20/09/2016

2.134.(20SETEmbro2016.7.7) Cisma do Oriente...20 de Setembro de 1378: Crise na Igreja Católica dá início ao Grande Cisma do Ocidente

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8 de agosto de 2017



O Grande Cisma do Oriente e o Grande Cisma do Ocidente


Nao foi a muito tempo que escrevi aqui algo sobre a Igreja Ortodoxa mas o desejo de escrever sobre este tema ja a algum tempo que era um bichinho que andava ca por dentro. A Igreja Catolica e a Igreja Ortodoxa ate certa altura foram so uma, mas o que levou a separacao? A Grande Cisma tem a resposta e agora venho partilha-la convosco.
Tem ainda muitos em comum, ideias, doutrinas mas um ponto importante e que os ortodoxos e os cristaos tem lideres diferentes e nem uns nem outros respeitam o que nao seguem e os santos que idolotram depois da separacao por vezes tambem nao sao adorados por ambos, outra curiosidade e o facto de uma Igreja Ortodoxa ter figura pintadas em quadros, etc mas nao conter estatutas de santos de barro. Tenho muito orgulho de ter tomado e ter esses conhecimentos embora a forma como os ganhei nao tenha sido a melhor mas passamos por muitas coisas na vida sobretudo de aprendizagem que nao fomos nos a escolher e por vezes se fossemos teria sido diferente, e o meu caso aqui. As proprias cruzes sao de formatos diferentes tambem assim como algumas outras doutrinas e ensinamentos.
Antes demais e importante nao confundir o Grande Cisma do Oriente ocorrido em 1054 e o Grande Cisma do Ocidente ocorrido entre 1378 e 1417. Sao assuntos diferentes e epocas diferentes embora sejam descritos aqui em conjunto.


O Grande Cisma do Oriente tambem conhecido como o Grande Cisma foi um evento que causou a ruptura da Igreja, separando-a em duas: Igreja Catolica Apostolica Romana e Igreja Catolica Apostolica Ortodoxa, a partir do ano 1054, quando os lideres da Igreja de Constantinopla e da Igreja de Roma que excomungaram-se mutuamente.
Como foi uma excomunhao mutua, isto e, bilateral, a nomenclatura neutra para este evento e Grande Cisma, apesar de fontes catolicas romanas frequentemente apontarem para Cisma do Oriente . Algumas fontes ocidentais antigas utilizam Grande Cisma para falar do Cisma do Ocidente, de tal forma que alguns autores chegaram mesmo a preferir a nomenclatura Cisma Oriente-Ocidente ou tambem simplesmente Cisma de 1054.
As relacoes entre Oriente e Ocidente por muito tempo se amarguravam pelas disputas eclesiasticas e teologicas. Proeminente entre essas estavam as questoes sobre a fonte do Espirito Santo ("Filioque"), se deve-se usar pao fermentado ou nao fermentado na Eucaristia, as alegacoes do Papa de primazia juridica e pastoral, e a funcao de Constantinopla em relacao a Pentarquia.
O distanciamento entre as duas igrejas cristas tem formas culturais e politicas muito profundas, cultivadas ao longo de seculos. As tensoes entre as duas igrejas datam no minimo da divisao do Imperio Romano em Oriental e Ocidental, e a transferencia da capital da cidade de Roma para Constantinopla, no Seculo IV.
Uma diferenca crescente de pontos de vista entre as duas igrejas resultou da ocupacao do Ocidente pelos outrora invasores barbaros, enquanto o Oriente permaneceu herdeiro do Mundo Classico. Enquanto a Cultura Ocidental foi-se paulatinamente transformando pela influencia de povos como os germanos, o Oriente permaneceu desde sempre ligado a tradicao da cristandade helenistica. Era a chamada Igreja de tradicao e rito grego. Isto foi exacerbado quando os papas passaram a apoiar o Sacro Imperio Romano-Germanico no Oeste, em detrimento do Imperio Bizantino no Leste, isto passou-se especialmente no tempo de Carlos Magno (742-814). Havia tambem disputas doutrinarias e acordos sobre a natureza da autoridade papal.
A Igreja de Constantinopla respeitou a posicao de Roma como sendo a capital original do imperio, mas ressentia-se de algumas exigencias jurisdicionais feitas pelos sucessivos papas ao longo dos seculos, reforcadas ainda mais no pontificado de Leao IX (1002-1054) nascido Bruno de Eguisheim-Dagsbourg que foi Lider da Igreja Catolica Romana entre 1049 e 1054 e depois nos de seus sucessores. Para alem disso, existia a oposicao do Ocidente em relacao ao Cesaropapismo Bizantino, isto e, a subordinacao da Igreja Oriental a um chefe secular, como acontecia na Igreja de Constantinopla.
Uma ruptura grave ocorreu de 856 a 867, sob o Patriarca Focio I de Constantinopla (820-891) foi o Patriarca de Constantinopla entre 858 e 867 e, novamente, entre 877 e 886 Ele e reconhecido pela Igreja Ortodoxa como Sao Focio, o Grande. Sob o Pontificado deste, a questao do Filioque ou Clausula Filioque tornou-se em um ponto de discordia, com a condenacao por parte do hierarca de sua inclusao no Credo do Cristianismo (tambem chamado e conhecido de Credo Niceno) Ocidental e a taxacao da mesma como heretica. Desse modo, para o futuro, para o futuro as pendencias de natureza disciplinar e liturgica, mas igualmente tambem de natureza dogmatica, com o que se comprometia de modo quase irremediavel a unidade da Igreja.


Quando Miguel  Cerulario (cerca 1000-1059) conhecido tambem como Miguel I Cerulario e Miguel I de Constantinopla se tornou Patriarca de Constantinopla, no Ano de 1043, o mesmo deu inicio a uma campanha contra as igrejas latinas na cidade de Constantinopla, ordenando o fechamento de todas ja dez anos depois em 1053, envolvendo-se na discussao teologica da natureza do Espirito Santo, questao que viria a assumir uma grande importancia nos seculos seguintes.
Em 1054, o legado papal viajou ate Constantinopla a fim de repudiar a Cerulario o titulo de "Patriarca Ecumencio" e insistir que ele viesse a reconher a alegacao de Roma de ser a mae das igrejas. O principal proposito do legado papal foi procurar a ajuda do Imperio Bizantino em vista da Conquista Normanda do Sul de Italia, e lidar com os recentes ataques por Leao de Ocrida (?-1056) contra o uso de pao nao fermentado e outros costumes ocidentais, ataques que tinham de apoio Cerulario. Em da refusa de Cerulario em aceitar as demandas, o Lider do legado o Cardeal Humberto de Silva Candida ou de Moyenmoutier (cerca 1015-1061), excomungou-o, e Cerulario por sua vez agiu de igual modo e excomungou o Cardeal Humberto e os outros legados.
O Massacre dos Latinos (1182), a retaliacao do Ocidente com o Saque de Salonica (1185), o Cerco e Saque de Constantinopla (1204), na Quarta Cruzada, e a imposicao dos patriarcas latinos pelo Imperio Latino que teve a duracao de 55 anos tornou a reconciliacao ainda mais dificil e complicada, e aprofundou ainda mais a ruptura e a desconfianca mutua.
Houve claro ao longo de algum tempo varias tentativas de reunificacao, principalmente nos Concilios Ecumenicos de Lyon (1274) em Franca e ainda um pouco mais tarde em Florenca (1439) em Italia, sem se vir a obter grandes resultados as reunioes nao alteraram nada e mostraram-se efemeras. Estas tentativas de reconciliacao acabaram efectivamente com a Queda de Constantinopla (1453) em maos dos otomanos, no mesmo ano de 1453, que viriam a ocupar quase todo o antigo Imperio Bizantino por muitos seculos. As mutuas excomunhoes so foram levantadas mais de 1000 anos de terem sido impostas, tendo o Dia 7 de Dezembro de 1965 a data do levantamento das mesmas (1050-1965), pelo Papa italiano Paulo VI (1897-1978) e o Patriarca grego Atenagoras I (1886-1972), de forma a aproximar as duas igrejas, afastadas havia seculos. As excomunhoes, entretanto, foram retiradas pelas duas igrejas em 1966. Somente muito recentemente o dialogo entre elas foi efectivamente retomado, a fim de tentar recomecar juntas, apagando o Cisma.
Em 12 de Fevereiro de 2016 o Papa Francisco I (1936) tem um encontro historico com o Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa Cirilo I (1946), em Cuba. Os dois lideres religiosos se reunem privadamente no Aeroporto de Havana por duas horas e apresentam uma declaracao conjunta, na presenca do Presidente Raul Modesto Castro Ruz (1931). Um dos principais motivos para o encontro  de reaproximacao das duas igrejas e a violencia que vai ameacando extinguir a presenca dos cristaos - catolicos e ortodoxos - no Medio Oriente e em Africa. Ambas se manifestam contra os ataques extremistas de grupos terroristas islamicos e a destruicao de monumentos cristaos, especialmente na Siria, assim como a proibicao do cristianismo em paises de maioria islamica . Foi o primeiro encontro de um Papa com um Lider da Igreja Ortodoxa Russa.


