06/07/2018

9.154.(6jul2018.10.22') Ricardo Camacho...A Sétima Legião...

Nasceu na Madeira em 1954
e morreu a 4jul2018...cancro no pulmão...Lovaina...Bélgica
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Ricardo Camacho (1954-2018): o discreto 'arquiteto' da modernidade pop portuguesa dos anos 80




Ricardo Camacho foi um dos importantes pilares da modernidade que a música portuguesa começou a desenhar na década de 80, quando, já em ambiente de total liberdade conquistada com o 25 de Abril, uma nova geração começou a sacudir a mentalidade “orgulhosamente só”, a assumir que as canções não estavam obrigadas a serem espaços doutrinários e que a pista de dança podia também ser um espaço de liberdade
O músico começou, na verdade, por ser aspirante a médico quando chegou a Lisboa no arranque dos anos 70, vindo da Ilha da Madeira, onde nasceu em 1954. A primeira fase universitária não resistiu ao apelo da música, interesse que mantinha desde criança, quando iniciou estudos na Academia de Música da Madeira. Começou por trabalhar na rádio, foi realizador no programa 'Rock em Stock',de Luís Filipe Barros, e não demoraria a aproximar-se da Valentim de Carvalho.
“A primeira pessoa da música com que o Ricardo Camacho trabalhou fui eu”, recorda hoje à BLITZ Francisco Vasconcelos, atual diretor da editora de Paço de Arcos. "Ainda estudava e começou a trabalhar comigo na parte de Artista & Repertório Internacional. Ajudava-me a ouvir os discos que recebíamos, as maquetas, para planearmos as edições". Nesta editora trabalhava também, no arranque dos anos 80, Nuno Rodrigues, músico da Banda do Casaco à época a braços com um artista especial chamado António Variações. Camacho foi chamado a deixar o seu toque especial nos teclados no single de estreia de Variações, “Estou Além”, que tinha “Povo Que Lavas no Rio” no Lado B, e que chegaria às lojas em 1982.
Descrito por David Ferreira como “uma peça importantíssima na carreira de António Variações” (nas páginas da biografia do malogrado cantor, assinada por Manuela Gonzaga), Ricardo Camacho já tinha na altura trabalhado com os GNR e com Manuela Moura Guedes (é autor da música e toca no single 'Foram Cardos, Foram Prosas', que contava com letra de Miguel Esteves Cardoso) e sentia-se bastante próximo de uma vanguarda pop nacional: “Se a produção fosse minha tinha ido buscar o Tóli [César Machado] e o Vítor Rua, com quem estava mais habituado a trabalhar no âmbito dos GNR”, recordava Camacho à escritora Manuela Gonzaga, quando foi questionado sobre esse primeiro momento da discografia de Variações. “Entretanto ninguém parecia entender o que o António queria. E eu pedi: deixem-me ficar sozinho com ele, vão tomar um café. Ele queria fazer uma versão do 'Povo Que Lavas no Rio', o que era muito corajoso. Pegar numa coisa da Amália, já é corajoso, mas logo aquela! Eu pergunto-lhe, António, queres que isto soe como? E ele diz aquela frase emblemática: “entre Nova Iorque e a Sé de Braga”.
Um ano depois de Variações se estrear, Ricardo Camacho assegurou a produção de outro primeiro single, este a cargo de uma banda chamada Sétima Legião. 'Glória' era o primeiro sinal de uma novel aventura discográfica que procurava fazer a ponte entre a ainda incipiente pop nacional e as mais aventureiras propostas que iam chegando vindas de Manchester. A Fundação Atlântica, criada por várias pessoas, incluindo Pedro Ayres Magalhães, dos Heróis do Mar, e o jornalista Miguel Esteves Cardoso, contava igualmente com Ricardo Camacho a bordo desde o primeiro momento.
“Queríamos procurar alternativas ao rock português. Havia muita formatação criada pelas editoras. Havia exceções, claro, como os GNR ou o António Variações. Mas sentíamos que havia mais coisas assim e essas não tinham casa. O Miguel Esteves Cardoso tinha voltado de Inglaterra, onde observou o fenómeno das editoras independentes e se entusiasmou com esse modelo. Isso servia-me, porque nunca fui agarrado ao dinheiro. O Pedro também tinha um espírito muito independente e qualquer ideia que lhe permitisse mexer sem supervisão seria sempre atraente para ele”, recordou Ricardo Camacho à revista BLITZ em 2012.
Na Fundação Atlântica, Ricardo Camacho trabalhou em vários projectos, de Anamar e do Clube Naval aos Xutos & Pontapés – a quem produziu o histórico single de 1984 'Remar, Remar' / 'Longa Se Torna a Espera' –, mas o seu cruzamento com a Sétima Legião foi o que lhe rendeu a sua maior “pegada” no universo musical português. “Nós tínhamos tocado dois temas numa festa do segundo aniversário do Rock Rendez Vous e o Ricardo viu-nos e abordou-nos para trabalharmos com eles dizendo ‘isto é o meu sonho, uma banda assim’", contou Pedro Oliveira, vocalista da Sétima Legião, à BLITZ, em 2008.
Arquivo BLITZ Blitz A Sétima Legião nos anos 80. Ricardo Camacho é o terceiro a contar da direita 1
O sonho foi cumprido com "A Um Deus Desconhecido", o primeiro álbum da Sétima Legião, editado em 1984 pela Fundação Atlântica e já com Ricardo Camacho como membro de pleno direito. Sobre esse trabalho, o teclista haveria de se pronunciar mais tarde, em entrevista ao 'Público': “É um disco muito diferente de tudo o que se fazia na altura, que recuperava algumas coisas do passado mas que ao mesmo tempo estava completamente integrado no seu tempo.” Esse foi o início de um percurso muito particular na música portuguesa: os álbuns "Mar d’Outubro" (1987) e "De Um Tempo Ausente" (1989) fecharam a década de 80 em alta, graças aos sucessos radiofónicos de 'Sete Mares' e 'Por Quem Não Esqueci'. Os anos 90 trouxeram mais três lançamentos – "O Fogo" (1992), "Auto de Fé" (trabalho ao vivo de 1994) e "Sexto Sentido" (1999). Nesse período mais tardio da vida da Sétima Legião, a marca de Ricardo Camacho foi aliás ficando mais pronunciada no som geral da banda, aproximando-se de algumas experiências eletrónicas que iam rasgando novos terrenos no plano internacional, com um imaginativo uso do 'sampling'.
