmo na óptica dos fanáticos inquisidores.
Mais tarde, quando a sua companheira - Lillian Helmann, também militante comunista e também na «lista negra» - lhe perguntou por que não tinha respondido a essas coisas que eram do conhecimento público e que não o incriminariam,Dashiel Hammett respondeu simplesmente:
«Só sei que tinha que fazer o que fiz. Por uma questão de princípio. Mesmo que as consequências disso não fossem apenas a cadeia e implicassem a perda da própria vida, eu teria feito o mesmo».
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«A LISTA DOS VERMELHOS»«O CASAL ROSENBERG»
Em Junho de 1950, três ex-agentes do FBI e um produtor de televisão elaboraram uma lista com 151 nomes de escritores, realizadores e actores «vermelhos» - tudo nomes «novos», isto é: que não constavam das listas da Comissão de MacCarthy.
Essa lista foi elaborada a partir dos arquivos do FBI e de uma busca minuciosa no jornal Daily Worker, órgão do Partido Comunista dos EUA.
«A lista dos vermelhos» foi enviada a todos os directores de estúdios cinematográficos, os quais, de imediato,suspenderam os 151 acusados, «até serem ouvidos pela Comissão» - após o que, se convencessem a Comissão de que estavam inocentes, voltariam a ser readmitidos»... -«convencer a Comissão» significava «confessar o crime, mostrar arrependimento e denunciar outras pessoas»...
É nesse mesmo ano de 1950 que tem início um processo que viria a ter enorme impacto em todo o mundo, iniciado com a prisão do «casal Rosenberg», sob a acusação de fazerem espionagem a favor da União Soviética.
O julgamento - que durou 9 meses - constituiu uma autêntica farsa: tratava-se, afinal, de o tribunal corroborar a decisão de«culpados» previamente decidida pela polícia...
E o tribunal assim fez: em 29 de Março de 1951, Julius e Ethel Rosenberg foram condenados à morte.
A principal testemunha de acusação era um soldado: David Greenglass, irmão de Ethel Rosenberg...
Contra a condenação, ergueu-se em todo o mundo (e nos própiros EUA), uma imensa vaga de protestos, designadamente envolvendo personalidades como Einstein e Jean Cocteau, Frida Kahlo e Dashiel Hammett, Pablo Picasso e Fritz Lang, Brecht e o Papa Pio XII.
Mas a decisão de executar Julius e Ethel Rosenberg estava tomada desde há muito: desde antes, mesmo, de eles serem presos e acusados...
Nos meses que antecederam a execução, milhares de pessoas manifestaram-se em dezenas de países, contra aquilo que Jean Paul Sarte classificou como um «linchamento que mancha de sangue toda uma nação».
E horas antes do «linchamento», Picasso, no jornal do PCF - L'Humanité - apelava à acentuação dos protestos: «As horas contam, os minutos contam. Não deixemos ocorrer este crime contra a humanidade».
Em 19 de Junho de 1953, Julius Rosenberg e Ethel Rosenberg foram executados na cadeira eléctrica, na prisão de Sing Sing.
Até minutos antes da execução contiuaram a negar a acusação de espionagem.
Em 2001, David Greenglass, cujo depoiamento fora decisivo para a condenação da irmã e do cunhado, viria a confessar quementiu no julgamento:
«Eles ameaçaram prender a minha mulher e os meus filhos se eu não colaborasse. E eu não podia sacrificar a minha mulher e os meus filhos pela minha irmã».
E acrescentou: «mas eu não sabia que eles iam ser condenados à morte»...
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http://fernanda-olhargeografico.blogspot.pt/2011/10/caca-as-bruxas-macarthismo.html
Joseph R. McCarthy expõe seu ponto de vista de maneira enérgica em uma audiência do Comitê Judiciário do senado
Caça as Bruxas: Macarthismo
A Guerra Fria (1946-91) atingiu até um dos principais valores da civilização valores da civilização norte-americana: a liberdade individual. Joseph McCarthy, senador nos anos 50, implantou um movimento conservador denominado Macarthismo.
Esse movimento causou histeria na America do Norte. No auge da Guerra Fria, o FBI e agentes da CIA caçavam opositores comunistas. O Perigo Vermelho estava à solta.