O Grande Cisma do Ocidente, Cisma Papal ou simplesmente Grande Cisma foi uma crise religiosa que ocorreu na Igreja Catolica entre 1378 e 1417.
Entre 1309 e 1377, a residencia do Papa ou do Papado foi alterada de Roma, em Italia para Avignon, em Franca, pois o Papa Clemente V (1264-1314) foi levado (sem possibilidade de debate) pelo Rei frances Filipe IV de Franca (1268-1314) que foi tambem Filipe I, Rei de Navarra para residir em Avignon. Em 1378, o Papa Gregorio XI (1329 ou 1321-1378) voltaria no entanto para Roma, onde faleceria. A populacao italiana desejava que o Papado fosse restabelecido em Roma. Foi entao eleito Urbano VI  (cerca de 1318-1389), de origem italiana. No entanto, ele demostrou ser um Papa muito autoritario, de modo que uma quantidade consideravel do Colegio dos Cardeais (tambem conhecido como Colegio Cardinalicio ou Sacro Colegio Pontificio), anularia a sua votacao e foi realizado um novo conclave, tendo sido eleito Clemente VII (1342-1391), que passou a residir em Avignon. Iniciara-se assim o Cisma, em que o Papa residia em Roma e o Antipapa residia em Avignon, reclamando no entanto ambos para si o poder sobre a Igreja Catolica. Posteriormente, surgiria outro Antipapa em Italia na cidade de Pisa. O Cisma terminou no Concilio de Constanca (1414-1418) em 1417, quando o Papado foi estabelecido definitivamente em Roma.
De 1309 a 1377, o Lider maximo da Igreja Catolica, o Papa, nao residia em Roma, mas em Avignon, um periodo historico geralmente chamado de Cativeiro Babilonico (tambem chamado de Exilio ou Cativeiro na Babilonia), em alusao ao Exilio Biblico de Israel na Babilonia. O Papa Gregorio XI deixou Avignon e restabeleceu a Santa Se em Roma novamente, onde viria a morrer em 27 de Marco de 1378. A eleicao do seu sucessor definiria a residencia do futuro Papa em Avignon ou em Roma. Um dos nomes dos candidatos mais fortes foi o de Bartolommeo Prignano, ate o momento era Aecebispo de Bari, considerado como sendo muito rigido moralmente e inimigo da corrupcao, foi proposto. Os entao 16 cardeais italianos presentes em Roma reuniram-se em conclave em 7 de Abril de 1378. No dia seguinte escolheram Prignano. Durante a eleicao houve uma grande perturbacao na cidade, pois o povo de Roma e arredores esforcou-se por influenciar a decisao dos cardeais presentes no conclave realizado ali na mesma cidade, que logo trataram de tomar medidas para evitar possiveis duvidas. No dia 13 eles realizaram uma nova eleicao e, novamente, o eleito escolhido foi o Arcebispo Prignano para se vir a tornar o novo Papa. Durante os dias seguintes todos os membros do Colegio dos Cardeais aprovaram o novo Papa, que viria a tomar o nome de Urbano VI e tomou posse. Um dia depois, os cardeais italianos notificaram a eleicao de Urbano VI aos 6 cardeais franceses em Avignon, que o viriam a reconhecer como Papa e, em seguida, escreveram ao Imperador e aos demais soberanos. Tanto o Cardeal Roberto de Genebra (1342-1394), que se viria a tornar no futuro Antipapa Clemente VII de Avignon, e Pedro Martinez de Luna de Aragao (1328-1423) o futuro Antipapa Bento XIII, tambem acabariam por aprovar a sua eleicao.
O Papa Urbano VI ao contrario do que deveria ser esperado nao atendeu as necessidades de sua eleicao, criticou os membros do Colegio dos Cardeais e recusou-se a restaurar a Sede Pontifical em Avignon. Os cardeais, entao, em Maio de 1378, se retiraram para Anagni uma outra cidade italiana, e no mes seguinte, Junho, para Acquaviva delle Fonti, sob a proteccao da Rainha Joana I de Napoles (1326-1382) e de Bernardon de la Salle (1339-1391), iniciaram uma nova campanha contra a sua escolha, preparando-se para uma segunda eleicao. Ja em 20 de Setembro, treze membros do Colegio de Cardeais fizeram um novo conclave em Fondi e escolheram entao desta vez Roberto de Genebra como o futuro Papa, que tomou de seguida o nome de Clemente VII. Alguns meses depois, esse novo Antipapa, apoiado pelo Reino de Napoles, assumiu sua residencia em Avignon. O Grande Cisma do Ocidente comecava.
Clemente VII mantinha relacoes com as principais familias reais da Europa. Os estudiosos e os santos da epoca normalmente apoiavam o Papa adoptado pelo seu pais de origem. A maior parte dos estados italianos e alemaes, a Inglaterra e a Flandres apoiaram o Papa de Roma. Por outro lado, Franca, Espanha e Escocia e todas as nacoes que eram aliadas da Franca apoiaram o Antipapa de Avignon. O conflito rapidamente deixou de ser um assunto que diria unicamente respeito a Igreja para passar a se tornar um incidente diplomatico disseminado pelo continente europeu:
. Avignon: Franca, Aragao, Castela, Leao, Chipre, Borgonha, Condado de Saboia, Napoles e Escocia reconheceram o reclamante de Avignon.
. Roma: Portugal, Dinamarca, Inglaterra, Flandres, o Sacro Imperio, Hungria, Norte da Italia, Irlanda, Noruega, Polonia e Suecia reconheceram o reclamante de Roma.
Os papas excomungaram-se mutuamente, nomeando assim outros cardeais para compensar as desercoes, enviando mensageiros para a cristandade defendendo a sua causa e estabelecendo sua propria administracao. Posteriormente o Papa Bonifacio IX (cerca de 1356-1404) sucedeu a Urbano VI em Roma e Bento XIII sucedeu a Clemente em Avignon. Varios clerigos reuniram-se em concilios regionais na Franca e ainda em outros lugares, sem obterem um resultado que fosse definitivo. O Rei de Franca e seus aliados em 1398 deixaram de apoiar Bento XIII, e Geoffrey Boucicaut sitiou Avignon, privando o Antipapa de comunicacao com todos aqueles que ainda permaneciam fieis a ele. Bento XIII retornou a liberdade somente em 1403. Inocencio VII (1336-1406) ja havia sucedido a Bonifacio de Roma, e apos um curto pontificado de apenas dois anos, foi sucedido por Gregorio XII (1326-1417).
Na epoca do Grande Cisma do Ocidente ocorriam na Penisula Iberica as chamadas Guerras Fernandinas (1369-1382) divididas em tres guerras: Primeira Guerra (1369-1370), Segunda Guerra (1372-1373) e Terceira Guerra (1381-1382) e a Crise de 1383-1385, ambas opondo os reinos de Castela e Portugal por questoes dinasticas. Assim no tempo de Fernando I de Portugal (1345-1383) a sua desastrosa Politica Externa levou-o a apoiar o Papa de Avignon, que por sua vez tambem tinha o apoio do Reino de Castela; depois da crise sucessoria, como o Reino de \Castela continuava a defender o Papa de Avignon, nao seria de estranhar que o entao Rei Dom Joao I de Portugal (1357-1433), para entre outras coisas mostrar bem a sua independencia, viria a dar o seu apoio ao Papa de Roma.
Em 1409, um concilio que se reuniu na conhecida cidade italiana de Pisa acrescentou um outro Antipapa, Alexandre V (1340-1410), e passou em seguida a declarar os outros dois depostos. Depois de muitas conferencias, discussoes, intervencoes do poder civil e varias catastrofes, o Concilio de Constanca depos o Antipapa Joao XXIII (1370-1419), recebeu a abdicacao do Papa Gregorio XII, e finalmente, conseguiu depor o Antipapa Bento XIII. Em 11 de Novembro de 1417, o concilio finalmente elegeu Odo Colonna (1365/1368-1431), que se viria a tornar Martinho V, com o mesmo terminou o Grande Cisma do Ocidente e foi restabelecida a unidade assim como terminou uma divisao dentro da Igreja Catolica.
O prestigio do Papado foi profundamente afectado com esta crise provocada pelo Grande Cisma do Ocidente, o que viria a causar a criacao da Doutrina Conciliar (Conciliarismo ou Teoria Conciliar), que sustenta que a autoridade suprema da Igreja encontra-se com um Concilio Ecumenico e nao com o Papa, sendo que foi efectivamente extinta no Seculo XV.


