21/09/2016

3.525.(21seTEMbro2016.7.7') John A. Hobson

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Nasceu a 6jul1858, em Derby, Reino Unido
e morreu a 1ab1940
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TEORIA DO IMPERIALISMO: JOHN HOBSON1
Caio Martins BUGIATO
RESUMO:
 O capitalismo se consolidou plenamente e alcançou uma difusão espacial significativa no último quarto do século XIX, criando condições para a democracia liberal-burguesa e para o imperialismo. A partilha da África em 1885, a série de guerras imperialistas que eclodiram no Caribe – entre EUA e Espanha –, na África do Sul – entre bôeres e ingleses – e na China – envolvendo também os ingleses – entre 1898 e 1901 delinearam os termos do problema teórico e político a ser enfrentado, estimulando uma reflexão mais cuidadosa e fundamentada sobre imperialismo. A primeira tentativa séria foi levada a termo pelo inglês John Hobson, em 1902, com seu trabalho Imperialismo: um estudo. Este artigo tem por objetivo, por meio de uma pesquisa do cenário internacional da época e da própria obra do autor, analisar o pensamento pioneiro de Hobson acerca do imperialismo.
http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/ric/article/viewFile/171/157
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A GÉNESE DA TEORIA DO IMPERIALISMO – cap. 2

Hobson foi o 1º a abordar o tema sistematicamente

O livro "Imperialism — A Study" de John A. Hobson foi, de fato, a primeira obra a tentar abordar o fenómeno do imperialismo de forma mais profunda e sistemática. O imperialismo é definido pelo autor inglês como “a política de um Estado expandir para além dos limites da sua nacionalidade’”. Por esta concepção, o termo se associa unicamente à prática do colonialismo aberto. Mas Hobson não se prende unicamente às aparências deste fenómeno. Horrorizado com a corrida das principais potências do seu tempo para a partilha da África e da Ásia, ele procura identificar os impulsos e os interesses que serviam de força motriz para a nova escalada colonialista.

Aqui reside a grande contribuição de Hobson na discussão teórica sobre a natureza do imperialismo. Ele identifica que o novo colonialismo tem motivações essencialmente económicas, relacionadas com o papel do capital financeiro nas sociedades capitalistas modernas.
"A raiz económica do imperialismo é o desejo de poderosos interesses financeiros e industriais de assegurar mercados privados para os seus bens e capitais excedentes, à custa do dinheiro público e da força pública".

Ao colocar o problema do "excesso de bens e de capital", Hobson retoma formulações da chamada "teoria do subconsumo" desenvolvida por economistas como Sismondi e Rodbertus no século passado. A distribuição desigual de riquezas nas sociedades modernas geraria uma de "subconsumo" crónico por parte da maioria de consumidores, já que a capacidade de consumo estaria permanentemente desfasada da capacidade de produção na economia. Por outro lado, isto provocaria um quadro de "super-poupança" crónica, já que os grandes investidores não achariam escoamento para as suas mercadorias na economia interna, o que diminuiria a lucratividade dos seus investimentos.

A teoria do "subconsumo" de Sismondi foi criticada em várias obras de Marx e Engels. As mesmas observações críticas valem também para Hobson. Em primeiro lugar, eles chamam atenção para o facto do problema do "subconsumo" não ser um fenómeno unicamente capitalista, já que ele se fez sentir com força em todas as diferentes formações sociais pré-capitalistas na história humana. Assim, ele não poderia por si só explicar o surgimento das crises capitalistas de superprodução, que só começam a se manifestar na passagem do século XVIII para o século XIX. Da mesma forma, ao abordar um problema crónico na economia, a teoria do "subconsumo" não consegue explicar a ocorrência de crises cíclicas no sistema capitalista. Por fim, a teoria marxista das crises do capitalismo localiza a sua raiz nas condições de produção, enquanto que a teoria de Sismondi (adoptada por Hobson) localiza o cerne do problema fora da produção — nas relações de distribuição. Vale lembrar que, para a economia política marxista, as relações de distribuição e de troca no mercado estão condicionadas e subordinadas às relações de produção.

Para o autor inglês, no entanto, este estrangulamento provocado pelo "subconsumo" levava os grandes grupos financeiros e industriais a se valerem do poder de Estado para tentar conquistar novas áreas de investimento no globo. Era este o impulso económico fundamental por trás da política imperialista de expansão colonial. Cabe ressaltar que, para Hobson, o factor essencial era a procura de mercados para o investimento de capital. Mesmo a obtenção de termos mais favoráveis de comércio, através do colonialismo, estaria subordinada ao objectivo maior de aumentar a lucratividade dos investimentos realizados nas colónias. Neste aspecto, sua análise é muito mais avançada e correta do que a de boa parte dos nossos estudiosos contemporâneos, que situam a problemática do imperialismo fundamentalmente na questão dos termos desiguais do comércio, sem compreender a diferenciação essencial entre o imperialismo capitalista moderno e o colonialismo de períodos anteriores. Outra contribuição de Hobson para a compreensão do imperialismo foi identificar seu carácter parasitário nas sociedades capitalistas dominantes. Na sua opinião, o imperialismo beneficiava apenas uma minoria dessas sociedades — justamente os grupos dominantes — que facturavam em cima dos lucros extras obtidos nos empreendimentos coloniais. Comparando o parasitismo dos grandes grupos financeiros ao parasitismo das oligarquias no antigo Império Romano, o autor inglês concluía que o imperialismo condenava as próprias potências coloniais a um futuro de decomposição, atrofia, decadência e até mesmo extinção.

Mas é na hora de apresentar a alternativa ao imperialismo que os limites da análise de Hobson se tornam mais aparentes. Para ele, o imperialismo não se tratava de uma etapa necessária ou intrínseca ao sistema capitalista, e sim de uma política adoptada por grupos dominantes para avançar os seus interesses às custas do resto da Nação. Nestes termos, o imperialismo era visto como uma distorção no desenvolvimento do capitalismo. O seu questionamento do imperialismo não levava a um questionamento da propriedade privada capitalista em si. A sua conclusão era de que uma política de redistribuição de renda que combatesse as distorções do sistema evitariam o quadro de "subconsumo" e "super-poupança", e, portanto, o próprio imperialismo. É neste sentido que seu pensamento político pode ser melhor caracterizado como "liberal-reformista". Em certa medida, ao defender uma acção firme do Estado capitalista no combate à concentração de riquezas, Hobson foi precursor de certas ideias que seriam desenvolvidas mais adiante pelo próprio Keynes. Apesar de não ser marxista, a análise de Hobson acabou tendo grande influência no debate marxista sobre o imperialismo no início do nosso século.

A primeira obra de maior profundidade que procurou analisar o fenómeno do imperialismo pela óptica da teoria marxista foi o livro "O Capital Financeiro" de Rudolf Hilferding. Esta obra do economista austríaco, que foi dirigente do Partido Social-Democrata alemão e até ministro de Estado na Alemanha na década de 20, foi publicada pela primeira vez em 1909. O livro não se propunha a analisar propriamente o imperialismo, e sim as "características económicas da fase mais recente de desenvolvimento capitalista", como pode ser lido no prefácio do próprio autor. Mas como a fase a ser descrita abarcava justamente o período da nova expansão colonial que passou a ser conhecida como "imperialismo", a obra entrou para a história como a primeira elaboração teórica marxista a tentar dar conta do fenómeno. Na abertura da sua obra clássica sobre o imperialismo, Lenine fez as seguintes considerações sobre o trabalho do autor austríaco. (continua)

Por Luís Fernandes, Grabois