Joseph McCarthy, formado em direito no ano de 1935, foi o juiz mais jovem de Winsconsin em 1939. Durante a Segunda Guerra, ele entrou para o Corpo de Fuzileiros Navais, onde foi promovido a capitão.
Quando foi eleito senador, McCarthy iniciou a chamada “caça as bruxas”, em clara alusão a época da inquisição. Para encontrar comunistas infiltrados no governo americano, ou apenas pessoas com idéias comunistas.
A idéia de McCarthy era de declaram morte aos comunistas. Para encontrá-los foram usadas técnicas suspeitas e foram feitas muitas acusações sem base existente.
Os EUA ficaram aflitos com a ameaça vermelha e trataram de lutar contra o comunismo. Mas não foi somente McCarthy o responsável pelo evento paranóico. Meses antes Mao Tzé-Tung, comunista, havia chegado ao poder na China e A URSS havia feito uma explosão com bomba atômica. Além do fato de que dentro do próprio território, um partido norte americano comunista havia sido acusado de planejar um ataque contra o governo.
A paranóia de que comunistas estavam invadindo os EUA, levou muitos artistas, como Charles Chaplin, perseguido pelo FBI por causa de suas idéias humanistas, a saírem do país.
O caso mais famoso, talvez seja do casal Rosenberg. Esse casal acusado de espionagem foram os únicos executados por esse crime nos EUA durante a Guerra Fria. Acredita-se que as informações passadas por eles ajudaram com o desenvolvimento da bomba atômica soviética. Em 1950 foram presos por suspeita de espionar e de serem comunistas, apesar negarem a acusação foram incriminados e levados a morte na cadeira elétrica em julho de 1953.
Comunistas eram identificados de várias maneiras, as táticas de interrogatório usada por McCarthy eram cruéis. Os próprios conservadores e liberais desaprovavam a conduta de McCarthy.
Em 1954, foi divulgada na TV, as audiências de interrogatório brutais, o responsável pelo feito foi o próprio presidente Eisenhower, que estava cansado com o movimento e queria divulgar as maldades cometidas por McCarthy.
No mesmo ano, ele teve seu poder e influência reduzidas. Mas o fim da Guerra da Coréia e morte de Stálin causaram a queda do Macarthismo.
Ainda hoje, McCarthy é lembrado pela tirania, embora não provocou um genocídio, mas a imprudência que usava para conseguir e justificar suas ações são igualáveis a de ditadores.
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| Disney, a serviço do FBI | ||||||
| O criador de Mickey Mouse combateu os sindicatos, era amigo íntimo de Edgar Hoover, o chefão da polícia federal americana, e participou ativamente da cruzada macarthista | ||||||
| por Aymar du Chatenet | ||||||
A atuação de Disney como informante do FBI, o Federal Bureau of Investigation, foi divulgada inicialmente pelo escritor Marc Eliot em O príncipe sombrio de Hollywood (Ed. Marco Zero). A biografia, classificada como “não autorizada” pela imprensa americana, traz uma análise de 470 páginas de informações produzidas pelo próprio órgão estatal. Para acessar o dossiê, Eliot recorreu ao Freedom of Information Act, um dispositivo legal que autoriza qualquer cidadão americano a ter acesso aos arquivos de uma administração. O material não está completo: faltam 100 páginas e muitas das recebidas pelo autor foram escurecidas, para garantir o anonimato de informantes ou de pessoas colocadas sob suspeita por Disney. Segundo os dados obtidos, a parceria começou em 1940, quando o artista tinha 39 anos. Nessa época, o poderoso e temido chefe do FBI, John Edgar Hoover, colecionador inveterado de segredos de alcova, assuntos de família e fofocas de todo tipo, se propôs a ajudar Disney na busca por sua árvore genealógica. O assunto era um tormento para o animador desde a adolescência, quando descobriu que não possuía certidão de nascimento. Acreditando ser adotado, ele fez inúmeras pesquisas para encontrar suas origens, todas sem resultado. A oferta do FBI era uma ótima oportunidade para finalmente atingir seu objetivo. Em troca do esforço dos agentes, Disney tornou-se informante e