19/11/2015

5.314.(19noVEM2015.7.7') Islão.Constantinopla...Islamismo na Península Ibérica...

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02 de Janeiro de 1492: Os reis de Castela e Aragão conquistam Granada, último reino islâmico da Península Ibérica. Termina a reconquista de sete séculos

Último reduto muçulmano na Península Ibérica, até 1492, o reino de Granada resistiu mas floresceu, assumindo por um lado uma atitude guerreira e constantemente defensiva, e por outro incrementando o desenvolvimento das letras, das artes, das ciências e do urbanismo.

A cidade espanhola de Granada, pertencente à Região Autónoma da Andaluzia, formou-se em torno de uma fortaleza construída pelos Árabes. No centro da cidade encontra-se a Catedral de Santa Maria da Encarnação (1523-1703), onde estão sepultados os Reis Católicos.

Explorada por Fenícios, Cartagineses e Gregos, dominada por Romanos e Visigodos, assolada por Vândalos e Alanos, a região de Granada, como quase toda a Península Ibérica, foi ocupada em 711 pelos muçulmanos comandados por Tariq, acontecimento este de real importância para a sua definição histórica e territorial.Dominada por Córdova, emirado e depois califado, Garnatha Alyejud (designação árabe da cidade perto da actual Granada, a Iliberis dos Romanos ou a Elvira dos Visigodos) conheceu um grande desenvolvimento no século VIII, sendo uma das mais importantes cidades do Al Andalus. Com a desagregação do califado de Córdova em 1031 em vários reinos taifa (designação jurídica árabe), devido à fitna (guerra civil), num deles se transformou Granada, governada entre 1010 e 1090 pela dinastia berbere dos Ziríadas (povo do Norte de África, que obriga os habitantes de Garnatha a fugir para Elvira), suprimida no último ano pela dos Almorávidas, substituídos em 1156 pelos Almóadas. Em 1231, chegaram os nazerís, de Ibn Nasr, cujo título real era Muhammad I, que se mantiveram em Granada até ao século XV. A partir desta dinastia, o reino passou a designar-se por Granada.

Em 1247, aquele rei árabe apoiou os castelhanos na tomada de Sevilha, o que gerou descontentamentos generalizados no reino, principalmente depois de os cristãos transformarem a mesquita em catedral. Os ataques de Castela, apesar da ajuda granadina em Sevilha, sucederam-se contra o reino nazerí, que apoiava revoltas mouriscas em Castela. Entre múltiplas tréguas, alianças e cedências de praças de parte a parte, Granada, para sobreviver como reduto muçulmano peninsular, teve que procurar até ao século XV um equilíbrio de forças com Castela e mesmo com os muçulmanos do Norte de África, ambos com políticas expansionistas sobre este território. Para além desta diplomacia, ora política ora guerreira, o reino de Granada teve que enfrentar revoltas internas ocasionais, e serviu de acolhimento aos muçulmanos que fugiam de todas as regiões peninsulares face ao avanço da Reconquista, principalmente da Andaluzia ocidental e do Levante (Valência, Múrcia), onde se sucediam pressões militares de Aragão, com quem se firmaram pactos também.Neste clima de instabilidade quase permanente e de esforço de guerra, a riqueza e a grandeza da civilização nazerí de Granada não perderam brilho, esmaltando o reino, nomeadamente a capital, de belas jóias arquitectónicas ainda existentes, com o apoio e interesse constantes da corte. É o caso do conjunto monumental da Alhambra (do árabe, Al Hamra, a vermelha), começado a edificar no século XIII, bem como do Generalife, do século XIV, casa de campo e descanso dos reis de Granada. Deste século são também os poetas e eruditos Ibn Alcatib e Ibn Zamrak, cujos versos estão gravados nas paredes dos palácios da Alhambra. Por aquela altura brilharam ainda outras figuras da filosofia, das artes e da medicina, entre outras ciências, e até uma célebre universidade medieval - La Madraza. O desenvolvimento de técnicas agrícolas, com introdução de novas culturas e com os regadios, cimenta a exponência civilizacional a que chegou este reino, o que despertou cobiças e apressou a Reconquista.

Em 1309, Castela tomou Gibraltar, mantendo-se árabe, porém, Algeciras. Estes dois pontos eram estratégicos (passagem para África) para o reino de Granada, que daí se estendia até Almería, a leste, onde se continuavam a dar frequentes ataques aragoneses, ainda que sem resultados. No primeiro quartel do século XIV, os castelhanos chegaram às portas de Granada, sendo porém rechaçados para fora do reino, entretanto reorganizado em termos de defesa. Em 1333, Granada reconquistou Gibraltar, apoiada por genoveses e dinastias norte-africanas, conhecendo porém em 1340 a derrota na Batalha do Salado perante forças combinadas luso-castelhanas, o que deitou por terra o desejo de reconquista muçulmana da Península. Ao longo do século XIV, a Alhambra continuou a construir-se; a Reconquista deteve-se por vezes; mas o século XV, com a pressão demográfica e a expansão económica de Castela, seria a centúria da derrocada do reino de Granada. Para além de lutas internas (conspirações, rebeliões, guerra civil em 1427) e de falta de apoios do mundo árabe, Granada, apesar de conseguir suster alguns avanços de Castela e obter algumas tréguas, não conseguiu reestruturar-se internamente e começou a ceder aos ataques cristãos. Ainda desencadeou um contra-ataque entre 1433 e 1440, recuperando praças de Castela, mas a partir daqui, a história de Granada foi de defesa contra Castela, bloqueios económicos, tréguas e devolução de cativos, até ao golpe final dos Reis Católicos, em 2 de Janeiro de 1492, quando a conquistaram ao rei Boabdil. Este, diz a lenda, terá chorado e morrido de desgosto e nostalgia por abandonar a jóia da civilização árabe da Península Ibérica.No século XVI, apesar do embelezamento e da valorização cultural da cidade e da região pelos espanhóis, ainda havia, na minoria mourisca, sentimentos saudosistas do antigo reino nazerí, como nos levantamentos nas Alpujarras, último foco de resistência árabe.
Reino de Granada. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. 
Conquista de Granada. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
Wikipedia(imagens)

Rendição de Granada - Francisco Pradilla entrega das chaves da cidade pelo próprio rei Boabdil à rainha Isabel de Castela.
Alhambra, centro do poder do Reino de GranadaFicheiro:FerdinandIsabellaSpain.jpgOs Reis Católicos
 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/01/02-de-janeiro-de-1492-os-reis-de.html?fbclid=IwAR0DHguErs1gHWjXgyx8Qfdgs9GUMvWrJdqTOF1GOH0pXAwEV4PtaEAxz1U
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29mAIO1453
queda de Constantinopla - alguns dizem ser o fim da Idade Média-
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/03/filme-sobre-tomada-de-constantinopla-reaviva-debate-sobre-neo-otomanismo.html
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 conquista de Constantinopla (e outros dois territórios bizantinos) marcou o fim do Império Romano, um estado imperial que durara quase 1.500 anos. Foi um golpe enorme para a cristandade, e os Otomanos, posteriormente, ficaram livres para avançar pela Europa sem um adversário à sua retaguarda. Após a conquista, Mehmed fez de Constantinopla a nova capital do Império Otomano. Vários intelectuais gregos e não gregos fugiram da cidade antes e após o cerco, migrando principalmente para a Itália.
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15feVER2018
José Goulão...abrilabril
Não restam hoje dúvidas de que a estrutura mercenária do Daesh funciona como um corpo clandestino do Pentágono, da própria NATO, no quadro da privatização crescente das operações militares nos campos de batalha.
Comboio de veículos e combatentes do chamado Estado Islâmico do Iraque e da Síria (Daesh), em rota na província de Anbar, Iraque. The Washington Times, 10/09/2014.





comboio de veículos e combatentes do chamado Estado Islâmico do Iraque e da Síria (Daesh), em rota na província de Anbar, Iraque. The Washington Times, 10/09/2014.CréditosNão creditado / AP

Derrotado, mas não liquidado. O Estado Islâmico ou Daesh, por certo a organização criminosa de maior envergadura montada sob a fachada do «extremismo islâmico» para servir nas guerras de agressão e expansão lançadas este século, capitulou às mãos dos exércitos iraquiano e sírio, reforçados com o apoio de forças militares russas chamadas pelo governo legítimo de Damasco. Não, a chamada «coligação internacional anti-Daesh», comandada pelo Pentágono, nada teve a ver com o desfecho, antes pelo contrário, exceptuando o caso da sangrenta reconquista da cidade de Mossul, no Iraque.
Tornado ineficaz em termos de consolidação dos objectivos que originalmente lhe foram estabelecidos, designadamente o desmembramento do Iraque e da Síria e a remodelação das fronteiras estabelecidas no primeiro quartel do século XX naquela região do Médio Oriente, o Daesh está a ser reciclado para novas funções, definidas de acordo com os interesses transnacionais e globais de quem mais se tem servido dele, em primeiro lugar o Pentágono e a NATO.
Do «Califado» instaurado durante o ano de 2014 em territórios sírios e do Iraque, com centros nevrálgicos em Raqqa, Deir es-Zor, Bukamal e Mossul, já nada resta para aquartelar os seus efectivos monstruosos: 240 mil mercenários com mil e uma origens, congregados sob as bandeiras do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (Daesh na sigla árabe). Entre esses, é bastante provável que os membros do contingente de 80 mil antigos soldados do exército de Saddam Hussein recrutados pelas forças norte-americanas de ocupação do Iraque, no âmbito da estratégia para criação de um «Sunistão» que concretizasse a divisão dos territórios do Iraque e da Síria, regressem às suas regiões de origem.

