20/01/2016

5.604.(20jan2016.13.31') João de Melo

Nasceu 1949
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20jan2016
venceu Prémio Vergílio Ferreira (U.Évora)
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O + premiado
e o que li
Via Nuvem
Gente Feliz com Lágrimas
http://leiturasemclube.blogspot.pt/2014/08/gente-feliz-com-lagrimas-joao-de-melo.html

 O título deste livro é belíssimo. Há muito que alimentava a vontade de o ler devido sobretudo ao título. Foi uma feliz coincidência tê-lo lido depois de uns dias passados nos Açores, com a recordaçao ainda presente da neblina, do mar, das ilhas, das vacas, das hortênsias e das criptomérias. E com a lembrança da igreja, omnipresente. Quando foi pubicado em 1988 foi considerado um romance inovador na estrutura, mas penso que ainda o é. Apresenta-se dividido em cinco livros. 
    O livro primeiro, O tempo de todos nós, tem um capítulo inicial com o título Um qualquer de nós. Os restantes capítulos deste livro são narrados à vez pelo Nuno Miguel, Maria Amélia e Luís Miguel, irmãos mais velhos de nove filhos sobreviventes.  Neles apresentam-se na primeira pessoa do singular, mas como se falassem com alguém, eventualmente um entrevistador ou um biógrafo. Não contam realidades distintas, mas visões pessoais de uma infância partilhada e infinitamente triste a que Nuno Miguel e Maria Amélia tentam escapar através da entrada num seminário e num convento, respetivamente. Mas a falta de vocação e a frieza destas instituições só servem para prolongar a tristeza da infância. A extrema pobreza, a exigência e a agressividade do pai é acompanhada pela mãe e até agravada. Mais tarde, Nuno Miguel falará no único problema das suas vidas. Todos se ressentem ainda duma inexplicável ausência de colo materno (pg. 352).
    O livro segundo, A 3ª pessoa do singular, narra a saída (expulsão?) de Nuno do seminário, a vida em Lisboa, inicialmente partilhada com a irmã mais velha, Maria Amélia, a estudar para ser enfermeira, e a paixão por Marta.
    O livro terceiro, Ùltimo suspiro de mamã, narra a ida de Nuno Miguel a Vancouver e Toronto, onde residem todos os seus irmãos, para se despedir da mãe, agonizante. Neste encontro, Nuno Miguel encontra os irmãos que quase desconhece (Não me lembro de os ter visto nascer, não me lembro como choravam ou sorriam. pg 312). O sucesso dos irmãos e irmãs é patente nas casas e nos carros que ostentam, mas sentem um imenso orgulho naquele irmão que permaneceu em Portugal e onde triunfou como professor, primeiro, e como escritor, depois. A diferenças das vidas é ilustrada na forma distinta como Nuno Miguel e os emigrantes açorianos - que poderiam ser os seus irmãos - são tratados à chegada ao Canadá.
    O livro quarto, A outra versão de Marta, é a história da paixão, casamento e divórcio de Nuno e Marta. De como se vão afastando imperceptivelmente ao longo dos anos, até que a distância entre ambos se torna inultrapassável.
    O livro quinto, Regresso invisível, relata o regresso de Nuno Miguel à casa da família que, por vontade do pai, herdou. Nesta viagem é acompanhado por Rui Zinho, seu pseudónimo, e encontra as últimas mulheres da família: excessivamente velhas, brancas e pelo menos tão nocivas como o luto das suas vestes.
    O livro acaba com o Livro zero, A felicidade sábia, que é um posfácio e uma declaração de amor às ilhas açorianas, a Lisboa e à família.O regresso, a reconciliação possível com as origens.

     Na contracapa o livro é apresentado como uma saga que percorre cinco mundos através da obsessiva busca de felicidade que move os seus protagonistas. Discordo desta ideia. Há uma busca pela sobrevivência com dignidade mas não da felicidade. Como é dito a propósito de Maria Amélia, o hábito de ser triste culpabiliza nela a própria ideia de felicidade. Tal como nós, não sabe ser feliz sem lágrimas, nen rir sem o remorso da alegria, e isso vê-se-lhe nos olhos. (pg. 49). A ideia da felicidade temperada com lágrimas é retomada mais vezes, a propósito dos pobres (pg. 27) mas também do pai quando depois de ter deixado o filho, Nuno Miguel, às portas da morte consegue que ele coma: E os olhos dele, rasando-se de lágrimas, eram afinal olhos felizes com lágrimas (pg. 208). E em todo o livro perspassa uma imensa tristeza, raramente interrompida. Mesmo no final, quando Nuno Miguel encontra os seus livros intactos, não lidos na casa que herdou dos pais e sente a incompreensão daqueles para quem especialmente escrevera, E um escritor que não comece por ser lido por um único que seja dos membros da sua tribo será sempre o pior, o mais inútil de todos os escritores do mundo.(pg. 455)