Os Papas e Antipapas do Cisma do Ocidente e o tempo que estiveram em actividade papal:
. Em Roma:
. Papa Urbano VI (1378-1389). .Papa  Bonifacio IX (1389-1404). . Papa Inocencio VII (1404-1406). . Papa Gregorio XII (1406-1417).
. Em Avignon:
. Antipapa Clemente VII (1378-1394). . Antipapa Bento XIII (1394-1417).
. Em Pisa:
. Antipapa Alexandre V (1409-1410). . Antipapa Joao XXIII (1410-1417).
Concordando com a minha forma de pensar aquele que era considerado Papa nos dias de hoje era de facto aquele que estava em Roma. Penso assim e acho que nao poderia ser diferente porque se so podia haver um e se vinha outro o que contava era o que estava la primeiro. Nenhum pais julgo que possa ter dois reis, dois presidentes em simultaneo, se o Colegio de Cardeais nao estava satisfeito com o Papa de Roma so tinha que desonorar o mesmo e eleger outro e nao escolher outro quando um ainda estava em actividade.
Caro(a) leitor(a) estou terminando mais uma etapa, isto e mais uma Cronica aqui no Blog sei que dificilmente irei cumprir com as metas criadas e impostas por mim proprio no principio de 2017 mas fico feliz porque sem duvida tem sido um ano muito enriquecedor em termos de cronicas, em termos de contos breves para a historia geral deste meu Blog, ate a proxima.
                                                                                                          Manuel Goncalves
 http://cronicas-de-manuel-goncalves.blogspot.com/2017/08/o-grande-cisma-do-oriente-e-o-grande.html
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O Grande Cisma do Ocidente (1378-1417) e o que este nos ensina sobre a apostasia pós-Vaticano II




por Ir. Miguel Dimond e Ir. Pedro Dimond
www.igrejacatolica.pt


– Uma enorme confusão, múltiplos antipapas, antipapas em Roma, um antipapa reconhecido por todos os cardeais; o Grande Cisma do Ocidente prova que é absolutamente possível que uma linha de antipapas esteja no fundamento da crise pós-Vaticano II –


Uma Análise do Grande Cisma do Ocidente




Os Papas
Linha de Avinhão
Linha de Pisa
Urbano VI (1378- 1 389)
Bonifácio IX (1389 - 14 0 4)
Inocêncio VII (1404 - 14 0 6)
Gregório XII (1406 - 14 1 5) O Papa menos apoiado da história, o menos reconhecido pelos três reclamantes, rejeitado por quase toda a cristandade
Clemente VII (1378-1394) Reconhecido por quase todos os cardeais viventes que haviam eleito a Urbano VI


Bento XIII (1394 – 1417) reconhecido durante algum tempo por São Vicente Férrer
Linha favorecida pela maioria dos teólogos daquela época, eleitos pelos cardeais de cada lado*

Alexandre V (1409-1410) eleito pelos cardeais em Pisa
João XXIII ( 1410 - 1415) reinou em R o ma, teve o apoio mais amplo dos três reclamantes


Resolvido com a eleição do Papa Martinho V em 1417, no Concílio de Constança




Como isto tudo aconteceu


O conclave no Vaticano (1378), depois da morte do Papa Gregório XI, foi o primeiro a ser reunido em Roma desde 1303. Os Papas haviam residido em Avinhão por aproximadamente 70 anos devido à desordem política. O conclave realizou-se no meio de cenas de alvoroço sem precedentes. 1 Como a França se tornara a residência dos Papas durante os últimos 70 anos, a multidão romana que rodeava o conclave estava muito revoltada e exigia que os cardeais elegessem um romano, ou pelo menos um italiano. Em determinado momento, crendo que havia sido eleito um francês ao invés de um italiano, a multidão realizou um assalto ao palácio:


“A multidão furiosa começou a lançar pedras às janelas do palácio e atacou as portas com picos e machados. Não havia força de defesa efectiva; a multidão entrou como um turbilhão.” 2


Eventualmente, um italiano foi eleito por 16 cardeais: o Papa Urbano VI. O novo Papa perguntou aos cardeais se o haviam eleito livre e canonicamente; eles disseram que sim. Pouco depois da eleição, os 16 que o haviam eleito escreveram aos seis cardeais que permaneceram obstinadamente em Avinhão:



“Demos os nossos votos a Bartolomeu, o arcebispo de Bari [Urbano VI], que se distingue pelos seus grandes méritos e cujas virtudes múltiplas fazem-no um exemplo brilhante; elevámo-lo, de pleno acordo, à excelência apostólica e anunciámos a nossa eleição à multidão dos cristãos.” 3




OS CARDEAIS REJEITAM O PAPA URBANO VI SOB O PRETEXTO DE UMA MULTIDÃO FURIOSA


Porém, pouco depois da sua eleição, o Papa Urbano VI começou a afastar os cardeais.