Para lá da Sétima Legião, Ricardo Camacho foi realizando trabalho pontual de produção, tendo inscrito o seu nome em fichas técnicas de trabalhos dos Diva ou dos Pop Dell’Arte e até dos Da Weasel – assinou, em 1997, ao lado de Amândio Bastos, uma remistura para o tema “Duia” do álbum "3º Capítulo".
Sobre o trabalho de Ricardo Camacho, pronunciou-se um dia António Sérgio nas páginas da BLITZ. O radialista, com quem Camacho haveria de colaborar, assinando o memorável indicativo de 'A Hora do Lobo' (programa de Sérgio na Comercial e depois na Best Rock entre o final dos anos 90 e o início dos 00),não se poupou nos elogios a 'Glória', o clássico primeiro single da Sétima Legião:“alguém me mostrou o tema num walkman ainda antes da edição e eu recebi-o com um rasgado entusiasmo, tal como acontecera com o primeiro single dos GNR. Foi em pleno e longo corredor da Comercial, e esperei apenas pela cópia para rodá-lo no 'Som da Frente'” recordou então o radialista, que acrescentaria ainda que “apesar de ter sempre dado grande apoio aos rockers nacionais, a Sétima trazia-me algo de fresco, de cosmopolita, o som hoje ‘roufenho’ ligava-nos irremediavelmente ao que de melhor nos chegava das Ilhas Britânicas e aquela capa era sem dúvida muito ‘savilliana’”. Para António Sérgio aquele era, definitivamente, o nosso som da frente, a nossa grande marca de vanguarda pop. E muito graças ao trabalho de Ricardo Camacho.
Ricardo Camacho (1954-2018): o discreto 'arquiteto' da modernidade pop portuguesa dos anos 80 
  © Adriana Freire Ricardo Camacho (1954-2018): o discreto 'arquiteto' da modernidade pop portuguesa dos anos 80 O teclista voltou a pisar os palcos com a Sétima Legião em 2012, celebrando, no Coliseu dos Recreios três décadas de uma história singular. Na ocasião, Mário Rui Vieira escreveu na BLITZque, findo o concerto, “os sorrisos estampados nas caras dos Sétima Legião encontraram espelho nas de todos aqueles que reavivaram memórias com décadas de existência”.
Rita Carmo Blitz No palco do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em 2012. Rodrigo Leão em segundo plano 1
Nas últimas décadas foi, no entanto, a medicina que concentrou boa parte da sua atenção. Depois de concluir o curso, Ricardo Camacho tornou-se um sério investigador de questões de imunologia e virologia, tendo contribuído bastante para estudos em torno da sida. Trabalhou em departamentos de investigação no Hospital Egas Moniz e, na Bélgica, no Rega Institute for Medical Research, em Lovaina. Foi nesse país, onde há anos residia e dava aulas ao nível universitário, que foi hospitalizado com um cancro nos pulmões a que acabou por sucumbir.
Ricardo Camacho ausentou-se agora, definitivamente, aos 64 anos. https://www.msn.com/pt-pt/noticias/other/ricardo-camacho-1954-2018-o-discreto-arquiteto-da-modernidade-pop-portuguesa-dos-anos-80/ar-AAzA3JR
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Compositor, produtor e Teclista da banda SÉTIMA LEGIÃO...
foi médico no Instituto Ricardo Jorge...Actualmente estava no Instituto de Pesquisa Médica Rega - Lovaina...Bélgica
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Sétima Legião foi alforge de grandes músicos, nomeadamente,  Rodrigo Leão.
Albuns GLÓRIA; A UM DEUS DESCONHECIDO, MARD'OUTUBRO, DE UM TEMPO AUSENTE, O FOGO, AUTO DE FÉ, SEXTO SENTIDO.
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NOUTRO LUGAR
 https://www.youtube.com/watch?v=3MXGQPBj03s&list=RD3MXGQPBj03s
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TÃO SÓ 
 https://www.youtube.com/watch?v=vzDPEtLijFs&index=14&list=RD3MXGQPBj03s
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SETE MARES
 https://www.youtube.com/watch?v=NmlDjghuTsw&start_radio=1&list=RDNmlDjghuTsw
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Publicado a 01/11/2010
Sétima Legião é uma banda portuguesa (1982) constituída por Rodrigo Leão (baixo e teclas), Nuno Cruz (bateria), Pedro Oliveira (voz e guitarra), Paulo Marinho (Gaita de Foles), Susana Lopes (Violoncelo), Gabriel Gomes (acordeão), Ricardo Camacho (teclas), Paulo Abelho (percussão, samplers), Francisco Menezes (letras, coros) e outros mais. Canções como "Sete Mares" e "Por Quem não Esqueci" são dois dos temas que ficaram eternizados para sempre no panorama pop-rock português. . O nome surge da Legião Romana enviada à Lusitânia no século I. Para além do nome tão simbolizante, esta banda deixa registado a originalidade e o espírito visionário de grandes cantores e compositores. Sem dúvida os Sétima Legião são considerados muito mais à frente da época em que surgiram (anos 80). Revolucionaram por completo a história da música em Portugal, com um som nunca antes tocado. Inevitavelmente ainda continua a revolucionar os corações da juventude dos anos 90 e 2000 e por aí fora até os dias de hoje... Atualmente os Sétima Legião ainda fazem grandes e inigualáveis concertos, dando aos seus seguidores fidelizados a energia única que só uma banda assim consegue criar com todo o seu fôlego de glória. ___________________ 
Por quem não esqueci Sétima legião (EMI)