manteve uma relação quase filial com Hoover. O acordo, imediatamente colocado em prática, levou dois investigadores americanos à cidade de Mojacar, na Espanha, em busca do atestado de nascimento. Eles encontraram o registro de uma criança, nascida por volta de 1890, cuja mãe teria sido Isabel Zamora Ascencio. O pai, um notável chamado José Guirao, era casado com outra mulher e não assumiu a relação com a amante. Após sua morte, a señorita Zamora teria embarcado para a América e Disney seria, na verdade, o pequeno José, nome de batismo do bebê espanhol. Pura especulação, as informações foram habilmente utilizadas por Hoover para manter estreitos laços com o cineasta. | ||||||
Em 1941, o artista realizou uma de suas obras-primas, Fantasia. O filme, protagonizado por Mickey Mouse, foi um fracasso de público. O cineasta atribuiu a péssima recepção da animação a uma “conspiração sindical”, em um período em que seus funcionários entraram em greve por melhores condições de trabalho. Greve e perseguição A mobilização eclodiu quando os diretores do estúdio proibiram o estabelecimento de sindicatos filiados à Cartoonist Guild, espécie de federação dos cartunistas. Com barricadas e piquetes, a queda-de-braço durou vários meses. Por fim, todos os líderes sindicais foram demitidos, e Disney aproveitou a Huac, Comissão de Investigação sobre as Atividades Antiamericanas, que funcionou entre os anos 1938 e 1975, para pedir investigação dos militantes. Por vingança, perseguiu os sindicalistas durante anos, mas foi obrigado a readmitir alguns após processos jurídicos. Em fevereiro de 1944, ele participou da fundação da Motion Picture Alliance, uma máquina de guerra a serviço do anticomunismo. A organização agrupou a nata dos conservadores, entre eles, o milionário e magnata da imprensa, William Randolph Hearst, e os astros John Wayne e Gary Cooper. Em sua declaração de princípios, a MPA alertava para uma possível “dominação dos comunistas, dos radicais e desmiolados de todo tipo”. | ||||||
No clima de perseguição, Disney também participou ativamente do Communist Pictures, um grupo de representantes do FBI dedicados a localizar subversivos. Entre os que se uniram a esse movimento, estava um ator de segunda categoria, então desconhecido do grande público: Ronald Reagan. O dossiê do FBI sobre aquele que se tornaria presidente dos Estados Unidos entre 1981 e 1989 é eloqüente. Militante sindicalista, Reagan logo tornou-se suspeito por sua atuação no comitê dos cidadãos para as artes, ciências e profissões liberais, considerado uma fachada para os comunistas. Alertado por seu irmão Neil, membro do mesmo comitê, ele optou por colaborar com as investigações e fornecer aos agentes as listas de militantes ou simpatizantes do comunismo. Denúncias públicas Reagan foi brilhante e se tornou informante confidencial. Hoover aproveitou o talento de seu jovem recruta e fez com que fosse ouvido pela Huac. | ||||||
A postura anticomunista não escapou à União Soviética, que proibiu os filmes de Disney em todo seu território a partir de março de 1949. Em reação a essa sanção, o artista recebeu uma placa de bronze da Câmara do Comércio de Los Angeles, por sua contribuição ao comércio internacional. O clima de tensão se agravou em 1950, com o crescimento da popularidade do senador republicano Joseph MacCarthy, anticomunista fervoroso. Além da Huac, diversos outros instrumentos estavam atuando, como o Subcomitê Interno de Segurança do Senado e o Subcomitê Permanente de Investigações do Senado. Entre 1949 e 1954, mais de 109 dossiês foram analisados no Congresso americano e o termo “macarthismo” passou a definir a política de perseguição sistemática aos partidários da esquerda, embora alguns jornais tenham posteriormente afirmado que o nome ideal seria “hooverismo”. Toda pessoa que se recusasse a comparecer aos depoimentos era automaticamente fichada. John Huston, Katharine Hepburn, Lauren Bacall e Humphrey Bogart receberam muitas críticas por se limitaram a dar respostas evasivas. Os