“Os cardeais franceses, que formavam a maioria do Sacro Colégio, não estavam satisfeitos com a cidade e desejavam regressar a Avinhão, onde não havia basílicas em ruinas nem palácios arruinados, nem tumultuosas turbas romanas ou pestes mortais, onde a vida era, numa palavra, mais cómoda. Urbano VI recusou-se a sair de Roma e, com severa determinação, lhes deu a entender sem pelos na língua que reformaria a corte papal e acabaria com o luxo da sua vida, o que ofendeu profundamente aos cardeais.” 4

Um por um, os cardeais foram de férias para Anagni, em França. “O novo Papa, sem suspeitar de nada, lhes permitiu que lá fossem durante o verão. A meio de Julho… concordaram entre eles que a eleição de Abril havia sido inválida devido à coacção da multidão que os rodeava e que, usando isto como razão, deixariam de reconhecer a Urbano.” 5

Uma vez difundida a notícia da decisão dos cardeais em repudiar a Urbano VI, o canonista Baldus, considerado o jurista mais famoso da sua época, publicou um tratado em desacordo com a decisão dos cardeais. Ele declarou:

“… não havia motivos para que os cardeais repudiassem um papa uma vez que o tivessem eleito, e ninguém na Igreja, nem todos em conjunto podiam destituir-lo, excepto pela heresia pertinaz e manifesta. 6

Apesar da imprecisão nesta declaração de Baldus ― pois um verdadeiro papa não pode ser deposto; um herege se depõe a si mesmo ― podemos ver claramente em suas palavras a verdade comummente reconhecida de que, se o reclamante ao papado é manifesto e pertinazmente herético, pode ser rejeitado como um antipapa, uma vez que ele está fora da Igreja.

TODOS OS CARDEAIS DA ALTURA REJEITAM URBANO VI E RECONHECEM UM ANTIPAPA


Em 20 de Julho de 1378, 15 dos 16 cardeais que haviam eleito o Papa Urbano VI deixaram de lhe prestar obediência argumentando que a multidão rebelde romana havia feito que a eleição não fosse canónica. O único cardeal que não repudiou o Papa Urbano VI foi o Cardeal Tebaldeschi, mas esse morreu pouco depois, em 7 de Setembro, deixando as coisas numa situação na qual nenhum dos cardeais da Igreja Católica reconheceram o verdadeiro papa, Urbano VI. Todos os cardeais consideraram a sua eleição como inválida. 7

Depois de terem repudiado Urbano VI, em 20 de Setembro de 1378, os cardeais procederam a eleger a Clemente VII como “Papa,” que estabeleceu o seu “papado” rival em Avinhão. E assim se havia iniciado o Grande Cisma do Ocidente.

“Os cardeais rebeldes escreveram aos tribunais europeus explicando o seu proceder. Carlos V de França e toda a nação francesa reconheceram imediatamente a Clemente VII, assim como Flandres, Espanha e Escócia. O Império e a Inglaterra, com as nações do Norte e de Este e a maioria das repúblicas italianas, aderiram a Urbano VI.” 8

Apesar da validez da eleição de Urbano VI ter sido comprovável, pode-se ver por que muitos aceitaram o argumento de que a multidão romana havia influído ilegalmente em sua eleição, e que isso a tinha tornado não-canónica. Por outra parte, pode ver-se como a posição do antipapa Clemente VII se fortaleceu de maneira considerável e impositiva aos olhos de muitos, pelo facto de que 15 dos 16 cardeais que haviam eleito a Urbano VI rejeitaram a sua eleição como inválida. A situação que se deu após a aceitação do antipapa Clemente VII pelos cardeais foi um pesadelo, um pesadelo desde o princípio – um pesadelo que nos mostra o quão mal e confuso pode ser o ponto em que Deus permite que as coisas às vezes cheguem, sem violar as promessas fundamentais que Ele fez à sua Igreja:

“O cisma era já um facto consumado e, durante quarenta anos, a cristandade foi o palco do triste espectáculo no qual firmou a sua lealdade a dois e até a três papas rivais. Foi a crise mais perigosa pela qual a Igreja alguma vez passara. Ambos os papas declararam uma cruzada contra o outro. Cada um dos Papas reivindicava o direito a criar cardeais e confirmar arcebispos, bispos e abades, pelo que existiam dois colégios de cardeais e em muitos lugares existiam dois reclamantes aos altos cargos na Igreja. Cada papa empenhava-se em colectar todas as receitas eclesiásticas, e cada um excomungou o outro e a todos os demais seguidores.” 9

O espectáculo continuou enquanto papas e antipapas morriam, e papas e antipapas os sucediam. O Papa Urbano VI morreu em 1389, e foi sucedido pelo Papa Bonifácio IX, que reinou desde 1389 até 1404. Depois da eleição de Bonifácio IX, este foi excomungado de imediato pelo antipapa Clemente VII, e aquele respondeu à letra excomungando-o também.

Durante o seu reinado, o Papa Bonifácio IX “foi incapaz de ampliar a sua esfera de influência na Europa; de facto, Sicília e Génova chegaram mesmo a apartarem-se dele. Para evitar a propagação de apoio a Clemente na Alemanha, ele outorgou favores ao rei alemão Venceslau…” 10

OS CARDEAIS DE AMBOS OS LADOS FAZEM UM JURAMENTO PARA ACABAR COM O CISMA ANTES QUE PARTICIPASSEM EM NOVAS ELEIÇÕES, O QUE DEMONSTRA O QUÃO MÁ A SITUAÇÃO SE TINHA TORNADO


Enquanto isso, em Avinhão, no ano de 1394, o antipapa Clemente VII morre. Antes de eleger o sucessor de Clemente VII, todos os 21 cardeais “juraram trabalhar para o fim do cisma, cada um prometendo que, se fosse eleito, abdicaria se e quando a maioria o julgasse adequado.” 11 Lembre-se disto pois será relevante para quando tratarmos do porquê da entrada em cena de um terceiro reclamante ao papado.

Os cardeais de Avinhão procederam à eleição de Pedro de Luna, (o antipapa) Bento XIII, para substituir o antipapa Clemente VII. Bento XIII reinou como reclamante de Avinhão durante o resto do cisma. Por algum tempo, Bento XIII teve como apoiante nenhum outro que o obrador de milagres dominicano, São Vicente Férrer. São Vicente foi seu confessor durante algum tempo12, crendo que a linha de Avinhão era a linha válida (até tempos mais tarde ao longo do cisma). Obviamente que São Vicente havia sido persuadido de que a eleição do Papa Urbano VI fora inválida devido à multidão rebelde romana, para além da aceitação formidável da linha de Avinhão por parte de 15 dos 16 cardeais que haviam tomado parte na eleição de Urbano VI.

Como cardeal, o antipapa Bento XIII havia originalmente tomado parte na eleição do Papa Urbano VI, e logo abandonou Urbano e ajudou a eleger Clemente (que, obviamente, havia sido convencido de que a eleição de Urbano era inválida). Como cardeal sob o antipapa Clemente VII, Bento XIII “foi o seu legado na península Ibérica durante onze anos, e pela sua diplomacia atraiu a Aragão, Castela, Navarra e Portugal à sua obediência [ao antipapa Clemente VII].” 13

Após ter jurado seguir o caminho da abdicação para pôr fim ao cisma caso a maioria dos seus cardeais estivessem de acordo, o antipapa Bento XIII ofendeu a muitos de seus cardeais quando se retractou da sua promessa e se mostrou relutante em considerar a abdicação, apesar do facto de essa ter sido a vontade de seus cardeais. O seu rival, o Papa Bonifácio IX, mostrou igualmente má vontade para o fazer.

