15/03/2016

7.672.(14mar2016.20.20') Nicolau Breyner

Nasceu a 30jul1940 
e morreu a14mar2016
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https://www.facebook.com/Nicolau-Breyner-503027836551039/?fref=ts
"Eu não tenho medo de morrer, tenho medo de deixar de viver"
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"Meus Senhores... A missão do actor é simplesmente emocionar as pessoas. Levá-las ao riso ou às lágrimas. Fazer com que nos odeiem ou nos amem. Enfim....é fazê-las sonhar. Quando isso acontece, a vossa missão está cumprida”
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Via Rosa Oliveira Pinto:
Entrevista publicada no Atual de 2 de agosto de 2008
http://expresso.sapo.pt/cultura/2016-03-14-Entrevista-de-vida-a-Nicolau-Breyner--1940-2016--Sou-um-imaturo-1
Como é que se define? É um ator, um realizador, um produtor, um artista?
Um artista. E um artista tem de ser sobretudo um humanista e, como tal, tem de estar preocupado com a Humanidade e com o que mais o toca.
É uma pessoa de afetos?
Sem dúvida. Sou um homem muito mais de afectos do que de inteligência pura e dura. Felizmente, hoje em dia já se fala muito do Q.E. (Quociente Emocional) e não só do Q.I. (Quociente de Inteligência), o que é fundamental, sobretudo em Portugal.
Porquê em Portugal?
Acho que nós, portugueses, somos muito emotivos. Foi sempre uma grandeza nossa. Mas às vezes já vejo o português a perder esse grande capital, que não devia diluir-se.
A que se poderá dever esse fenómeno?
A esta máquina que nos consome, nos tritura e nos atira para os desempregos, para a competitividade profissional, a luta permanente para ser o melhor, para vencer, uma luta constante que nos desumaniza.
Sente essa competitividade mais feroz no meio artístico?
Tenho a noção que sim, que neste momento o meio é mais competitivo. Mas tenho uma grande sorte. Ser mais velho também tem um lado bom, e neste caso é o facto de eu já ter saído dessa competição. A idade colocou-me noutro patamar, num patamar onde estamos cada vez menos. Mas vejo os mais novos a competir entre si. É a luta pelo lugar ao sol. Justifica-se e não acontece só aqui. Nos Estados Unidos, em França, em Inglaterra é ainda pior. Só que, nesses países, depois de se chegar lá acima, há um lugar compensador. Aqui não. Aqui lutamos por um lugarzinho medíocre.
Como assim?
Portugal tem uma industriazinha de cinema, uma industriazinha de produção, uma industriazinha de sei lá o quê. É que a nossa cultura sempre foi olhada com um sorriso. Quando ouvem falar dela, seja quem for que estiver no poder, levam a mão ao bolso, como se alguém lhes quisesse tirar o dinheiro. Nunca pensam que a cultura é um capital.
Durante a sua carreira, foi prejudicado por isso?
Não falo apenas de mim. A verdade é que ninguém encarou o cinema português como devia ter sido encarado, ninguém pensou nem pensa em fazer uma indústria séria de cinema português. O Instituto do Cinema e Audiovisual faz o que pode, e tem feito muitíssimo, penso eu.
Mas não chega...
Não, porque para o cinema português vingar é preciso conseguirmos fazer filmes que vão para fora e fazer cinema apetecível para o grande público. Ao mesmo tempo, será necessário existir um instrumento estatal capaz de fazer a sua divulgação além-fronteiras. É um produto que se vende, como o Mateus Rosé!
Quando diz cinema apetecível fala em filmes com sucesso de bilheteira, como por exemplo o «Call Girl», em que participou há pouco tempo, e separa-os do cinema de Manoel de Oliveira, que acaba de ganhar a Palma de Ouro em Cannes?
São gostos.
Põe todos no mesmo saco ou divide-os em termos dessa indústria por que anseia?
Acho que para haver cinema de elite tem de haver primeiro cinema comercial. É o cinema comercial que ganha dinheiro para depois se fazer o chamado cinema de autor. O que se passa é o processo inverso, porque existe um preconceito muito português que classifica tudo o que faz sucesso ou é comercial de mau e tudo o que é não comercial de bom. O que é uma mentira total.
Qual é a sua leitura de ambos os géneros?
É simples. Quando falamos de grandes filmes não lhes atribuímos géneros.
Participou nos últimos quatro filmes mais polémicos e mais vistos em Portugal nos últimos anos («Corrupção», «Call Girl», «O Crime do Padre Amaro» e «Os Imortais»). São grandes filmes?
Acho o Call Girl um belíssimo filme, e o António-Pedro Vasconcelos é um grande cineasta em qualquer parte do mundo.
Foram todos filmes que levaram os portugueses às salas de cinema...