«Reciclar»: quem, onde, como

Mas restam dois terços dos terroristas para «reciclar». Começam, porém, a conhecer-se alguns dos seus destinos. Chefes do Daesh estão a ser «amnistiados» pela Unidade de Protecção do Povo (YPG), uma organização curda actuando no norte da Síria sob enquadramento do Pentágono, como via para integrar unidades de jihadistas nas «forças de segurança» das novas «fronteiras» regionais. Como a administração Trump vetou a criação desse corpo – no quadro da discordância entre a França e os Estados Unidos sobre a essência do projecto «Rojava» – os terroristas derrotados aguardam ainda a definição das novas funções, acampados à saída da base de Kasham, recinto militar ao serviço da ocupação norte-americana. É nesta espécie de limbo que os mercenários do Daesh transitam da condição de extremistas islâmicos ao serviço da jihad para gendarmes de causas que se afirmam laicas e são também atlantistas.
A reciclagem de outros efectivos do Daesh compete à ditadura de Erdogan na Turquia. Os mercenários estão a ser reintegrados no «Exército Livre da Síria», entidade fundada por potências da NATO no início da agressão ao povo e ao território sírio, em 2012, segundo a fábula de que se destinava a acolher os desertores do Exército Nacional, colocando-os ao serviço da «oposição». Na verdade encheu-se de jovens recrutados em todo o mundo árabe e também nos subúrbios de grandes cidades europeias; e que, enquadrados agora pelo exército de Ancara, combatem na região síria de Afrin contra os curdos do YPG e, por extensão, contra muitos mercenários que, até há dias, eram seus correligionários debaixo das bandeiras do Daesh. Destapando assim, por outro lado, um estranho cenário de confronto directo entre dois membros da NATO.
Outros mercenários do derrotado Estado Islâmico estão a ser transferidos para países como o Afeganistão, a Índia, Bangladesh e Myanmar. As operações de resgate na Síria são efectuadas por aviões da Força Aérea norte-americana, que os transportam numa primeira etapa para o Afeganistão, de acordo com informações transmitidas pelo Irão à Rússia.
Já é possível conhecer funções que lhes serão distribuídas na Índia, uma vez integrados nas milícias hindus do partido nacionalista BJP do primeiro-ministro Narendra Modi, as mesmas que assassinaram o Mahatma Gandhi. Terroristas que ainda há dias fuzilavam e decapitavam em massa ao serviço da jihad ou «guerra santa» islâmica vão agora combater os rebeldes muçulmanos de Cachemira.
No Afeganistão, admite-se que alguns dos «desmobilizados» do Daesh integrem as operações de tráfico de ópio e heroína que o ex-presidente Hanid Karzai, um dos barões de tão rentável negócio monopolista à escala mundial, transferiu das máfias kosovares para o Estado Islâmico e suas redes europeias e africanas.
Como se percebe, esta reciclagem diversificada abre novos ciclos, sem fechar os objectivos que os criadores e mentores do Daesh definiram para o ciclo anterior. A partilha do Iraque não está consumada, embora o Curdistão se considere independente – porém não reconhecido internacionalmente. E o governo legítimo da Síria continua em funções, embora parcelas do território estejam ocupadas por extensões da NATO, com base até em limpezas étnicas – como aconteceu no norte, onde as vítimas foram comunidades cristãs e árabes expulsas à força para deixar espaço aos curdos do YPG.
Por outro lado, estes acontecimentos permitem conhecer melhor os episódios soltos que escrevem a história sangrenta do Daesh, de maneira a compor o sinistro quebra-cabeças desta operação terrorista que está na origem de uma carnificina próxima de um milhão de mortos.

A verdade sobre a origem do Daesh

Corria o ano de 2006. Três anos depois da invasão do Iraque, a Casa Branca e o Pentágono desesperavam perante a mobilização dos iraquianos contra a ocupação, apesar do colaboracionismo dos mais altos dirigentes, confinados ao quarteirão do poder em Bagdade definido pela chamada Linha Verde.
John Negroponte, embaixador norte-americano em Bagdade, depois director nacional de espionagem e um especialista em operações subversivas clandestinas, decidiu então traçar uma estratégia para minar a resistência iraquiana. É muito rico o currículo do experiente embaixador, espião e conspirador Negroponte: por exemplo, assassínios selectivos no Vietname (Operação Phoenix da CIA); organização da guerra civil em El Salvador; montagem da operação Irão-Contras para tentar reverter a Revolução Sandinista na Nicarágua; liquidação da revolução de Chiapas no México.
Financiada e treinada pelo Pentágono, a organização terrorista sunita assim criadaenquadrada pela polícia especial («Brigada dos Lobos»), foi baptizada como ExércitoIslâmico no Iraque e ficou nominalmente a ser dirigida por Abu Bakr Al-Baghdadimais tarde o «califa» do Daesh, até que as armas russas puseram termo aos seus diasem território sírio.Em termos gerais, John Negroponte recorreu ao princípio básico de dividir para reinar, lançando sunitas contra xiitas e espalhando o terror entre as populações civis. No campo sunita, baseou-se na estrutura da Al-Qaida no Iraque para formar uma coligação tribal islamita. Requisitou os serviços do coronel James Steele, que colaborara com ele em El Salvador, e este recrutou os futuros dirigentes do grupo no campo de concentração de Bucca; organizou depois a sua formação na tristemente célebre prisão de Abu Ghraib, onde foram submetidos a métodos de lavagem cerebral elaborados pelos professores Albert Biderman e Martin Seligman, também usados em Guantánamo. A preparação dos chefes terroristas em métodos de tortura seguiu, por sua vez, os cânones experimentados na polícia política da Formosa, onde Steele leccionou, e na Escola das Américas, instrumento de elite para instrução dos aparelhos repressivos das ditaduras fascistas latino-americanas.
Com a chegada do general David Petraeus ao Iraque para chefiar a ocupação norte-americana, a nova milícia tornou-se uma unidade do regime. O coronel John Coffman foi agregado ao trabalho de Steele, respondendo directamente perante Petraeus; e o diplomata Brett McGurk ficou destacado para assegurar a ligação permanente do próprio presidente George W. Bush ao processo. Apenas dois anos depois de ter participado, com elevadas responsabilidades, na criação e condução do Estado Islâmico no Iraque o diplomata Brett McGurk foi designado como enviado especial do presidente Obama para supervisionar a chamada «coligação anti-Daesh».
O grupo extremista que deu corpo à ideia de Negroponte cumpriu a sua missão na guerra civil e foi muito aplicado na estratégia – ainda que falhada - de criação do «Sunistão» que partiria o Iraque em três zonas, juntamente com a curda e a xiita.
https://www.abrilabril.pt/internacional/daesh-historia-escondida
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15jan2018
A coligação internacional liderada pelos EUA anunciou que está treinar uma força para proteger as fronteiras da zona dominada pelas chamadas Forças Democráticas Sírias. Damasco condenou a medida e mostrou determinação em acabar com a presença dos EUA na Síria.
Um combatente das chamadas FDS fixa uma bandeira no chão perto de Raqqa (Fevereiro de 2017)
https://www.abrilabril.pt/internacional/eua-treinam-uma-forca-fronteirica-na-siria
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27dez2017
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas russas, Valery Gerasimov, afirmou esta quarta-feira que há «militantes», incluindo combatentes do Daesh evacuados de Raqqa, a receber treino em bases norte-americanas na Síria.
Militares norte-americanos e «rebeldes» em Al-Tanf, no Sul da Síria, junto à fronteira com a Jordânia
https://www.abrilabril.pt/internacional/russia-acusa-eua-de-treinar-militantes-em-bases-sirias
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24noVEM2017
A administração norte-americana pretende manter as suas tropas na Síria depois da derrota do Daesh – objectivo que tem usado para justificar a sua presença no país levantino. A meta é agora impedir a vitória de Assad e dos seus aliados iranianos, noticiou o Washington Post esta semana.
Combatente das Forças Democráticas Sírias, maioritariamente curdas e apoiadas pelos EUA, em Raqqa
https://www.abrilabril.pt/internacional/eua-poderao-ficar-na-siria-para-evitar-vitoria-de-assad-e-do-irao
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14noVEM2017
O Pentágono defende que os terroristas do Daesh se estão «a entregar voluntariamente», devendo assim ser tratados ao abrigo da Convenção de Genebra. Uma reportagem da BBC também aponta para a protecção garantida pela coligação internacional ao Daesh em Raqqa.
As FDS e a coligação internacional deixaram sair de Raqqa centenas de combatentes do Daesh, com todo o seu armamento
https://www.abrilabril.pt/internacional/moscovo-acusa-coligacao-internacional-de-proteger-o-daesh-em-al-bukamal
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10ouTU2017
O Ministério russo da Defesa acusou, esta terça-feira, a coligação internacional liderada pelos EUA de estar a «simular» a guerra contra o Daesh no Iraque, permitindo que os terroristas passem em segurança para a Síria.
Exército Árabe Sírio nas imediações de Deir ez-Zor (foto de arquivo)
https://www.abrilabril.pt/internacional/eua-fingem-combater-daesh-no-iraque-e-terroristas-passam-para-siria
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17noVEM2015
ISIS,ISIL,DAESH, ESTADO ISLÂMICO