Em 1404, o Papa Bonifácio IX (o sucessor de Urbano VI) morreu, e o Papa Inocêncio VII foi eleito como seu sucessor pelos oito cardeais disponíveis. Porém, o Papa Inocêncio VII não viveu por muito, morrendo dois anos mais tarde, em 1406. Durante o seu curto reinado, Inocêncio VII se opusera em reunir-se com o reclamante de Avinhão, Bento XIII, apesar de ter feito um juramento antes da sua eleição de fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para pôr fim ao cisma, incluindo a abdicação se fosse necessário.

Enquanto persistia o cisma, os membros de ambos os partidos frustravam-se cada vez mais com a falta de vontade de ambos os reclamantes em adoptar medidas eficazes para pôr fim ao cisma.

“As vozes escutavam-se por todas as partes pedindo que se restabelecesse a união. A Universidade de Paris, ou melhor, os seus dois professores mais proeminentes, João Gerson e Pedro d’Ailly, propuseram que se convocasse um Concílio General para decidir entre os pretendentes rivais. 14

De acordo com este sentimento generalizado de adoptar medidas eficazes para pôr fim ao cisma, outro juramento foi tomado antes da eleição do sucessor de Inocêncio VII.

“… cada um dos quatorze cardeais no conclave, a seguir a morte de [o Papa] Inocêncio VII, jurou que, se fosse eleito, abdicaria com a condição de que o antipapa Bento XIII fizesse o mesmo ou  morresse; também que [o eleito] não criaria novos cardeais, salvo para manter a paridade dos números com os cardeais de Avinhão, e que dentro de três meses haveria de entrar em negociações com o seu rival sobre o lugar da reunião.” 15

O próprio facto de os cardeais, que se preparavam para eleger um verdadeiro papa, terem feito um juramento como este ― que incluía negociações com um antipapa ― mostra o quão horrível a situação se tinha tornado durante o cisma, e o quão apoiado era o antipapa na cristandade.

O conclave procedeu elegendo o Papa Gregório XII, em 30 de Novembro de 1406. A esperança de que o fim do cisma chegasse em breve foi renovada pelas negociações do Papa Gregório XII com o antipapa Bento XIII. Os dois chegaram mesmo a acordar um lugar para se encontrarem, mas o Papa Gregório XII mostrou-se reticente; temia (e com razão) o quê de sinceridade por trás das intenções do antipapa Bento XIII. O Papa Gregório XII foi também influenciado por alguns de seus parentes mais próximos a não resignar, que lhe figuraram um cenário negativo acerca do que poderia suceder caso renunciasse.

OS CARDEAIS DE AMBOS OS LADOS FARTAM-SE, VÃO A PISA E ELEGEM UM NOVO “PAPA” NUMA CERIMÓNIA IMPRESSIONANTE QUE INCLUIU CARDEAIS DE AMBOS OS PARTIDOS

“À medida que as negociações [entre o Papa Gregório XII e Bento XIII de Avinhão] se prolongavam, os cardeais de Gregório XII ficavam cada vez mais inquietos. Uma ruptura aberta se fez inevitável quando o Papa Gregório XII, suspeitando da lealdade de seus rivais, quebrou a sua promessa pré-eleitoral e, em 4 de Maio, anunciou a criação de quatro novos cardeais… Então todos, excepto três do seu colégio original, o abandonaram e fugiram para Pisa…” 16

Os 14 cardeais que deixaram de obedecer ao Papa Gregório XII e fugiram para Pisa, lá se uniram com 10 cardeais que abandonaram a obediência ao antipapa Bento XIII. Os cardeais dos dois lados haviam organizado um concílio, e estavam decididos a pôr fim ao cisma por meio de uma eleição conjunta em Pisa.

“Aos olhos do mundo, o Concílio de Pisa foi, sem dúvida uma assembleia brilhante, na qual participaram 24 cardeais (quatorze ex-aderentes ao Papa Gregório XII, os dez de Luna [Bento XIII]… quatro patriarcas, 80 bispos, 89 abades, 41 priores, os chefes das quatro ordens religiosas, e representantes de praticamente todas as universidades, reinos, e grande parte das casas nobres na Europa católica.” 17

O cardeal arcebispo de Milão deu o discurso de abertura em Pisa. Ele condenou a ambos os reclamantes, Gregório XII e (o antipapa) Bento XIII, e os convocou formalmente a comparecer no concílio. Por não se apresentarem, foram declarados como desobedientes obstinados.

Há que realçar que, nesta fase do cisma (1409), as pessoas estavam tão desesperadas com a prolongada desunião e com as promessas rotas dos dois reclamantes, que a assembleia em Pisa foi recebida e apoiada amplamente. Esta tornou-se ainda mais impressionante e atractiva pelo facto de que os seus 24 cardeais eram compostos por um número considerável de cardeais provenientes de ambos os lados [Gregório XII e o antipapa Bento XIII]. Isto lhe deu a aparência de uma acção unida dos cardeais da Igreja. Em 29 de Junho de 1409, os 24 cardeais elegeram por unanimidade a Alexandre V. Agora havia ao mesmo tempo três reclamantes ao papado.

Pe. John Laux, História da Igreja, pág. 405: “Havia agora três Papas, e três colégios de cardeais, em algumas dioceses, três bispos rivais, e em algumas ordens religiosas, três superiores rivais. 18

O TERCEIRO RECLAMANTE, O ANTIPAPA DE PISA, OBTEVE O MAIS AMPLO APOIO E A APROVAÇÃO DA MAIORIA DOS TEÓLOGOS PORQUE ELE APARENTAVA SER FRUTO DA ESCOLHA FEITA EM UNIÃO POR CARDEAIS DE AMBOS OS LADOS


O recém-eleito antipapa de Pisa, Alexandre V, obteve o apoio mais amplo da cristandade entre os três reclamantes. O verdadeiro papa, Gregório XIII, foi o menos apoiado.

Desde o princípio, Alexandre V “obteve o apoio de Inglaterra, da maior parte de França, dos Países Baixos, Boémia… Polónia… da sua própria cidade de Milão, Veneza e Florença. De Luna [o antipapa Bento XIII] conservava o apoio de Aragão – de onde provinha, – de Castela, de partes do sul de França e Escócia. … Gregório XII foi dos três o mais debilitado, retendo apenas a lealdade de Nápoles, do oeste de Alemanha, algumas cidades do norte de Itália, e do fidelíssimo Carlo Malatesta de Rimini… O Grande Cisma do Ocidente se converteu num triângulo de lealdades distorcidas, com o verdadeiro Papa sendo o mais débil dos três… A Igreja Católica parecia estar sofrendo o destino que mais tarde alcançaria o protestantismo: subdivisões repetidas e irreversíveis… O pior de tudo é que não parecia haver remédio para este desastre.” 19

A maioria dos sábios teólogos e canonistas da época estavam a favor da linha dos antipapas de Pisa.

“Durante o Outono de 1408 e o Inverno de 1409, o debate continuou num ambiente de cólera entre os teólogos e canonistas. A maioria deles, em maior ou menor grau de desespero, estavam agora a favor do concílio, independentemente de quem o verdadeiro papa pudesse ser ou de como seria autorizado.” 20

NENHUM VERDADEIRO PAPA NA HISTÓRIA TEVE TÃO POUCO APOIO COMO TEVE O PAPA GREGÓRIO XII PRÓXIMO DO FIM DO GRANDE CISMA DO OCIDENTE


Em 1411, Sigismundo, o recém-eleito imperador do Sacro Império Romano, cedeu ao sentimento geral e abandonou o verdadeiro papa, Gregório XII.