escritores: John Steinbeck, Arthur Miller, Tennessee Williams, Truman Capote, Dashiell Hammett e Thomas Mann também foram espionados. Outra vítima célebre dessa caça às bruxas foi Charles Chaplin, cujos protestos contra a histeria anticomunista irritavam Disney. Apesar de sua fama, o criador de Carlitos não escapou das perseguições, que o obrigaram ao exílio na Europa. No Natal de 1954, o chefão do FBI nomeou Disney agente especial, o que fez dele um informante de confiança. Essa promoção não foi desinteressada, pois ocorreu no momento em que o artista estreou no mundo da televisão, assinando um acordo com o canal ABC. Hoover deu uma importância especial a essa mídia, pressentindo a força que iria adquirir nos anos seguintes. Em relatório confidencial, Hoover escreveu: “Tendo em vista o prestígio do sr. Disney, o produtor mais importante de desenhos animados da indústria do cinema, sua competência e suas vastas relações no domínio da produção, nós estimamos que sua colaboração para os serviços do Bureau pode se revelar preciosa. Por isso, recomendo que seja promovido a contato oficial de nossos serviços, sob o título de Special Agent in Charge”. A lua-de-mel foi finalmente encerrada em 1956. Vítimas de sua paranóia, os homens de Hoover, se não o próprio, começaram a suspeitar de Disney quando ele solicitou uma área do FBI como locação de curtas-metragens do Clube do Mickey. Apesar de terem autorizado a filmagem, o clima de confiança nunca mais foi o mesmo. Em 1961, o artista aprovou o roteiro de Um piloto na Lua, que ridicularizava policiais. Quatro anos depois, se recusou a modificar o script de O espião com patas de veludo, pouco elogioso ao FBI. | ||||||
| Vítima de Hoover Ignorando a qualidade de informante de Disney, os agentes fizeram uma investigação para provar que ele havia participado da Noite das Américas, evento do Conselho de Democracia Pan-americana, considerado uma associação subversiva, e de uma homenagem a Art Young feita pelo jornal New Masses, taxado como aliado do partido comunista americano. Quando o presidente Dwight Eisenhower (1953-1961) listou personalidades suscetíveis de serem nomeadas ao Conselho Nacional da Cultura, Hoover enviou os dossiês desses dois casos e o nome de Disney foi descartado. O artista passou de colaborador à vítima do chefão do FBI, que de 1924 a 1972 reinou como mestre absoluto sobre toda a vida política dos Estados Unidos, fichando mais de 159 mil de pessoas. Até hoje, a família do homem vencedor de 29 Oscars e 4 Emmy nega sua participação no macarthismo, sob o argumento de que ele seria apenas um “contato” do FBI. Para seu biógrafo, o “público americano só conhecerá a verdade no dia em que todas as peças – sem cortes – do dossiê Disney, em poder do FBI, estiverem disponíveis”. Um forte indício de que as informações divulgadas até agora estão corretas é que nenhum processo foi aberto contra o livro, traduzido em 14 línguas. | ||||||
| Zé Carioca, um brasileiro em defesa dos EUA | ||||||
| Em plena Segunda Guerra Mundial, Walt Disney desembarcou no Brasil para colaborar com a “política da boa vizinhança”. À época, o governo Getúlio Vargas flertava com o Eixo, em detrimento dos Aliados, e os Estados Unidos adotaram uma campanha para ampliar sua influência política, econômica e cultural no país. Entre as iniciativas para aproximar as duas nações, estavam o impulso à carreira de Carmem Miranda e a viagem de 15 dias de Disney ao Rio de Janeiro. A missão do artista, instruído cuidadosamente por Nelson Rockefeller, diretor da influente Secretaria para Assuntos Interamericanos, era ganhar a simpatia dos brasileiros e o resultado foi a criação de Zé Carioca. O papagaio estreou no filme Alô, amigos de 1942, em que ciceroneava o Pato Donald pelo país. A passagem pela América Latina ainda rendou outros dois personagens: o Gauchinho Voador, representante da Argentina, e o galo mexicano Panchito. Todos se tornaram bons amigos de Donald, simbolizando o que deveria ser a relação com os americanos. | ||||||