http://www.dn.pt/mundo/interior/isis-isil-daesh-o-que-chamar-ao-estado-islamico-4888924.html
Os membros do grupo terrorista Estado Islâmico ameaçam quem usar o termo
 Daesh - o favorito de Hollande e Obama
François Hollande, Barack Obama e John Kerry são alguns dos líderes ocidentais 
que usam o termo Daesh para se referirem à organização terrorista autointitulada
 Estado Islâmico. Nos meios de comunicação anglófonos, porém, usa-se com mais
 frequência o termo ISIS, acrónimo das palavras inglesas para Estado Islâmico do
 Iraque e da Síria. Porquê a diferença de terminologia?
Como a revista Economist explica, o nome chamado ao Estado Islâmico foi 
mudando com a própria evolução da organização terrorista, e com a forma
 como foi ganhando território e influência.
Porquê Daesh?
Daesh é uma possível abreviatura árabe do nome Estado Islâmico do Iraque e do
 Levante, uma das formas como a organização terrorista se autointitulou ao longo
 da sua existência. Mas a abreviatura não agrada aos membros do grupo extremista,
 que ameaçam chicotear com a usa. A palavra Daesh é parecida, no som, a palavras
 árabes que significam "esmagar, esmigalhar ou esfregar", uma conotação
 considerada ofensiva pelos terroristas, que preferem chamar ao grupo al-Dawla,
 ou o Estado.
Devido à conotação negativa da palavra Daesh e à popularidade que o termo tem
 no mundo árabe, líderes ocidentais como Hollande e Obama começaram a usá-lo
 também. Um ministro francês destacou, na altura da adoção do termo Daesh, que
 tem a vantagem de não incluir o termo "estado", uma palavra que muitos 
acreditam não dever ser usada para descrever um grupo terrorista.
ISIS ou ISIL?
O grupo começou nos anos 2000, constituindo-se como parte da resistência 
extremista à invasão norte-americana do Iraque, e autointitulava-se Al-Qaeda
 do Iraque. Mas após várias críticas e a morte do fundador do grupo, passaram 
a chamar-se, em 2007, Estado Islâmico do Iraque.
O grupo terrorista foi enfraquecendo no Iraque com os anos, mas o princípio da
 guerra civil na Síria em 2011 deu-lhe uma nova oportunidade de renascer e, ao 
começar a controlar territórios nesse país, mudou de nome para aquele por que 
se tornaria mais conhecido: Estado Islâmico do Iraque e da Síria, de acrónimo 
inglês ISIS.
Também é possível traduzir o nome como Estado Islâmico do Iraque e do 
Levante, visto que a palavra árabe usada, al-Sham, se aplica tanto a Damasco
 como à região em geral, levando ao surgimento do acrónimo ISIL - Estado
 Islâmico do Iraque e do Levante.
Em junho de 2014, o grupo terrorista volta a mudar de nome, para se autointitular 
Estado do Califado Islâmico.
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Via DN
17noVEM2015
História da Europa e do islão em 12 perguntas

http://www.dn.pt/mundo/interior/historia-da-europa-e-do-islao-em-12-perguntas-4888365.html
Painel de azulejos, de Jorge Colaço, na Estação de São Bento, no Porto, mostra a tomada de Ceuta. Foi com um ataque a uma cidade muçulmana que Portugal começou em 1415 o seu império. Antes do final desse século, Vasco da Gama chegaria à Índia, com a ajuda de um piloto muçulmano (mas não o famoso árabe Ibn Majid)

Meio século depois de Maomé, os muçulmanos atacaram Constantinopla, mas falharam. Seria no outro extremo do continente, via Gibraltar, que em 711 o islão se instalaria, criando o Al-Andalus. Depois vieram as Cruzadas. São estas histórias de espadas e cimitarras que ficaram. Mas já pensou de onde vem o "algarismo"?

Europa versus islão. É mesmo assim?

Do ponto de vista histórico, sim. Sobretudo porque a Europa foi durante muito tempo sinónimo de cristandade. Mas o islão tem velha presença no continente. Ainda no século VII, tentou conquistar Constantinopla e falhou, mas poucas décadas depois, em 711, os exércitos do califa atravessaram o estreito de Gibraltar e conquistaram a Península Ibérica quase toda. No atual Portugal ficaram 500 anos, em Espanha até 1492 (e mesmo depois, até serem expulsos os últimos mouros das serras em redor de Granada). Mas entretanto, desde 1453, Constantinopla já era islâmica, com os turcos a conseguirem o que os árabes tinham falhado. E hoje na Europa, além de em Istambul e no resto da Turquia europeia, há muçulmanos na Bulgária, na Bósnia e na Albânia (onde são a maioria) e fortíssimas comunidades em França, na Alemanha, em Espanha ou no Reino Unido por via da imigração. Ou seja, se há milhões de muçulmanos europeus, como se pode dizer que a Europa e o islão são opostos?

Invasão da Espanha, conquista de Constantinopla pelos otomanos, quer isto dizer que ao longo de séculos manteve-se um cerco do islão à Europa?

É uma forma de ver a história. E, de facto, o verde (a cor do islão) estende-se de Marrocos à Ásia Central e do Sul, contornando a Europa até à Rússia. Mas os europeus também atacaram muitas vezes os muçulmanos. Além da reconquista, houve as cruzadas, nove desde a primeira em 1096 até à derradeira no século XIII, destinadas a tomar a Terra Santa, sobretudo Jerusalém. E houve os ataques portugueses e espanhóis ao Norte de África a partir do século XV. E, já no século XIX, a França conquistou a Argélia, iniciando uma fase de moderna colonização do mundo muçulmano que envolveu também os britânicos e os italianos e que durou mais de cem anos. Por isso, nenhum lado se pode dizer vítima e chamar ao outro agressor.

Há alguns episódios célebres, além da conquista da Península Ibérica e das cruzadas?

Dois bons exemplos, opostos, são o cerco otomano a Viena em 1683, que falhou graças ao socorro dado pelo rei polaco aos austríacos; e a tentativa grega de anexar parte da Anatólia no final da Primeira Guerra Mundial, que foi travada a muito custo pelos turcos liderados por Mustafa Kemal.

Guerras e mais guerras. Tirando isso, que se pode dizer das relações entre a cristandade medieval e o mundo islâmico?

Nem sempre se combatia. Por exemplo, em Córdova, antes do ano mil, existia uma coexistência admirável entre muçulmanos, judeus e cristãos. E nessa época, que no Oriente coincidiu com o califado Abássida de Bagdad, os muçulmanos lideravam na ciência. Devíamos aprender mais nas escolas sobre Ibn Ishaq al-Kindi, que traduziu muitas das obras gregas que por via dos árabes sobreviveriam às trevas medievais. Ou sobre Avicena. Ou ainda sobre Al-Khwarizmi, grande matemático persa, que na língua portuguesa homenageamos chamando algarismos aos números legados pelos árabes.

Nessa época, era mais fácil aos cristãos a vida sob soberanos muçulmanos do que o contrário, certo?

Sim, Maomé, que fundou o islão em 622 (começa aí o calendário islâmico, lunar e que vai no ano 1437), considerava os cristãos e os judeus povos do livro e exigia que fossem respeitados. Do outro lado, a tolerância era zero, por isso as mourarias em Portugal e Espanha depressa perderam após a reconquista aqueles que lhes davam nome. Ficaram só palavras como azeitona ou almofada.