“Sigismundo queria a aprovação eleitoral unânime, e tendo em conta o abandono generalizado de Gregório XII por muitos dos que o haviam obedecido previamente (sobre tudo em Itália e Inglaterra), a confiança de Sigismundo na legitimidade de Gregório pode ter sido profundamente abalada. Nenhum verdadeiro Papa na história da Igreja havia tido tão pouco apoio como Gregório XII teve a seguir ao Concílio de Pisa. 21

O recém-eleito antipapa de Pisa, Alexandre V, não viveu muito tempo. Morreu menos de um ano após a sua eleição, em Maio de 1410. Para suceder-lhe, em 17 de Maio de 1410, os cardeais de Pisa elegeram por unanimidade a Baltazar Cossa como João XXIII. Assim como o seu predecessor, o antipapa Alexandre V, João XXIII também obteve o apoio mais amplo entre os três reclamantes.

“Embora havendo três reclamantes ao papado, João [XXIII] tinha sob seu comando o apoio mais amplo, com França, Inglaterra e vários estados italianos e alemães a reconhecerem-no. Com a ajuda de Luis de Anjou… foi capaz de estabelecer-se em Roma. 22

Como vemos, o antipapa João XXIII pôde reinar em Roma. João XXIII (1410-1415) seria o último antipapa a reinar de Roma, até a apostasia pós-Vaticano II, que começou com um homem que também se fez chamar João XXIII (Angelo Roncalli, 1958-1963).

Durante o quarto ano do seu reinado como antipapa, João XXIII convocou o Concílio de Constança em 1414, em virtude da insistência do Imperador Sigismundo. É muito interessante notar que o recente João XXIII também convocou o Vaticano II no quarto ano do seu reinado, em 1962. E, tal como o Vaticano II, o Concílio de Constança começou como um falso concílio, em virtude de ter sido convocado por um antipapa.

Neste ponto do cisma, o Imperador Sigismundo decidiu-se a unir a Cristandade para trabalhar pela abdicação dos três reclamantes. Quando o antipapa João XXIII se deu conta que não iria ser aceite como o verdadeiro papa no Concílio de Constança, fugiu do Concílio. “Esta tarde, Cossa fugiu de Constança, montado num cavalo pequeno e escuro (em contraste com os nove cavalos brancos detrás dos quais havia entrado na cidade em Outubro), coberto de uma grande capa cinzenta que lhe embrulhava a toda volta para esconder a maior parte do seu rosto e corpo…” 23

O antipapa João XXIII foi formalmente condenado e deposto pelo concílio. Uma ordem foi enviada pelo Imperador para prendê-lo; foi detido e encarcerado. Na prisão, o antipapa João XXIII “entregou com lágrimas o seu selo papal e o anel do pescador aos representantes do concílio.” Ele aceitou o veredicto contra ele sem protesto. 24

“Quando o Concílio de Constança (considerado em parte ou por completo como o décimo sexto ecuménico, 1414-1417) destituiu João XXIII, este entrou em negociações com Gregório XII, que transmitiu a sua disposição de renunciar, com a condição de que se lhe fosse formalmente permitido convocar prelados e dignitários reunidos novamente num concílio geral; como Papa, ele não poderia reconhecer um [concílio] que fora convocado por João XXIII. Este procedimento foi aceite, e na décima quarta sessão solene, em 4 de Julho de 1415, seu cardeal João Dominici leu a sua bula convocando o concílio, no qual Carlo Malatesta [o Papa Gregório XII] anunciou a sua renúncia. Os dois colégios de cardeais se uniram, os actos de Gregório XII em seu pontificado foram ratificados…” 25

Portanto, depois de ter sido deposto o antipapa João XXIII, o Papa Gregório XII acordou convocar o Concílio de Constança (com o fim de conferir-lhe a legitimidade papal que o antipapa João XXIII não podia dar-lhe) e logo renunciou com a esperança de pôr fim ao cisma.

Entretanto, o antipapa Bento XIII (o reclamante de Avinhão) foi contactado pelo Imperador Sigismundo, que lhe pediu a renúncia. Ele recusou-se obstinadamente até o final, mas por esta altura o sentimento geral havia ido tão longe em seu desfavor que os seus seguidores escasseavam consideravelmente.

“Sigismundo, que fizera tudo ao seu alcance para induzir Bento XIII, da linha de Avinhão, a abdicar, sucedeu em afastar aos espanhóis da sua causa. O concílio declarou então a sua deposição, em 16 de Julho de 1417.” 26

Tendo ambos os antipapas sido depostos, e o verdadeiro papa renunciado, o Concílio de Constança procedeu em eleger o Papa Martinho V em 11 de Novembro de 1417, pondo um fim oficial ao Grande Cisma do Ocidente. (A linha de antipapas de Avinhão se manteve depois da morte do antipapa Bento XIII com a eleição do antipapa Clemente VIII como seu sucessor, feita pelos seus quatro restantes cardeais. Estes cardeais consideraram entretanto a eleição do antipapa Clemente VIII inválida e elegeram o antipapa Bento XIV; mas, na altura da deposição do antipapa Bento XIII pelo Concílio de Constança, a linha de Avinhão já tinha perdido tanto apoio que estes dois últimos sucessores do antipapa Bento XIII tornaram-se tão insignificantes a ponto de não merecem sequer uma nota de rodapé).

CONCLUSÃO: O QUE O GRANDE CISMA DO OCIDENTE
NOS ENSINA SOBRE OS TEMPOS DE HOJE


Neste artigo tratamos de um dos importantes capítulos da história da Igreja. Ao longo desse, deparamo-nos com uma série de coisas muito relevantes para a nossa actual situação.

  • Vimos que os antipapas podem existir.
  • Vimos que os antipapas podem reinar de Roma.
  • Vimos que todos os cardeais rejeitaram o verdadeiro Papa (Urbano VI) pouco tempo após a sua eleição e reconheceram o antipapa Clemente VII. Isto demonstra que a possibilidade de todos os cardeais reconhecerem um antipapa não é em absoluto incompatível com a indefectibilidade da Igreja (i.e., com as promessas de Cristo de estar com a Sua Igreja e o papado até o fim dos tempos), pois todos os cardeais reconheceram o antipapa.
  • Vimos que a maioria dos teólogos da época estavam a favor da terceira linha, a dos antipapas de Pisa. Esta linha de antipapas deve ter sido uma opção tentadora para muitos, porque os cardeais de ambos os lados a apoiaram. Isto nos mostra o quão quiméricas Deus às vezes permite que as coisas se tornem, sem violar as promessas fundamentais que Ele fez à Sua Igreja. Além disso, o apoio da maior parte dos teólogos para a linha de Pisa demonstra claramente que, contrariamente ao que alguns hoje afirmam, o ensinamento comum dos teólogos sobre um assunto em particular (por exemplo, a salvação), não interessa o quão eruditos sejam, não é obrigatório.
  • Também vimos que é antigo o princípio de que um herege manifesto não pode ser considerado como um papa legítimo, e isso foi expresso por Baldus, o canonista de maior consideração da altura.
  • Vimos que, durante o Grande Cisma do Ocidente, as coisas ficaram tão más e desesperantes que ninguém via qualquer saída para tal desastre; um desastre que, numa determinada altura, ocasionou à cristandade três bispos rivais, três superiores religiosos rivais, e três reclamantes ao papado que se excomulgavam mutuamente.
  • Aprender isto pode-nos ajudar a compreender com clareza o que temos demonstrado através de razões doutrinais, a saber, que não é um ABSURDO PATENTE ― como alguns disseram erroneamente ― que haja uma linha de antipapas desde o Vaticano II que tenha imposto ao mundo uma falsa nova religião e que tenha reduzido a verdadeira Igreja Católica a um grupo remanescente (em cumprimento das Escrituras e das profecias católicas sobre a impostura na Grande Apostasia e nos últimos dias).