     Um livro belíssimo, a não perder.
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  Entrevista com o autor nos 25 anos da primeira edição:
 https://www.youtube.com/watch?v=6e96PlyGjK8

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http://queroumlivro.blogspot.pt/2011/04/gente-feliz-com-lagrimas-joao-de-melo.html
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excerto:
http://criarlacos-ex-dominicanos.blogspot.pt/2009/01/excerto-de-gente-feliz-com-lgrimas-de.html
“Nuno Miguel sentiu-se levado ao contrário: o seu espírito saiu das horas diurnas de Lisboa para a noite pesada da província. Atravessou o país na diagonal, em companhia de dois homens sorridentes que durante três horas se esforçaram em vão por entender o seu discurso açoriano. No decorrer dessa noite infinita, ou de todas as que se lhe seguiram, fizeram-lhe dezenas de perguntas inúteis, e ele esforçou-se sempre por a elas responder dum modo claro, martelando bem as sílabas e escolhendo, por simples intuição, o seu melhor vocabulário. Ao mesmo tempo, preocupou-se em evitar o emprego dos sons ossudos, decidindo-se por imitar a pronúncia redonda e as frases proferidas pelos seus interlocutores.
Quando chegaram à aldeia e ele avistou ao longe um casarão iluminado na noite sem estrelas desse tempo, percorreu-o um indefinido terror. A casa era afinal um túmulo em ponto grande. A noite que a rodeava dificilmente deixava de parecer-se com a seda de que são feitos os véus dos defuntos. Apeou-se da furgoneta e teve de ser amparado pelos ombros, porque cambaleava nas trevas. Sono, fadiga e desânimo vinham juntar-se à sua timidez e apô-lo ao ridículo e ao riso dos outros. Daí a pouco, vieram recebê-lo dois padres acinzentados no sorriso que trajavam túnicas cor de pérola. As cabecinhas de pássaro, rapadas à navalha na altura da nuca, tornaram-se irrequietas, lá ao cimo do escapulário e do capuz descaído sobre os ombros. O mundo estava todo do avesso, porque Nuno sempre vira os padres vestidos de negro. Pensava que só essa cor aplicava a importância e a mortalha mundana de todos os padres, o seu tristonho olhar de corvos e até a pequena santidade dos seus ritos.
Também eles se inclinaram para ele e apuraram o ouvido, pedindo-lhe que repetisse e falasse mais alto, a fim de o perceberem. Compreendeu que começavam a acusá-lo de ter chegado com dois meses de atraso. A acusá-lo da sua linguagem, do malote de ripas que o pai fizera e cuja pega de alumínio se partira, e a acusá-lo da primeira e única solidão que os meninos herdaram de mamã. Já com a bagagem arrumada debaixo da cama que lhe havia sido reservada ao canto do dormitório, disseram-lhe para descer. O reitor esperava-o cá em baixo, ao fundo de dois lanços de escadas. Viu-o de pé, entre os bustos dos santos perfilados nas suas peanhas, e receou estar sendo levado à presença dum colosso. Disseram-lhe que devia beijar-lhe a mão, flectir simbolicamente os joelhos, baixar a cabeça e dizer-lhe boa noite. Além da lisura dos tecidos e das polpas de carne que a almofadavam por dentro, impressionou-o logo o tamanho excessivo daquela mão. Ao olhar lá muito para cima, na esperança de lhe ver o rosto, avistou apenas as narinas dum homem ainda jovem, mas da altura do tecto. Os braços findavam nuns ombros grossos e tão salientes como asas de anjo. Mais tarde, quando se tomou vítima daquela força, Nuno havia de pensar que existia uma harmonia perfeita entre a estatura do homem e o poder quase divino da voz, dos passos pesados e da justiça canónica do reitor. Os mesmos braços que fortemente o estreitavam contra si e quase o tomaram em peso seriam afinal os que vezes sem conta, ao longo de anos, o educariam ao bofetão. Despedidas de surpresa e no meio do silêncio, as bofetadas abriam clareiras de corpos derrubados que se espalhavam pelo chão das salas de estudo como corolas de animais abatidos. Força, violência e exaustão, além do castigo de ir rezar durante as horas do recreio, educaram-no para o respeito e para o ódio. Contudo, sempre que dera por si a voar e a cair das cadeiras sob o impulso daquelas mãos, limitara-se a invocar o santo nome de Deus, sabendo que o fazia repetidamente em vão.
No refeitório, uma onda de entusiasmo recebeu-o de mesa em mesa, ao ser apresentado a todos como «o açoriano». Assim que o reitor bateu as palmas, e o prefeito, secundando-o com ar servil, exigiu silêncio, sua reverência deu as boas-vindas ao candidato, deplorou os seus dois meses de atraso nos estudos e pediu a todos a caridade de o ajudarem na Matemática e no Latim. Estava finalmente entre os muitos que Deus chamara e os poucos por Ele escolhidos – com um prato de carne assada e esparguete na frente, os ossos moídos pela fadiga e um sino de pranto na alma. Sem olhar os rostos que o rodeavam e começavam a inclinar-se para si, viu os rostos. Recebeu nos seus o peso de todos aqueles olhos. Aos primeiros interrogatórios respondeu que se chamava Nuno Botelho, ia fazer onze anos e tinha seis irmãos nos Açores. Educadamente, pediram-lhe que fizesse o favor de repetir. E como ficassem a olhar uns para os outros e a franzir os lábios e a encolher os ombros, sempre educadamente, teve a lucidez triste de pensar que talvez fossem cidadãos dum país em tudo diferente do seu. O mesmo no nome e na religião, sem dúvida. Porém, quanto ao nome, ao verbo e à origem dos seus santos, um país sem mar nem barcos e já muito distante da sua infância.