Claro. Isso diz muito e faz-me abrir um sorriso de orelha a orelha. Esse facto prova que nenhum desses filmes pode ser considerado menor. Aliás, o Corrupção é do João Botelho, que é um realizador intelectual. Por outro lado, tenho visto filmes ditos de cinema de autor que são execráveis e indefensáveis. Esses ninguém quer ver...
E, enquanto actor, também não participa neles...
Nem sequer sou convidado. Não é uma coisa que me preocupe. Só no ano passado fiz sete filmes. É muito.
Como é que selecciona os filmes em que participa?
Só selecciono aqueles de que gosto. Apaixono-me pelas coisas e faço-as. Mas também, vamos ser claros, sou um profissional e tenho de trabalhar para ganhar dinheiro.
Disse que tinha participado em sete filmes só num ano. Isso não significa que a indústria cinematográfica portuguesa está mais viva?
Graças a estes filmes.
E os produtores já ganham dinheiro?
Nalguns casos, já.
É preciso parar de pensar na subsídio-dependência?
É urgente. Mas para que isso aconteça é preciso pensar numa forma de criar a tal indústria. Não é difícil. O país é um estúdio, temos bons técnicos e bons actores. Até lá, terá de haver subsídios, sobretudo para os jovens autores.
Foi a pensar nessa indústria que se aventurou agora, pela primeira vez, como realizador de cinema em «Contrato»?
Exactamente.
A experiência da televisão ajudou-o?
Imenso. Tenho horas e horas de televisão em cima que me ajudaram mesmo muito. É que, quando começámos a fazer novelas, saíamos para a rua só com uma câmara de exteriores, o que é uma grande escola.
Vinte e cinco anos depois, «Vila Faia» volta ao pequeno ecrã com nova roupagem. Como é que olha para os primórdios da novela portuguesa?
Foi uma aventura lindíssima. Penso que, até agora, foi mesmo a maior aventura profissional da minha vida.
O que é que guarda na memória?
O não carreirismo e a cumplicidade das pessoas... Era realmente uma equipa em que todos jogávamos para marcar o golo... E marcámos.
Nessa época, as novelas da Globo eram consideradas indestronáveis...
Toda a gente nos dizia que estávamos doidos, que não era possível...
Mas foi...
Foi, porque eu e o Daniel Proença de Carvalho, à época presidente da RTP, éramos dois loucos. Um dia, cheguei ao pé dele e disse-lhe para fazermos uma telenovela, e estava à espera que ele me respondesse para só voltar a falar com ele quando não tivesse bebido, mas ele disse-me que achava bem no minuto a seguir. Uns dias depois, veio-me perguntar se já tinha avançado com o projecto. De repente, eu e os outros 
sócios da Edipim, na altura, vimo-nos com a menina nos braços, cheios de medo.
Era assim tão assustador?
Era, era. Lembro-me que, quando acabámos de assistir ao primeiro episódio, se fez um silêncio enorme e só depois vieram os risos e os aplausos, mas eu só pensava nos 89 episódios que faltavam. O que nos valeu foi a tal equipa cheia de vontade.
A história também teria os ingredientes certos?
As histórias de novelas são como os bolos: se os ingredientes estiverem na proporção certa, vão ao forno e saem bem. Quando se começa a querer inventar muito sobre a receita, dá sempre mau resultado. A novela é um género. As pessoas querem ver aquilo, quando não vêem ficam defraudadas e não gostam.
A seguir à «Vila Faia» houve um hiato, e só de há dez anos para cá as novelas portuguesas venceram definitivamente as brasileiras. Porquê?
Por minha culpa, também. Criei uma coisa chamada NBP 
(Nicolau Breyner Produções) e resolvi fazer novelas portuguesas. E fizemos. Lembro-me de já nessa altura ter a convicção de que, um dia, elas iriam ultrapassar em audiências as brasileiras. Disse-o e chamaram-me utópico, visionário... mas aconteceu.
Era fácil de prever?
Era. As pessoas gostam de ver histórias com as quais se identifiquem. Nós temos a nossa realidade, as nossas figuras-tipo, os nossos sítios característicos.
A novela não é já uma fórmula esgotada?
É. O público de televisão é o público mais infiel que existe, então o português é de uma infidelidade total. Por isso, é urgente procurar outras fórmulas.
Quais?
Séries como "O Equador", já em rodagem, por exemplo, ou os telefilmes.
Séries, telefilmes, «sitcoms», é por aí?
É tudo isso.
É a escola de televisão norte-americana que teremos de começar a seguir?
É fundamental que enveredemos por aí.
Está disposto a apostar também nessas áreas?
Estou sempre disposto a apostar em tudo. Tenho um grave problema na minha vida, que é a minha imaturidade mental.