Pelo contrário, se Deus permitiu que ocorressem os desastres anteriormente mencionados durante o Grande Cisma do Ocidente (que pode ter sido, no pior dos casos, apenas um prelúdio da Grande Apostasia), com vários antipapas a reinar em simultâneo e o verdadeiro papa sendo o menos apoiado dos três, que tipo de desastre e engano poderá Ele permitir em relação a antipapas (sem violar jamais as promessas fundamentais que Ele fez à Sua Igreja) durante a tribulação espiritual final, que será a mais enganosa e confusa de todas elas? Um ABSURDO PATENTE é afirmar que é impossível que uma linha de antipapas crie uma seita falsificada para opor-se à verdadeira Igreja, o que é directamente refutado pelo ensinamento católico e pelos factos da história da Igreja. Além disso, é extremamente escandaloso afirmar que tal situação seja um “completo absurdo” depois de ter confrontado os factos inegáveis que apresentamos que provam a sua veracidade.

Terminaremos esta análise do Grande Cisma do Ocidente citando o Pe. Edmund James O’Reilly, S.J. Ele disse várias coisas interessantes sobre o Grande Cisma do Ocidente no seu livro As Relações da Igreja com a Sociedade – Ensaios Teológicos, escrito em 1882. No seu livro, ele menciona a possibilidade de um interregno papal (um período sem um papa) com uma duração similar a do Grande Cisma do Ocidente (quase 40 anos).

Começamos com uma citação do discurso do Padre O’Reilly sobre o Grande Cisma do Ocidente.

“Podemos parar aqui para perguntar o que se pode dizer da posição, naquela altura, dos três reclamantes, e dos seus direitos em relação ao papado. Em primeiro lugar, desde a morte de Gregório XI em 1378, houve sempre um Papa – com a excepção, obviamente, dos intervalos entre as mortes e as eleições para preencher as resultantes vacâncias. Houve, digo, em cada dado momento um Papa, realmente investido da dignidade de Vigário de Cristo e Cabeça da Igreja, quaisquer que sejam as opiniões que entre muitos possam existir quanto à sua autenticidade; não que um interregno que durasse todo o período fosse algo impossível ou inconsistente com as promessas de Cristo, porque isso não é de modo algum manifesto, mas que, na verdade, não houve tal interregno.” 27

O Pe. O’Reilly disse que um interregno (um período sem um papa), que abarcasse todo o período do Grande Cisma do Ocidente não é em absoluto incompatível com as promessas de Cristo para com a Sua Igreja. O período do qual está a falar o Pe. O’Reilly iniciou-se em 1378 com a morte do Papa Gregório XI e finalizou essencialmente em 1417, com a eleição do Papa Martinho V. Isto é um interregno de trinta e nove anos!

Escrevendo depois do Primeiro Concílio do Vaticano, é evidente que o Pe. O’Reilly está do lado dos que, rejeitando os antipapas João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e Bento XVI, apoiam a possibilidade de existir uma vacância de largo período de tempo da Santa Sé. De facto, na página 287 do seu livro, o Pe. O’Reilly dá esta advertência profética:

“O grande cisma do Ocidente sugere-me uma reflexão que tomo a liberdade de expressar aqui. Se este cisma não tivesse acontecido, a hipótese de que tal coisa pudesse suceder pareceria a muitos como algo quimérico (absurdo). Diriam que não poderia ser; que Deus não permitiria que a Igreja chegasse a um ponto tão infeliz. As heresias poderiam surgir, estender-se e durar por longos e dolorosos períodos de tempo, por culpa de seus autores e cúmplices e para a sua perdição, também para grande angústia dos fiéis, aumentada pela realidade das perseguições nos muitos lugares onde os hereges tivessem firmado o seu domínio. Mas que a verdadeira Igreja permanecesse entre trinta a quarenta anos sem uma Cabeça bem esmerada e representativa de Cristo na terra, isso não seria possível. Mas no entanto aconteceu; e não temos garantia alguma de que não volte a acontecer, embora esperemos fervorosamente o contrário. O que posso inferir é que não devemos ser demasiado ávidos em pronunciarmo-nos sobre aquilo que Deus pode ou não permitir. Sabemos com absoluta certeza que Ele cumprirá as Suas promessas… Também podemos contar com que Ele faça muito mais do que aquilo a que se tenha obrigado com as Suas promessas. Podemos com ânimo volver os nossos olhares adiante, face à probabilidade da isenção no futuro de alguns dos problemas e desgraças que tenham acontecido no passado. Mas nós, ou os nossos sucessores nas futuras gerações de cristãos, veremos talvez males mais estranhos do que os que até agora foram experienciados, até mesmo antes da aproximação imediata daquela grande consumação de todas as coisas na terra que precederá o dia do juízo. Eu não me estou a fazer de profeta, nem pretendo ver prodígios infelizes, dos quais não possuo conhecimento algum. Tudo o que pretendo dar a entender é que as contingências em relação à Igreja , que não estão excluídas pelas promessas divinas, não podem ser consideradas como impossibilidades práticas simplesmente porque seriam terríveis e desesperantes num grau muito elevado. 28

O Pe. O’Reilly está a dizer que se o Grande Cisma do Ocidente nunca tivesse ocorrido, as pessoas diriam que tal situação seria impossível e incompatível com as promessas de Cristo para com a Sua Igreja, mas com a evidência histórica que prova o contrário, não podemos descartar a possibilidade de que coisas similares ou talvez piores aconteçam no futuro com base na premissa de que essas seriam extremamente angustiantes.




1 J.N.D. Kelly, Oxford Dictionary of PopesOxford University Press, 1986, pág. 227.

2 Warrem H. Carroll, A History of Christendom, vol. 3 (The Glory of Christendom), Front Royal, VA: Christendom Press, pág. 429.

3 Warrem H. Carroll, A History of Christendom, vol. 3 (The Glory of Christendom), pág. 431.

4 Pe. John Laux, Church History, Rockford, IL: Tam Books, 1989, pág. 404.

5 Warrem H. Carroll, A History of Christendom, vol. 3 (The Glory of Christendom), pp. 432-433.

6 Citado por Warrem H. Carroll, A History of Christendom, vol. 3 (The Glory of Christendom), pág. 433.

7 Warrem H. Carroll, A History of Christendom, vol. 3 (The Glory of Christendom), pp. 432-434.

8 Pe. John Laux, Church History, pág. 404.

9 Pe. John Laux, Church History, pág. 405.

10 J.N.D. Kelly, Oxford Dictionary of Popes, pág. 231.

11 J.N.D. Kelly, Oxford Dictionary of Popes, pág. 232.

12 Pe. Andrew Pradel, St. Vincent Ferrer: The Angel of the Judgment, Tam Books, 2000, pág. 39.

13 J.N.D. Kelly, Oxford Dictionary of Popes, pág. 237.

14 Pe. John Laux, Historia da Igreja, pág. 405.

15 J.N.D. Kelly, Oxford Dictionary of Popes, pág. 235.

16 J.N.D. Kelly, Oxford Dictionary of Popes, pág. 235.

17 Warrem H. Carroll, A History of Christendom, vol. 3 (The Glory of Christendom), pág. 472.

18 Pe. John Laux, Church History, pág. 405.

19 Warrem H. Carroll, A History of Christendom, vol. 3 (The Glory of Christendom), pág. 473-474.

20 Warrem H. Carroll, A History of Christendom, vol. 3 (The Glory of Christendom), pág. 471.

21 Warrem H. Carroll, A History of Christendom, vol. 3 (The Glory of Christendom), pág. 479.

22 J.N.D. Kelly, Oxford Dictionary of Popes, pág. 238.

23 Warrem H. Carroll, A History of Christendom, vol. 3 (The Glory of Christendom), pág. 485.

24 Warrem H. Carroll, A History of Christendom, vol. 3 (The Glory of Christendom), pág. 487.

25 J.N.D. Kelly, Oxford Dictionary of Popes, pág. 236.

26 Pe. John Laux, Church History, pág. 408Pe. James Edmund O’Reilly, The Relations of the Church to Society – Theological Essays.

