2abril2018
FORAM OS BRITÂNICOS QUE AFUNDARAM O SUBMARINO ARGENTINO?
Passaram quatro meses desde o desaparecimento do submarino argentino ARA San Juan próximo das ilhas Malvinas e até agora não se sabe claramente o que ocasionou o afundamento do submergível.
Um documento da Armada argentina revela que o ARA San Juan “foi enviado para uma zona militarizada” sob controlo exclusivo dos britânicos onde as forças navais e aéreas do Reino Unido, Chile e Estados Unidos estavam em manobras militares. A explicação da Armada argentina de que o navio sofreu um "impacto violento, singular, anómalo, curto e não nuclear, consistente com uma explosão" em 15 de Novembro de 2017, aconselhando os parentes dos 44 tripulantes a "trazer flores para o mar" " A Marinha não deu nenhuma explicação coerente sobre a causa da tragédia e que causou indignação no país.
Enquanto a imprensa britânica baseou os seus comentários nas conclusões argentinas, vários jornalistas norte-americanos, como por exemplo Tom Rogan do The Washington Examiner, mostraram o seu desacordo com a explicação oficial argentina sobre o sucedido (“não acredito na explicação da Argentina sobre o submarino”). Surpreendentemente no Chile, quase um mês depois do acontecido, cerca de cinco almirantes foram aposentados. Não se sabe se foi mera coincidência ou uma consequência de algo em que participou a Armada chilena e que as autoridades querem esconder.
Finalmente, a morte de 44 tripulantes do submarino transformou-se numa tragédia confusa, misteriosa, cheia de suspeitas e perguntas, realidades e teorias da conspiração. As suspeitas aumentaram depois da negativa do governo argentino para que o barco de regate russo Yantar rastreasse a zona a 200 quilómetros para sudoeste da área de busca no Atlântico. Segundo os cientistas russos, tudo indica que foi ali que o submarino desapareceu. Quatro meses passados, os familiares exigem ao presidente, Mauricio Macri, que explique “o que se passa com o governo e as Forças Navais” e porque não “deixaram os russos trabalhar livremente”.
Para entender todo este enredo temos de voltar à Guerra das Malvinas (2 de Abril a 14 de Junho de 1982) instigada pela CIA, o MI6, a Mossad e a Junta Militar argentina de Leopoldo Fortunato Galtieri. Aquele conflito bélico teve lugar nas ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, localizadas no Atlântico Sul. Foi um a operação dupla do Pentágono e da CIA que apoiou o Reino Unido a ao mesmo tempo garantiu à Junta Militar que seria fácil tomar as Malvinas prometendo a Galtieri o apoio diplomático de Washington e o fornecimento de mísseis franceses Exocet. Na hora da verdade Washington esqueceu a suas promessas, aliou-se a Londres que recebeu também o apoio logístico do Chile.
Com esta aliança, a derrota da Argentina foi selada, o que deu origem também à ‘desmalvinização’ que consistiu em negar à Argentina a possibilidade de ser uma potência no Atlântico Sul e converter o país num “quase protectorado britânico” depois da assinatura da Declaração conjunta das delegações argentinas, britânicas e norte irlandesas em Fevereiro de 1990. Ao subscrever o acordo, o presidente Carlos Menem e o ministro dos Negócios Estrangeiros Domingo Cavallo (o mesmo guru que em 1998 foi convocado por Yeltsin para “salvar” a economia russa) outorgaram à Grã-Bretanha uma supremacia total sobre o território das ilhas Malvinas para "tornar ineficaz a Zona de Protecção estabelecida em redor das ilhas".