Imaturidade?!
Sim, sou imaturo, na medida em que estou sempre disposto a embarcar em aventuras. Odeio rotina, por isso, passado algum tempo de estar a fazer uma coisa, começo a pensar no que vou fazer a seguir, e tem de ser qualquer coisa diferente.
Tem saudades do teatro?
Não muitas. Digo isto com remorsos, porque devo tudo ao teatro. Foi lá que aprendi tudo, é uma escola insubstituível. Mas, para mim, o palco sempre foi muito pesado, por ter de fazer todas as noites a mesma coisa.
Ainda há pouco falava em imaturidade. Como é que a associa ao prémio de carreira que recebeu no Festróia?
Não parece possível associar as duas coisas. Os prémios de carreira significam que estamos a caminhar para o fim. Eu não sinto isso. Ainda me apetece fazer muita coisa.
Que tipo de coisas?
Não sei. Nunca as procuro, elas é que vêm ter comigo. Parece estranho, mas nunca planeei um ano da minha vida profissional e nunca me faltou trabalho.
Isso é um privilégio...
É. Sinto-me um grande privilegiado.
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No "Alta definição" em 2010
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Eu gosto que gostem de mim, é um facto. É um fraco que eu tenho, porque eu gosto muito das pessoas. Quero que me recordem com um sorriso, com carinho.
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"Não aconteceu nada de especial no mundo por eu ter nascido. Nasci, pronto. E? O mundo girou e no dia em que eu morrer, ao contrário do que (…) todos nós temos aquela impressão de “Quando eu morrer o mundo vai parar”. Não vai parar porra nenhuma. Nada pára. O mundo gira, as lojas abrem. As pessoas riem, as pessoas choram, nascem pessoas. Tudo isso no dia em que eu morrer.", 
https://www.youtube.com/watch?v=Ns29MgMUBfA&feature=youtu.be
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https://www.youtube.com/watch?v=vSRNBx0VLVY
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Sr.feliz e Sr. contente
https://www.youtube.com/watch?v=Ub2wYA9lLCE&list=RDUb2wYA9lLCE#t=2
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Via Gisela Mendonça:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10207803356515418&set=a.1181415429102.28176.1639690204&type=3&theater
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Via Público:

"Sou ator por acaso"

https://www.publico.pt/multimedia/video/nicolau-breyner-sou-ator-por-acaso-20163141710200
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estava a filmar a "Impostora"
Actor e realizador tinha 75 anos e uma carreira de mais de cinco décadas que também tocou o cinema e o teatro.

https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/morreu-nicolau-breyner-um-dos-pilares-da-ficcao-portuguesa-1726113
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Via Helena Pato:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1047599355286649&set=a.462717520441505.102398.100001097828926&type=3&theater
Não esquecemos! 

Mesmo se o apoio que deu à luta contra o fascismo foi – e sei lá se foi… - apenas pontual. O que sei, do que muitos de nós nos lembramos, é que na campanha eleitoral da CDE, em 1969, o Nicolau esteve connosco, ficou noites e noites sem dormir, vigilante, – subindo e descendo as escadas do prédio com os seus cães sempre atrás… – , para impedir que a PIDE assaltasse, pela calada, a sede da candiatura no Campo Pequeno. O 25 de Abril ainda vinha distante e os activistas, o pessoal que dava o corpo às balas, não era tanto como depois se disse. Mas o Nicolau, este, o da fotografia, já sabia a importância da luta contra o regime e não ficou em casa. Ceávamos habitualmente com o Ary na cervejaria em frente, entre risos, copos e muitas, muitas histórias incontáveis. Num desses dias de Outubro, o Nicolau foi preso...
Fascismo nunca mais!
Não te esquecemos, Nicolau!

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Via Fábrica da Escrita:

https://www.facebook.com/FabricaEscrita/photos/a.462529847093435.111436.462489187097501/1230312213648524/?type=3&theater
Nasceu a 30jul1940 
e morreu a14mar2016
'Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, 
Não há nada mais simples 
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte. 
Entre uma e outra cousa todos os dias são meus.'
Alberto Caeiro
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Via Dina Calaxa
"Acho que ninguém está preparado para a morte. Ainda hoje quando penso nisso é uma coisa que não me agrada, porque eu gosto de viver. Não é uma questão de ter medo da morte, eu tenho é pena de deixar de viver. Gosto muito porque a vida é boa. Há uma frase do Woody Allen que diz “O mundo é horrível, mas mesmo assim é o melhor sítio onde se pode comer um bife.” E é um bocado assim. É o melhor sítio onde se pode fazer uma série de coisas."