Após o recreio nocturno, seguiu a multidão dos seminaristas até à capela. Embrulhado no tropel dos passos que martelavam os sobrados e depois fizeram ranger as bancadas do templo, não pudera ainda aperceber-se de que ali as horas haviam sido subtraídas aos relógios. O tempo era a sineta de bronze, as filas intermináveis, o culto do silêncio, a proibição religiosa da alegria. Serviu-se dum manual de orações para seguir as rezas que a maioria aprendera já a reproduzir de cor. Compreendeu apenas que o Sono dos Justos, ao qual o salmo aludia, estava já clamando no deserto, dentro de si. A fadiga do corpo turvava-lhe o espírito, esvaziando-o de todas as emoções. Depois, já com as luzes do dormitório apagadas, desejou poder dissolver-se nas trevas e extinguir-se na noite enigmática do futuro. O som de esporas dos colchões, o sussurro dos vizinhos de cama e o chiar de murganho dos sapatos do prefeito perturbavam definitivamente o silêncio interior e esse desejo de sono e dissolução. Sabia que ia precisar de dormir muitas horas seguidas para conseguir superar o tumulto do mar e dos barcos, o qual perdurava dentro de si como uma surdez que lhe envolvia não um mas todos os sentidos. Não lhe fora dito ainda que, no outro dia e em quantos deviam seguir-se-lhe, viria sempre um prefeito às seis da manhã acordá-lo. Ele bateria as palmas ao longo daquele corredor de camas, os seminaristas pôr-se-iam religiosamente de pé, benzendo-se estremunhadamente, e a sua voz fria e madrugadora diria dum modo imperativo, difícil de reproduzir:
– Benedicamus domino!
– Deo gratias!
Quando estava quase a dissolver-se nesse sono sem princípio nem fim, do qual vieram a turvar-se todos os anos, recomeçaram a girar-lhe dentro da cabeça as turbinas dos barcos, o zumbido do motor da furgoneta atravessando a noite provinciana e também as vozes daqueles que, perto de si, continuavam a chamá-lo baixinho. Atormentava-os uma curiosidade minuciosa, feita de segredo e clausura, por mais esse naufrágio. Só que aquele náufrago, assim inquirido e misterioso, viera mesmo do mar e só ele trazia consigo a notícia dum passado açoriano.
Aterrorizou-o um pouco a ideia de ficar ali, abandonado à presença de tantos estranhos. De dormir entre gente vinda de todas as terras do seu país, falando a mesma língua, mas gente que não entendera ainda uma única das suas frases e jamais entenderia uma ideia, uma palavra que fosse de cada uma das suas frases...
Para não ter de continuar a responder-lhes e a não ser compreendido, decidiu agarrar na almofada e comprimi-la à volta dos ouvidos. A sua vida ia assim mergulhar num subterrâneo sem fundo nem altura. Nunca mais ele voltaria a ser igual a si mesmo. Então, abriu muito os olhos. Queria conhecer e ao mesmo tempo despedir-se, decifrar e compreender as formas que se modelavam no escuro do dormitório. Amá-las com ódio e odiá-las com amor, talvez. Vendo-as, não estranhou o arrepio e por isso voltou a cerrar os olhos com força. Surpreendeu-o então o facto de o rosto da mãe se ter iluminado, como numa aparição. Havia uma auréola de santa, ou tão-só uma estrela que parecia palpitar no coração da noite. Levado por tal ilusão, tentou sorrir-lhe. Contudo o sorriso dela era também feito de sombra. Não pôde resistir às sombras. Um sorriso assim doía mais do que a dor de estar vivo. Valia talvez um pranto ou um riso convulso. Ao sentir a boca torcer-se e fazer apelo a esse pranto, Nuno procurou suster toda a emoção dentro de si. Prometeu que não ia nunca chorar sobre as lágrimas e sobre a terra da infância. E que ia ser feliz.”
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excerto:
http://queroumlivro.blogspot.pt/2011/04/gente-feliz-com-lagrimas-joao-de-melo.html
"Não compreendera ainda como o tinha eu salvo da crucificação. Mas quando os seus braços musculados se abriram para o meu corpo delgado, senti que o peito se lhe tornara discretamente ofegante, ao reconciliar-se com o meu. E, estando eu morto, ressuscitei. E, pedindo-me ele de novo que comesse, agarrei na tigela com as mãos muito trémulas e pus-me a sorver, em apressados e sôfregos tragos, aquele delicioso caldinho de farinha, com cujo sabor se cruzou para sempre a memória doce da minha infância. E os olhos dele, rasando-se de lágrimas, eram afinal olhos felizes com lágrimas - assim você me perdoe o facto de a minha história comportar também episódios felizes..."
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Autópsia De Um Mar De Ruínas
https://www.leyaonline.com/pt/livros/literatura/literatura-classica/autopsia-de-um-mar-de-ruinas/