 Há uma voz de sempre 
que chama por mim 
para que eu lembre
 que a noite tem fim

 ainda procuro 
por quem não esqueci 
em nome de um sonho 
em nome de ti 

procuro à noite
 um sinal de ti 

eu espero à noite
 por quem não esqueci
 eu peço à noite 
um sinal de ti
 quem eu não esqueci 

 por sinais perdidos 
espero em vão
 por tempos antigos
 por uma canção

 ainda procuro
 por quem não esqueci
 por quem já não volta 
por quem eu perdi
 procuro à noite
 um sinal de ti 
 eu espero à noite 
por quem não esqueci

 eu peço à noite 
um sinal de ti 

quem eu não esqueci
POR QUEM NÃO ME ESQUECI
 https://www.youtube.com/watch?v=BHsKYG-Cs60&list=RDNmlDjghuTsw&index=2
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SEM TER QUEM AMAR
 https://www.youtube.com/watch?v=pohHwSAeqtQ&list=RD3MXGQPBj03s&index=20
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LONGA SE TORNA A ESPERA
 https://www.youtube.com/watch?v=rnfE6pLaRX0&index=36&list=RD3MXGQPBj03s
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RECONQUISTA
 https://www.youtube.com/watch?v=iWl3-8-NKLw&index=27&list=RD3MXGQPBj03s
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1993...Alvalade
 https://www.youtube.com/watch?v=LXbKP1Ha6CM
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30 anos Sétima Legião...Coliseu 2012
https://www.youtube.com/watch?v=n3KjmOUbxCQ
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