Através deste tratado, o Reino Unido adquiriu também o direito de controlar todos os actos, as aquisições militares, os deslocamentos das unidades da Força Aérea, da Marinha e do Exército da República da Argentina. Na realidade, as Forças Armadas argentinas permaneceram sujeitas às Forças Armadas britânicas. Julio González nos seu livro Tratados de Paz pela Guerra das Malvinas (2004) sublinha que desde a assinatura daquele acordo, Londres estabeleceu uma hegemonia no Atlântico Sul, determinando que os “barcos e aeronaves argentinas que circulam pela plataforma continental argentina estão subordinados ao controlo britânico, enquanto os navios e aviões britânicos que partem das nossas costas até ao meridiano 20 não estão sujeitos ao mesmo controlo argentino por falta de tecnologia".
O Reino Unido também não permite à Argentina a instalação de radares na Patagónia deixando praticamente ‘à cega’ as Forças Armadas argentinas. Os termos deste tratado foram cumpridos por todos os governos de turno argentinos. Desde 1964 quando o governo de Arturo Umberto autorizou Washington a enviar o seu grupo militar para o país, os representantes do Pentágono ocuparam ininterrompidamente gabinetes do edifício Libertador do Ministério da Defesa argentino até 2009, incluindo durante a Guerra das Malvinas. Em 1983, o presidente Raúl Alfonsín encarregou a DGSE francesa (serviço de espionagem) e a Mossad de reestruturarem o serviço de espionagem argentino. O curioso foi que o MI6 inglês que estava a operar no país desde 1810 também participou neste processo.
De acordo com o jornalista argentino Diego Pappalardo, desde a assinatura do tratado, frequentemente chamado o “Versalhes argentino”, houve "a anulação de uma classe dirigente, pensante e defensora da Argentina, a desmilitarização efectiva, o desinvestimento estratégico e a narrativa cultural de uma auto incriminação por crimes injustos que nunca cometemos e nos continuam a atormentar com o recente afundamento do submarino argentino que não escapa à dita casualidade”. (…) O ARA San Juan afundou, o ARA San Luis combateu nas Malvina e foi para abate em 1997. O ARA Salta não está em boas condições e o ARA Santa está em reparação. Contas feitas, a Armada argentina ficou praticamente sem submarinos.
Do ponto de vista geoestratégico britânico, surgiu uma condição ideal para a completa hegemonia de Londres no Atlântico Sul. Para a segurança nacional argentina a perda do seu único activo submarino representa um sério golpe tanto físico como moral. Até agora ninguém sabe se o governo do Reino Unido foi avisado sobra a saída para o mar do submergível argentino. Recentemente, o chefe do governo Marcos Peña, informou o Congresso que o objectivo principal do submarino “era a localização, identificação, registo fotográfico de barcos frigoríficos, logísticos, petroleiros, barcos de investigação de outras bandeiras”. Também disse que “como objectivos materiais secundários desta actividade foram estabelecidas embarcações e aeronaves operando nas Ilhas Malvinas".
Ou seja, o ARA San Juan tinha de monitorar na realidade os barcos de guerra da frota britânica, norte-americana e chilena que estavam em manobras anti submarinas. Precisamente 15 dias antes de se afundar, os navios norte-americanos e chilenos faziam exercícios de resgate de um submergível avariado na mesma zona onde operava o ARA San Juan. É importante assinalar que no percurso do seu itinerário, vários dos seus tripulantes enviaram por WhatsApp mensagens aos seus familiares dizendo que a sua embarcação estava a ser perseguida por um helicóptero da Marinha Real Britânica e um barco de guerra da Marinha do Chile. Na mesma zona também operava um avião anti submarino chileno C-295.
A partir daqui perde-se todo o contacto e até ao momento não há uma versão oficial sobre o desaparecimento do submarino. O silêncio oficial leva a pensar que existe um acordo entre o Reino Unido, Estados Unidos e Chile com o governo argentino de encobrimento das causas para o afundamento. A isto junta-se a negação de Buenos Aires para que o barco russo possa rastrear a zona onde, segundo os seus dados, se pode encontrar o ARA San Juan. Este barco tem drones submergíveis e dois pequenos submarinos, o Rus e o Konsul. Cada um com uma tripulação de três pessoas e podem mergulhar a uma profundidade de 6.000 metros; no entanto, forças poderosas estão a obrigar o governo da Argentina a as suas Forças Armadas a não permitir que os russos encontrem o submarino com o pretexto que o barco russo é um “barco espião”.