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Via Citador:
O Meu Mundo não É deste Reino
http://www.citador.pt/biblio.php?op=21&book_id=1824
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biografia
portal da literatura
http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=51
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http://www.wook.pt/authors/detail/id/11951
João de Melo nasceu nos Açores, em 1949. Aos 11 anos, deixa a sua ilha natal para prosseguir os estudos no continente, como aluno interno do Seminário dos Dominicanos, onde permanece entre 1960 e 1967. Abandonado o seminário, passa a viver em Lisboa, prosseguindo os estudos enquanto trabalha e iniciando colaborações na imprensa escrita. É, aliás, num jornal, o Diário Popular, que publica o seu primeiro conto, aos 18 anos. A partir de então publicará contos, crítica literária e poemas em diversos periódicos de Lisboa e dos Açores, integrando-se na geração literária que, sediada em Angra do Heroísmo - e ligada ao suplemento literário do jornal A União - renovou a literatura açoriana contemporânea. 
A incorporação no exército, com o posto de furriel e a especialidade de enfermeiro, em 1970, e a posterior ida para Angola, onde permaneceu 27 meses numa zona de guerra, marcá-lo-ão em termos pessoais e literários, sendo tema de vários livros seus, de que se destaca, na ficção, Autópsia de Um Mar de Ruínas, romance que é uma referência na literatura portuguesa sobre a guerra colonial. 
Já após a revolução de Abril de 1974, João de Melo licencia-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, mantendo sempre colaboração em diversas revistas literárias (Colóquio-Letras, Vértice e, mais tarde, Sílex, Ler, etc.). No início da década de 80, torna-se professor do ensino secundário, actividade em que reparte até hoje o seu tempo com a escrita literária.
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20jan2016
venceu Prémio Vergílio Ferreira (U.Évora)

http://www.dn.pt/artes/interior/joao-de-melo-vence-premio-literario-vergilio-ferreira-2016-4989824.html
O escritor açoriano João de Melo foi hoje escolhido cmo o 20.º vencedor
 do galardão atribuído pela Universidade de Évora (UÉ), revelou à agência 
Lusa fonte da academia alentejana
João de Melo foi eleito vencedor da 20.ª edição do galardão ao final da manhã
 de hoje, durante uma reunião do júri do prémio, presidido por António 
Sáez Delgado e que, este ano, integra Elisa Esteves, Gustavo Rubim, Carlos Reis 
e a escritora Lídia Jorge.
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19jun2010
http://www.dn.pt/portugal/interior/joao-de-melo-uma-figura-do-imaginario-espanhol-1597492.html
Entre mim e Saramago houve um encontro de natureza humana e afectiva que começou nos anos 70, mas que se intensificou a partir de 2001, quando também eu passei a viver em Madrid, onde fui conselheiro cultural da embaixada portuguesa em Espanha. Saramago ia apresentar-me muitas vezes propostas e estratégias para afirmar a cultura portuguesa em Espanha, porque embora tenha partido e muitas vezes falasse contra Portugal ele fazia-o por amor, tal como Eça de Queirós.
Apesar do "caso Sousa Lara", apesar de tudo, Saramago nunca deixou de se afirmar como português, tal como os espanhóis nunca o consideraram espanhol, muito embora fosse muito mais consensual em Espanha, onde era lido e admirado da direita à esquerda.
Nem a igreja espanhola, muito mais radical que a portuguesa, vinha responder às suas provocações.
É ainda com espanto que evoco a forma como as pessoas vinham cumprimentá-lo e tocá-lo quando ele andava nas ruas. De uma forma quase religiosa, porque ele, quer pelos livros quer pela sua participação cívica, se tornou uma figura do imaginário espanhol, como nunca aconteceu cá.
Depoimento recolhido por telefone