27 Pe. James Edmund O’Reilly, The Relations of the Church to Society – Theological Essays.

28 Pe. James Edmund O’Reilly, ibídem, pág. 287.


Do livro: A Verdade sobre o que Realmente Aconteceu à Igreja Católica depois do Vaticano II
 https://www.igrejacatolica.org/o-grande-cisma-do-ocidente/
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 https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Cisma_do_Ocidente
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Mapa ilustrando o Grande Cisma do Ocidente.Os territórios em rosa são territórios obedientes a Avignon, os territórios em roxo são territórios obedientes a Roma.
http://estoriasdahistoria12.blogspot.pt/2016/09/20-de-setembro-de-1378-crise-na-igreja.html
20 de Setembro de 1378: 
Crise na Igreja Católica dá início ao Grande Cisma do Ocidente
No dia 20 de Setembro de 1378, treze cardeais reúnem-se secretamente en Anagni, sul de Roma. Descontentes com o papa imposto pelo povo romano em 8 de Abril de 1378, sob o nome de Urbano VI, eles designam o prelado de Saboia, Roberto de Genebra, como novo sumo pontífice. O eleito assume o nome de Clemente VII e instala-se em Avinhão, sede abandonada em 17 de Janeiro de 1377 pelo seu predecessor Gregório XI. A rota de colisão com Urbano VI, qualificado de "antipapa", torna-se inevitável.
O episódio marca o início do Grande Cisma do ocidente, também conhecido como Cisma Papal, ou simplesmente Grande Cisma, crise católica que duraria 39 anos (1378-1417).
Estava-se em plena Guerra dos 100 anos. A França toma o partido do seu papa enquanto a Inglaterra opta pelo italiano. Em Nápoles, a rainha Joana I toma partido de Clemente VII enquanto o seu primo Charles de Duras, que reivindica a coroa, toma partido do papa romano.
É o começo do Grande Cisma do Ocidente. Este conflito entre "urbanistas" e "clementistas" dizia respeito às classes dirigentes. Deixava indiferente a maior parte dos católicos que, em matéria de religião, só tinha como interlocutor o padre da sua paróquia. O conflito de pessoas na alta hierarquia da Igreja Católica não impediu, porém, que a Igreja se cobrisse de descrédito, tendo concorrido para a emergência de movimentos de contestação e da Reforma.
Em 11 de Novembro de 1417, o Concílio de Constança põe fim ao Grande Cisma.
A crise do cristianismo medieval iniciou-se com a instalação do papa Clemente V em Avinhão em 1309. Tratava-se apenas de um exílio provisório motivado pelas violentas manifestações populares em Roma. Contudo, o papa, um francês do Sul, instala-se a título permanente na sua nova residência com o apoio do poderoso rei da França, Filipe, o Belo.
Avinhão conheceu  na época grandes ostentações sob o pontificado de Clemente VI (1342-1352), um monge da abadia de Chaise-Dieu. Ao mesmo tempo eclode a Guerra dos 100 Anos e sobrevém a Grande Peste. Diante de tantas infelicidades, os contemporâneos consideraram-nas uma punição divina à Santa Sé.
Em 1367, Urbano V, ex-abade de São Vítor em Marselha, decide voltar a Roma, mas a sua administração permanece em Avinhão. Somente em 1377 é que o seu sucessor, Gregório XI, põe termo definitivo ao "Cativeiro da Babilónia", sobre as insistentes recomendações de uma jovem dominicana mística, Santa Catarina de Siena.
Gregório XI morre em 27 de Março de 1378, pouco após a sua penosa viagem de retorno a Roma.
Dezasseis cardeais reúnem-se em Abril de 1378 a fim de eleger o novo titular da cadeira de São Pedro. O conclave não tarda em dividir-se em três facções: os franceses do Norte, os franceses do Sul e os italianos. O povo de Roma pressiona o conclave e a resposta à sua cólera é a eleição quase por unanimidade – 15 votos em 16 – de um italiano de 60 anos que se torna papa com o nome de Urbano VI.
O rei de França Carlos V contesta as circunstâncias da eleição e os 13 cardeais, essencialmente franceses, decidem pela eleição de Clemente VII.
As divisões no seio da Santa Sé não cessaram de agravar-se nos anos seguintes, e um outro papa foi aclamado na cidade italiana de Pisa, João XXIII.
O papado tinha de fazer face à renovação das heresias e a contestação de ilustres teólogos. O inglês John Wyclif e o checo Jan Hus defendem uma reforma da Igreja e o retorno aos ensinamentos do Evangelho.
A restauração da autoridade pontifícia torna-se urgente. A França, principal potência na época mostrou-se interessada em colaborar, porém estava arrasada pela guerra civil entre os Armagnacs e os Bourguignons e incapaz de agir.
Teve de se esperar até 1415 para que o imperador alemão Sigismundo forçasse a reunião de um concílio nas margens do lago Constança.
O colégio de cardeais destitui os três papas para eleger um novo e único papa, Oddone Colonna, pertencente à nobreza romana. Como sequer havia sido ordenado padre, repara-se esse lapso, conferindo-lhe às pressas o sacramento da ordenação. Adoptando o nome de Martinho V, o novo papa estabelece-se definitivamente em Roma. A sua eleição, em 11 de Novembro de 1417, põe praticamente fim ao Grande Cisma.
Um novo concílio reúne-se em Basileia a 3 de Março de 1431 com vista a reformar a Igreja e estabelecer a união das Igrejas do Ocidente e Oriente, os ortodoxos e os católicos. Esta reforma não se concretiza visto que o papa Eugénio IV, sucessor de Martinho V, se insurge contra as decisões. O concílio muda-se para Constança onde elegem o duque Amadeu VIII de Saboia como papa. O último dos antipapas adopta o nome de Félix V. A cristandade vê ressurgir o espectro do cisma. Sem apoios, ele acaba por depositar o resto de autoridade nas mãos do papa Nicolau V.
Apesar de encerrada a querela dos papas e antipapas, o estrago estava feito. A revolução religiosa em formação no império germânico,que acabaria por triunfar um século mais tarde com Martinho Lutero.
Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)
Quadro de 1452 de Eguerrand Quarton representa a Virgem da Misericórdia reconciliando a Igreja 
Papa Urbano VI
Papa Clemente VII
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Cisma do ocidente ou de Avignon ou papal
 Evento da história do cristianismo onde o papado foi fragmentado e o papa passou a conviver com outros antipapas.
https://www.youtube.com/watch?v=bofANbb-FXk
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