Sempre, no percurso da história os interesses geopolíticos prevaleceram sobre os sentimentos e sensibilidades sociais humanas. É certo que, como comentou o ex-militar e combatente argentino na Guerra das Malvinas, Aldo Rico, “o sangue dos soldados seca depressa”. Os seus nomes caem no esquecimento, excepto para os seus familiares e amigos que os recordarão a cada 15 de Novembro lançado flores ao mar onde repousam os seus corpos e pedindo para que algum dia se saiba a verdade para que por fim, descansem em paz.
Fonte: Sputnik
https://www.facebook.com/960198530674380/photos/a.960209104006656.1073741828.960198530674380/2033812449979644/?type=3&theater
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18abril2013
opinião de Ângelo Alves no Avante:
Thatcher e o «objectivo estratégico»
Margaret Thatcher, ex-primeira ministra britânica, morreu. O seu enterro realizou-se ontem. A polémica sobre o seu funeral estalou na sociedade britânica, e com razão. A «dama de ferro» era tudo menos uma figura consensual. Ela é idolatrada pelos círculos mais reaccionários, pelo grande capital e a coroa britânica. Mas do outro lado não é assim. Para os trabalhadores, os pobres, os mais desfavorecidos a «dama de ferro» não é um exemplo a seguir. A morte de um ser humano é sempre motivo de pesar, tal não está em causa. Mas isso não pode apagar o passado e muito menos servir para fazer a apologia de uma ideologia radical neoliberal com traços fascizantes.
Thatcher movia-se por uma ideologia profundamente reaccionária, anti-social, autoritária, repressiva, nacionalista, imperialista e colonial. Quem faleceu e vai hoje a enterrar é a mesma pessoa que enquanto ministra da Educação em 70-74 aboliu o leite escolar para as crianças entre os 7 e os 11 anos; fez da década de 80 um pesadelo para os trabalhadores e o povo britânico; confrontada com a greve dos mineiros em 1984 destacou 20 000 polícias para a reprimir de forma brutal; declarou guerra ao movimento sindical, lhe «partiu a espinha» e quase aboliu o direito à greve. Thatcher privatizou tudo o que havia para privatizar na Grã-Bretanha, aboliu na prática, no início da década de 80, o salário mínimo, e fez triplicar o desemprego em apenas três anos do seu governo. A «dama de ferro» é a da guerra colonial das Malvinas, a do «Poll Tax» (o imposto baseado no princípio de que os que menos ganham têm de pagar proporcionalmente mais) e a da tentativa, derrotada dentro do seu próprio partido, de abolir os sistemas públicos de Saúde e Educação.
Foi esta mulher que faleceu e vai hoje a enterrar, não outra. É por isso muito elucidativo que na Assembleia da República PSD e CDS/PP tenham apresentado um voto de pesar que afirma que Thatcher «é seguramente uma referência política para toda a Europa» e que «a melhor forma de a homenagear será honrar o seu mandato e aprender com a sua experiência e assumir o seu património de liderança com determinação e objectivo estratégico» e que o PS, sim o PS, o tenha votado favoravelmente. Por aqui se vê o quão próximos estão no «objectivo estratégico».
http://www.avante.pt/pt/2055/opiniao/124762/
2abril2012
O aniversário de 30 anos da Guerra das Malvinas reacendeu a memória de um conflito que divide até hoje argentinos e britânicos. Em fevereiro, o governo argentino pediu a reabertura de negociações sobre a soberania das ilhas e acusou o Reino Unido de militarizar a área após o envio de um navio britânico.