Portugal tem uma história de conflito com o islão?

Sim. E continuou com a tomada de Ceuta, em 1415, e com os ataques no século XVI no Índico às potências islâmicas que controlavam o comércio das especiarias. Os nossos capitães quase que faziam uma espécie de treino militar obrigatório em Marrocos antes de partirem para o Oriente. Ainda hoje há fortalezas de origem portuguesa em Omã ou no Bahrein e Afonso de Albuquerque chegou a planear um ataque a Meca, a mais santa das cidades islâmicas.

Portugueses e muçulmanos não se entendiam?

Na maior parte do tempo combatiam, mas Vasco da Gama recorreu a um piloto muçulmano para a etapa final da viagem à Índia em 1498. E D. Sebastião, quando foi derrotado e morto na Batalha de Alcácer Quibir, em 1578, tinha a combater ao seu lado um sultão, sobrinho do sultão inimigo. Mas já antes, no tempo da presença islâmica na Península Ibérica, havia alianças entre reis cristãos e reis muçulmanos. E até casamentos, mesmo que raros. As nossas lendas sobre princesas mouras mostram como havia fascínio pelo outro lado, o que explica mais tarde também o sucesso global das Mil e Uma Noites.

O terrorismo hoje é sobretudo feito por fanáticos que dizem agir em nome do islão. Isso significa que é uma religião mais guerreira do que as outras?

Há uns anos, um académico americano elaborou uma teoria sobre o choque das civilizações. E mostrou que os muçulmanos estavam ainda em guerra com judeus, hindus, cristãos ortodoxos, católicos e animistas. Mas a tese era desmontável tendo em conta que eram conflitos localizados. Além de que a geografia do mundo islâmico o coloca no centro do mundo. Mas o jihadismo, seja da Al-Qaeda ou agora do Estado Islâmico, acaba por dar uma conotação negativa a uma religião que é seguida por 1500 milhões de pessoas no mundo.

São muitos os muçulmanos em Portugal?

Calcula-se que sejam uns 60 mil, muitos deles com uma relação a Portugal que vem de várias gerações, pois são originários da Guiné-Bissau e de Moçambique. E há algumas figuras famosas, como Zeinal Bava, antigo presidente da PT, um muçulmano sunita nascido no Moçambique colonial mas com raízes na Índia. Ou os donos das lojas Sacoor, que pertencem à comunidade ismaelita, ramo progressista do islão.

Alguma vez houve problemas em Portugal?

Não, ao contrário da Espanha, onde em 2004 um atentado matou 192 pessoas.

Há muçulmanos europeus famosos?

Nem todas as pessoas assumem se têm prática religiosa ou não, mas é possível dizer se têm raízes em países muçulmanos, como é o caso do futebolista alemão Mesut Ozil ou da advogada britânica Amal Alamuddin, agora senhora Clooney. E o turco Orhan Pamuk, Nobel da Literatura, nascido em Istambul, é certamente um muçulmano europeu.

O que dizer de tantos refugiados sírios que procuram hoje a Europa?