A campanha pela retomada das negociações ganhou o apoio do argentino Adolfo Pérez Esquivel, que lidera um documento assinado por um grupo de seis prêmios Nobel da Paz. Já o Reino Unido, onde o arquipélago é conhecido como Falklands, prepara uma comemoração discreta para lembrar as três décadas em que venceu o conflito.
A guerra começou em 2 de abril de 1982 após a Argentina invadir o arquipélago que considera sua extensão territorial histórica. O país entende que, ao se tornar independente em 1822, passou também a controlar as ilhas, que pertenciam aos espanhóis. Já os britânicos afirmam que dominam a região desde 1833, quando ocuparam e colonizaram o arquipélago.
Para os historiadores, o início da guerra foi a arma do ditador argentino, general Leopoldo Galtiere, para dar fôlego ao governo militar, já agonizante no país. A então primeira-ministra britânica Margareth Thatcher, que enfrentava uma crise de popularidade, reagiu com força.
No final de abril, 28 mil soldados em 100 navios chegaram ao arquipélago para defender seus 1.800 habitantes, considerados por Thatcher parte da “tradição e reserva britânica”. A Argentina contava com uma tropa com 12 mil soldados nas ilhas e cerca de 40 navios.
No dia 2 de maio, os britânicos afundaram o navio argentino General Belgrano, matando todos os 326 tripulantes. Dois dias depois, a embarcação britânica HMS Sheffield foi atingida por um míssil Exocet e afundou deixando 20 mortos.
A guerra, que durou 75 dias, só acabou em 14 de junho, com a rendição dos argentinos. Ao todo, 258 britânicos e 649 argentinos morreram no conflito.

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/04/entenda-guerra-das-malvinas.html
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11dez2003
Guerra das Malvinas
Britânicos tinham armas nucleares a bordo
Vinte anos após o fim da guerra das Malvinas, que opôs o Reino Unido à Argentina, um porta-voz do Ministério da Defesa britânico admitiu pela primeira vez, sexta-feira, dia 5, que nos navios enviados para o arquipélago, em 1982, havia armas nucleares.
O Ministério revela que a presença destas armas nos navios era normal durante os anos 80, garantindo que nunca foi equacionada a sua utilização, apesar de se tratar de cargas de profundidade do tipo WE177, concebidas para destruir submarinos.
Contudo, no domingo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros apresentava uma versão diferente, afirmando que a existência destas armas não foi intencional, mas que estas já se encontravam nos navios e não foram retiradas para não atrasar a partida 36 horas.
Do outro lado do Atlântico, o presidente argentino, Nestor Kirchnner, exigiu, no sábado, desculpas do governo britânico, considerando o acto como «monstruoso». O chefe de estado exigiu ainda que o governo de Tony Blair garanta que nenhuma arma nuclear se encontrava a bordo dos navios que afundados durante o conflito, de que é exemplo a fragata Sheffield, atingida por um míssil em 4 de Maio de 1982, a 80 quilómetros a oeste do arquipélago das Malvinas.
O Ministério revela que a presença destas armas nos navios era normal durante os anos 80, garantindo que nunca foi equacionada a sua utilização, apesar de se tratar de cargas de profundidade do tipo WE177, concebidas para destruir submarinos.
Contudo, no domingo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros apresentava uma versão diferente, afirmando que a existência destas armas não foi intencional, mas que estas já se encontravam nos navios e não foram retiradas para não atrasar a partida 36 horas.
Do outro lado do Atlântico, o presidente argentino, Nestor Kirchnner, exigiu, no sábado, desculpas do governo britânico, considerando o acto como «monstruoso». O chefe de estado exigiu ainda que o governo de Tony Blair garanta que nenhuma arma nuclear se encontrava a bordo dos navios que afundados durante o conflito, de que é exemplo a fragata Sheffield, atingida por um míssil em 4 de Maio de 1982, a 80 quilómetros a oeste do arquipélago das Malvinas.
http://avante.pt/pt/1567/europa/3369/
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