Que olham para o nosso continente como o eldorado. Não são invasores, mas gente que quer uma vida melhor. Fogem também do Estado Islâmico, o mesmo que matou em Paris.
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Via DN
http://www.dn.pt/globo/interior/esta-muito-presente-na-historia-de-portugal-a-luta-com-o-islao-4571936.html
17mai2015
Neste seu livro, Jaime Nogueira Pinto fala d'O Ocidente e o Islão, 
percorrendo com poder de análise a história dessa religião para
 tentar explicar a extrema violência que hoje é feita em seu nome.
O seu livro fala d"O Islão e o Ocidente. Gostava de desafiá-lo a falar 
também de Portugal e do Islão, uma velhíssima relação.
Está muito presente, de facto, na história de Portugal a luta com o islão.
 E o convívio também. Sobretudo depois da conquista de Lisboa em 1147 
e até à conclusão da conquista do Algarve. Há também a participação do 
Exército português numa Península Ibérica alargada, com as batalhas de
 Navas de Tolosa e do Salado, que aliás os espanhóis muitas vezes omitem. 
A partir de 1415 temos a guerra de África, nas praças de Marrocos que serve
 também para o tirocínio dos grandes capitães da Índia, como Afonso de
 Albuquerque. E depois esse contacto com o Islão no Índico, muito significativo
 para um lado e para o outro. Com a nossa chegada à Índia, o combate passa a 
ser com os turcos e os mamelucos, aliados aos sultanatos locais.
A chegada das naus portuguesas dá origem a grandes batalhas?
Sim, há as batalhas de Diu, primeiro com D. Lourenço de Almeida a ser
 derrotado, e depois em 1509 com a vitória de D. Francisco de Almeida. 
São feitas várias conquistas. E Afonso de Albuquerque chega a ter um 
plano para atacar Meca, mas falha porque não consegue tomar Áden.
Mas tem sucesso por todo o Índico, até no Golfo Pérsico...
Sim, os portugueses dominavam já a ilha de Moçambique, depois conquistaram 
Ormuz. E com Goa como centro controlavam todo o comércio das especiarias 
no Índico.
Este projeto imperial português no Oriente é comercial. Mas o espírito de
 cruzada também conta?
Claro. Aliás Camões põe a ser narrado esse episódio em que se pergunta aos
 portugueses porque vieram tão longe e a resposta é "à procura de cristãos e de 
especiarias". Há um conjunto de motivações que são comerciais, políticas e
 religiosas. Ora, este embate com o islão irá ainda perdurar até ao século XVIII,
 nos tempos de D. João V, mas já num âmbito coletivo, com a batalha de 
Matapão no Mediterrâneo contra o Império Otomano. E também nesse século
 perdem-se as últimas possessões em Marrocos. Depois interrompe-se esta
 relação conflitual.
Não se pode integrar a disputa entre Portugal e a Indonésia, o mais populoso
 país muçulmano, por causa de Timor, bastião católico na Ásia, na mesma lógica?
Não creio. Neste caso de Timor, a religião o que tem é um papel identitário. 
E desse papel identitário resulta depois uma consequência política. Uma
 das razões porque Timor mantém a sua identidade depois de conquistada 
pela Indonésia é o seu catolicismo. É um fenómeno semelhante ao que se 
passou na Irlanda, durante a dominação inglesa, e que com o seu catolicismo
 mantém a identidade nacional.
Tanto Al-Zawahiri, sucessor de Bin Laden à frente da Al-Qaeda, como os 
seguidores do Estado Islâmico insistem na reconquista do Al-Andaluz, no fundo
 todo o sul de Portugal e de Espanha. Porquê esse peso na mitologia islâmica?
Estamos a falar do período de maior extensão do poder muçulmano, um século 
depois de Maomé. Até serem parados em Poitiers. E o califado espanhol que 
nasce dessa expansão tem um grande significado cultural, de luxo, de requinte. 
Torna-se um mito, como o grande califado de Bagdad, que surge nas Mil e Uma 
Noites. São momentos altos que as civilizações relembram sempre, um pouco
 como nós fazemos com o nosso século de ouro das Descobertas. E é evidente 
que hoje em dia os que reclamam o califado, o regresso a uma antiguidade ideal 
e forte, insistam nessas memórias.
***
«Avante!» Nº 1463 - 13.Dezembro.2001
O momento internacional justifica algum esforço
para que se compreenda melhor a religião mais em foco
O Islão
• Manoel de Lencastre
O Islão está na ordem do dia. Toda a gente sabe porquê. Mas a verdadeira religião islâmica
 nada tem de comum com os actos e as proclamações dos seus mais desvairados
 propagandistas. É uma religião de paz. Não se coaduna com o terrorismo que em seu nome
 se pratica. Devemos compreender os homens e as mulheres do Islão. Aqueles que se 
identificam com as ideias de progresso no mundo. Não é possível esquecer os milhares de
 comunistas que têm sido martirizados pelos falsos profetas do islamismo primário que 
sempre trabalhou lado a lado com o imperialismo.
A fé islâmica foi adoptada por culturas e povos diferentes - os árabes, os persas, os turcos, os Moguls ou 
Mughals que desceram do Afeganistão e reinaram na Índia, os indonésios. Mas o cidadão ocidental está
 convencido de que a ideia do islamismo conduz a um sistema de opressão contra o sexo feminino, a
 amputações e apedrejamentos como forma de exercício de justiça. Pensamos, também, que a lealdade
 dos muçulmanos relativamente aos seus países existe condicionada pela fidelidade à religião.
 Contrariamente, os povos islâmicos acumularam ideias oblíquas quanto aos princípios gerais da civilização
 ocidental. Em muitos países islâmicos pensa-se que somos todos alcoólicos, idólatras e que as mulheres 
se conduzem escandalosamente.
O que raramente entra em discussão é o facto de que os povos dos países ocidentais bem como os das
 vastas regiões onde o islamismo se mantém, vivem, comummente, sob o jugo do capitalismo, mas
 dividem-se de acordo com princípios religiosos. Porquê? Todas as religiões são respostas ideológicas 
que se encontraram ao longo dos tempos para explicar situações que a ciência não tinha, ainda, esclarecido. 
Nestes termos, o Homem infeliz, indefeso, inculto, ilúcido, caiu na rede dos que o escravizaram para melhor 
o explorarem.
A religião islâmica foi fundada na Arábia pelo profeta Maomé. A substância do Islão ter-lhe-ia sido transmitida
 do Além por um espírito divino (Anjo Gabriel) por meio de revelações sucessivas mas fragmentadas de que
 o conjunto passou a considerar-se «a palavra de Deus» ficando tudo inscrito no Alcorão. Esta nova religião 
seria levada ao conhecimento de povos árabes pelos quatro primeiros califas que sucederam a Maomé. 
Povos que estavam na base de um imenso império compreendendo nações situadas entre o Norte da Índia
 e o Atlântico e ocupava, também, toda a zona do Mediterrâneo.
A constituição de dinastias e Estados independentes conduziria ao desmembramento desse inseguro
 império, como se viu na Espanha e na Pérsia. O império islâmico, assim, perdeu a sua unidade moral, 
institucional e económica. Mas o Islão, propriamente dito, continuou a atrair a curiosidade de outros povos
 em diferentes regiões do Globo – na África negra, principalmente, mas, também, na Europa (Balcãs) e na
 Rússia meridional.
A expressão «Islão» aplica-se, compreensivelmente, à ortodoxia muçulmana (sunita) e, igualmente, a seitas
 que os sunitas desconsideram (xiitas). Estes grupos separaram-se dos ortodoxos devido a divergências de
 ordem política ou originadas por detalhes teológicos. Não por causa de divergências de carácter doutrinário
 ou cultural. Mas a diferença entre uns e outros continua a ser profunda, mesmo no nosso tempo.
Místicos, fanáticos, anticomunistas
O Islão não é só uma religião. É, igualmente, um conjunto de leis que orientam o comportamento dos seus 
aderentes em todos os aspectos da vida religiosa, política, social e individual. A fonte dessas leis e a 
respectiva estruturação verificam-se no Alcorão. Mas a chamada Tradição do Profeta desempenha, também,
 lugar de relevo no estudo ou na aplicação da «Chariá». Aqueles que conhecem e interpretam as leis do 
islamismo são os «ulemás». O seu papel é o de «professores», regentes de consciência, jurisconsultos. 
Não constituem um clero. No Irão são designados como «mullás».
Para qualquer muçulmano, a rígida e escrupulosa observação das leis religiosas e sociais é fundamental.
 Mas surgiram tendências místicas visando a possibilidade de comunicação directa com Deus através de 
práticas de meditação profunda e de recitação exaustiva dos textos corânicos. Estas tendências foram quase
 sempre combatidas pela ortodoxia islâmica. Mas a intervenção de factores históricos e sociais resultantes do
 desenvolvimento do capitalismo e do assalto deste a todos os cantos do mundo levaria à constituição de dois
 campos no islamismo. Os místicos transformaram-se em terroristas e foram instrumentalizados para serem o
 que hoje são. No caso particular do Afeganistão, esses místicos acolheram-se logo ao seio do imperialismo 
e combateram com total dedicação a bela revolução iniciada em Cabul (Abril de 1978) pelo camarada Nur
 Muhammad Tarik e por patriotas das forças armadas como o general Abdul Kadir, que apenas desejavam
 ver o seu país sair da órbita do feudalismo e da ignorância e atingir o fim de uma escura noite.
A vida de Maomé
Maomé nasceu em Meca, no país que é, hoje, a Arábia Saudita, no ano de 570. Órfão, foi criado na casa do
 avô e passou, depois, para a de um tio. As suas experiências iniciais no seio das principais actividades em 
Meca tiveram lugar no campo comercial. Ganhou reputação como pessoa honesta e digna de confiança. 
Estas qualidades atraíram a atenção de uma viúva rica, Khadija, que também vivia de negócios e que o 
aceitou como empregado. A dedicação e a competência de Maomé conduziu a que patroa e empregado
 decidissem casar.
O futuro profeta costumava retirar-se para a montanha de Hira. Aí, meditava sobre coisas espirituais. Numa 
dessas experiências meditativas, julgou receber a visita do anjo Gabriel que o aconselhou a orar. Surgiram
 revelações durante 22 anos. A mensagem de Maomé pareceu atacar interesses criados à volta de ídolos e
 deuses do santuário de Kabah, em Meca. Na verdade, já tinha reunido um pequeno grupo de seguidores 
leais ao princípio de «um só Deus inspirador de compaixão e mercês» e dedicados, também, à protecção 
dos mais fracos e desprotegidos na sociedade. A vida, segundo o novo grupo, não devia ser perdida em
 frivolidades ou na luta por engrandecimentos terrenos - pelo contrário, devia encarar-se como fase
 preparatória para uma existência superior.
A emigração
A oposição ao Profeta por parte dos interesses preponderantes generalizou-se. O preço das novas ideias
 foi o boicote e o ostracismo. Alguns dos «quadros» de Maomé tiveram de procurar refúgio na Etiópia. 
Entretanto, a morte da esposa, Khadija, e do tio, com poucas semanas de intervalo, constituíram uma 
profunda tragédia. Os muçulmanos sentiam que a sua segurança corria perigo. Então, o Profeta tomou 
a decisão que resultaria na segunda vital transformação da sua carreira religiosa.
Existia, a norte de Meca, um oásis onde se praticava a agricultura. O nome desse lugar era Yatrib.
 Nessa zona tinham-se verificado rivalidades entre tribos diferentes. A fim de negociar a paz, Maomé,
 dirigiu-se para lá. Esta mudança ficou conhecida como a «hegira», ou emigração, e verificou-se no ano
 de 622. O grupo de apoiantes que seguiu o Profeta ficaria conhecido como os «emigrantes» e os que, 
localmente, aderiram à nova fé, seriam os «ajudantes». Yatrib passou a ser conhecida como Medina, 
a cidade do Profeta. Teve início a adopção do novo calendário islâmico.
A primeira iniciativa de Maomé na nova cidade seria a de criar uma nova ordem política e pôr fim aos 
conflitos locais que tinham existido. Diferentes religiões entre povos de origens diversas seriam respeitadas.
 As disputas mais graves teriam outro destino para serem «resolvidas por Deus ou pelo próprio Maomé». 
Todos, entretanto, teriam de participar na defesa de Medina porque os de Meca não desistiam do projecto 
de eliminação dos muçulmanos. Rivalidades entre árabes e judeus confundiam a situação em Medina.
Oito anos após a «emigração», o Profeta, que já tinha tentado a aproximação aos de Meca, negociou a
 realização de uma peregrinação que entraria na cidade, triunfalmente, em 632. Num discurso que seria 
o último, disse: «Deixo-vos algo que, se souberdes guardar, vos defenderá de cair em erro. Falo-vos do 
Livro de Deus e dos actos do seu Profeta. Aceitem, por isso, daquilo que vos digo.» Maomé morreu na
 Primavera desse ano.
A memória do Profeta costuma honrar-se entre os muçulmanos pela adesão aos princípios da sua 
«sunna» (prática e ensinamentos). Efectivamente, Maomé dissera: «Toda e qualquer das vossas acções, 
será julgada por Deus na base das respectivas intenções.» Tinha sofrido a hostilidade dos de Meca e
 acabara por concluir: «Consta da doutrina corânica que a simples adesão à mensagem, o sofrer diante 
de inevitáveias frustrações e da incapacidade para obter êxito, não passam de posições espiritualmente
imaturas.»
Os cinco pilares da religião islâmica
Disse o Profeta que o Islão se baseia em cinco pilares. Nestes, não se define a religião propriamente dita
 porque a sua essência deriva, tradicionalmente, da vida espiritual. São as formas práticas que se
 representam.
O primeiro pilar, o principal, designa-se como «Dois Testemunhos» (Shahadatayn). Todo o muçulmano 
é chamado a confirmar que «não há deuses, mas sim um só Deus e que Maomé é o mensageiro desse
 Deus». Com efeito, a teologia muçulmana afirma que Deus enviou profetas a todos os povos e que Maomé 
foi o último.
O segundo pilar consiste no dever dos muçulmanos de orarem cinco vezes por dia. Tem mais mérito orar 
na mesquita. Mas fazê-lo a sós, é aceitável. Todos, homens e mulheres, têm de tomar parte nas orações ao
 nascer do dia, ao meio-dia, a meio da tarde, ao pôr do sol e ao cair da noite. Os crentes costumam salientar
 serem as únicas pessoas de religião que oram, exactamente, como o fundador o fazia. No acto de prostração
 perante Deus, o crente acha-se absolutamente só diante dele ainda que ombro a ombro com outros.
O terceiro pilar baseia-se no princípio da caridade (zakat). Segundo o Profeta, os crentes islâmicos devem
 dar provas de solidariedade relativamente aos pobres. Espera-se dos muçulmanos que façam doação de 
uma quadragésima parte da sua riqueza, anualmente, a obras de caridade. Uma das agências de caridade
 mais conhecidas, actualmente, é o «Socorro Islâmico».
O quarto pilar do islamismo é o Ramadão. Espera-se de todos os muçulmanos adultos e em bom estado de 
saúde que durante esse período se abstenham de comer, beber, fumar e de práticas sexuais. É o tempo em 
que a caridade se pratica com mais elevação. Mentir é ultrajante. Visitam-se os doentes e os mais pobres. 
O Ramadão prolonga-se durante um mês lunar, entre 28 e 30 dias, e termina com um dos mais importantes
 festivais religiosos, o «Eid al-Fitr».
Finalmente, o quinto pilar do Islão (hajj) indica a necessidade de visitar Meca. Todos os crentes com 
possibilidades físicas e financeiras, são instigados a tomar parte numa peregrinação a Meca pelo menos 
uma vez na sua vida. Trata-de de uma simbólica jornada para Deus que começa e termina na Kabah, 
a praça construída em forma quadrada, assim acreditam, por Abraão e pelo seu filho mais velho, Ismael. 
O momento culminante da peregrinação a Meca desenrola-se fora da cidade, no Monte das Mercês, um local
 desértico onde se pensa que o Profeta terá orado.

Dicionário de Algibeira
A a Z do Islão
Abbasid - Dinastia de califas (descendentes de Abbas, tio de Maomé) originários de Bagdad (750-1258);
 terminada pela conquista mongol.
Abd al-Rachman – (891-961). Proclamou-se califa de Córdova em 929. No século X verificou-se um
 considerável florescer da cultura islâmica na Península Ibérica (al-Andalus).
Abraão – o pai, segundo Hagar de Ismaília (Ismael), dos árabes.
Alcorão – O conjunto das palavras de Deus tal como reveladas a Maomé.
Allah - Deus; nome arábico que significa Deus. É um, absolutamente, o eterno, o criador; governador, 
protector, destruidor, restaurador. O mesmo que se revelou, também, a judeus e a cristãos. No Alcorão
 existem 99 nomes para designar Deus. Os rosários que no islamismo ajudam nas orações dividem-se 
em múltiplos de onze para ajudar a meditação nesses nomes.
Aurangzed – (1618-1707). Imperador Mugal da Índia. Filho de Mumtaz Mahal para quem o pai, Xá Jahan,
 construiu o Taj Mahal, em Nova Deli. Depois de um período de violenta consolidação, governou como
 muçulmano Sunni.
Ayatollah – Categoria eminente no clero iraniano.
Al-Azhar – Notável universidade-mesquita fundada no Cairo em 978. Funcionou, durante séculos, como
 instituição independente. Conhecida pelos seus métodos conservadores. Continua a exercer influência 
em todo o mundo muçulmano.
Burga (ou burka) – Capa usada pelas mulheres do zona do Golfo e, recentemente, no Afeganistão.
 Destina-se a esconder o rosto e as formas do corpo das mulheres.
Calendário – O calendário islâmico foi estabelecido quando Maomé deixou Meca e partiu para Medina (622).

Casamento – O consentimento da noiva é essencial. O divórcio é possível desde que o marido repudie a
 esposa, por consentimento mútuo ou por decisão de um tribunal. Presumia-se que o máximo número de 
esposas permitido seria de quatro. O adultério é interdito.
Chador – Peça exterior do vestuário das mulheres iranianas destinado a cobrir-lhes as formas do corpo e 
o rosto.
Córdova – Quando a dinastia Umayyad (Damasco) terminou em 750, al-Andalus (Espanha) continuou a ser
 governada por príncipes a ela pertencentes. Em 929, Abd al-Rachman proclamou-se califa e passou a 
governar sediado em Córdova. O califado Umayyad só se extinguiria em 1016.
Doze (Grupo de ) – Xiitas que seguiram os 12 imãs descendentes de Ali. Acreditam que o 12.º permanece 
escondido do mundo e regressará antes do fim.
Fátima – Filha do Profeta. Casou com Ali.
Fatwa – Espécie de opinião legal fornecida por um especialista no estudo das leis islâmicas; os «muftis» 
(funcionários do aparelho judicial) também têm, tradicionalmente, decretado «fatwas» como esclarecimento 
dessas leis.
Hadith – Relação das práticas e das afirmações do Profeta Maomé.
Hajj – Peregrinação a Meca. Um dos cinco pilares do Islão.
Halal – Significa permissão, segundo o próprio Alcorão. Aplica-se a quase tudo, mas não a produtos 
alimentares. Os alimentos «Halal» apenas incluem carnes de animais permitidos que tenham sido 
ritualmenete sacrificados, caça por Deus abençoada, peixes e outras espécies marinhas.
Hassan – O mais velho dos filhos de Fátima e Ali. Este sucedeu a Maomé como quinto profeta.
Hijab – Cortina ou divisão atrás da qual as mulheres podiam sentar-se; forma de vestuário feminino menos 
formal.
Hussein – Neto do Profeta; filho mais novo de Hassan. A sua morte (680) é considerada acontecimento 
central na religião muçulmana de derivação Xiita.
Ibn Rashid – Conhecido no Ocidente como Averroes (1126-1198). Nasceu em Córdova. Filósofo de 
considerável influência devido à sua análise da obra de Aristóteles. São Tomás de Aquino chamou-lhe
 «O Comentador» e Dante aproveitou algumas das suas ideias.
Ibn Sina – Conhecido no Ocidente como Avicena (980-1037). Nasceu em Bukara (Uzbequistão). 
Mestre da medicina e da filosofia. Trabalhou nas teses de Aristóteles e Platão.
Ibn Taymiyah – Pensador de tendências radicais-conservadoras (1263-1328). Condenou peregrinações 
aos túmulos dos santos.
Ijtihad – Palavra que se aparenta com «jihad». Aplica-se ao esforço que se faz para avaliar assuntos não
 especificados no Alcorão.
Imã – Aquele que regula e dirige as orações. A pessoa mais sabedora e mais reverenciada entre as que 
oram conjuntamente. Chefes espirituais descendentes de Ali, genro de Maomé. O 12.º imã, nascido em 869, 
desapareceu. Mas, no islamismo, espera-se que regresse antes do fim do Mundo.
Império Otomano – Os turcos otomanos tomaram o controlo da região dos Balcãs (século XIV) e capturaram
 Constantinopla em 1453. O cume do seu poderio verificou-se no tempo do sultão Suleyman, o Magnifico, 
que reinou entre 1520 e 1566. No século XVIII, os sultões otomanos reclamaram o título de califas, mas essa
 designação seria abolida em 1924.
Jahilliyad - Tempo de ignorância e de idolatrias depois da corrupção do monoteísmo primordial e antes da
 revelação de Maomé.
Jesus – Nome arábico para Isa, no Alcorão. Reconhecido como profeta, tendo nascido como filho da virgem 
Maria por directa intervenção de Deus. Mas o Alcorão diz: «Longe esteja o conceito de que Deus tem um 
filho.» A morte de Cristo na cruz é rejeitada. Também ele regressará antes do fim do Mundo.
Jihad - Palavra arábica que significa luta. Luta moral realizada para levar à prática os mandamentos de 
Deus. Também significa guerra santa contra os inimigos do Islão. Não pode ser declarada a outros
 muçulmanos. Quando exercida contra infiéis deve considerar-se que tem possibilidades de êxito.
Kabah – O edifício em Meca para onde as peregrinações se dirigiam antes de Maomé. Num dos respectivos
 ângulos encontra-se a «Pedra Negra» que, após o fogo de 684, se dividiu em três.
Madrassa – Estabelecimento de ensino do Alcorão. No século X estas escolas ministravam o estudo de 
ciências islâmicas e literatura paralelamente a outras classes que tinham lugar nas mesquitas. No século
 XIX estavam em clara decadência. Mas os interesses perversos do imperialismo americano fizeram-nas
 renascer para que produzissem terroristas e inimigos jurados da URSS e das ideias marxistas.
Maria, mãe de Jesus – Mariam, em arábico. No Alcorão, o pai de Maria é Imran. É, também, designada
 como uma das melhores quatro mulheres que jamais existiram. É aceite como tendo concebido Jesus 
enquanto virgem.
Meca – Cidade onde Maomé nasceu. Era centro comercial e de peregrinações.
Mesquita – Lugar de orações públicas, que não tem de ser coberto.
Mufti – Jurista ou advogado religioso.
Mujtahid – Autoridade religiosa na sociedade xiita que aparece junto dos crentes dado que o imã 
permanece isolado.
Mullá - Nome aplicado a um professor de religião, no Irão e na Ásia Central;
Noite do Poder e da Excelência - Noite considerada «melhor do que mil meses" durante a qual, em 610,
 o Alcorão penetrou a alma de Maomé. Durante o Ramadão, considera-se que é a 27.ª noite desse mês 
lunar.
Noite de "hadith" – Viagem de Maomé ao Monte do Templo em Jerusalém de onde foi guiado ao paraíso
 pelo anjo Gabriel. Aí, Deus ordenou-lhe que, regressado à Arábia, orasse cinco vezes por dia.
Omar Kayyam – Umar al-Kayyam (1048-1125), poeta, matemático, astrónomo. Reformou o calendário 
persa e isolou 13 diferentes equações cúbicas.
Pilares do Islão – Os cinco pilares da religião islâmica (ver peça separada);
Povo do Livro de Deus – O Alcorão reconhece Judeus e Cristãos como tendo recebido reconhecimento
 por parte de Deus, ainda que tenham corrompido o conteúdo dos livros sagrados.
Qiyas – Princípio de analogia e lógica que ajuda a decidir a aplicação da lei.
Ramadão - Mês da revelação do Alcorão. A palavra é de origem pré-islâmica e significa o calor do Verão.
 É o mês sagrado dos islamitas. Os mais devotos conseguem recitar todo o Alcorão durante este período.
Sayyd Qutb - Escritor e pensador egípcio (1906-1966). Desenvolveu a ideia de que muito do mundo
 islâmico regressara à ignorância e advogou a convicção de que os povos árabes deveriam retornar ao
 Islão primitivo. Aderiu à seita dos «Irmãos Muçulmanos» em 1953. Foi executado em 1966.
Saladino – Sallah ad-Din al-Ayyubi (1137-1193). Filho de um general curdo que tomou o Egipto aos 
Fatimidas e alargou o seu Império à Síria e à Anatólia. Derrotou os Cruzados em Hattin (1187) e conquistou 
Jerusalém.
Sheik (ou Xeque) – Palavra arábica que significa «um homem velho»; termo que denuncia respeito.
Santos - No Islão reconhece-se o carácter «santo» de alguns dos melhores amigos de Deus que são 
vistos como fabricantes de milagres. Entre os xiitas, os imãs são, por vezes, considerados como perto 
dos santos, pessoas que guiam os homens para mais perto de Deus.
Sufis – Expressão que designa posições entre sunitas e xiitas. Significa, também, uma forma de procurar 
Deus através de contemplações da alma.
Suleyman, o Magnífico – Califa otomano (1494-1566) que levou o Império turco à sua máxima glória.
 Anexou a Hungria, cercou Viena, ocupou Hejaz, a província da Arábia que inclui Meca e Medina.
Sunnis – os 90% de todos os muçulmanos que seguem o Alcorão na forma recebida dos primeiros califas.
Timur – Senhor de Samarkanda (1336-1405). Fundou a dinastia Timurid da qual descenderia Babur,
 o fundador da dinastia dos Mughal. Os exércitos de Timur ocupavam áreas que iam das estepes siberianas
 à Pérsia e à Índia.
Ummayyad – Dinastia dos califas que governaram em Damasco (661-750).
Wahhabismo – Movimento radical que propunha fazer regressar o Islão às suas raízes pela aplicação 
de ensinamentos e métodos coercivos. Foi fundado por Mohamed Ibn al-Wahhab (1703-1791) e teve 
predominância na Arábia Saudita. Os seus seguidores designaram-se como «mujjahiddin» ou unitários.
***

29 de Maio de 1453: Queda de Constantinopla marca o fim da Idade Média

A data de 29 de maio de 1453 figura tradicionalmente entre as datas-chave da História. Nesse dia, Constantinopla cai nas mãos do sultão otomano Maomé II. A cidade, vestígio do Império Romano do Oriente e do Império Bizantino, era a última depositária da Antiguidade Clássica, além de muralha da cristandade ante a pressão do Islão.

A sua queda provocou forte comoção em toda a cristandade e consagra o surgimento de uma nova era histórica.

A capital do Império Bizantino já havia sido cercada duas vezes pelas frotas muçulmanas. O primeiro cerco durou cinco anos de 673 a 677; o segundo, um ano somente, em 717.

Nos dois episódios, os árabes foram repelidos graças a uma arma secreta dos bizantinos : o fogo grego. Tratava-se de uma mistura misteriosa de salitre, betume e enxofre que possuía a particularidade de queimar mesmo sob a água. Propelida em direcção às embarcações inimigas, permitia incendiá-las de um só golpe. Apesar disto, os bizantinos perderam ao longo dos séculos a sua superioridade bélica.


A queda da "Nova Roma" tornou-se inadiável quando novos invasores vindos da Ásia, os turcos otomanos, atravessaram o Estreito do Bósforo. Tomaram a maior parte dos Balcãs e instalaram a sua capital em Adrianópolis, cerca de Constantinopla. Isolando esta cidade, impediram qualquer apoio das nações ocidentais.

A partir do século XIV, as vitórias dos turcos no Kosovo e Nicópolis sobre os cristãos prenunciavam a queda iminente de Constantinopla.
A cidade de Constantino I, em meados do século XIV, era um pequeno Estado relacionado com os mercados do Extremo Oriente, porém em benefício dos mercadores de Veneza e Génova que negociavam com a seda chinesa por eles trazida.

Em 1451, Maomé II sucede a seu pai, Murad II, à frente do Império Otomano. Nascido de mãe escrava e cristã, o novo sultão, de 19 anos, decide acabar com Constantinopla.

Envia, em Julho de 1452, uma declaração de guerra ao imperador bizantino. Dois meses mais tarde, desencadeia as hostilidades testando as muralhas da cidade com 50 mil homens. O cerco começa em Abril de 1453 com 150 mil homens e uma poderosa frota. Os bizantinos só dispunham de sete mil soldados gregos e um destacamento de 700 genoveses sob o comando de Giovanni Longo, além de 40 navios.

O imperador Constantino XI envia emissários, disfarçados de turcos, que se infiltraram entre os navios e chegaram a Veneza. A Sereníssima República logo arma 10 embarcações para socorrer os seus tradicionais aliados. Porém, a ausência de vento e a pouca pressa dos venezianos não permitiram chegar a tempo para salvar Constantinopla.

Diante do tríplice anel de muralhas, Maomé II recorre a todos os seus recursos de artilharia. Durante semanas, sem trégua, arremessam  projécteis com as suas bombardas. Dispunha também de uma bombarda especial, a “Real” que, montada sobre um impressionante castelo de madeira e manobrada por um milhar de homens, atirava sobre a cidade enormes pedras pesando até 700 quilos.

  
A frota do sultão cerca a cidade pelo Bósforo e o mar de Mármara mas não consegue entrar no canal do Corno de Ouro que fecha a cidade pelo leste, protegida por uma cadeia de montes que interdita o acesso.

Em desespero de causa, Maomé II faz construir sobre a Colina de Gálata, da margem do Bósforo à margem do Corno de Ouro, uma pista de madeira de 4,5 quilómetros que permitiu a chegada dos soldados até à borda do Corno de Ouro.

No dia 28 de Maio, os arautos do sultão anunciam a batalha decisiva. Na alvorada de 29, dezenas de milhares de ansiosos soldados invadem a cidade. Diante da Basílica de Santa Sofia, o imperador Constantino XI, de armas na mão, morre no meio dos seus soldados. Ao meio-dia o sultão entra triunfalmente na cidade.Os combates fizeram pelo menos quatro mil mortos.
Maomét II, que se dispunha a fazer de Constantinopla a capital e conservar a sua grandeza, fez chegar à cidade habitantes de todo o Império a fim de assegurar o seu antigo esplendor. Logo mudou a capital de Adrianópolis para Constantinopla, em seguida rebaptizada de Istambul.
A cidade atingiria o seu apogeu sob o reinado de Solimão, “o Magnífico”, e até o fim do Império Otomano manteria uma população maioritariamente cristã.
Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)

Maomé II com o exército otomano em marcha desde Edirne, transportando a grande bombarda -Fausto Zonaro

O Cerco de Constantinopla


Constantinople 1453.jpg
As Muralhas de Constantinopla


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18 de Junho de 1037: Morre Avicena, o "príncipe dos sábios"

Ibn Sina ou Avicena, médico, filósofo e cientista persa, morre em Hamadan no dia 18 de Junho de 1037. Escreveu cerca de 300 livros sobre diferentes temas, predominantemente de Medicina e Filosofia.

Os seus textos mais famosos são O Livro da Cura e O Cânone da Medicina, também conhecido como Cânone de Avicena. Os seus discípulos deram-lhe o cognome de Cheikh el-Rais – “príncipe dos sábios” – o terceiro grande mestre depois de Aristóteles e Al-Farabi. É considerado um dos principais médicos de todos os tempos.

Avicena nasceu em 7 de Agosto de 980 em Afshana, actualmente Uzbequistão. Consta ter sido precoce no seu interesse pelas Ciências naturais e a Medicina, tanto que aos 14 anos estudava sozinho. Foi enviado para estudar cálculo com um mercador. Tinha boa memória e recitava largos trechos do Corão.

Ainda jovem estudou os saberes da época como Física, Matemática, Filosofia, lógica e o Corão. Foi influenciado por um tratado de Al-Farabi que lhe permitiu superar as dificuldades em entender a Metafísica de Aristóteles. A precocidade nos estudos reflectiu-se na precocidade na carreira pois aos 16 anos já se aproximava de médicos famosos e aos 17 gozava de fama como médico por ter salvo a vida do Emir Nuh ibn Mansur.
Conseguiu permissão para aceder à biblioteca real, onde ampliou os seus conhecimentos de  Matemática, Música e Astronomía. Converteu-se em médico da corte e conselheiro científico até à queda do reino samani em 999.

Em Hamadan, o emir Shams al-Dawla  escolheu-o como ministro. Dedicou-se de dia à administração pública e de noite à ciência. Aos 20 anos, escreveu 10 volumes chamados O Tratado do Resultante e do Resultado e um estudo dos costumes da época, A Inocência e o Pecado. Com esta obra, a sua fama como escritor, médico, filósofo e astrónomo estendeu-se por toda a Pérsia.

Em 1021, a morte do príncipe al-Dawla e o começo do reinado do seu filho Samah cristalizaram as ambições e os rancores. Vítima de intrigas políticas, Avicena foi preso. Disfarçado, conseguiu fugir para Ispahán.

Com 32 anos deu início à sua obra-prima, o  Cânone de Medicina, que continha a colecção organizada dos conhecimentos médicos e farmacêuticos da sua época.

Durante uma expedição a Hamadan, actual Irão, o filósofo sofreu uma crise intestinal grave que contraiu, segundo disseram, por excesso de trabalho e de prazer. Tentou curar-se porém o remédio foi fatal. Morreu aos 57 anos.
A obra de Avicena é de importância capital. Foi traduzida para o latim no século XII, reforçando a doutrina aristotélica, fortemente influenciada pelo pensamento de Platão.

Avicena declarou ter lido em mais de 40 ocasiões a Metafísica sem chegar a entendê-la completamente. Mesclou a doutrina aristotélica com o pensamento neoplatónico, adaptando-os ao mundo muçulmano. Colocou a razão acima do ser e explicou que com isso se buscaria a perfeição.
Teve grande influência sobre pensadores do porte de Santo Tomás de Aquino, Boaventura de Fidanza e Duns Escoto. Desenvolveu muito antes de Descartes um pensamento similar: o conhecimento indubitável da própria existência.

Se bem que inclinado à mística, tratou o tema de modo objectivo. O ascetismo não lhe bastava, acreditava que se deveria buscar a iluminação como acto final do conhecimento. A iluminação obtinha-se por meio dos anjos que actuavam como união entre as esferas celestiais e as terrestres. Avicena abriu caminho para um novo ramo da filosofia islâmica, a sabedoria da iluminação, a chamada Metafísica da Luz, inaugurada pelo seu seguidor Suhrauardi.

A obra de Avicena é numerosa e variada. Escreveu principalmente no idioma culto do seu tempo, o árabe clássico, porém às vezes também no vernáculo, o persa.

Um dos seus textos mais famosos é o Al Qanun, cânone de medicina, também conhecido como Cânone de Avicena, enciclopédia médica de 14 volumes escrita por volta de 1020. Baseia-se numa combinação da sua própria experiencia pessoal, de medicina islâmica medieval, dos escritos de Galeno, Sushruta e Charaka, bem como na antiga medicina persa e árabe. O Cânone é considerado um dos livros mais famosos da história da medicina.

Outra grande obra, O Livro de Orientações e Advertências, trata de temas de Filosofia e Mística. Nesta obra aparece o seu famoso argumento do Homem Voador, predecessor do ‘cogito, ergo sum’ cartesiano, em que expunha que um homem suspenso no ar, sem contacto com nada nem sequer o seu próprio corpo, sem ver nem ouvir, afirmará sem dúvida que existe e intuirá o seu próprio ser.
Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)


 
Representação de Avicena de 1271
Primeira página de um manuscrito da autoria de Avicena
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23 de Fevereiro de 532: O Imperador Justiniano ordena a construção da Basílca de Santa Sofia em Constantinopla

O imperador Justiniano I, juntamente com o patriarca Eutíquio de Constantinopla, inauguraram a basílica de Santa Sofia em Dezembro de 537 com pompa e circunstância.

A decisão da construção da basílica aconteceu a 23 de Fevereiro de 532, apenas alguns dias depois da destruição da segunda basílica, Justiniano I decidiu construir uma terceira, completamente diferente, maior e muito mais majestosa que as suas antecessoras.
Justiniano escolheu o médico Isidoro de Mileto e o matemático Antémio de Trales como arquitectos, mas Antémio morreu ainda no primeiro ano da empreitada. A construção foi descrita na obra "Sobre Edifícios" do historiador bizantino Procópio. O imperador mandou buscar materiais de construção de todo o império - colunas helénicas retiradas do Templo de Artemis, em Éfeso - uma das Sete Maravilhas do Mundo - , grandes blocos de pórfiro de pedreiras no Egipto, mármores verdes da Tessália, pedras negras do Bósforo e amarelas da Síria. Mais de 10 mil pessoas foram empregadas na construção. A nova igreja foi logo reconhecida como um grande feito de engenharia e arquitectura. Santa Sofia tornou-se então a sede do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla e o local preferido para realização de cerimónias oficiais do Império Bizantino.

A Basílica de Santa Sofia, também conhecida como Hagia Sophia (Sagrada Sabedoria) é um imponente edifício construído entre 532 e 537 pelo Império Bizantino para ser a catedral de Constantinopla, actual Istambul, Turquia. De 1204 a 1261 foi convertida em catedral católica romana durante o Patriarcado Latino de Constantinopla que se seguiu ao saque da capital imperial pela Quarta Cruzada. O edifício foi uma mesquita entre 1453 e 1931, quando foi secularizada. Reabriu como museu em 1 de Fevereiro de 1935.

A igreja foi dedicada ao Logos, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, com a festa de dedicação realizada em 25 de Dezembro, data em que se comemora o Nascimento de Jesus, a encarnação do Logos em Cristo. Embora seja chamada de "Santa Sofia", como se fosse dedicada a Santa Sofia, sophia é a transliteração fonética em latim da palavra grega para "sabedoria".

Famosa principalmente pela sua enorme cúpula, é considerada o epítome da arquitectura bizantina e é tida como tendo "mudado a história da arquitectura." Foi a maior catedral do mundo por quase mil anos, até que a Catedral de Sevilha fosse completada em 1520.

A igreja continha uma grande colecção de relíquias e tinha, entre outras coisas, uma iconóstase de 15 metros de altura em prata. Era a sede do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla e o ponto central da Igreja Ortodoxa por quase mil anos. Foi ali que o cardeal Humberto excomungou, em 1504, o patriarca Miguel I Cerulário, iniciando o Grande Cisma do Oriente, que perdura até hoje.

Em 1453, Constantinopla foi conquistada pelo Império Otomano chefiado pelo sultão Mehmed II que em seguida ordenou que o edifício fosse convertido numa mesquita. Os sinos, o altar, a iconóstase e os vasos sagrados foram removidos e diversos mosaicos, cobertos. Diversas características islâmicas, como o mihrab, o minbar e os quatro minaretes, foram adicionadas durante esse período. Permaneceu como mesquita até 1931, quando Kemal Ataturk ordenou que fosse secularizada. Permaneceu fechada ao público por quatro anos e reabriu em 1935 já como museu da recém-criada República da Turquia. Uma missão da Unesco em 1993 notou revestimentos de mármore sujos, janelas quebradas, pinturas decorativas danificadas pela humidade. Desde então a limpeza e o restauro têm sido empreendidos.
Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)

O interior de Santa Sofia

O interior da Basílica de Santa Sofia por John Singer Sargent,1891
 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/02/23-de-fevereiro-de-532-o-imperador.html?fbclid=IwAR2T_xRzmHSBP3mjvTiJG21-0cgV3cW9ug1gSoN8V_bblDZjtO9TLTq5xlY
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